Capítulo 7

1268 Words
As cinco pessoas do g***o que foram amaldiçoadas pelo livro ficaram estáticas a olhar para a garota Talita como se ela fosse a oitava maravilha do mundo. Ela era uma jovem reservada e por isso, um pouco tímida, acanhou-se com toda aquela atenção. Ela pôde ver em cada rosto o medo, a aflição, a tristeza, os olhos vermelhos de quem havia chorado muito, parecia que alguém havia morrido, mas ela não sabia que para eles, as suas vidas não existiam mais, ou por enquanto. — Gente, o que foi? — questionou Talita. Octávio agarrou-a pelos ombros e a olhou no fundo dos olhos, nesse ato já estavam todos em cima deles. — Talita, você se lembra de mim? — o desespero nos olhos de Octávio era tão nítido, mas ela conseguiu enxergar um brilho de esperança. — Que pergunta é essa, Octávio? Estão me assustando — disse isso porque o pessoal se levantou abruptamente e aproximou-se do casal até formarem uma barreira. Estavam com um olhar insano, como se estivessem prontos para provocarem alguma coisa. — Lembra só de mim ou deles também — Octávio referiu-se aos outros. — São os seus colegas da sua turma… O que está acontecendo, meu amor? Estou ficando com medo. Octávio expressou alívio e a abraçou, Renata chorou e os demais comemoraram. — Meu amor, você não sabe o quanto estou feliz em saber que você se lembra — disse Octávio. — Eu não gostava muito de você, mas agora te amo — falou Fernanda. — Pelo menos, uma pessoa já é boa o bastante — disse Demétrio e Andrei concordou. — Pessoal, alguém vai me explicar alguma coisa? — perguntou Talita e pararam de comemorar para encararem-na. ••• Minutos de conversa depois, na praça, Talita forçou-se ao máximo para entender sobre do que eles falavam, era muita informação. Até mesmo esfregou as unhas na cabeça. Tiveram que repetir a história, cada um com a sua versão, mas Talita conseguiu acompanhar, e agora que não estavam mais tão eufóricos, ela pode entender melhor. — Gente, lembrei de uma coisa — disse Talita. — Vocês falaram sobre uma garota de cabelos vermelhos, pois, eu vi uma garota assim entrar no Colégio, era muito estranha, e quando eu perguntei à porteira sobre ela, que deixou ela entrar no colégio sem mais nem menos, me respondeu que não sabia do que eu estava falando. Não consegui acreditar que ele esqueceu que deixou a garota entrar lá tão facilmente, sem documentos, sem nada. Fizeram um minuto de silêncio. Começaram a pensar sobre o assunto, e cada um tinha uma coisa para falar, mas estar certo era preciso, as suas vidas estavam em jogo, não podia errar. — Essa vaca deve ser uma bruxa — comentou Fernanda, porém, era uma ideia qual todos já tinham cogitado. — Agora que a sua ficha caiu, Fernanda? — disse Demétrio. — Não me enche, b****a. Como eu poderia saber que essas coisas de contos de fábulas acontecem de verdade? Eu não tenho mais seis anos. — Contos de fábulas? — tentou corrigir Renata. — Esse é o termo certo? — Vá à m***a! — gritou Fernanda. — Para de gritar — ordenou Octávio. — Que menina escandalosa. — Quem se preocupa com termos certos numa situação dessas, garota nerd? — Fernanda continuou a atacar a p***e Renata. — Calma, gente — disse Andrei para defender Renata que se sentiu acuada —, não há mais tempo para brigas, senão jamais resolveremos o nosso problema. — Gente, no que eu puder ajudar, contem comigo — Talita tentou amenizar a tensão, mas sem sucesso. Só deixariam de ficar tensos quando tudo aquilo acabasse de uma vez. Na verdade, lidavam com a situação com toda maturidade que tinham, talvez, se fossem mais velhos já teriam surtado, o ceticismo sempre aumenta com a idade. Não que seja uma verdade absoluta. Mas não era qualquer pessoa que entra num jogo mágico e permanece pleno. Na verdade, ninguém passa por isso no seu dia-a-dia. — Sim, cabelo de homem, por que você é a única que se lembra? — afrontou Fernanda. — Bipolaridade batendo no auge — comentou Demétrio. — Oh! Não vou deixar você falar assim com ela — defendeu Octávio. — Então responda você, querido. Para mim, ela poderia ser a bruxa — Fernanda não sabia o que dizer, tentou justificar a situação de Talita. — Você é muito i****a. Fernanda ofendeu-se profundamente e não disse mais nada no momento, Octávio era o único que mexia com ela com as p************s. Ninguém tinha coragem de ofender uma patricinha filha de militares, agora não importava mais quem ela era. — Deixem eu ver este livro — pediu Talita. Octávio o entregou e ela começou a lê-lo. — Gente, segundo às duas páginas, vocês estão num jogo e terão que obedecer aos comandos do livro até o final. Se começou, tem que terminar. Vocês não leram isto? Por que decidiram arriscar? Este livro não me parece nada comum, vocês não sentem isso? — Valeu mesmo, patricinha — ironizou Demétrio para Fernanda que se fez de desentendida, ela quem começou tudo aquilo. — É como Jumanji? — perguntou Andrei, Talita não entendeu a referência, mas Renata sim e confirmou. — Só não tenho dados e nem um tabuleiro — disse Renata. — Onde estão os comandos? As páginas estão em branco — questionou Talita e fizeram alguns segundos de silêncio. — Parece que terão que esperar. — Esperar a boa v*****e de um Livro? — falou Fernanda. — Nem posso acreditar que um livro decide o que fazer com a minha vida... Um livro. Pensei que livros era coisa boa. — E se demorar muito? — Questionou Renata. — Daqui a pouco escurece, onde vamos dormir? — Amor! Não podemos dormir na sua casa? — perguntou Octávio. — Não dá, meu amor. Os meus pais não deixariam. Fora que nem se lembrariam de você… O diálogo foi interrompido por Fernanda com um suspiro bem audível, não suportava todo aquele romance. — Santo Deus! — exclamou Demétrio bem na hora, ele pegou a sua mochila e a remexeu até encontrar um molho de chaves, deu graças e o beijou. — Espero que dê certo. — O quê? — quis saber Andrei. — Tenho uma casa que os meus pais compararam para mim, precisa terminar a reforma, mas... Dá pro gasto. — Salvou a pátria, menino rico — comentou Fernanda, sempre cheia de ironia. ••• Todos foram para a casa de Demétrio, era um lugar semiluxuoso e muito bem-arrumado, empregados da família iam para lá duas vezes por mês para manutenção, não havia móveis, apenas uma grande cama em cada um dos dois quartos, caso ele fosse sair com os amigos e voltar muita tarde, e uma geladeira que nem estava ligada na tomada, sorte deles o Demétrio ser preparado para isso. Ele esperava completar dezoito anos para ir morar sozinho, daqui até lá a casa já estaria completamente pronta. Talita também foi com eles, como morava perto, de certo modo, não se preocuparia em voltar pela noite. Dependendo do tempo de jogo, eles poderiam ficar com fome, a primeira coisa que fizeram foi se organizarem. Juntaram todo o dinheiro que tinham nos bolsos, mochilas e bolsas e somaram mais de trezentos reais. Eram jovens de pais ricos, ou com boas condições financeiras, dava para comprar comida por um mês. Só precisavam administrar o dinheiro corretamente e dividir igualmente. Anoiteceu, Talita foi embora a prometer que voltaria no dia seguinte, sexta-feira, e foram dormir, Demétrio, Andrei e Octávio num quatro, Fernanda e Renata noutro.
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