Capítulo 8

1719 Words
A noite ia tranquila para os cinco jovens estudantes do ensino médio, dormiam como se o que acontecia com eles não existisse. Tinham a intenção de resolverem isso mais tarde, mas no momento precisavam descansar. E no meio dessa noite de paz, ouviu-se: “Octávio!” sussurrou uma voz feminina. O rapaz não tinha um sono leve, mas naquele momento algo muito estranho pairava no ar o que o tornou mais denso que a água, metaforicamente falando. Outra voz sussurrou o nome do rapaz com mais veemência e isso lhe obrigou a despertar com vagareza. Duas silhuetas no escuro estavam de pé diante dele, envoltas num cobertor. Os olhos de Octávio começaram a se adaptarem, e a ficarem no que estava bem à sua frente. — Meninas, o que estão fazendo aqui? — perguntou Octávio intrigado. — Ouvimos um barulho na cozinha — respondeu Renata com cautela para não acordar os outros. — Que horas são? — Octávio não queria dar importância ao que a garota falou, não tinham tempo para infantilidade. Fernanda era muito grossa e percebeu que Octávio não queria se importar com elas, então apertou o interruptor para acender a luz e fez os olhos do rapaz arderem. — São quatro da manhã e estamos com medo, é melhor vocês irem dar uma olhada… — os outros garotos acordaram com a claridade, a luz revelou que todos estavam de r************s e cobriram-se. — Ai, meu Deus! — ela virou-se de costas. — Vocês dormem de cueca? — E vocês de calcinha e s***ã — rebateu Octávio e deu uma piscadela. — Gente, o que está havendo? — perguntou Demétrio. O rapaz preocupou-se com a situação e começou a vestir-se. — Um rato assustou as moças e elas vieram para cá — respondeu Octávio, ainda a fazer pouco caso das meninas. — Eu sou alérgico a pelo de rato — falou Andrei ao pegar os óculos e pôr no rosto. — Me engana que eu gosto — disse Fernanda. — Gente, aqui não tem ratos… — disse Demétrio, mas foi interrompido com um barulho de pratos sendo quebrados, se assustaram tanto que as meninas gritaram. — Aqui também não tem pratos. — Eu quero a minha mãe. — choramingou Renata. — Acalme-se, tenho certeza de que existe alguma explicação — Demétrio era o mais forte deles, nesse caso, sentiu-se incumbido de também ser o mais corajoso. Ele levantou-se da cama, de cueca, e abriu a porta bem devagar. Ser o corajoso da equipe não era nada fácil, tinha que se arriscar sempre pelo bem de todos, e tomar decisões quais ou outros não tomariam, talvez. Ao sair, os outros o seguiram até a cozinha bastante ampla e com uma ilha no centro, Demétrio gostava de comida, a maior parte da casa era a cozinha, e chegando lá, se depararam com alguns pratos quebrados no chão, Demétrio pegou uma vassoura que estava no canto de uma parede e chegou mais perto. — Pensei que aqui não tinha pratos — comentou Andrei para Demétrio aos sussurros. — O que vai fazer, vai varrer esta bagunça? — perguntou Renata. Todos sussurravam nesse momento de tensão. — Que pergunta mais i****a numa situação como esta — disse Fernanda. — Por que você não aproveita você a vassoura e sai voando? — Gente, parem com isso — repreendeu Demétrio quando se voltou para elas. — Parem de brigar à toa, não percebem que isso só faz piorar as coisas… Enquanto Demétrio falava, de trás da ilha surgiu uma enorme pata peluda, preta e com enormes garras. Os outros correram imediatamente, Demétrio apenas se assustou com a atitude deles, mas não teve outra reação a não ser se virar para o que espantou os seus colegas. A sua curiosidade falou mais alto. Foi aí que pôde ver. Um rosto monstruoso de uma enorme ratazana apareceu, a sua boca tinha um brilho amarelado e era a única coisa de mais peculiar da criatura, além de se parecer um humanoide, um homem rato. Por puro reflexo, Demétrio, aos gritos, rumou a vassoura no olho do monstro que o fez urrar e recuar, se esbarrando pela cozinha a derrubar alguns objetos. Era grande, não parecia que tinha aquele tamanho todo, parecia que ele crescia aos poucos. Demétrio correu, porém, o monstro o seguiu e estava determinado a pegá-lo, contudo, os seus colegas estavam da porta do quarto gritando para ele, não teriam coragem de fechar a porta enquanto um deles estivesse do lado de fora. O monstro era grande e desajeitado e o chão era liso, isso favoreceu bastante o garoto desesperado que também era atleta a correr direito enquanto o mostro deslizava as suas garras, nesse caso, ponto para Demétrio. Assim que chegou até eles, Demétrio entrou com tudo no quarto e Octávio fechou a porta tão forte que o som foi ensurdecedor, depois trancou com a chave como se estivessem no lugar mais seguro do mundo. Assim que passou a trinca, o monstro urrou e bateu na porta com violência. A madeira era boa e resistiria aos golpes do animal, então estariam a salvos por um bom tempo. Os cinco ficaram inquietos e desesperados, o monstro continuava a tentar abrir a porta e ninguém sabia o que fazer. Estavam com sono, com fome, com medo e tudo parecia que ia se acabar até que o silêncio reinou. Lentamente se aproximaram da porta, todos de uma vez, até se encostarem. — Será que ele foi embora? — perguntou Andrei enquanto Renata chamava por Deus sem parar. — O que vamos fazer? — questionou Fernanda. — Vamos todos morrer. — Não vai ninguém morrer — disse Octávio. — Eu quase morri — disse Demétrio. — Como tiveram a coragem de me deixar para trás na minha própria casa? — Ninguém teve a ação de explicar o que viu, desculpa — respondeu Octávio. — Era só gritar: Olha ali, um mostro... — ironizou Demétrio, mas se interrompeu subitamente. De repente, todos olharam bem devagar para trás, pois, a mochila de Octávio flutuava bem diante deles. — O monstro está na mochila — Fernanda gritou e apontou. — Para de ser paranoica, menina — Octávio aproximou-se e pegou a sua mochila, era o livro que flutuava, havia surgido uma nova mensagem para eles numa outra página em branco. Octávio tomou a liberdade de ler: — "O medo pode favorecer-lhe para sobreviver, a coragem pode prejudicar-lhe quando vem o perigo. A corajosa com medo não servirá muito, a medrosa com coragem pode ser útil. Um de vocês terá que pegar a pedra amarela e que brilha." — Pedra amarela? Que pedra? — perguntou Andrei. — Tinha uma coisa na boca do monstro… — começou Demétrio a falar, mas não terminou porque foi interrompido. — Na boca do monstro? — repetiu Fernanda aos berros. — Quem vai fazer isso? Porque eu não vou. Um por um foi a dizer que não faria tal coisa, mas todos olharam para a Renata. — Por que estão olhando para mim? — quis saber a garota. — Você é a mais medrosa de nós — disse Octávio. — Eu? Todo mundo disse que não ia meter a mão na boca do monstro. — Ouviu o que está escrito na página? — E daí, como pode saber que sou eu? Por que não o Andrei? — Hei! — protestou o garoto. — Alguém mais concorda? — perguntou Octávio. Os outros concordaram. — Só estão dizendo isso porque ninguém quer fazer o que o livro mandou. Não quero saber, eu não vou — assim que Renata terminou de falar, a sua mão esquerda começou a ficar invisível a partir das pontas dos dedos e espalhou-se de maneira lenta. — Meu Deus, o que é isso? Todos ficaram mais aflitos, a "amiga" deles estava a ser apagada e não sabiam o que fazer. Se desesperaram, Octávio folheou o livro a procura de alguma resposta, mas, no fundo, Renata sabia o que tinha que fazer e gritou três vezes "Eu vou!", então, o seu braço voltou ao normal. ••• Renata pôs a mão na maçaneta e a abriu lentamente, o monstro estava imóvel, encostado na parede, ele ofegava e babava como um cão que acabou de descansar de uma corrida, ao olhar para a garota, imediatamente abriu a boca e revelou uma pedra amarela e reluzente, em formato de um olho grudada na sua língua. A garota fechou a porta e se voltou para os colegas. — Muito bem! — ela respirou fundo. — O que me garante que esse animal não vai me devorar? Ficaram todos parados a esperar uma resposta digna. — Nada — respondeu Fernanda, os meninos a olharam com repreensão. — O que foi? Estou falando a verdade. — Olha, Renata, pela situação que nos encontramos, nada garante nada e cada um de nós está dependendo de cada um para concluirmos este jogo mágico, sei-lá-o-quê, e nos livrarmos de uma vez por todas desta situação, até onde sabemos, cada jogo escolhe uma pessoa, e por meio de poemas temos que descobrir quem é o escolhido da vez. Somos cinco alunos do ensino médio trancados num quarto apenas com r************s esperando que alguém pegue uma pedra brilhante dentro da boca de uma ratazana gigante. Nada disso faz sentido. Não vamos procurar sentido nisso tudo. Se você não for, vai ser apagada da vida e não sabemos se é para sempre, até o livro escolher o próximo — disse Andrei, deixando os outros boquiabertos. — Vá, eu confio em você. Depois disso, Renata sentiu-se mais confiante. Ela abriu a porta do quarto novamente, se aproximou do monstro que abriu a boca mais uma vez, ficou trêmula e nitidamente temerosa, e chegou mais perto com precaução, com medo de ser atacada. A garota, lentamente, enfiou a mão na boca do monstro e pegou a pedra, estava grudada na língua e a saliva fez os dedos dela escorregarem. Ela recuou, murmurou aos prantos, e voltou a enfiar a mão, agarrou a pedra em formato de olho e o puxou da língua da criatura. O monstro enegreceu até se desmanchar como fumaça e sumir do ambiente. Renata pôde respirar de alívio e deitou-se no chão já sem preocupação alguma, mas, na verdade, faltou-lhe firmeza nas pernas. — Foi só isso? — comentou Fernanda. — Acabou?
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