Lá estávamos nós, no aeroporto de Seattle, esperando a Milena.
O Lucas tinha se oferecido para dar carona, e a gente não tinha como recusar — ainda mais naquele horário.
Ficamos no portão de desembarque. Eu com uma blusa amarela fininha, calça preta e meu Vans de sempre.
Léo, todo de preto, fazia os olhos azuis parecerem ainda mais vivos. O cabelo escuro estava úmido; tinha tomado banho pouco antes de sair de casa.
Mas quem realmente estava tirando a minha paz era o Lucas. O que aquele cara tinha de insuportável, tinha de bonito. Como tinha acabado de sair do treino de luta, estava de camiseta branca e short de moletom preto. As tatuagens no braço… bom, ajudavam — e muito.
O voo da Milena já estava chegando, e eu e o Léo estávamos apreensivos depois de um ano sem ver nossa amiga.
Lucas percebeu a minha ansiedade, chegou perto e perguntou:
— Nervosa?
— Um pouco… tô morrendo de saudades dela — respondi, apertando as mãos para tentar aliviar o nervosismo.
Logo depois, o número do voo apareceu como “desembarcando”. Era questão de minutos.
Léo se aproximou, e combinamos de esperar os familiares falarem com ela primeiro.
Uns quinze minutos depois, lá estava a Milena: os cachos castanhos escuros super definidos, sobretudo preto, arrastando as malas.
O primeiro a correr até ela foi o irmãozinho, que caiu no choro no abraço dela.
Assim que todos falaram com ela, eu e o Léo fomos correndo matar a saudade.
— MEEEEEU, QUE SAUDADE DE VOCÊS! Tenho tanta coisa para contar… e quero saber tudo também!
A gente riu, abraçou de novo e entregou a lembrancinha que tínhamos comprado.
Seguimos para a casa dela, onde a mãe tinha preparado uma recepção especial pela chegada. A noite foi ótima, mas já estava tarde e eu precisava ir embora. Fui avisar o Léo e ele me surpreendeu dizendo que não voltaria comigo — tinha um encontro com uma ficante.
— Como é? Tá ficando com quem? — perguntei, curiosíssima.
— Ninguém importante. Só uma transa casual.
— Então você vai me deixar voltar sozinha por causa de uma transa casual?
— Claro que não. O Lucas tá indo para casa, ele te leva.
— Nossa, essa transa deve ser muito importante para você me deixar voltar sozinha com seu irmão…
Ele riu.
— Sei que você não faria nada que estragasse a nossa amizade — disse, colocando uma mecha do meu cabelo atrás da orelha.
— E se ele tentar se aproveitar… é um homem morto.
Se despediu, pediu para eu avisar quando chegasse, e saiu.
Agora eu só precisava achar o Lucas — torcendo para ele ainda não ter ido embora. Encontrei ele conversando com uma amiga da Milena. Com dó de interromper, toquei o seu ombro com o dedo indicador. Ele virou e sorriu.
— Oi… será que a gente pode ir? Amanhã acordo cedo. O Léo falou que eu podia pegar carona com você.
— Carona comigo? Hmmm… vou pensar no seu caso.
Ele riu, se despediu da ruiva com um beijo no rosto, e ela ainda anotou o número dele num papel, colocando no bolso da calça.
Saímos, nos despedimos da família da Milena e fomos para o carro.
— Você faz sucesso mesmo, hein! — comentei. — Todo o lugar que vai, tem uma atrás de você.
— Normal. Surpresa seria se não tivesse nenhuma — disse, rindo.
— Convencido!
Chegamos à minha casa. Ele estacionou, apoiou o antebraço no volante e olhou para mim:
— Nem sempre quantidade significa qualidade — falou, passando o polegar no meu queixo.
— Então por que você fica com todas elas?
— Maluzinha… enquanto a certa não chega, a gente aproveita com as erradas.
Rolei os olhos, abri a porta. Mas ele segurou o meu braço suavemente.
— Não vai nem se despedir de mim?
Me inclinei para dar um beijo no rosto dele, mas ele virou a cabeça — e os nossos lábios se encontraram.
O mundo parou. O beijo era macio, quente, viciante. Em segundos, o selinho virou um beijo de verdade.
E aí eu entrei em pânico. Me afastei rápido, desci do carro quase tropeçando e entrei em casa.
Encostei na porta, sem ar, até minha mãe aparecer perguntando o que tinha acontecido. Eu devia estar pálida.
— Aconteceu uma coisa que… não devia ter acontecido — respondi, subindo direto para o meu quarto.