A fulga
Cap.1:
O quarto branco e as luzes fortes do mesmo, já não me incomodavam mais, depois de muito tempo havia me acostumado com tudo isto, todos os meus dias eram assim. Estava deitada em minha cama, que fica no canto do quarto branco. Tento dormir a todo custo, mas meu cérebro não desliga, meus sentidos apurados quase nunca me deixavam dormir, só conseguia dormir, quando eles me davam aquela maldita injeção. Sentei-me na cama e observei a janela, por onde as pessoas daquele lugar me observavam todos os dias, naquele momento não havia ninguém.
Nunca vi o rosto de ninguém daquele local, eles sempre estavam usando trajes que cobriam todo o corpo, também quase nunca falavam perto de mim. Me levantei da cama e caminhei em direção ao vidro, ao parar na frente do mesmo, olhei para o lado de fora e os corredores estavam completamente vazios. De repente um homem veio andando pelo corredor, diferente dos outros, ele não estava usando um daqueles trajes, ele se aproximou do vidro, parou de frente para mim e ficou me olhando. Sua pele era pálida como a minha, os olhos tinham um tom preto e a cabeça era raspada, ele saiu de perto do vidro e foi até a porta, que não demorou a ser aberta, logo aquele homem estava dentro do quarto.
- Vamos, não temos muito tempo. - o homem disse em um fio de voz e pra mim aquilo só podia ser mais um dos meus sonhos estranhos. - Nós não temos muito tempo, logo os guardas voltaram aos seus postos. - ele se aproximou de mim de forma cautelosa e tocou minha mão.
- Isto só pode ser mais um dos meus sonhos estranhos. - sussurrei para mim e o homem segurou minha mão e me puxou para fora do quarto. O ar do corredor era menos frio que o ar do quarto, em um momento percebi que aquilo não era um sonho, enquanto o homem me puxava em meio ao corredor.
Entramos em uma sala com iluminação baixa, já havia estado ali antes. Observei ao redor, então percebi que aquela era uma das salas de teste daquele local, me lembro de algumas vezes que eles me trouxeram aqui, normalmente eles me traziam mais ou menos sedada. Aquele homem tirou de dentro de uma das gavetas um papel, o qual tentei identificar mas não consegui.
- Me escuta, você vai sair daqui, irei te levar pra fora, só que terá que correr o mais rápido que conseguir, não confiei em ninguém até sair das redondezas desta floresta morta, você precisa sair daqui. - disse de forma rápida gesticulando com as mãos e eu tentava entender tudo aquilo. - Você não pode pensar em vida, terá que se controlar fora daqui. - seus olhos escuros se mantinham em mim enquanto ele falava.
- Espera, porque está me ajudando?. - perguntei e ele correu em direção a outra mesa, mexeu em algo lá encima e olhou em minha direção.
Ele não me respondeu, apenas pegou em minha mão e me puxou para o lado de fora da sala, sua mão era grande. Em si ele era bem maior que a mim, perto de mim seu corpo era realmente grande, facilitando que me puxasse em meio aos corredores vazios. Durante o caminho que fazíamos, passei a o observar, escutar seu coração que naquele momento está bem acelerado, parecia nervoso, com respiração forte, pesada e enquanto íamos passando pelo corredor, o homem observava tudo atentamente, provavelmente com medo que alguém nos pegasse. Desta vez passamos por uma porta, que nos levou a outra porta, em um painel ele colocou sua mão e automaticamente a porta se abriu, revelando uma sala cheia de armas, as quais eram sempre apontadas em minha direção e haviam trajes também.
Parecia estranho, mas não tinha medo daquelas coisas, tanto que cuidadosamente passei a ponta dos meus dedos por uma das armas. Passei tanto tempo com elas apontadas em minha direção, que não tinha mais medo dentro de mim, meu mundo era resumido em armas apontadas para mim. Não me lembro de um momento da minha vida, onde eu não estivesse dentro deste lugar, acho que nunca vivi do lado de fora. O homem me entregou uma roupa preta e fez sinal pra que a vestisse, pois usava somente uma camisola branca. Retirei a mesma, sem me importar que estava nua por baixo, ele já devia ter me visto desta forma milhares de vezes, então vesti a camiseta preta e a calça da mesma cor, meus pés descalços, tocavam o chão frio como sempre, mas já estava acostumada com isto.
Nós saímos desta sala e desta vez eu o seguia, sem que ele precisasse me puxar pela mão e me arrastar pelos corredores. Agora o homem tinha a mão ocupada por uma arma e corríamos entre os corredores, até que páramos alguns metros de uma enorme porta de aço, onde tinham três homens muito bem armados. Eles não perceberam a nossa presença ainda, conversavam entre si distraídos. O homem apontou a arma na direção deles e antes mesmo que pudessem perceber a nossa presença, atirou em suas cabeças, me fazendo tapar os ouvidos com o barulho dos três disparos.
- Está porta e a única saída deste local, tem que ser rápida, logo os guardas vão perceber que não está no seu quarto e as rondas voltaram a serem feitas, você tem 5 minutos pra estar bem longe daqui. - ele tirou as mãos de meus ouvidos e fez com que o olhasse. - Você e a nossa salvação, por isto estou te ajudando a fugir daqui, o munda vai acabar se não nós ajudar.
A salvação da humanidade, não passava de uma garota, que não tinha um nome, uma família e viveu a vida trancafiada em um quarto. Não deu tempo de pensar em algo para o responder, ele colocou a sua mão em um painel e as portas se abriram, rangendo de forma alta, me empurrou porta a fora e deu-me a arma. As portas se fecharam segundos depois atrás de mim, então fiz o que ele havia mandado, corri o mais rápido que conseguia até estar bem longe daquele lugar. Eu corri até minhas pernas estarem cansadas, então parei e puxei o ar, tudo o que entrou em meus pulmões foi um ar seco, quente.
Olhei em volta, percebendo que o lugar estava morto, aquilo era uma floresta morta, não havia vida dentro dela, me abaixei pegando uma folha na grama seca. Como aquele lugar havia ficado deste jeito, não tinha uma vida sequer ali, como se tudo tivesse evaporado, não tinha sons e o ar era quente. Um alarme alto foi ecoado de alguns metros dali, eles já haviam descoberto que não estou mais lá dentro. Levantei do chão e obriguei minhas pernas a voltarem a se locomover para bem longe daquele lugar, aquele floresta parecia nunca ter um fim.