Rycon ainda estava com o maxilar rígido, as palavras de Cara repetindo-se em sua mente como uma ferida aberta. O desaforo dela havia mexido com algo que ele não gostava de admitir: orgulho.
Geovani, sentado ao lado no banco do carro, observava em silêncio. Já aprendera que questionar o chefe em momentos assim era perigoso, mas não conseguia disfarçar a preocupação. A expressão dura de Rycon era um presságio — sempre que aquele olhar surgia, alguém acabava pagando o preço.
O carro deslizou pelas ruas da cidade até parar diante de um dos restaurantes mais sofisticados. Lá dentro, um investidor estrangeiro aguardava para tratar da expansão dos laboratórios.
— Senhor… — arriscou Geovani, limpando a garganta. — Talvez não seja o melhor momento para uma reunião.
Rycon desviou os olhos da janela e o fitou com frieza.
— Negócios não esperam, Geovani. — sua voz era controlada, mas carregava ameaça. — E eu nunca permito que questões pessoais interfiram no meu trabalho.
Geovani assentiu em silêncio, mas sabia que era exatamente o contrário. Geovani era o assistente que mais durara ao lado de Rycon e isso se devia ao seu aspecto silencioso e eficiente e Rycon era grato por seu assistente não ser um tagarela.
Poucos minutos depois, o carro estacionou diante de um restaurante luxuoso, um dos mais renomados da cidade. O maître os conduziu até uma sala reservada, onde um homem alto, de terno cinza claro, já os aguardava.
— Senhor Vasquez! — o investidor abriu um sorriso, estendendo a mão. — Finalmente nos encontramos.
Rycon recompôs o semblante, ainda mantendo a seriedade se aproximou do homem que lhe estendia a mão.
— Senhor Valdez, um prazer. Espero que tenha tido uma boa viagem. — Diz Rycon sério.
— Excelente. — respondeu o homem, acomodando-se. — Ouvi muito sobre os seus laboratórios e confesso que estou bastante curioso.
Rycon assentiu, abrindo a pasta de documentos que carregava. Dentro dela, relatórios e imagens mostravam o desempenho das primeiras levas de sementes geneticamente modificadas.
— Nossos testes foram conduzidos em diferentes regiões do estado. As sementes mostraram resistência às variações de temperatura e um aumento de quase trinta por cento na produtividade. — explicou, com voz firme. — Isso é apenas o começo.
O investidor analisava os relatórios com atenção, e Geovani aproveitou o momento para estudar o chefe. Do lado de fora, Rycon parecia confiante, seguro, dono absoluto da situação. Mas Geovani sabia — por trás do olhar calculista a personalidade de seu chefe era ainda pior, e naquele momento ele podia ver o esforço que o chefe fazia para ser mais profissional e deixar a sua vida pessoal de lado.
Valdez fechou a pasta, sorrindo satisfeito.
— Impressionante. Posso ver o potencial para expandirmos isso em larga escala. E, se me permite ser direto… quero investir pesado na sua empresa.
Rycon assentiu, mas seus olhos revelaram algo a mais — uma chama ardendo que não tinha apenas a ver com negócios.
— Fico feliz em ouvir isso, senhor Valdez. — respondeu, recostando-se na cadeira. — O futuro está em nossas mãos, e o mundo precisa se adaptar. Quem não acompanhar… será deixado para trás.
Geovani engoliu seco. Conhecia bem aquele tom. Não era apenas sobre sementes ou ciência. Era sobre poder.
— Tenho que concordar com você, e tenho dado andamento a algumas modificações genéticas de animais em minha fazenda. — Diz ele de forma orgulhosa.
— Gosta de modificação genética senhor Valdez? — Pergunta Rycon enxergando uma oportunidade.
— Sim, mas me chame apenas de Luka. — Diz ele de forma tranquila.
— Tudo bem, Luka. — Diz Rycon com um sorriso de canto. — Eu trabalho com modificações genéticas em minha propriedade e tenho alguns animais que deram grande resultado, se for ficar mais tempo na cidade te convido a me acompanhar para uma visita. — Diz Rycon.
Na mesma hora os olhos do homem a sua frente brilham com as palavras de Rycon, Luka tinha algumas propriedades e queria melhorar a qualidade do seu gado e aquela oportunidade seria perfeita para isso.
— Não precisa me convidar duas vezes senhor Vasquez, ficarei feliz em lhe acompanhar. — Responde Luka animado.
— Então te espero no final de semana, teremos um jantar em minha casa e é meu convidado, no outro dia podemos ir até a fazenda.
— Será um enorme prazer. — Diz ele se despedindo de Rycon.
Assim que Rycon deixa o restaurante seu rosto se escurece novamente, ele tinha algo inacabado para tratar com uma certa pessoa e não esperaria mais nenhum momento para isso.
— Vamos direto para a empresa Geovani. — Diz entrando no carro sem olhar para seu assistente.
Geovani apenas assente e entra no carro sem dizer nada e segue para a empresa. Ele já imaginava o que seu chefe queria e não seria ele a estar em seu caminho quando chegasse lá.
O transito estava tranquilo e em poucos minutos o carro parava em frente a empresa. Rycon desse e caminha a passos largos para dentro da empresa. Rycon entra no elevador e quando as portas se abre os seus passos ganham vida própria enquanto andava em direção à sala de seu pai. Quando ele vira o corredor a avista, o motivo de sua dor de cabeça e confusão, aquela que estava povoando a sua mente sem a sua permissão, Cara.
Rycon para em frente a Cara esperando que ela o notasse quando isso não acontecesse ele bate a sua mão contra a mesa a assustando. Ela leva um susto e encara a pessoa que a tinha desconcentrado de seu trabalho.
— Me assustou senhor. — Diz ela com a cabeça baixa.
— Anda assustada senhorita Cara. Será que foi por que fez algo que não devia? — Pergunta ele com sarcasmo.
— Meu único objetivo por aqui é trabalhar senhor Rycon, o que obviamente o senhor esta me impedindo de fazer neste momento.
As palavras de Cara foram como uma bofetada na cara de Rycon, os seus olhos se escurecem e o seu maxilar tranca de raiva ao ouvir aquelas palavras desaforadas de Cara.
— Anda com uma língua muito afiada senhorita Cara, talvez eu devesse dar um jeito nela. — Diz ele com os olhos brilhando com algo que fazia Cara tremer na sua cadeira.