Jason
Depois de empurrar uma Olive relutante para dentro do meu carro, dei a volta e entrei enquanto ela estava resmungando algo sobre matar alguém.
Achando engraçado, perguntei:
— Estamos indo para uma matança?
Ainda não conseguia acreditar no que estava vendo, que ela estava realmente ali.
Franzindo o cenho, ela olhou para mim, sua mão brigando com o cinto de segurança.
— O quê?
— Calminha aí, matadora. — Sorri e me inclinei sobre ela para cuidar do seu probleminha.
Meu nariz estava quase encostando em sua bochecha. Hummm. Ela cheirava a maçã, refrescante e doce.
Senti que ela ficou tensa.
Minha pequena Olive.
Colocando o cinto nela, me inclinei para trás e meus olhos pousaram em seus lábios abertos.
— Prontinho.
— Obrigada — ela murmurou, olhando para qualquer lugar, menos para mim.
Eu também desviei o olhar.
— Então, você estava resmungando sobre matar alguém?
— Lucy. Minha amiga.
— O que ela fez para merecer uma morte tão horrenda?
Ligando o carro, olhei discretamente para ela.
A menininha que sempre me dava os maiores sorrisos não existia mais. Ao mesmo tempo que parecia que ela não tinha mudado nada, eu sabia que tudo havia mudado. Parecia que eu não era mais o destinatário de nenhum sorriso.
— Não é possível que eu seja uma companhia tão r**m, é? — perguntei, antes de ela conseguir responder sobre a amiga.
Ela me deu um sorrisinho. Não um de seus lindos sorrisos que costumavam iluminar seus olhos e corar suas faces, mas, mesmo assim, foi sincero.
— Não, você não é tão r**m. Pode me deixar na USC, vou encontrar meus amigos.
— Você estuda lá?
— Estudo.
— Vai, Olive. Não seja assim. Me conte mais sobre o que está fazendo. Ainda não consigo acreditar que nos encontramos aqui, dentre todos os lugares de LA.
— Uma cafeteria ou algo parecido seria mais provável, não é?
— Exatamente. Um estúdio de produtores? Nunca na vida.
Ela deu risada.
— É meio estranho, não é?
— Estranho? Não sei, provavelmente. Mas você nunca foi uma garota normal.
Parando no semáforo vermelho, eu a encarei. Ela estava olhando para fora pela janela, suas mãos no colo em punhos fechados. Puxei uma mecha do seu cabelo loiro avermelhado, que parecia muito mais claro do que anos antes, e ela olhou para mim.
Eu sorri e disse:
— Oi.
Ela mordeu o lábio inferior e sorriu de volta timidamente.
— Oi para você.
— Senti sua falta, pequena. Eu nem sabia o quanto até te ver.
Seu sorriso se perdeu um pouco, mas ela conseguiu transformá-lo em um sorriso torto, que ficou estranhamente atraente nela.
O semáforo ficou verde e tive que dar atenção à rua, estando com passageira especial e tal. Muitos minutos se passaram sem nenhum de nós dois falar nada, então falamos ao mesmo tempo.
— Você…
— Posso…
Dei risada.
— Você primeiro.
— Só queria perguntar por que parou de ligar para Dylan. Por um tempo, ele costumava ficar emotivo se alguém falasse de você. Acho que ele não queria mostrar o quanto estava decepcionado. Sei que não é da minha conta, e você, com certeza, não precisa responder se não quiser, mas sempre quis saber.
Quando o carro na minha frente parou devido ao trânsito, troquei de faixa e diminuí a velocidade. Esfregando a nuca, soltei a respiração.
— Não precisa responder — ela repetiu antes de eu conseguir pensar em uma resposta.
Eu não tinha um motivo bom o suficiente para lhe dar.
— Não, tudo bem, pequena. Sei que foi uma merda fazer isso depois de tudo que sua família fez por mim. Para ser sincero, as primeiras semanas foram bem difíceis. Talvez você se lembre — eu disse, olhando para ela. — Meu pai e eu nunca fomos próximos, e a morte da minha mãe não mudou nada nesse quesito. No dia em que fui embora da sua casa, ele não falou sequer uma palavra comigo na viagem inteira. Quando finalmente chegamos, ele me mostrou um quarto vazio em uma casa grande e voltou para seus clientes. Simples assim. Eu m*l o via, e ele certamente não se importava com o que eu estava fazendo. Infelizmente, só piorou depois. Não queria ser aquela criança que só ligava para reclamar. E, não conte para sua mãe, mas acho que, se eu tivesse conversado com Emily sobre como estava indo, teria desmoronado e chorado como um bebê quando a ouvisse me chamar de querido daquele jeito dela. Mentir para Dylan era surpreendentemente mais fácil.
Quando ela não disse nada, continuei.
— E, com o tempo, com escola e depois com as coisas do cinema…
Parecia uma desculpa esfarrapada até para meus próprios ouvidos.
— Sinto muito por ter passado por uma época difícil quando chegou aqui, mas deve estar muito feliz agora. Fico feliz que as coisas melhoraram. Quando assistimos ao seu primeiro filme, acho que vi minha mãe secar lágrimas mais de uma vez.
— Ela chorou em um filme de ação?
— Você levou um tiro e, bom, acho que ela chorou porque estava orgulhosa de você.
Uma flecha diretamente no meu coração. Quando minha mãe desmaiou por causa da bebedeira diária, consequentemente me trancando para fora durante a noite, Emily me abrigou. Depois daquela noite, eu ficava na casa deles mais do que na minha. Ela havia sido uma mãe melhor para mim do que a minha conseguiria ser um dia. Dylan era meu irmão, e Olive… Bom, Olive também tinha sido minha amiga. Eles eram a única família que eu conhecia. Era simples assim.
— Você realmente não sentiu minha falta? — perguntei, tentando amenizar o silêncio pesado no carro. — Não ficou ao lado do telefone esperando que eu ligasse? Vamos, não seja tímida. Pode me contar. — Eu a observava de canto de olho.
Ela deu risada. Era lindo de se ver.
— Definitivamente não fiquei ao lado do telefone esperando.
— Mas admite que sentiu minha falta, não é?
— Talvez — ela disse tão baixo que eu nem tinha certeza se havia escutado direito.
Quando seu celular tocou, ela me lançou um olhar se desculpando e atendeu.
— Onde você está? Não. Ok. É, a reunião acabou, estou voltando. Ok, chegarei em casa logo. Não! Não, espere aí dentro. Lucy, juro por Deus, se eu te vir aí fora… Alô? Lucy? Que droga!
— Algo errado? — perguntei, achando engraçado.
— Não, tudo bem. A boa notícia para você é que não precisa me levar até a USC. Estamos mais perto da minha casa.
— Lucy mora com você?
— É uma delas.
— Quantas meninas moram com você?
— Contando Lucy, três.
— É difícil?
— Não, na verdade. Quero dizer, somos todas amigas, então acho que é mais fácil do que se elas fossem completas desconhecidas.
Depois de ela me falar o endereço, ficamos quietos pelo resto do caminho. p***a, eu não conseguia parar de olhá-la. Ela tinha o mesmo narizinho, aquele mesmo brilho nos olhos, mas ainda assim estava muito diferente de quando a vi pela última vez. A pior parte? Ela tinha p****s ― p****s tão grandes que pareciam uma almofada no meu braço quando eu tinha encostado neles sem querer quando a segurei.
Caralho, minha pequena Olive ― a mesma menininha que eu tinha protegido de valentões de merda ― não era mais tão pequena.
— É essa a rua? — perguntei quando virei à direita. — É. Pode parar aqui. Já tomei muito do seu tempo.
— Não seja assim. Me fale qual é o prédio.
— Talvez eu não queira que você saiba onde moro.
Olhei para ela de um jeito desesperado, e ela me olhou irritada, o que só me fez rir.
Ela bufou e apontou para um prédio antigo.
— Está vendo aquelas três pessoas esperando ali?
— Aquele prédio antigo?
— É, aquele.
Parando diante do prédio que ela apontou, desliguei o carro.
— Esse lugar é seguro? — perguntei, inclinando-me na direção dela para olhar para o prédio por sua janela.
— Bem seguro. — Com uma rapidez que não estava esperando, ela abriu a porta e saiu. Inclinando-se para olhar para mim pela porta aberta, ela disse: — Obrigada pela carona, Jason. Foi muito bom te ver de novo. Fico feliz que tenhamos nos encontrado. Não leia o livro porque é meio chato, se quer saber. Tenha uma boa vida. Tchau.
Ela fechou a porta na minha cara sorridente. Ah. Ela estava agindo como se pudesse se safar facilmente agora que eu a encontrara.
Rindo comigo mesmo, peguei meu Ray-Ban e saí do carro. Seguindo-a,
vi uma garota se separar dos outros dois e correr diretamente para os braços de Olive, gritando e pulando. A outra menina tinha um sorriso igualmente grande quando finalmente chegou à dupla saltitante. O cara? Não parecia nada feliz.
— Comece do começo, você tem que nos contar tudo. Eles querem os direitos do filme? Você aceitou? Quanto eles ofereceram? Quem vai fazer o papel de Isaac? — Escutei sua amiga perguntar rápido.
Não consegui ouvir as respostas de Olive, mas percebi que ela estava tentando fazê-las voltar para o prédio.
E ela não tinha me visto. Ainda.
— Olive — eu disse ao lado do seu ouvido quando sua amiga se concentrou nos outros dois e estava olhando por cima do ombro.
— Jesus! — ela gritou, virando-se.