Olive
Sete anos depois…
— Obrigada por me deixar usar seu telefone, Amanda — sussurrei escondida no meu armário.
— Por que estamos sussurrando?
— Para que Dylan e Jason não consigam me ouvir.
— Tem certeza de que quer fazer isso? Tipo, vamos, Olive, e se ele perceber que é você mandando mensagem?
— Mas quero que ele perceba que sou eu. — Pensei nisso por um segundo e, então, mudei de ideia. — Bom, ok, talvez não de primeira, mas em algum momento.
Amanda suspirou do outro lado da linha.
— Não tenho tanta certeza se é uma boa ideia, Liv. E se ele contar para Dylan? — Ela arfou. — E se eles reconhecerem o número e pensarem que sou eu?
— Ah, pare com isso. Como poderiam reconhecer o número do seu primo? Se você não abrir a boca, ninguém vai saber. E é só esta noite. Não vou mandar mensagem de novo. Meus pais estão fora, ele vai dormir aqui, é a hora perfeita.
— Olive! — Meu irmão bateu na porta. — A pizza chegou, desça se não quiser encontrar uma caixa vazia.
— Por que não derruba a porta? — murmurei para mim mesma.
Abrindo a porta do armário, gritei de volta:
— Estou indo!
— Ok, vou descer. Que horas são? — perguntei à Amanda, levantando do chão.
— Nove. Quando vai mandar a mensagem? Tem que me contar o que ele vai dizer.
— Não posso enviar mensagem para você enquanto envio a ele. Estarei muito empolgada. Vou te ligar amanhã para te contar como foi.
— Não, vou aí para tomar café da manhã, então. Quem sabe quando você vai me ligar? Além disso, preciso devolver o celular para o meu primo. Eles vão embora amanhã à tarde.
— Tá bom, então te vejo amanhã. Me deseje sorte.
Jogando o celular na cama, respirei fundo e me olhei no espelho. Meu cabelo loiro avermelhado caía em meus ombros em ondas suaves, meus olhos estavam brilhando, e meu rosto estava ruborizado com empolgação pela possibilidade do que poderia acontecer mais tarde naquela noite.
Olhei para minhas mãos trêmulas e ri de mim mesma.
Tudo que eu queria naquela noite era enviar mensagens para Jason e conversar com ele como se fosse outra pessoa, como uma admiradora. Sabe, eu tinha planejado tudo por dias. Iria mandar mensagem, claro que mantendo minha identidade em segredo, de preferência quando Dylan não estivesse ao seu lado, e, então, simplesmente conversar com ele. Talvez pudesse perguntar quem ele queria que fosse sua admiradora… Seria diferente se ele falasse de mim?
Até então, o plano estava correndo bem. Dependendo de como fosse o resto da noite, eu reagiria de acordo.
— Olive! — meu irmão gritou lá de baixo.
Fechando os olhos, respirei fundo para me acalmar, escondi o celular debaixo do travesseiro e saí do quarto.
— Por que está gritando? Eu disse que estava indo — reclamei quando vi Dylan sentado sozinho diante da TV.
— Sirva as bebidas e traga a pizza — ele respondeu, sem nem olhar para mim.
— Por que não pode levantar e fazer isso você mesmo? — gritei.
— Só faça logo isso. Já vai começar o filme.
Abri a boca para…
— Oi, pequena Olive — alguém sussurrou perto da minha orelha, me fazendo pular.
— Jason — sussurrei de volta, colocando as mãos no peito para manter meu coração no lugar. — Você me assustou.
Ele deu risada, mostrando a covinha.
— Eu sei.
Dei risada também, meus olhos brilhando com amor pelo menino que eu conhecia há sete anos.
Puxando uma mecha do meu cabelo, ele deu uma piscadinha e passou por mim com uma garrafa de água gelada. Ele empurrou Dylan para o lado e se sentou ao lado dele.
Observando o espaço pequeno ao lado de Jason, perguntei:
— Quer outra coisa além de água?
Virando a cabeça, ele sorriu para mim.
— Obrigado, linda. Estou bem.
Derreti em uma pequena e muito feliz poça de água no tapete preferido da minha mãe.
— Pare de xavecar minha irmã, seu bosta — Dylan murmurou, mas eu estava ocupada demais com meus sonhos para falar para Dylan ficar quieto… não que ele me fosse obedecer.
Pegando o refrigerante de Dylan e alguns pratos de papel, voltei para a sala.
— Sirva seu próprio refrigerante — eu disse, colocando a garrafa um pouco forte demais na mesa de centro diante dele. — Quantos pedaços você quer, Jason? — perguntei, ajoelhando no chão e não olhando muito para ele.
Dylan suspirou e murmurou:
— Lá vamos nós de novo.
Ele não gostava que eu sempre desse o primeiro pedaço de pizza ― bolo, torta ou qualquer tipo de comida, na verdade ― para Jason.
Soltando sua garrafa de água, Jason se esticou para me ajudar.
— Você não vai sentar no chão. — Ele me puxou para o sofá. — Eu cuido da pizza.
Sentando-me ao lado dele, eu o deixei dividir os pedaços para nós três.
— Dois pedaços está bom? — ele perguntou, dando para mim primeiro.
Assim eu não aguento.
— Está, obrigada.
Quando ele se inclinou para trás e me deu outra piscadinha rápida, esqueci da pizza e me lembrei do fato de que iria passar duas horas sentada ao lado de Jason assistindo a um filme. Era a noite perfeita para mandar mensagem para ele.
— O que vamos ver? — questionei, dando uma mordidinha no pedaço enorme.
— Nada que você goste. Já estamos passando nossa noite de sexta cuidando de você, então não tem opinião na escolha dos filmes.
— Não seja babaca, Dylan — Jason murmurou com a boca cheia.
— Então está dizendo que prefere ficar em casa esta noite em vez de sair com as meninas?
Quando meus olhos se encheram de lágrimas de vergonha e outra coisa que não consegui identificar, coloquei meu prato no colo e tentei me levantar, mas fui puxada de volta por Jason.
— Crianças — ele disse em um tom similar ao do meu pai. Sua mão quente ainda estava fechada no meu pulso, mantendo-me sentada… ou estava mais para paralisada. — Prometi a Emily que cuidaria de vocês dois no caso de decidirem que hoje era o dia de se matarem. Então, parem com isso e vamos ver o filme. As meninas não vão a lugar nenhum, Dylan.
Ainda envergonhada, pigarreei para chamar a atenção deles.
— Vocês não precisam ficar em casa por minha causa. Vou ficar bem, Dylan. Sabe que não ligo de ficar sozinha.
Olhando para minha expressão miserável, Dylan finalmente balançou a cabeça e pegou seu prato.
— Não, tudo bem. Jason tem razão; as meninas não vão a lugar nenhum e nós queremos assistir a esse filme há semanas; agora é uma hora boa como outra qualquer.
O filme começou e ambos se ajeitaram conforme toda a minha empolgação pela noite lentamente se esvaiu.
Eu ainda estava brincando com o prato de papel no colo quando Dylan pulou e disse:
— Vou apagar a luz.
Será que Jason tinha namorada?
Eu tinha certeza de que não. Nem Dylan, na verdade, não desde que ele terminou depois de idas e vindas com Vicky.
— Não se preocupe, pequena, não é filme de terror nem nada. É de ação, você vai gostar — Jason sussurrou no meu ouvido antes de Dylan voltar.
Ao escutá-lo dizer o apelido que ele sempre gostava de me chamar, consegui abrir um sorriso sincero ao olhar para ele.
— Obrigada. Vocês podem sair depois do filme, sabe. Não vou contar para mamãe e papai quando eles voltarem amanhã.
— Está brincando? Eu estava ansioso para uma noite calma em casa. Pizza e filme com uma garota linda de olho verde do meu lado? — Ele me deu um empurrãozinho com o ombro. — Seu irmão é o i****a, não eu.
Dylan apagou as luzes e pulou de volta no sofá. Felizmente, desta vez, eu estava me derretendo em outra poça no sofá não tão preferido da minha mãe. Fiquei daquele jeito até o fim do filme porque o ombro de Jason ficou grudado no meu o tempo todo.
Prestes a morrer de sobrecarga sensorial, eu ainda tinha um sorriso i****a no rosto quando fui para o meu quarto.
Que as mensagens comecem…
Lá para 1h30 da manhã, me aconcheguei debaixo das cobertas e escutei a porta de Dylan abrir e fechar pela segunda vez. A TV em seu quarto estava ligada, mas a voz deles era baixa. Ou não queriam me acordar ou estavam indo dormir, mas eu duvidava muito que fosse esse o caso.
Pegando o celular debaixo do travesseiro, tentei controlar minha respiração e pulsação errática.
Por mais que eu estivesse morrendo de vontade de mandar mensagem para Jason, também estava apavorada.
Meus dedos estavam gelados quando rapidamente enviei a primeira mensagem da noite.
Eu: Oi, Jason.
Original, eu sei.
Esperei para ver se o celular dele iria tocar, mas não consegui ouvir nada. Com o coração na garganta, sentei na cama e apoiei a cabeça na cabeceira. Talvez Amanda estivesse certa. Talvez aquela não fosse a melhor ideia que eu tivera…
Jason: Quem é?
Posso ter soltado um gritinho quando o celular acendeu na minha mão e tocou. Na escuridão do meu quarto, uma agitação inexplicável percorreu meu corpo, e comecei a conversar com Jason como uma desconhecida.
Eu: Acho que você não saberia nem se eu dissesse meu nome.
Jason: Não podemos saber se você não tentar.
Eu: Meu nome é Michelle. Estudamos na mesma escola.
Jason: Humm… Tem razão. Acho que não conheço uma Michelle.
Eu: Não posso dizer exatamente que estou surpresa.
Jason: E por que isso, minha nova amiga Michelle?
Já perdida em um mundo diferente, meus dedos pararam de voar sobre os botões quando escutei a porta de Dylan abrir e fechar baixinho. Sem saber se era meu irmão ou Jason, escondi o celular debaixo das cobertas para que a luz não chamasse atenção.
Eu: Tem sempre tanta gente com você. Acho que não dá muita oportunidade para pessoas novas se apresentarem. Mas então, talvez você já me conheça.
Jason: Interessante. Nossa amizade é tão nova, Michelle que não é realmente Michelle, e você já está mentindo para mim?
Eu: Não diria que é mentira. Vamos dizer que sou uma das suas muitas admiradoras secretas e um pouco tímida com isso. Só queria conversar com você.
Jason: Vamos jogar seu jogo. Sobre o que gostaria de conversar?
Eu: Não faço ideia. Talvez você possa começar com onde está e o que está fazendo.
Jason: Essa é fácil. Como tenho certeza de que você não é Michelle, já deve conhecer meu amigo Dylan. Estou na casa dele.
Eu: Eu o conheço e sei que são amigos, só isso.
Jason: Gostaria que eu apresentasse vocês dois? Seria como uma segunda apresentação para nós dois também.
Eu: Não precisa.
Jason: Como quiser, nova amiga tímida. Sobre o que mais quer conversar?
Eu: Você tem algum palpite de quem eu possa ser?
Jason: Oh, outro jogo. Você está cheia de jogos esta noite, garota misteriosa.
Eu: Não é exatamente um jogo para mim.
Cinco minutos se passaram, mas não chegou nenhuma mensagem. No décimo minuto, fiquei ansiosa, preocupada que ele já soubesse quem eu era e precisou parar. Levantando da cama, comecei a andar de um lado para o outro no meu pequeno quarto. Quando o espaço não foi suficiente, saí em silêncio do quarto e desci as escadas para pegar uma garrafa de água e me distrair com outra coisa.
Entrando na cozinha com uma blusinha e calça de pijama, parei de repente quando vi Jason olhando para fora da janelinha acima da pia.
— Jason? — sussurrei.
Virando-se para mim, ele sussurrou de volta:
— Ei, pequena. — Seus olhos cor de chocolate estavam cansados para sua pouca idade. — O que está fazendo acordada tão tarde?
Observando o celular dele no balcão da cozinha, me obriguei a desviar o olhar.
— Pesadelo, acho. Não consegui voltar a dormir. — Agindo indiferente, abri a geladeira e peguei uma garrafa de água. — O que está olhando?
— Minha casa.
— Sua mãe está bem?
— Não sei, Olive. Não sei mesmo. — Suspirando, ele distraidamente pegou o celular e andou até mim.
— Você pode falar comigo se estiver precisando.
Ele parou bem diante de mim, seus olhos quase invisíveis no escuro.
— Posso?
— Claro. Sei que se preocupa com seus pais, às vezes. Posso ouvir, se precisar.
— Está certa, pequena Olive. Eu me preocupo com eles, mas eles são a última coisa sobre o que quero falar.
— Desculpe — murmurei, olhando para o chão.
— Não precisa se desculpar. Venha e nos chame se precisar de alguma coisa, tudo bem? Acho que não vamos dormir por algumas horas ainda. — Um puxão gentil no meu cabelo e ele se foi.
Esperei alguns minutos até ele voltar pela escada.
Logo quando estava prestes a ir para o meu quarto e correr para pegar o celular, Dylan colocou a cabeça para fora do quarto dele.
— O que está fazendo, Olive?
Droga! Ele não tinha outra coisa para fazer além de tornar minha vida miserável?
— O que você está fazendo? — perguntei de volta, meio irritada e meio nervosa.
Ele inclinou a cabeça com as sobrancelhas unidas.
— Volte para a cama, Olive. Está tarde.
— Eu ia fazer exatamente isso quando você me fez parar. — Ergui a garrafa de água para ele poder ver. — Desci para pegar uma bebida.
— Deixe-a em paz, cara. — Escutei a voz de Jason atrás de Dylan.
— Boa noite, Dylan — eu disse finalmente, então entrei no quarto sem esperar resposta. Quem saberia o que ele iria dizer…
Pulando na cama, procurei o celular debaixo das cobertas e tive um pequeno ataque quando não consegui encontrá-lo. Relaxei quando percebi que estava debaixo do travesseiro.
Com a empolgação tola me inundando de novo, verifiquei as mensagens e vi que não havia nada novo de Jason.
Me deitando, disse a mim mesma que só iria enviar mais uma mensagem e, talvez, tentar a sorte pela manhã, antes de Amanda vir pegar o celular.
Eu: E aí? Nenhum palpite? Estou surpresa.
Jason: Desculpe, estava ocupado. Qual jogo estávamos jogando mesmo?
Enxergando minha primeira brecha, não consegui evitar e ataquei. Será que ele falaria de mim?
Eu: Ocupado? Ocupado com o quê? Já encontrou uma nova amiga, hein? Você é rápido mesmo.
Jason: Você é engraçada. Fui encurralado pela irmã de Dylan. Não estava exatamente nos braços de outra menina.
Sem saber que meu coração estava prestes a ser partido pela primeira vez, engoli a dor que a palavra “encurralado” tinha causado e me obriguei a responder.
Eu: São quase 2 da manhã, e você estava com a irmã de Dylan? Parece bom. Conte mais.
Jason: Ela é só uma criancinha. Uma grudenta, talvez, já que ela sempre me segue por aí, mas ainda uma criança. Às vezes, ela esquece disso. Estou muito mais interessado em quem você é. Estou pronto para jogar. Está preparada para ser descoberta por mim?
Li a mensagem mil vezes, ou talvez um milhão. Uma lágrima escapou do canto do meu olho, e me cobri e deitei de costas.
Gentilmente, soltei o celular e tirei as cobertas do rosto a fim de encarar o teto escuro. Em algum momento, ele tocou com duas novas mensagens, mas o ignorei. Não, não é verdade, lembro de pegar o celular e deletar tudo antes que palavras inesperadas pudessem me magoar de novo, mas, naquele instante, estava tudo embaçado para mim. Não conseguiria ler as mensagens mesmo se quisesse me torturar.
Grudenta?
Encurralado?
Meu coração se partiu em pedaços e, de repente, não conseguia suportar ver Jason pela manhã. Não conseguia suportar dormir no quarto perto do dele de novo.
Colocando as pernas para fora da cama, não percebi que havia chutado o celular para debaixo da porta do meu armário.
Segundos mais tarde, Dylan entrou no meu quarto.
— Você ouviu… Olive, o que aconteceu?
Secando minhas lágrimas, olhei para meu irmão e mais lágrimas frescas escorreram por meu rosto já molhado.
Quando ele se sentou na minha cama e gentilmente colocou a mão nas minhas costas, joguei os braços em volta dele e escondi o rosto em seu pescoço. Seus braços me envolveram.
Quentes e seguros.
Escutei passos na minha porta, mas estava assustada demais para erguer a cabeça e encarar Jason. Achava que não conseguiria olhar para ele no olho de novo.
Respirando rápido no pescoço de Dylan, falei:
— Desculpe, foi só um pesadelo.
— Tudo bem, irmãzinha — Dylan disse. Ele hesitou, depois adicionou: — Desculpe também.
Os dias seguintes foram puro inferno para mim, com Jason dormindo do outro lado da parede do meu quarto, sentando ao meu lado à mesa de jantar. O pior era quando eu olhava para ele e o via sorrindo para mim, mas sabia que não significava nada. Talvez nunca tivesse significado.