CAPÍTULO 01
CAPÍTULO 01
Era cedo quando Juliana saiu para trabalhar, o dia ainda não tinha clareado, mas a rua estava agitada, ela m*l tinha conseguido dormir à noite nervosa devido às brigas e tiros que ouvia da sua casa, com medo de uma bala perdida, não compreendendo a alegria daqueles homens e mulheres que passaram a noite em claro correndo um risco bem maior do que ela que estava em casa, ela não entendia qual era o motivo que tinha para estar festejando depois de uma noite tão violenta e sanguinária, Juliana não conseguia entender tamanha tranquilidade depois de tantos tiros sendo trocado e gritarias, aquilo para ela era o fim, em seu íntimo ela tinha o sentimento tristeza pelo fato de ver pessoas tão saldáveis e capazes de trabalhar entregues aquela vida de crimes e drogas, pensando que cada jovem ali presente poderia ser algo diferente de um mafioso, mas triste por saber que nenhum queria ser diferente, a maioria queria apenas seguir os passos de outro falar que estava no crime e assim o legado do crime continuava sendo passado de geração em geração.
Juliana andava com a cabeça abaixada na rua, torcendo para que ninguém mexesse com ela, sua vontade era que não fosse vista, desde que se conhecia por gente morava no morro, sua casa era uma das mais antigas herdada de seus avós, ela ficava em um dos lugares mais perigoso que tinha e eram poucos os dias que conseguia dormir tranquila, pois lá alguma coisa sempre acontecia, às vezes era devido a devedores do tráfico, outras brigas entre eles mesmos, de sua casa era possível ouvir o som das pancadas e às vezes os gritos, mas o que gerava mais medo eram as operações da polícia, quando acontecia Juliana e seus familiares tinham que dormir em baixo da cama para diminuir a chance de um tiro perdido ou de qualquer outro tipo de imprevisto. Na noite passada, pelo pouco que ela conseguiu ouvir antes que os tiros começassem, a briga tinha sido por causa de território, onde um traficante de uma outro bairro queria derrubar o ponto de Roberto e ficar com o lugar, mas pela a alegria que ela via daquelas pessoas comemorando nas ruas, eles não tinham conseguido, o que era melhor para os moradores, pois uma nova gerência no lugar certamente tiraria as pessoas que moravam perto como ela de seus lares, mandando para outro canto, provavelmente em barracos ou até mesmo matando.
Juliana tinha o desejo de sair do morro, tanto ela quanto sua família, mas nunca tiveram o dinheiro para que isso fosse real, a vida na comunidade era difícil e distante dos sonhos e da realidade, mesmo tendo crescido ali, sempre era difícil saber se estaria viva no dia seguinte ou se perderia alguém, muitas pessoas morriam, estando elas envolvidas ou não com o crime, às vezes perdiam amigos, familiares, todos os dias vidas inocentes pagavam devido à escolha feita pelos outros, vida que não tinham vinculo algum com o crime se perdiam por causa das escolhas de pessoas que não tinham uma noção que influenciavam na vida dos outros, que uma bala não perguntava quem era inocente ou não.
Conforme Juliana descia contemplava horrorizada o sangue espalhado pelo chão, era tanto sangue que de certo mais de uma pessoa devia ter saído muito ferida, a cada passo dava mais próxima ela ficava da festa de comemoração e as poças de sangue aumentavam, era triste aquela realidade, mas ela não sabia se era mais triste que a dela que tinha que presenciar essas cenas sempre mesmo sem querer, era como se Juliana não tivesse uma escolha em relação a isso, era triste esse fator, sua mãe tinha nascido ali, morado a vida toda naquela mesma casa, onde seus pais foram mortos por bala perdida e agora ela morava ali desde o ventre de sua mãe, não era como uma pessoa que parou sem querer na comunidade, estava ali desde sempre e para sair contava apenas com a fé em Cristo que se continuasse seguindo Deus a abençoaria e ela poderia dar uma vida diferente para os filhos que teria quando encontrasse um parceiro legal, pois até então tinha dedicado sua vida apenas ao trabalho e sua família, não tendo nunca namorado, pois sua mãe era uma mulher muito doente devido ao nervoso que passava no local onde morava e seu pai era bem mais velho que a mãe também muito doente, eles tinham apenas Juliana como filha e ela era quem cuidava deles e trabalhava duro para completar a renda da casa, pois nenhum dos dois tinha conseguido aposentar e viviam apenas de benefícios de governo, o pai recebia uma pequena renda e a mãe não tinha direto porque ele já recebia, aquele salário era pouco, mas o que ajudava na condição de vida dos dois, a mãe recebia uma pequena renda de duzentos reais e uma doação de leite, se não fosse o trabalho de Juliana eles passariam necessidades, pois o preço dos alimentos eram absurdos e m*l dava para manter uma casa, pagar todas as dívidas de saneamento básico ter higiene pessoal e conseguir de vestir ou ter um momento de lazer, a vida no morro poderia ser mesmo sufocante para quem não se rendia ao estilo da maioria das pessoas que viviam ali.
Juliana amava seus pais, era uma filha grata pela educação e amor que recebeu num ambiente contrário a isso, seus pais mostraram que era possível ser uma pessoa descente num ambiente que o fazê-lo tornava as pessoas motivos de zombaria e chacota, ela tinha a convicção de quem era e que o que fazia era o certo, mas todas às vezes que tinha que passar no meio deles naquele estado se sentia m*l, as meninas eram muito diferente dela e sempre riam da sua forma de se vestir, pois usavam roupas completamente diferente, elas vestiam roupas tão curtas que Juliana achava melhor que andasse apenas de calcinha e sutiã e assim mostrariam menos do mostravam quando estavam de roupas, “uma pena” pensava ela vendo-as se oferecerem embriagadas para os homens na troca de bebida e drogas, “elas são lindas, mas nosso corpo não foi feito para isso ele é templo do Espírito Santo tem que ser valorizado, pois é nosso corpo que carrega o sopro da vida, não fomos feitas para sermos oferecidas como sacrifício s****l, as coisas não tinham que ser assim”. Ela passava a passar no meio onde eles estavam, pois, a rua estava cheia, um carro alto de som tocava música numa altura ensurdecedora, ela abaixava a cabeça e acelerava o passo quando ao olhar para o lado viu um corpo caído no chão, provavelmente estava morto enquanto todos festejavam, era cedo demais para tirar os vestígios da noite das ruas, olhar para aquele corpo jogado no chão sem respeito por quem morria, ou por suas famílias, ou até mesmo os pedestres que passavam ali era um absurdo, era impossível não se chocar com a fragilidade do corpo humano e da vida, ela não entendia como a morte não causava nada naquelas pessoas, não ao menos o temor dela própria, mais a frente outros três corpos estavam esparramados pelo chão, eram de três meninos que traficavam em outro ponto na cidade, aquela cena era triste e pesada demais para ela, que não conseguia mais andar, ela falava a si mesma que aquele não era o lugar em que devia parar, se culpando por estar travando diante da morte daqueles jovens, mas não conseguia andar ainda que tentasse mandar no corpo suas pernas não estavam respondendo e ela sentia que estava paralisando, com a mão na boca escondendo o pavor que sentia, sentindo quando foi empurrada por uma moça que disse:
— O que você quer? Deve ser uma fofoqueira, para de cuidar da vida dos outros!
— Eu...
— Deixa ela passar- disse o traficante dono do morro se aproximando dela e segurando em seu braço- Vem que te ajudo.