Vittorio ficou sem palavras, o celular escorregando de sua mão e caindo no tapete. Ele a encarava, incapaz de processar a visão dela ali, depois de meses de silêncio.Os olhos castanhos dela tinham o mesmo brilho — teimoso, forte, provocador. Mas havia algo mais ali. Cansaço. Saudade. Uma dor espelhada à dele.
— Eu... você... como?
Ellis mordeu o canto do lábio, um gesto nervoso que fazia quando queria se desculpar, mas não sabia como.Ela ergueu a garrafa.
— Não é todo dia que uma mulher invade o hotel do próprio marido pra ver se ele ainda lembra como se bebe um Barolo como um cavalheiro.
Vittorio deu um passo atrás, permitindo que ela entrasse. Ela passou por ele com aquele perfume amadeirado que sempre o deixava desarmado.
— O quarto é bonito — disse ela, observando. — Esse hotel ainda serve aquele tiramisù horrível que você amava?
— Pior que sim.
— Ótimo. Tô faminta.
— Você veio até aqui pra comer tiramisù r**m comigo?
Ela olhou para ele, séria.
— Não. Vim porque tô velha demais pra dormir sem você.
O silêncio caiu como uma manta sobre os dois. Ele a observava como se ainda não acreditasse.
— Achei que você... tivesse me esquecido. — murmurou.
Ellis tirou o sobretudo com calma. Por baixo, usava um vestido preto de seda, colado ao corpo. Lindo. Elegante. Familiar.
— Não se esquece o que é parte da gente, Vittorio.
Ele se aproximou devagar.
— Eu achei que você não me amava mais...
Ellis se sentou na poltrona, cruzando as pernas com naturalidade.Ela o encarou com firmeza. Aqueles olhos castanhos que atravessavam qualquer defesa dele.
— Achei que você fosse me procurar... você sempre me procura primeiro.
— Dessa vez, achei que não devia. Quis ver até onde ia o seu orgulho.
— E eu achei que você nunca ia admitir que estava errado. Empatamos?
Ele caminhou até ela, devagar, se ajoelhou diante da poltrona, pegou as mãos dela.
— Eu tava prestes a ligar... juro. Não aguentava mais.Eu sou velho demais para ser orgulhoso.
Ellis riu. Um riso doce, aliviado.
— E eu sou velha demais pra fingir que não sinto sua falta.
Vittorio puxou Ellis para si, os braços envolvendo-a com uma urgência que traía todo o cansaço, todo o orgulho que o mantivera afastado por meses. Seus dedos, calejados pelo tempo e pelas escolhas de uma vida nem sempre limpa, apertaram o tecido do sobretudo preto dela, como se temesse que ela pudesse evaporar. Ellis não resistiu. Seu corpo, firme e quente, cedeu completamente contra o dele, os contornos familiares se encaixando como peças de um quebra-cabeça há muito separado.
Ele a conduziu para a cama king-size, os passos lentos, deliberados, como se cada movimento fosse uma tentativa de prolongar o momento. A luz suave do quarto dançava sobre o rosto dela, destacando as linhas finas ao redor dos olhos, a curva suave da boca que ele conhecia tão bem. Ellis, com seus cinquenta anos bem vividos, ainda carregava a força de uma mulher que nunca se curvava facilmente, mas ali, sob o olhar dele, havia uma vulnerabilidade que o desarmava. Vittorio, com quase sessenta, sentia o peso dos anos nos ombros, mas nos olhos dela, ele ainda era o homem de terno cinza que roubara sua vaga no estacionamento décadas atrás, o “i*****l” que ela xingara com um brilho nos olhos que ele nunca esquecera.
Vittorio a encarou, os olhos traçando cada detalhe como se fosse a primeira vez. Para ele, ela não havia mudado — ainda era a jovem de vinte e cinco anos que o desafiara com um olhar afiado e um sorriso que prometia problemas. Para ela, ele ainda era o homem arrogante de terno cinza, o cabelo bagunçado pelo vento, o sorriso torto que a fazia querer socá-lo e beijá-lo ao mesmo tempo.
— Você tá me olhando como se eu fosse uma pintura — murmurou Ellis, a voz rouca, mas com um toque de provocação.
— Você é — respondeu Vittorio, a voz grave, quase um rosnado. — Sempre foi.
Ela riu, um som baixo que vibrou no peito dele, e ergueu as mãos para desfazer o nó frouxo da gravata de Vittorio. O tecido de seda escorregou entre seus dedos, caindo ao lado da cama. Ele segurou o rosto dela, os polegares traçando a linha do maxilar, e a beijou. O beijo começou suave, uma exploração cautelosa, como se testassem o terreno após meses de distância. Mas logo a urgência tomou conta, os lábios se movendo com fome, as línguas se encontrando em uma dança que era ao mesmo tempo, familiar e nova. Ele sentiu o gosto do vinho que ela carregava, o calor da boca dela, e algo dentro dele se partiu — o orgulho, a raiva, o vazio.
Vittorio a guiou para a cama, as mãos descendo para o zíper nas costas do vestido. Ele o abriu lentamente, o som do metal deslizando cortando o silêncio do quarto. O tecido caiu, revelando a pele de Ellis, macia e marcada pelo tempo, mas ainda tão viva sob seus dedos. Ele a deitou no colchão, os lençóis de algodão egípcio frios contra a pele quente dela. Ellis o puxou para si, as mãos firmes nos ombros dele, desabotoando a camisa com uma pressa que traía sua própria necessidade. A camisa de Vittorio juntou-se ao monte de roupas no chão, seguida pela calça, até que não havia mais barreiras entre eles.
Eles não eram mais jovens. As marcas do tempo eram visíveis — as rugas ao redor dos olhos dele, as cicatrizes que cruzavam o peito de Vittorio, os fios grisalhos misturados ao cabelo castanho de Ellis. Mas ali, naquele momento, o tempo parecia irrelevante. Ele a via como a garota que o desafiara em um estacionamento lotado, os olhos brilhando de indignação. Ela o via como o homem que a conquistara com uma mistura de charme e teimosia, o único que conseguira segurar seu coração não uma, mas duas vezes.
Vittorio beijou o pescoço dela, os lábios traçando a curva da clavícula, descendo até o vale entre seus s***s. As mãos dele exploravam cada centímetro, memorizando-a como se temesse esquecê-la novamente. Ellis arqueou o corpo sob o toque, um gemido baixo escapando de seus lábios. Ela passou as unhas pelas costas dele, o toque firme, quase possessivo, marcando-o como ele a marcava. Não havia pressa, mas havia urgência, uma necessidade crua de se reconectarem, de preencherem o vazio que os meses de silêncio haviam cavado.
Ele se posicionou acima dela, os olhos encontrando os dela. Havia uma pergunta silenciosa ali, uma hesitação que ele raramente mostrava. Ellis respondeu com um sorriso, puxando-o para mais perto, as pernas envolvendo a cintura dele. Eles fizeram amor, os corpos se movendo em um ritmo que era, ao mesmo tempo, lento e desesperado. Cada toque, cada beijo, era uma promessa e uma confissão. Vittorio sentia o calor dela, o pulsar do coração dela contra o seu, e pela primeira vez em meses, ele se sentiu vivo. Ellis, com os olhos semicerrados, agarrava-se a ele, os gemidos suaves enchendo o quarto, misturando-se ao som distante da cidade que vazava pelas cortinas fechadas.
Quando o clímax veio, foi como uma onda, levando-os juntos, os corpos tremendo, as respirações entrecortadas. Vittorio desabou ao lado dela, o peito subindo e descendo, a mão ainda entrelaçada na dela. Eles ficaram em silêncio por um momento, o quarto agora quieto, exceto pelo som da respiração deles. A garrafa de Barolo, esquecida na mesinha, parecia um símbolo do que haviam deixado para trás — e do que estavam recuperando.