Capítulo 71

1005 Words
Mel observava a sua irmã com atenção. Sofia ainda dormia de forma tranquila. Ao que parecia, o remédio que o médico tinha lhe dado era mais forte do que ela pensava. Em um canto, ela havia colocado uma vasilha com um caldo que Nora tinha preparado. Mel nunca pensou que ficaria tão desesperada na sua vida quanto no momento em que Xavier lhe contou o que tinha acontecido. Eles sempre viam Sofia como uma pessoa inabalável, alguém em quem poderiam se apoiar caso precisassem. Sofia era a única que nunca pedia ajuda, nunca reclamava ou chorava por algo. Ver a forma como sua irmã tinha se quebrado fazia Mel pensar que estavam errados. Ela estava guardando tanta coisa para si que aquilo a estava ferindo profundamente. Alguns minutos depois, Sofia se agitou na cama, despertando. Os seus olhos procuraram um certo par de olhos azuis, mas o que encontrou foram olhos castanhos que a encaravam com preocupação. — Oi, Mel — disse ela, respirando aliviada. — Sofi! — exclamou Mel, chorando enquanto segurava a mão da irmã. — Você é tudo para mim, irmã. Não pode fazer isso comigo de novo. Sofia olhou para Mel com o coração apertado. Os seus olhos pequenos estavam vermelhos e marejados. Parecia que a sua irmã havia chorado antes de vê-la. — Eu estou bem, Mel. Não tem com o que se preocupar — respondeu Sofia com tranquilidade. — Onde está o meu sobrinho? — Deixei-o com a Síria e a Joana — disse Mel, corando. Ela amava profundamente o filho e só o tinha deixado porque estava com pressa e confiava nas pessoas que estavam cuidando dele. Mel ficava impressionada com o fato de Sofia, mesmo machucada, ainda se preocupar com a família. — Fico feliz que ele esteja seguro — disse Sofia, mais tranquila. — Pare de pensar nos outros. Tem que pensar apenas em você agora — disse Mel, irritada. Levantou-se, pegou a pequena vasilha com o caldo preparado por Nora e voltou para o lado da irmã. — A Nora que fez, e espero que você coma tudo. — Não sou criança, sabia? — retrucou Sofia, arqueando a sobrancelha. — Não foi o que pareceu ontem, quando um certo russo te dava comida na boca — respondeu Mel, fazendo os olhos de Sofia se arregalarem. — Mel! — exclamou Sofia, repreendendo-a. Mel apenas riu da expressão consternada da irmã. — Não faça essa cara. Gosto de te ver bem, e ontem você parecia feliz — disse Mel, dando de ombros. — Ele é diferente — respondeu Sofia em um fio de voz. — Eu sabia! Aposto que o russo é um arraso — brincou Mel, piscando para ela. — Não vou discutir isso com você, Mel — respondeu Sofia, corando. Mel gostava de provocar Sofia. Ver a irmã toda desconcertada a deixava feliz, pois mostrava que ela não era imune ao charme de seu noivo como aparentava. Enquanto conversavam, Mel fez Sofia comer todo o caldo que Nora havia preparado. Ela se sentia feliz por cuidar da irmã, sabendo o quanto Sofia já tinha feito por ela. Alguns minutos depois, os homens irromperam pela porta. Assim que Mel avistou Xavier, correu até ele e o abraçou. — Menos vocês dois, ainda estou aqui — disse Ricardo, passando por eles. — Não seja chato, Rick — respondeu Mel, mostrando a língua para ele. — Você sabe o que penso sobre isso, Pimentinha — disse Xavier, arqueando a sobrancelha. — Depois conversamos, Xavier — respondeu Mel, sorrindo. Ricardo apenas ignorou os dois e foi até Sofia. Era a melhor forma de se controlar. Apesar do tempo de casamento, Mel e Xavier pareciam recém-casados. Aquilo agradava Ricardo, mas, ao mesmo tempo, provocava o ciúme que sentia da irmã. — Como você está? — perguntou Ricardo, dando um beijo na testa de Sofia. — Estou bem, pronta para ir para casa. — Precisamos conversar primeiro, Sofia. Depois vemos isso — respondeu ele, mudando a expressão. — Quer saber o que houve, não é? — perguntou ela. — Sim. Precisamos ver se foi um caso isolado ou se é alguém que realmente queria te prejudicar — disse Ricardo. — Precisa nos dizer o que aconteceu. Estamos aqui com você, ninguém poderá te fazer m*l — disse Yuri, sentando-se na beirada da cama dela. — Eu tinha terminado um atendimento com um aluno — começou ela, nervosa. — Quando ele saiu, comecei a recolher alguns livros para devolver à biblioteca. Foi quando um homem apareceu do nada e colocou uma faca em minha garganta. Ouvir aquilo fez o sangue de Ricardo ferver, mas, ao ver como Sofia estava nervosa, ele se conteve. Ela precisava dele, e vê-lo com raiva não a ajudaria. — Pode continuar, Sofia — disse Ricardo, o mais suave que pôde. — Ele me obrigou a ir com ele. Como os seguranças estavam na porta, ele me fez descer pela escada de incêndio que havia pelo lado de fora. Descemos um pouco e entramos em outra sala. Tentei fugir dele, mas não consegui. Lembro-me de sentir uma pancada na cabeça e acho que desmaiei — disse ela, visivelmente confusa. — Isso é tudo o que lembra? Não viu quem era a pessoa? — perguntou Hideo, que havia ouvido tudo. — Não vi o rosto da pessoa. Tudo o que vi foi a mão dele, que ele usou para tampar minha boca — respondeu ela, se encolhendo. Yuri a puxou para si, pressionando-a contra o corpo. Sofia inalou o cheiro dele profundamente, tentando conter as batidas do coração. — Tem certeza, Sofia? Tente se lembrar — pediu Ricardo, apertando suavemente a mão dela. Sofia parou por um momento, concentrando-se no que havia acontecido. Ela não gostava de relembrar o ocorrido, mas não havia outra forma. A sua mente viajou até o dia do atentado, tentando se focar em cada detalhe. Então, como se do nada, algo veio à sua mente. — O que foi? — perguntou Ricardo, vendo a forma como seu corpo tensionava. — Me lembrei de algo.
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