Episódio 1
Chegamos à floresta, onde o rio se dispersa em um canal largo e o sol se mistura com as nuvens do pôr do sol.
A natureza ao redor, como naqueles dias, impressiona com sua beleza intacta, e o silêncio só é quebrado de tempos em tempos pelo canto dos pássaros. Nada mudou aqui. É bom poder voltar, nem que seja por um momento, a esse passado despreocupado.
Se eu fechar os olhos, eu me vejo correndo a toda velocidade em direção à corda, enquanto meus dois melhores amigos riem de mim, sem acreditar que eu realmente vou pular. Eles muitas vezes duvidavam de mim, mas eu sempre mostrava a eles que um verdadeiro fogo selvagem queimava em uma garota tão delicada quanto eu.
Agora, adulta, eu vejo essa corda novamente. Mas eu não corro mais para ela, eu só olho, lembrando daqueles dias cheios de diversão.
A infância despreocupada, que deixou tantas lembranças quentes, agora parece tão distante e inatingível. Agora eu entendo como é importante valorizar cada momento, cada minuto da vida, porque o tempo é implacável. Ele escapa sem nos dar a chance de voltar.
Por um momento, sinto que sou aquela garota que corre pela floresta rindo de palhaçadas absurdas. Mas quando abro os olhos, só vejo a mulher adulta, refletida na superfície calma do rio.
Tudo mudou. Eu mudei. Mas toda vez que olho para aquela corda, sinto que aquela parte louca de mim está somente dormindo.
— Que estranho que este lugar esteja vazio. — Eu abraço-me com os braços e volto-me para os rapazes.
Herom e Kin se aproximam de mim.
— Este é o nosso lugar e poucos o conhecem — Heron responde com um sorriso.
— A propósito, por que estamos aqui? — Pergunto aos rapazes.
Herom estava conversando o tempo todo, ao contrário do nosso amigo. Kin estava focado em dirigir, sem pensar em se distrair para conversas, e agora ele parece muito sério. O que se passa?
— Tenho uma proposta — diz Herom, dando-me um ligeiro empurrão no ombro — Quero que todos nos lembremos da nossa juventude e passemos a noite aqui, como nos velhos tempos.
— Uau, que proposta! — Digo animada, mas sacio rapidamente o meu entusiasmo.
Na verdade, é uma proposta irracional. Não temos mais quatorze anos. Muitas noites loucas passaram desde então.
— Kin vai para o Sul na próxima semana, você termina a faculdade Anastácia.
— Bem, não termino — mordo o lábio. — Falta um ano…
— Eu também, na próxima semana, vou mudar-me para a capital. Meu pai diz que é hora de se envolver no negócio da família.
— Como é isso? — Olho para os meus amigos de infância — Vai me deixar aqui?
Ultimamente não nos víamos tão frequentemente, conhecendo novas pessoas e amigos, mas esses dois estavam sempre em meus pensamentos… Como vou ficar sem os meus filhos?
— Ninguém está deixando para trás, Anastácia! — Exclama Herom que, na verdade, é meio-irmão de Kin só por parte de mãe, passando o braço por cima do meu ombro.
— Só começamos um novo capítulo na nossa vida — Heron continua, a sua voz torna-se um pouco mais contida — Mas isso não significa que vamos esquecer os velhos tempos. Você sempre será parte de nossas memórias, assim como nós somos parte de você.
Sem querer, minha pele fica de pé. A memória lembra-me o meu primeiro beijo com o Heron. Foi precisamente aqui.
É embaraçoso admitir isso, mas esses dois gostaram de mim um pouco mais do que amigos, mas depois daquele beijo com Heron, eu me proibi de pensar mais sobre isso. Eles são meus amigos. Ponto final.
— Bem — Olho para a superfície ondulada do rio — Já que estamos todos espalhados como pássaros, vamos fazer um piquenique com a noite incluída, como nos bons velhos tempos.
Só naqueles bons momentos, além de nós três, havia mais uma dúzia de amigos aqui, adicione a voz interior.
Aperto o braço do Heron e vou para o porta-malas. Há tudo o que você precisa para o piquenique.
De repente, uma emoção desconhecida me invade. E intensifica-se com a seguinte frase de Heron:
— E vamos tomar banho nus? — A piada dele vem até mim.
— Claro que — confirma Kin, embora não com muito entusiasmo.
— Cavalheiros, a idade não permite! — rio ao abrir o porta-malas e retirar o cesto com comida — Não estamos em uma praia de nudismo aqui, então vamos nadar sozinhos com roupas de banho!
— Raios! — Irónico Heron. — E esqueci-me de fato da roupa de banho!
— Então, na roupa interior… — Eu grito e não percebo quando Kin se aproxima por trás. Seus dedos frios tocam minha cintura e ele me ajuda a levantar a pesada cesta de comida.
Eu tremo com a invasão do meu espaço e pego seu olhar escuro. Minha pele se cerda instantaneamente, porque sua mão masculina não me solta.
— Bem, vamos dividir as tarefas — Quero dizer, engolir saliva grossa — Kin, cuida da fogueira, Heron, ajuda-me com a comida e depois podemos dar um mergulho no rio.
Nós começamos a trabalhar, espalhados pela clareira da floresta a uma distância entre nós. A sensação de inquietação me deixa quando me imerjo nos rituais familiares de preparar um piquenique.
Kin começa com a fogueira, usando galhos secos e folhas espalhadas ao redor. Quando Heron e eu começamos a desembalar a cesta de comida, tiramos o queijo, o presunto, o pão e as frutas. Heron corta os produtos, enquanto eu os arranjo em um cobertor grande, transformando esse canto em nossa aconchegante toalha de mesa de piquenique.
O sol já está escondido quando Kin termina com a fogueira, e o fogo ilumina seu rosto, fazendo com que suas feições pareçam ainda mais bonitas. Ele olha para nós e junta-se silenciosamente à toalha de mesa, senti o meu coração parar por um momento.
Nós comemos, brincamos e lembramos histórias de infância, quando a noite cai. As estrelas começam a brilhar acima de nossas cabeças. Eu olho para Heron e Kin, e não posso acreditar que em breve nos separaremos para diferentes cantos do mundo.