Episódio 7

1017 Words
— Conhecem-se? — Vivian pergunta com surpresa quando aparece. — Que surpresa! — Nós… — Começo a dizer, mas o Heron interrompe-me, envolvendo o meu ombro num abraço. — Somos velhos amigos — pisca para Vivian. — Conhecemo-nos desde a infância. Sente-se, sentindo o calor de sua mão se espalhando pelo meu corpo. O encontro inesperado desperta um turbilhão de emoções, mas tento manter a calma. — Encantado, Vivian olha para Heron avaliativamente. — Que tal pedirmos alguns coquetéis e lembrar-nos dos velhos tempos? Heron acena com a cabeça, sem tirar a mão do meu ombro. Eu posso sentir meu coração batendo mais rápido e minha mente invadida por perguntas. O que ele está fazendo aqui? Como tem sido sua vida todo esse tempo? E por que, apesar de tudo, estou tão feliz em vê-lo? Eu começo a me lembrar de cenas de cinco anos atrás e sinto calafrios. Fogo brilhante e nós os três… Fazendo algo que não pode ser dito a ninguém. Essas memórias me fazem sentir quente e eu percebo como eu coro, querendo afastar esses pensamentos. Mas a presença de Heron torna quase impossível esquecê-lo. Sentamo-nos à mesa e tentamos focar-nos no menu, mas o meu olhar volta sempre para Heron. Ele parece ainda mais atraente do que antes e eu percebo que quero tocar sua mão. Vivian diz algo, mas suas palavras vêm a mim por meio de uma névoa; toda a minha atenção está no meu velho amigo. — Como está? — Decidi parar esta tortura, mudando de assunto. — Não esperava mesmo encontrar você aqui, Heron. Heron sorri. Em seus olhos, eu vejo refletidas as mesmas emoções que eu sinto. — Sim, é uma verdadeira surpresa — responde sem desviar o olhar. — Mas estou contente por o destino nos ter juntado novamente. Está muito mudada, Anastácia. A cidade combina com você. — São dois anos sem nos ver — debaixo dos olhos e apanhei uma mecha de cabelo atrás da orelha. — Dois anos? Não posso acreditar! E acabei de descobrir, — diz, virando-se para mim e colocando a mão na parte de trás do sofá. — Estou ofendido, sabe? Como pudesse ser de outra forma depois do que aconteceu… Este é realmente o nosso primeiro encontro depois desses eventos na floresta. Cinco anos se passaram e as memórias estão cobertas de poeira. Eu me convenci de que o que aconteceu entre nós era somente minha imaginação transbordante. Mas quando Heron está tão perto, quando seus dedos acariciam suavemente meu ombro, as memórias ganham vida vividamente. E então o sentimento se intensifica quando percebo que Kín poderia estar perto… — Que amigos tenho, — Heron murmura. — Um está em Buenos Aires há dois anos e ninguém sabe de nada, o outro acaba de chegar ao país e já tem questões a tratar. — O que quer dizer “ninguém sabe para onde?” — responde ofendida Vivian, defendendo-me mesmo que eu não precise dela. — Anastácia é uma publicitária promissora e amanhã ela será a mão direita da chefe da empresa! A garota me passa um coquetel e eu, ansiosamente, aceito. Sinto as minhas bochechas começarem a aquecer. Heron não tira os olhos de mim e eu percebo como seu olhar desliza pelos meus lábios, o que me deixa ainda mais nervosa. Eu tento me concentrar na conversa, mas meus pensamentos sempre voltam para aquela noite na floresta. Vivian percebe minha reação e me dá um olhar curioso. Eu tento colocar meus pensamentos para responder à sua pergunta não verbal, mas as palavras sufocam minha garganta. Heron parece sentir a tensão também, e de repente sugere que pedimos mais coquetéis. — Publicista? — levanta a sobrancelha quando nos servem mais uma rodada de coquetéis e a Vivian já está totalmente imersa com a sua “amiga”. — Os sonhos tornam-se realidade? Eu sinto um calor reconfortante correndo pelo meu corpo por suas palavras. Lembra-te dos meus sonhos e isso me comove profundamente. — E onde está agora? Heron pensa por um momento, depois responde com um leve sorriso: — Trabalho numa empresa de tecnologia. Dedico-me ao desenvolvimento de software. Não é exatamente o que eu sonhava quando criança, mas eu gosto disso. — Como reagiu o seu pai sabendo que deixou o negócio da família? — Não tão bem, mas isso é coisa do passado. Assento, percebendo haver muito mais por trás dessas palavras do que conta. Eu gostaria de pedir mais, mas algo me impede, talvez não seja o melhor momento ou lugar para tais conversas. Estamos em um clube, não em um lugar para abrir nossas almas. — Gosto do que vejo, — Heron aproxima-se inesperadamente e os dedos dele tocam suavemente a minha bochecha. — Está incrivelmente linda! Eu fico parada, sentindo seu toque enviar impulsos elétricos por todo o meu corpo. Nossos olhos se encontram e, por um momento, parece que o mundo inteiro desaparece. Meu coração bate rápido e minha respiração se torna superficial. De repente, fico assustada e olho para a minha amiga, que nesse momento se levanta e sai com a sua nova amiga — ou talvez velha amiga. Heron percebe meu olhar e se vira para ver onde Vivian foi. Sua mão ainda repousa sobre o meu ombro e eu sinto o calor de seu corpo perfurar o tecido fino do meu vestido. Estamos sozinhos. A tensão entre nós cresce a cada segundo. — Você também mudou muito, — eu digo enquanto umedece meus lábios ressecados. Heron sorri. Em seus olhos, eu vejo o reflexo do passado. Ele se inclina mais perto e eu sinto sua respiração quente na minha pele. — Não faz ideia do quanto senti a tua falta, Anastácia, — sussurra. Essas palavras fazem o meu coração parar por um segundo. — Acho que não é coincidência estarmos juntos agora. Meu coração bate como louco e meus pensamentos giram como um turbilhão em minha mente. Parte de mim quer ir embora, me lembrar do passado. Mas outra parte… outra parte anseia por sua proximidade, quer sentir novamente aquela centelha que uma vez surgiu entre nós.
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