Cinco anos se passaram...
— Amanhã, Maria das Dores irá nomear-me como sua mão direita — diz Vivian, sedutoramente mordendo um lápis enquanto levanta as sobrancelhas de brincadeira.
— Se ficar presunçosa e parar de falar comigo, contarei a todo o escritório alguns dos teus pequenos segredos sujos.
— A única razão pela qual eu podia parar de falar contigo seria por um dia cheio de trabalho. E se meu sonho se tornar realidade e Maria me fizer sua mão direita, será…
— Quando! — interrompe-me abruptamente Vivian.
— O quê? — Eu olho para ela, perplexa. Ansiedade no próximo evento faz minha cabeça girar.
— Quando Maria das Dores vai nomear, você?
— Isso vai acontecer amanhã na reunião! — afirmo com certeza. — Você é a melhor em relações-públicas para a nossa empresa! Maria deve fazer de você vitoriosa. Você é uma jovem verdadeiramente talentosa!
Eu rio das palavras da minha amiga, mas, no fundo, eu sei que ela está certa. Amanhã pode ser um ponto na minha carreira.
Eu tento me concentrar no trabalho, mas os pensamentos sobre o dia seguinte não me deixam em paz.
Nos últimos cinco anos, minha vida mudou radicalmente, transformando-se em uma pintura perfeita da qual não posso tirar meus olhos.
Tenho quase vinte e cinco anos. Vivo na capital de Orlando há dois anos e trabalho na mais prestigiada agência de relações-públicas do país. Naquele tempo, tive a oportunidade de trabalhar com vários grandes clientes e estabelecer minha reputação como profissional. Amanhã tudo pode mudar: estou à beira de uma nova etapa na minha carreira.
Minha dedicação ao trabalho e minha busca pela excelência não passaram despercebidas. Meus colegas me respeitam e a gerência valoriza minha contribuição para o desenvolvimento da empresa. No entanto, eu não descanso. Eu sempre procuro maneiras de melhorar minhas habilidades e ampliar meu horizonte profissional.
— Você sabe, que parece tensa — Vivian, sem cerimônia, explode em meus pensamentos e deixa cair o lápis. — Eu proponho celebrar sua promoção hoje. Em uma boate.
— Você está louca? — Eu olho para Vivian em descrença. — Amanhã é um dia importante e eu tenho que estar em boa forma. Além disso, não sabemos ao certo se haverá uma posição para mim.
Vivian deixa os olhos em branco e suspira teatralmente.
— Você é muito séria — diz, balançando a cabeça. — Maria ama você. Não consigo imaginar o que teria de acontecer para rejeitar a sua candidatura. E alguns coquetéis não influenciarão sua decisão, mas ajudarão você a relaxar.
Olho para os anéis dourados nos dedos e mordo os lábios. Uma pequena pausa pode ser benéfica.
— Ok, convenceste-me — eu saí, a sorrir para a Vivian. — Mas só uns coquetéis, nada mais. E em casa, o mais tardar, onze.
Minha amiga levanta os braços vitoriosamente e começa a planejar nossa noite. Eu me preparo mentalmente para o dia seguinte, esperando que uma pequena pausa me ajude a relaxar e não ficar preso em pensamentos obsessivos.
Vivian tem razão. Nossa chefe me valoriza muito e tem repetido que este é o meu lugar. Somente um desastre de proporções épicas pode mudar sua decisão. E não parece que algo assim vai acontecer em breve.
— Eu vou encontrar um clube para nós — diz Vivian levantando uma sobrancelha — enquanto você continua trabalhando, abelha laboriosa.
Ela pisca para mim e sai do escritório. Eu balanço minha cabeça sorrindo para seu entusiasmo e volto ao trabalho. Apesar da próxima noite, tenho alguns assuntos importantes para terminar antes da reunião de amanhã.
***
Vivian escolheu a boate mais popular da cidade, um lugar onde tanto resíduos ricos quanto despreocupados podem ser encontrados. Sua escolha é motivada por interesse pessoal: meu amigo sonha em encontrar um “papai de açúcar”.
Nisso, nossas opiniões diferem. Eu valorizo a independência. A liberdade financeira, para mim, não é somente palavras vazias, mas um princípio de vida. Estou convencido de que posso alcançar tudo com meus próprios esforços, sem a ajuda de ninguém. Isso não somente fortalece meu caráter, mas também me dá a sensação de ter controle total sobre meu destino.
— Temos lugares de luxo! — Vivian leva-me pela mão e leva-me à varanda, de onde se tem vista para a zona de dança cheia de movimentos sensuais.
— De onde vieram? — Ajusto o meu vestido curto, ando rapidamente atrás dela.
— Conheci um galã que me quer levar para a cama ou pelo menos para o banco de trás do seu novo “Lexus”.
— Parece que hoje os seus sonhos se tornarão realidade — murmuro para mim. Isso é ainda melhor. Vivian vai se concentrar em seu possível pretendente e eu estarei em casa às onze e meia.
Subimos as escadas. Vivian já está acenando para um menino em um terno caro. Ao lado dele, noto uma loira cujos olhos brilham com maldade sob as luzes de néon.
Os nossos olhares cruzam-se — e ambos congelamos.
Heron…
O passado esquecido surge em minha mente e um sorriso involuntário aparece em meus lábios.
O tempo parece parar quando nossos olhos se encontram. Meu coração bate mais rápido, e minha garganta seca das memórias que me invadem. Não acredito no que os meus olhos veem — Heron, o meu melhor amigo de infância, está a poucos passos de mim. É tão familiar e, ao mesmo tempo, completamente diferente.
— Anastácia? — O loiro sorri muito quando, sem poder conter-me, fico à frente dele. — Mudou muito!
— E como? — Eu sorrio, à espera de um elogio.
— Incrivelmente, raios! Não esperava vê-lo aqui…
Heron amadureceu notavelmente: ele se tornou alto e na largura dos ombros. Sob suas roupas da moda, você pode ver uma figura atlética. Suas características faciais tornaram-se mais pronunciadas, mais definidas, e há um brilho especial em seus olhos.
Apesar dos últimos anos, ainda sinto essa estranha conexão entre nós. O Heron atrai-me como um Ímã e não consigo desviar o olhar.
— Se conhecem? — Me surpreendeu a pergunta de Vivian.
Realmente, isso é uma surpresa porque desdo acontecido no rio nunca, mas falei com Heron e Kin sumiu.