Priscila narrando...
Quando Bia e eu chegamos na porta da casa de Lúcia (quase 1 hora atrasadas) um nervoso toma conta de mim. Fazia meses que eu não via a cara de Tiago, então estar ali era intimidante.
Involuntariamente balanço a sacola que continha o presente de Tiago, uma blusa de moletom branca. Bia coloca sua mão fria sobre a minha para que eu acalmasse, respiro fundo me forçando a obedece-la.
A porta se abre e Tiago aparece, antes de nos ver ele parecia estar rindo de alguma coisa com aquela covinha linda aparecendo, porém, quando seus olhos pousaram sobre mim, Tiago se empertigou e fechou a cara. Pareceu que ele ia falar alguma coisa mas nada saiu da sua boca quando ele encarou meu corpo, me olhando de cima a baixo, demorando muito tempo.
Ele era todo lindo com aquele queixo quadrado e a barba por fazer, além dos cabelos castanhos lisos e olhos chocolates. Também noto como ele tinha ganhado músculos, que destacou através da camisa branca.
Afasto esse pensamento e para quebrar o silêncio, apresento Bia, que surpreendentemente assistia a tudo sem dizer nada.
-Tiago, não sei se você se lembra da Bia, ou Beatriz, ela ia na minha casa de vez em quando -ele olha para ela e sorri, desvio o olhar para tentar parar de admira-lo.
-Ah, oii! Lembro de você sim, pode entrar -ele abre espaço e eu faço careta.
-Engraçado você convidar só ela pra entrar se tem duas pessoas aqui -murmuro irritada.
-Porque ela está convidada, não você -a Bia me olha com dúvida se deve entrar ou não.
-Pode ir Ruiva, já vou indo -digo pra ela que ri de mim.
-Vou procurar a Lúcia -sua voz ainda continha resquícios de sorriso quando faz uns gestos estranhos por trás de Tiago.
-Pode ir embora, ninguém quer você aqui! -Tiago chama minha atenção com sua grosseria.
-Sua vó que me convidou, então se você puder me dar licença ....- tento passar por ele que bloqueia o caminho.
-Sai da minha casa -começo a rir debochando.
-SUA casa? É uma piada né!? Essa casa não é sua, é da sua avó, que aliás, me deu permissão para entrar -tento passar por ele de novo mas Tiago pega no meu braço com força me puxando para perto dele, eu podia claramente sentir a raiva irradiando dos seus poros.
-Você tá passando dos limites Priscila - sussurra, seu hálito (graças a Deus) era de menta. -Você não sabe com quem está mexendo.
-Eu sei sim, eu tô mexendo com um i****a traficante, um egoísta que não pensa nas pessoas a sua volta que estão chorando e orando por você, porque, afinal, vagabundos não sentem, não é!? -raiva transborda dos seus olhos quando digo isso mas não fico com medo.
Era estranho ficar tão próxima de uma pessoa que me odiava tanto, não que eu fosse me arrepender do que disse, Tiago tinha que sair dessa bolha intocável dele.
-Tem uma morena linda lá dentro que diz ter vindo com a Priscila ...- Escuto a voz de Felipe e Tiago rapidamente me solta, faço careta quando percebo que senti falta do seu calor -Vejo que você está ocupada, então ...
-Não! -digo rápido o impedindo de sair. -Eu só estava cumprimentando o aniversariante -faço cara de cínica pro Tiago -Eu não pretendo ficar muito tempo, então já vou entrar.
-Graças a Deus que não vai ficar -Tiago resmunga e eu o ignoro.
Entro com Felipe, cumprimento todos e depois de comer umas coxinhas, pego a pequena Sofia no colo. Ela é a filha do Luís, muito linda, tem os cabelos lisos e castanhos, igual o pai, mas os olhos ela tinha puxado o tio mais velho sem dúvida nenhuma.
Amo crianças e pelo jeito Sofia sentiu isso, pois ficou dando risadinhas e sorrindo com os dois dentinhos pra mim.
-Oi boneca, você é muito linda, vou roubar você pra mim! -ela mostra a lingua e eu começo a rir, relaxando pela primeira vez no dia.
-Ela tem dono, se você roubar minha princesa vou ficar bem triste -olho pra cima e vejo o Luís, o único que não tinha encontrado ainda.
-Oi, finalmente te encontrei! -me levanto com a pequena nos braços o abraçando de lado -sua bebezinha é muito linda! Parabéns! -elogio
-Obrigado, ela puxou um pouquinho de todo mundo - olho para a pequena Sophia e concordo com ele, deixo o Luís lá e vou dar uma passeada com a Sofia, ela está bem animadinha e fica rindo e puxando meu cabelo, encontro a Ruiva no canto, do lado de um rapaz, os dois estão conversando e ele até que é bonito, porém nunca o vi antes então estava desconfiada que fosse mais um amiguinho drogado de Tiago ou Felipe.
-Ruiva olha a Sofia que eu tinha te falado! -digo com animação me intrometendo entre eles.
-Ai que gracinha!! Deixa eu pegar? -ela se empolga e eu passo a pequena para seus braços.
-A festa é do meu amigo mas vocês duas estão roubando a cena em! -tive que me controlar para não rir da cantada i****a. Bia, por outro lado, olha pro chão envergonhada e eu acho isso bem estranho, ela não é de sentir vergonha, ao contrário, ela gosta de "fazer" a gente passar vergonha. Depois tenho que ter uma conversa séria com ela.
Se passou um silêncio constrangedor até Bia finalmente se tocar e nos apresentar.
-Pri esse é o Gustavo, Gustavo, essa é minha amiga Priscila.
-Pode me chamar de Guto -ele diz com um sorriso -E você e sua amiga são muito lindas! -dessa vez a Bia disfarça brincando com a Sofia.
-Acho que você ficou cego com a beleza da Ruiva, porque só ela que é linda aqui -tento suavizar a situação e ele me olha confuso.
-Oi? Ruiva?
-É um apelido que eu dei a ela, já até acostumamos.
-Aah, legal!... -ele começa a fazer graça e a Bia, ou ficava envergonhada, ou disfarçava, e a maior parte do tempo como eu, ela ria.
Depois chegou o Felipe, que junto com o Guto virou uma animação só, logo as pessoas eram contaminadas e virou uma rodinha de risadas.
Eu conhecia uma boa parte da família do Tiago, e sempre me identifiquei bastante com eles, era sempre bom quando nos reunimos assim. Nunca tive família grande, então esses momentos me faziam muito bem.
Tiago narrando...
Encontrar com a Priscila nessa festa não foi nada bom, nós dois brigamos como cão e gato, mas confesso que assim que abri a porta e vi ela, algo dentro de mim se iluminou, ela estava muito linda.
Tudo em Priscila sempre foi bonito, seu cabelo grande, sua pele lisa, seu tamanho pequeno e fofo..... só havia uma coisa que consumia com tudo. Sua personalidade. Priscila tem um humor nada saudável, e aquela língua um dia ainda a deixaria em maus lençóis.
Fico a festa toda a observando, vê-la com minha sobrinha no braço foi perfeito! Priscila possuía um brilho diferente ao brincar com Sofia, era impressionante!
Vou pra sala irritado com a cena e escuto minha tia gritar que era hora dos presentes, acho isso muito infantil, mas como minha avó que pediu, e eu a amo mais que tudo, eu concordei.
Alguma tia minha começa a gravar, enquanto todos se juntam ao meu redor, eu havia ganhado "muitos" presentes e me senti levemente especial.
Começo abrindo uns menores até chegar em uma caixa enorme que o Felipe me deu, dentro da caixa tem outra caixa, que dentro tem outra caixa e eu faço cara f**a pro Felipe que rir e me incentiva a abrir mais, dentro de cada caixa tem outra e assim vai até que fica uma caixa bem pequena, nessa hora já estou nervoso com ele, as pessoas ao redor estão rindo muito da minha cara e eu me controlo pra não levantar e começar uma briga com meu irmão caçula.
Abro a tampa da última caixinha e encontro um lacinho de cabelo, rosa e cheio de brilho, todos na sala caem na gargalhada, meu irmão e Guto estão descontrolados, zombando da minha cara.
-Eu vou quebrar sua cara, seu irmão de m***a! -olho nervoso pra ele e me levanto, mas ele sai correndo, ainda rindo.
Olho para o lado e a encontro, Priscila está com um sorrisão enorme no rosto, mas não ri de mim, como todo mundo, mas sim da pequena Sofia em seus braços. Tento dizer a mim mesma que isso não é fofo, que ela não é fofa.
-Toma seu verdadeiro presente -o Felipe me entrega uma caixa preta e eu a arranco de seus braços, ele levanta as duas mãos em um sinal de inocência mas não para de rir da minha cara
-Haha muito engraçado, seu mané! -digo sem um pingo de humor
-É pra você amarrar a sua juba de leão quando acordar -ele debocha e eu levanto, mas ele sai correndo novamente, se escondendo atrás da minha avó que também ri da cena.
Abro essa caixa desconfiado e dentro tem um porta retrato com uma foto minha, dele e do Luís, do lado está escrito "Manos até o fim" a foto está bem engraçada, Felipe mostra língua, eu aponto o dedo do meio pra ele e Luís, como sempre, faz careta pra nós. Começo a rir sentindo meu corpo relaxando.
-É um pouco gay, mas eu gostei, e agradeça porque se eu não tivesse gostado, quebrava sua cara -aponto para Felipe que me mostra o dedo do meio.
-Tá, agora abre o meu! -o Guto, meu melhor amigo aponta para uma sacola vermelha, suspeito, mas ele insisti até eu abrir, tiro de dentro da sacola.... uma calcinha preta e vermelha.
A sala inteira explode em risadas, o Guto rola no chão de tanto rir, eu acabo rindo também e jogo o presente em sua cara. Era bom ver a família feliz.
-Você me paga o****o! -aponto para Guto, mas isso só faz ele rir ainda mais.
-Agora chega de brincadeiras, pega o último -Luís diz me entregando uma sacola, quando abro é uma blusa branca, especificamente um moletom que eu estava doido pra comprar.
De tudo que ganhei, esse foi o melhor.
-Quem me deu? -pergunto empolgado já olhando para minha avó.
-Eu e toda minha família -a Priscila diz baixo e eu imediatamente a olho com um sorriso sarcástico. Tinha que ser.
-Esse é o último -minha avó fala- Não faça perguntas, apenas aceite pois é um presente que Deus te deu -ela me entrega uma caixinha pequena, fico sem entender, o que será? Sem reclamar e sem acreditar, eu abro.....