Seus olhos estavam cravados em mim, mas havia algo ali, como se estivesse na dúvida de dizer ou não alguma coisa.
— Olha me desculpa pelo transtorno. — Falou baixo.
— Edu só quer me proteger. — Afirmei.
— Ele deve gostar de você, para ter agido daquele jeito. — Comentou.
— Não tem nada a ver, somos apenas amigos. — Discordei.
Ficamos conversando e ele pediu desculpas novamente, não sei mais quantas vezes, parei de contar na quinta. Depois de tanto conversar, ele veio para minha rede e ficamos trocando carinhos, porém nada muito além do possível. Quando digo nada além, me refiro a beijos e coisas do tipo. Ouvi uma porta bater e dei um pulo.
Olhei em direção a minha porta, e Aline me olhava sorrindo, ela acenou e voltou para o quarto. Provavelmente já estava pensando besteiras. É normal que faça isso na maioria das vezes. Mas fazer o que, esse é o jeito da minha melhor amiga.
Em busca de algum lugar para esconder meu rosto, de tanta vergonha, coloquei minha cabeça de novo em seu peito.
Ouvi alguns berros, a luz do dia era forte, e quase não conseguia abri os olhos, tampava os mesmos com a mão. Henrique me olhava com um sorriso no rosto, e não pude deixar de sorrir também.
— Bom dia Gabi. — Saudou sorrindo.
— Bom dia Henri. — Sorri. — Acho que já está na hora de levantarmos.
— Eduardo passou aqui e fez cara de poucos amigos. — Dedurou rindo.
— Ah, está tudo bem. — Dei de ombros.
Henrique foi para o seu quarto e eu fui para o meu. Tomei meu banho, e coloquei um biquíni branco, com um vestidinho de crochê por cima. Passei um pouco de protetor no corpo, coloquei um óculos, e desci para tomar o café. As meninas me esperavam em uma mesa separada dos meninos, mas do lado, como no dia anterior.
Eduardo nem sequer olhou na minha cara, fingiu que eu não existia, e aquilo me doeu. Ao contrário de Henri, que esboçou um enorme sorriso quando me viu. Peguei algumas coisas para comer e me sentei com as meninas na mesa. Larissa estava contando como estava sendo conhecer Ricardo, e Aline não deixou de falar sobre Jonathan. Acho que os meninos ouviram na outra mesa, porque não paravam de sorrir.
Fiquei com inveja, de não ter algum namorado para ficar falando dele para as minhas amigas. Assim me peguei pensando em quem iria encontrar. Mas, era certo que não deveria ficar pensando nisso de novo, só ficava cada vez mais chateada.
— Acorda Gabriela. — Aline falou, passando a mão rapidamente na frente dos meus olhos.
— O que foi Aline? Para de falar alto. — Resmunguei.
— Eita, que bicho te mordeu hoje? — Perguntou unindo as sobrancelhas em sinal de estranheza.
— Nenhum, só estava pensando aqui. — Respondi.
Levantamos e fomos para a praia, que ficava logo em frente ao hotel, era só atravessar a rua e pronto. Estendi uma toalha na areia e coloquei minhas coisas. As meninas colocaram suas toalhas ao lado, e suas coisas também. Os meninos vieram logo em seguida, e deixaram seus óculos, bonés, e chinelos conosco.
Começamos a jogar vôlei na areia, na beira da água. Apenas nós três. Os meninos ficavam fazendo comentários que não tinham nada haver. O que nos fazia rir cada vez mais. Larissa não sabia jogar muito bem, e normalmente acabava jogando a bola na água, e os meninos acabavam tendo que buscar para nós.
— Vem para a água. — Henri chamou.
— Já estamos indo. — Gritei, fazendo um sinal de beleza com o polegar.
— Mas vem logo. — Insistiu.
Deixamos as nossas coisas em cima das toalhas e fomos para água. Fui direto em direção ao Henri. Eles estavam mais no fundo, e como não sabia nadar muito bem, não sabia como iria lidar se a maré estivesse puxando. Ele envolveu seus braços em volta da minha cintura, por trás de mim, e ficamos todos nós conversando.
Aline estava agarrada aos beijos com Jonathan, e Larissa fazia o mesmo com Ricardo. Enquanto os outros meninos brincavam de pegar as ondas que vinham, e ir até a areia com elas. Era engraçado de ver eles, eram tão sérios na faculdade, mas tinham o lado crianças e eu gostava disso.
— Seria pedir muito, você assim comigo todos os dias? — Perguntou enquanto me virava para lhe olhar.
— Se você pedisse com carinho. — Falei baixinho no seu ouvido em uma tentativa de ser pelo menos um pouco sedutora.
Ele segurou minha nuca e me aproximou mais ainda. Nossos lábios já estavam quase se tocando, quando veio uma onda e tivemos que nos separar. Levantei com raiva daquela onda, por ter estragado meu momento novamente. Mas que saco. Toda hora iria aparecer alguma coisa, e não iria acontecer nada.
Henrique deu um sorriso frustrado e eu retribui. Os meninos ficaram nos encarando por um longo tempo, e tentei desviar a atenção dando um mergulho, e acho que adiantou. Eles voltaram a fazer o que estavam fazendo. Mas percebi os olhos de Aline focados em mim, ela não parava de sorrir, e já estava ficando com vontade de dar uns socos na cara dela.
Voltamos para a areia e tentei disfarçar o máximo, uma das soluções era não olhar para o Henri, estava com uma enorme vergonha do que quase havia acontecido. Peguei minhas coisas, meu vestidinho, e minha toalha e fui andando na frente para o hotel.
Eles tocavam um sino na hora das refeições, e ao chegar lá, pude notar que já havia passado já que muitos estavam comendo. Me sentei sozinha e fiquei comendo em silêncio. Até Eduardo chegar e se sentar comigo. Ele começou a comer e continuou em silêncio. Estava sentado bem próximo a mim.
— Como está sendo o seu dia? — Ele perguntou.
— Bom. E o seu? — Perguntei, tentando ignorar o fato de ele estar tão fechado.
— Normal. — Deu de ombros. — Tenho que te pedir desculpas por ontem, eu acho. — Falou baixo, como se estivesse fazendo um grande esforço para estar ali falando comigo.
— Tudo bem. — Falei.
Minha mão que estava em cima da mesa, ele tocou ela calmamente, e a segurou firme. Ficou passando seu dedo nela, me fazendo carinho. Ainda bem que já estava mais calmo, e não estava mais bravo comigo. Afinal, ele não tinha motivos, eu não havia feito nada de mais, muito menos para que ele estivesse ficado bravo.
Henrique entrou pela porta com seus amigos, ele estava todo sorridente, mas ao olhar para mim e Edu, seu olhar ficou triste e seu sorriso se desmanchou. Pude ver no seu olhar o quanto estava decepcionado comigo. Terminamos o almoço e saímos de lá. Queria poder ir falar com Henri, mas sabia que naquele momento, não iria querer falar comigo. Fui para a rede, enquanto Edu saiu com alguns amigos.
Ao olhar para a escada, vi Henri subindo com uma menina, e entrando no que deveria ser o quarto dela, que ficava três quartos depois do meu. Fiquei curiosa para saber o que os dois estariam fazendo lá dentro a sós. Me deu vontade de ir bater na porta. Mas fiquei apenas na rede, sozinha, sentindo o vento e ouvindo o mar.
— Se acertaram? — Ouvi a voz de Henri, olhei para trás e lá estava ele em pé.
— Ele não está mais bravo comigo. — Contei.
— E pelo jeito foi muito mais que isso né. — Sugeriu me encarando.
— Como assim? — Perguntei confusa.
— Vocês dois, de mãos dadas, estavam com uma i********e lá na mesa. — Explicou parecendo estar com ciúmes.
— Está com ciúmes? — Brinquei.
— E se eu estiver? Algum problema? — Perguntou enquanto me olhava fixamente nos olhos.
— Problema nenhum, apenas acho que não tem necessidade. — Discordei, soltando um pequeno sorriso.
Seus olhos não desviaram dos meus por nenhum segundo. Era perceptível que Henrique queria a minha total atenção crava nele. Sentou-se ao meu lado e esfregou sua mão em sua própria barriga.
— Quero tomar um sorvete, topa ir comigo? — Convidou.
— Sua namorada pode ficar com ciúmes. — Respondi, tentando saber quem era a menina.
— Quem? A Ana? — Perguntou confuso.
Eu não conhecia a menina. Ou pelo menos se a conhecia, não lembrava de seu rosto. A única coisa que havia visto era que estavam bem próximos e que haviam entrado em um quarto juntos.
— Não sei o nome dela, vocês foram para o quarto dela... — Respondi, tentando soar o mais indiferente possível sentindo minhas bochechas esquentarem, por estar me metendo na vida dele.
— Ah sim era a Ana. — Afirmou rindo. — Minha irmã.
— Sério que ela é sua irmã? — Perguntei envergonhada.
— Uhum. Ela faz faculdade também. — Contou.
Depois de muita enrolação, fomos finalmente tomar o tão esperado sorvete. Enquanto aguardava em nossa mesa, ele sugeriu que preparasse as taças e as trouxesse ali.
— Não sei se vou dar conta de tomar tanto sorvete. — Afirmei.
— Não faz m*l. Eu estou com muita vontade de tomar sorvete hoje. — Respondeu.
— Você está com bicha na barriga? Ou está grávido, só pode. — Brinquei.
Ele riu mais do que eu esperava, se contorcia na cadeira, e algumas pessoas começavam a nos olhar. Minha bochecha estava vermelha de vergonha.
— Você é muito engraçada. — Falou tentando parar de rir.
— Nem tanto. — Falei sorrindo.
— Nunca te vi sorrir tanto. — Comentou.
— Você me proporciona esses momentos. — Contei sorrindo.
— Espero que isso seja bom, né? — Perguntou tímido.
— Pode contar que sim. — Afirmei.
Como nossos sorvetes eram de sabores diferentes, nós dois trocamos algumas colheres de sorvetes e muitas pessoas passavam pela gente e ficavam sorrindo. Acho que pensaram que éramos namorados, foi engraçado.
— Acredito que seríamos um ótimo casal. — Tentei encontrar pelo menos um tom que fosse de vergonha, mas não havia nenhum sinal dela em sua voz.
— E eu acredito que em algum desses sorvetes que você tomou continha álcool. — Brinquei.
— Eles não ousariam. — A careta que ele fez fora incrível, o suficiente para que eu gargalhasse.
Algumas pessoas acreditam que para você gostar de alguém é necessário que você conheça essa pessoa há um bom tempo. Não estou me referindo ao amor. Apenas ao ato de gostar mesmo. Mas na minha percepção acreditava que alguns segundos eram suficientes para alguém entrar na sua vida e você sentir um carinho ou afeto por essa pessoa.
— Posso saber porque minha amiga está tão feliz assim? — Aline chegou por trás falando alto.
— A minha presença na vida dela, a deixa assim. — Gabou—se.
Revirei os olhos rindo das perturbações da minha melhor amiga e do quão o meu mais novo colega estava se achando por me fazer rir.
O mais novo casal se juntou conosco e ficamos conversando na mesa tomando sorvete. Aquela convivência com eles era incrível. Não sei porque, mas meus olhos não saiam da direção de Henrique.
Era bom estar ali ao seu lado e ver que ele se identificava comigo. Seu sorriso contagiava qualquer um que passasse por ele. Em meio tudo aquilo, não conseguia mais prestar atenção nem no que eles estavam falando.
— Terra chamando Gabriela. — Aline falou e todos na mesa riram.
— Oi Aline. — Falei lhe encarando.
— Meu Deus, todo dia você está assim agora. — Reclamou.
— Assim como? — Perguntei confusa.
— Perdida nos seus pensamentos. — Respondeu.
Ela estava certa. Eu estava obcecada pelos meus pensamentos e não estava mais conseguindo prestar atenção em nada a minha volta.
— Só estou pensando. — Dei de ombros, não era exatamente uma mentira.
— Isso é o poder da sedução do Henrique. — Jonathan provocou rindo.
— Estou começando a achar que é isso mesmo. — Afirmou Aline me encarando.
Depois de toda aquela bobagem fomos para a piscina. Não estava muito afim de entrar na água e me sentei na cadeira. Henrique me olhava confuso e se sentou na mesma cadeira que eu, só que atrás de mim. Começou a passar protetor nas minhas costas.
— Você está bem? — Perguntou.
— Sim. Só não estou muito afim de entrar na água. — Respondi.
— Nem comigo? Vai me deixar entrar sozinho nessa água gelada? Você tem coragem? — De certa forma Henrique imaginava que falando aquelas coisas, acrescentando uma voz fina diferente que o deixava com um charme fofo, ele conseguiria me convencer.
— Olha só, você precisa tratar essa carência. — Brinquei e ele fez careta.
— Estou falando sério. — Afirmou. — Já pensou se alguma menina aparece e tente me roubar?
— Isso seria tão triste, não é? — Perguntei de forma irônica.
— Não. — Balançou a cabeça negativamente. — Mas caso fosse você, não recusaria.
Fiquei envergonhada diante das suas palavras e acabei indo para a piscina com eles. Eduardo estava lá também com seus amigos. Provavelmente deve ter assistido a toda aquela cena de nós dois.
Estávamos todos na piscina, conversando; brincando; jogando água um no outro e senti alguém me segurar por trás.
— Quanto tempo moça que me esqueceu. — Seus braços percorreram o meu corpo, unindo-me em um abraço.
— Devemos deixar claro que você quem se afastou, certo? — Deixei claro meu ponto de vista.
— Estou ficando com saudade e com ciúmes, Henri está roubando meu lugar. — Cochichou triste.
Enquanto escutava suas palavras e tentava decifrar o tom de voz dele cabisbaixo que utilizava, analisava os fatos de ele estar com ciúmes. Nós nos conhecíamos no máximo em uma semana.
— Vocês dois são bons amigos e todos tem espaço no meu coração. — Afirmei confiante.
— Acredita que ele tenha a intenção de ser só seu amigo? — Perguntou. — Olha o jeito que ele te olha, ele gosta de você. — Completou.
— Não tem nada haver. — Neguei, embora eu soubesse que quase havíamos nos beijado na praia.
— Olha o jeito que ele está olhando para nós dois. — Mostrou.
E realmente quando olhei para ele, seus olhos nos olhavam ferozmente. Sua feição era totalmente diferente de quando tínhamos passado a manhã juntos. Ele parecia triste com a cena. E se realmente fosse verdade o que Edu estava falando? Isso explicaria o quase beijo na praia. Será mesmo que ele estaria gostando de mim? E se eu também estivesse gostando dele? Isso seria bom, finalmente ter alguém para namorar ou ter algum tipo de relação. Eu acho que estava mesmo.