Primeiro Dia por Diva: Depois da Escuridão

2964 Words
Heaven bent to take my hand O céu se inclinou para pegar minha mão And lead me through the fire E me guiar através do fogo Be the long awaited answer Para ser a resposta tão esperada To a long and painful fight A uma luta longa e dolorosa [...] We believed that we could change ourselves Achávamos que podíamos mudar The past could be undone Que o passado podia ser desfeito But we carry on our backs the burden Mas levamos nas costas o fardo Time always reveals E o tempo sempre revela The lonely light of morning A luz solitária da manhã The wound that would not heal A ferida que não cicatriza It's the bitter taste of losing everything É o gosto amargo de perder tudo That I have held so dear. A que eu dava valor Fallen — Sarah Mclachlan O Dante que conheço não morreria com um ferimento desses. Nos jogos, em todas as vezes que era atacado de uma maneira normalmente mortal para humanos, ele conseguia sair intacto. Por que agora deveria ser diferente? Dante é o ser mais poderoso desse mundo. Existia uma grande diferença em ser forte e ser eterno, apesar disso, tenho fé na força das pessoas que as fazem eternas. Tenho certeza que Dante irá sair dessa como qualquer outra situação semelhante que já viveu. Estou certa disso, então porque ele ainda não está reagindo? Ele continua parado, se não fosse seu peito se movendo com sua respiração sofrida e profundo, podia dizer que estava morto. Faria qualquer coisa que estivesse ao meu alcance para vê-lo bem, nem me importaria com seus comentários pervertidos ou suas provocações. As coisas poderiam voltar a ser como antes, quando eu ainda acreditava que era uma garota comum, que teve a sorte de cair dentro do jogo Devil May Cry. Uma época onde minha única preocupação era voltar para casa e não morrer de intoxicação alimentar com as pizzas dormidas de Dante, também onde não teria o inferno e o mundo inteiro atrás de mim. Nada disso teria acontecido se, para começo de conversa, não tivesse arrumado meu quarto justamente naquele dia. Eu não teria conhecido Dante e não estaria aqui. Por que pensar nisso agora? Não dá para voltar atrás. Alea jacta est — A sorte está lançada. Tive sono turbulento que muitas vezes foi interrompido por empurrões em constante estado de alerta, seguido de um pesadelo até ser levada a brusca consciência. Acordei ao lado de Dante na cama. Minha respiração estava suave e ritmada, assim conseguiria acalmar meu coração que se apertava em ansiedade. Olhei para a sua figura imóvel deitada na cama. Às vezes tinha que checar se ele se movia, pois temia que pudesse morrer a qualquer momento. Ajeitei-me na cadeira para não incomodar ainda mais minha coluna que doía com o mais simples esforço. Nesses últimos dias não tem sido um dos melhores, além de Dante estar em coma — o que só é uma palavra amena para quase morto —, meu corpo estava cada dia mais fraco. Isso se deve ao fato que uso toda minha energia para conter o ferimento que custava a curar, apesar do meu esforço. Na verdade, minha reserva de energia não está muito bem, e graças a isso não estou conseguindo usar meus poderes como antes. Por isso, todos os dias tinha que limpar e tratar os machucados. Era quase uma rotina nesse meio tempo. Passo minhas horas livres junto dele, esperando que acorde e faça algum comentário constrangedor para mim. Não penso em sair de perto dele em nenhum momento. Ainda tinha a fagulha de esperança para quando estivesse aqui pudesse ser a primeira a recebê-lo depois de estar quase morto. Besteira? Não mesmo! Era confiança. Cantarolei a música Fallen da Sarah Mclachlan, que combinava bem a com a ocasião. Se minha vida tivesse trilha sonora, teria mais músicas tristes que felizes. Quem diria que Dante, filho do famoso Cavaleiro n***o Sparda fosse terminar assim, as portas da morte. Nunca imaginei ver um Dante tão humano — tão debilitado. Deitado naquela cama inconsciente, seu rosto sereno apesar da grande dor que deve estar sentindo. Bocejei. Dormir em uma cadeira não é uma das mais confortáveis maneiras de passar a noite. No entanto, não podia reclamar só de estar com Dante e saber que estava vivo era o suficiente. Olhei para a janela do quarto, por ele pude ver o céu alaranjado do entardecer. E todos os dias desde o ataque — que fora há uns três dias atrás —, como um ritual, peguei os itens de primeiros socorros que estava próximo, tirei os lençóis que cobriam Dante e desfiz as ataduras. Limpei o ferimento delicadamente, tirando todo resíduo de sangue. Arrumei curativos e coloquei ataduras novas. — Agora, está tudo perfeito! — sussurrei, tentando soar cômica. — Sei que gosta quando uma linda garota te toca. Não se preocupe que nunca me aproveitaria de você! Forcei uma risada. Ah, não, lá vem as incontroláveis lágrimas novamente. Era uma luta longa e dolorosa conter a corrente de emoções que me atingiam, apesar de tudo eu também era humana, eu choro e sofro como qualquer outro. — Por favor, não me odeie! Eu tinha te prometido não chorar, mas não posso! — um soluço escapou da minha garganta — Juro que tentei, mas falhei com você. O cobri novamente com o lençol branco de tecido leve. Aproximei meu rosto do dele, sentindo seu hálito quente. Algumas das minhas lágrimas caiam em seu rosto, as limpei. — Me desculpe — cochichei. Guardei os itens de primeiros socorros debaixo da cama. — Volte para mim, Dante! Sei que está aí em algum lugar, então faça uma força e volte! Toquei a mão de Dante, que permanecia sutilmente gelado. Ouvi uma batida de porta. — Entre — disse eu, limpando rapidamente as lágrimas que deslizavam por meu rosto. A porta se abriu, revelando Rainy e Vincent. Os meus novos guardiões, as pessoas misteriosas que me salvaram de Ace. Depois do ocorrido, eles não me explicaram quem eram ou o porquê de me protegerem. As informações que me deram foram limitadas, entre elas os seus nomes e o parentesco. Rain — ou Rainy — a mulher de longos cabelos negros e olhos de um azul escuro que nunca vira e Vincent, o homem de poucas palavras de cabelos negros e olhos inexpressivos escuros eram irmãos. Talvez fosse o quanto menos souber melhor, o mínimo de informação para não ficar na completa ignorância. Se bem que mesmo que me explicassem, eu não prestaria tanta atenção já que minha cabeça estava cheia. — Então, pequena Diva, como esta? — Rainy indagou, preocupada. Ela se sentou em uma cadeira próxima a mim, Vincent por outro lado estava encostado na parede de braços cruzados. — Bem, um pouco triste, mas posso viver — respondi suavemente, dando um sorriso simples e sem real anseio. — O que estão fazendo aqui? — Viemos te ver e o filho de Sparda. Alguma melhora? Neguei com a cabeça. — Continua igual — o observei tristemente. — Ele é seu escolhido, não é? — Rainy questionou, a encarei sem saber o que dizer. Os grandes olhos azuis escuros me encaravam de volta com afeto. — Pode se dizer que sim! — Entendo! Sei que esta preocupada com ele — Rainy depositou uma bandeja com frutas, uma xícara de chá e torradas sob a cama. — Coma esta bem? Não vai querer ficar desnutrida e deixar Dante preocupado quando acordar, né? — Não mesmo — peguei uma torrada e a comi com vontade. Rainy tinha razão, não podia deixar minha saúde de lado. Queria estar saudável para quando Dante acordasse. — Não queremos te encher mais a paciência — Rainy sorriu, partindo porta afora. — Licença — Vincent pronunciou, seguindo a irmã. — Toda Novamente estava sozinha comigo mesma. Levantei e observei a vista da janela. Nela podia ver uma grande estátua de Arya distante, enquanto via algumas pessoas recolhendo água da fonte aos pés da estátua. Lembro que comentaram comigo que a fonte se chamava Source de Vie, ela possuía propriedades milagrosas que faziam as pessoas da ilha viverem mais do que um ser humano comum. Encarei as pessoas passando e conversando umas com as outras. — Srta. Diva? — uma mulher me chamou, olhei-a por cima dos ombros. — O senhor Orion quer vê-la! Suspirei resignada. — Avise que estou a caminho A mulher saiu. Dei um beijo na testa de Dante, aproveitando para afastar algumas mechas de cabelo prateado que caia livremente pelo seu rosto. — Depois eu volto, espere por mim! Como se ele tivesse escolha, pensei. Orion me recebeu ainda na entrada, ele parecia muito controlado e sério. Subi a pequena escadaria e entrei no templo. Não entendi a urgência de Orion em querer minha presença. Devia ser algo muito importante. Ele me guiou para o saguão onde estava o enorme quadro de Arya e Sparda. — Diva, lembra-se que eu havia comentado que era parecida com uma pessoa? Assenti. — Sei que ainda esta sensível com os terríveis ocorridos, mas você precisa estar ciente de muitas coisas — ele informou, seus olhos inteligentes e cautelosos estudaram minha expressão. — Dentre elas; quem realmente é. Arquei a sobrancelha confusa. Não estava gostando nem um pouco do rumo daquela conversa. Toda vez que descobria uma nova informação sobre mim, sempre acontecia algo r**m para compensar a coisa boa — e assim equilibrar o universo. Acho que bati a cota de má sorte. Com toda certeza, eu seria a garota perseguida pela Lei de Murphy. Tudo que tiver que dar errado dará, no pior momento, e que gere o maior dano possível, não é? — Olhe para a pintura, preste muita atenção. Mesmo sem entender nada, fiz o que Orion me pediu. Foquei meus olhos no retrato. As luzes laranja que provinha das grandes janelas facilitava a visão, e pude ver detalhes que na outra vez não pude. Primeiro visualizei Sparda, em seguida, pousei meus olhos em Arya. Naquele momento, era como se tudo que tivesse acontecendo, as razões e quem eu era não fossem nada além de uma antiga vida. Não tinha como não ficar em choque. Tive que me manter firme para não cair em espanto. Não pode ser possível. O rosto de Arya era um reflexo do meu. Como se me visse em um espelho. Éramos idênticas, assustadoramente idênticas. — O que isso significa? — foi só o que pude dizer. Pisquei assimilando a situação — Isso é uma piada, né? Quer dizer, não podem existir duas pessoas tão parecidas, não é? Impossível! — O fato de serem parecidas só evidencia os fatos! Você é a reencarnação de Arya! Uma gargalhada nervosa irrompeu pelo saguão. Nunca tinha rido tanto. Eu não ria por maldade, mas essa era a resposta que meu corpo tinha quando estava extremamente nervosa. Agora fazia sentido o porquê a população da ilha não se mostravam hostis conosco — e dos estranhos déjà vus que tinha. Eles talvez acreditavam que eu era Arya e Dante, Sparda. Os padroeiros da ilha. — Não pode ser! Não mesmo! — recuei alguns passos, ainda olhando para o retrato. — Não! A descoberta em si não foi tão impressionante ou avassaladora a ponto de ficar desolada, mas era bem bizarra. Em outras circunstâncias teria tido um ataque de susto e ficaria muito abobalhada. Contudo, não podia agir como uma criança que entra em pânico com novas revelações e verdades sendo postas a prova. Eu tinha que manter a compostura, mesmo que tenha descoberto que sou a pessoa que originou toda essa bagunça. Se realmente sou a reencarnação da famosa Arya, então... Não pode ser. Quem sou eu? Até pouco tempo, eu era Ivy Marie Valentine — ou simplesmente Ivy Valentine —, uma jovem normal de dezoito anos que adorava jogar vídeo game, mexer no tumblr e comer besteiras. Como qualquer garota gamer viciada em internet. Agora não sou apenas Ivy Valentine, mas também a renascida Arya Lunier, a mulher que lutou ao lado de Sparda na rebelião demoníaca. — Como pode ter certeza? Você não pode saber ao certo... Não tem provas para sustentar essa sua teoria insana! — Posso listar provas que comprovam minha "teoria"; além de serem parecidas fisicamente, possuem a mesma aura e tem a marca. — Marca? Que marca? Orion não respondeu. Odiava quando me deixavam no vácuo. Resolvi não insistir no assunto, que se deu por terminado. Sai apressadamente do templo. — Reencarnação, que grande bobagem... Entrei no quarto, grata e entorpecida, não sabia quando acontecera a súbita mudança de humor. Corri a mão pelo meu cabelo. Precisa me acalmar. Vou tomar um longo banho, para ver se isso tirava o estresse. No banheiro, encarei meu reflexo e fiz uma careta quando reparei nas grandes e visíveis hematomas arroxeados ao redor dos meus olhos. Tirei minhas roupas e liguei o chuveiro. Eu queria conversar com Alexander, havia muitos fatos que queria tirar a limpo. Somente ele poderia esclarecer essas duvidas, mas fazia um bom tempo que não o via. Os atuais acontecimentos tem tirado meu sono e não estou com energia suficiente para me comunicar espiritualmente com Alexander. Escorreguei pela parede lisa do banheiro e deixei a água correr livremente por meu corpo. Abracei instintivamente minhas pernas. Fiquei ali, parada e encarando as linhas das paredes um pouco rachadas que formavam desenhos. Quando senti que passaram muito tempo, decidi sair. Coloquei um vestido azul com uma fita que amarrava um pouco abaixo dos s***s. Voltei para o quarto. Dante não se mexerá nem um centímetro sequer e era bem frustrante. Sentei na cadeira ao lado da cama. Toquei a mão de Dante e pousei minha cabeça no emaranhado de lençóis e esperei que o sono me vencesse. Entrei no mundo dos sonhos. Abri meus olhos para encarar uma forte luminosidade que surgia acima de mim, que miraculosamente não doeu em meus olhos. Estava muito frio e diminutas gotas de água caiam em meu rosto. Senti duas esmagadoras forças se colidindo. O chão estava úmido como minhas roupas. Percebi que estava deitada na beira de um lago. Com dificuldade, me levantei tirando as folhas secas e pequenas plantas que grudavam nas minhas roupas. Por que esta sonhando com isso? Por um breve segundo, havia me esquecido do porque estava ali. Eu queria conversar com Alexander, esse era meu principal objetivo. Eu não estava só. Havia duas presenças que não pude identificar com exatidão, mesmo que em meu inconsciente uma delas era conhecida. Até podia dizer familiar. Foi um alivio perceber que podia me mover. Andei para longe das duas forças que ainda se colidiam. Não tinha motivo ficar presa em um sonho tão estranho. De repente, não havia mais lago, as duas presenças sumiram e minhas roupas estavam secas e aconchegantes. Como num passe de mágica tudo mudara. Parei de frente a um grande marmeleiro, com galhos que se estendia por longos caminhos e as folhas estavam desbotadas como se estivesse no inicio do outono, onde as plantas, flores e folhas perdia a coloração verde viva. Andei um pouco mais, subindo pela raiz distorcida. Por trás do grande marmeleiro, encontrei uma mesa de chá. Sabia que aquilo significava; Alexander estava por perto. Sentei na cadeira e esperei pacientemente, até que uma sombra surgiu. Alexander estava calmo e seus olhos me analisaram com cautela. Vestia uma roupa simples branca. Quando ele se aproximou, de solavanco me ergui da cadeira. Não pensei muito, quando dei por mim já tinha feito. Meus dedos queimaram. Alexander ficou um pouco surpreso com minha atitude repentina. Ele não deixou transparecer, porém seus olhos lilás estavam ligeiramente arregalados. Talvez ele estivesse se perguntando o motivo que eu o esbofeteará. — Por que não me disse que conhecia Ace? Por que insiste em esconder as coisas de mim? Qual é seu real objetivo afinal? — despejei tudo que estava engasgado em minha garganta. — Quem realmente é você? — Eu sei que esta irritada e confusa com tudo que houve, mas tem momentos para tudo, até para contar certas verdades! — ele respondeu sem perder a decoro, sua voz mantinha-se leve e gentil. — E esse momento não é oportuno! — Não me importo! — chiei nervosa. Bati no peito de Alexander, ele pareceu não se importar. Ele apenas permitiu que eu extravasasse minha fúria e tristeza. As lágrimas ainda estavam deslizando quase despercebidas pelo meu rosto corado. — Por quê? — apertei firme o tecido da camisa de Alexander. Ele não me respondeu apenas me abraçou. Meus soluços foram abafados pelo tecido, que agora se molhara com minhas lágrimas. Alexander afagou minhas costas e beijou o topo da minha cabeça. — Preste muita atenção Diva! Você esta passando por muitas situações que realmente eu queria que nunca chegasse a sofrer, mas te previno que sendo uma Unchant inexperiente ainda em treinamento seus poderes são movidos por suas emoções. Quanto mais emoções negativas tiver, menos eficácia eles terão. Entende? Assenti. — Agora mais do que nunca precisa lidar bem com suas emoções! — Não é tão fácil, mas tentarei. — Só mais uma coisa — Alexander me afastou, olhando-me sério. — Posso te fazer um pergunta? — Sim, claro! — Até onde esta disposta para salvar Dante? Não esperava que ele me fizesse uma pergunta dessas. Claro que Alexander não tinha nada contra Dante, mesmo que ele brincasse com o assunto de serem rivais. No entanto, via que o afeto que tinha por mim era mais fraternal que amor de um homem. — A qualquer coisa! — respondi confiante, vi um sorriso encorajador se formar no rosto de Alexander. — A qualquer coisa mesmo. — Esta disposta a ir ao inferno para resgatar a alma de Dante?
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