And we run, with a lonely hearts
E corremos com um coração solitário
And we run, for this killing Love
E corremos para este amor mortal
[...]
I'ma break these chains, ran thru the rain
Eu quebrei essas correntes, corri pela chuva
Never look back, never quit, work thru the pain
Nunca olhei para trás, nunca desisti, superei a dor
This blood in my veins runs cold
Este sangue nas minhas veias corre frio
When I think I'll never be the same, but I never lose hope
Quando eu penso que nunca mais será a mesma coisa, mas eu nunca perco a esperança
This is my time now, no time for tears
É a minha hora agora, não há tempo para lágrimas
And We Run — Within Temptation
‘Lasciate ogni speranza voi che entrate!' — Percam todas as esperanças. Estamos todos no inferno.
Seria este o lugar de infortúnio eterno?
Nem em todas as versões literárias podia se comparar verdadeiramente com o inferno. Apesar do medo que me corroía por dentro, não desistiria. Nunca.
Em relação ao Inferno, não podia assegurar com tanta lucidez que me sentia a pessoa mais audaciosa do mundo por andar por esse lugar que parece carregar o pior de si. Afinal, eu não era nem de longe. Isso mudou completamente quando seu objetivo se torna o núcleo de tudo, por ele afasto todos meus temores e me liberto da corrente de sentimentos que podem me atrapalhar. Eu não me permitirei desistir, ignorarei toda dor e não olharei para trás.
Não importa se tudo nesse lugar me fizer perder as esperanças, terei sangue frio e continuarei. Quero fazer algo de verdadeiramente bom na minha vida. E acima de tudo encontrar Dante, por ele serei mais forte e confiante.
Começamos nossa jornada, os primeiros passos foram tortuosos, pois a nossa frente somente morros se seguiam de todos os tamanhos, cada um mais árduo que o outro. Acreditava que não tinhas mais fim. Porém, chegando ao pé de um monte, notei que uma densa floresta se estendia vale abaixo. Seguimos com todo cuidado enquanto a terra lisa cedia sob nossos pés. Senti-me aliviada quando finalmente nos estabilizamos no terreno plano e lamacento. O caminho que antes tinha apenas colinas tornou-se uma selvagem floresta.
— Não olhem para trás! — alertou Alexander. — Estamos no limiar da vida e da morte.
O céu estava em um misto de vermelho e cinza, formando uma cor opaca, sem vida. Prosseguimos floresta adentro, as arvores possuíam formas sinistras e suas sombras pareciam monstros na insondável escuridão.
Engoli em seco.
Nero apertou minha mão delicadamente, só então percebi que ainda estava com as mãos ligadas as dele. O olhei amistosamente, retribuindo o consolo.
Paramos em frente a uma passagem de arvores e plantas que formavam um arco.
— Que lugar horrível — sussurrei desgostosa.
— É o lar de demônios, estava esperando o que? Uma festa? — Nero ironizou. Revirei os olhos e cruzei os braços.
— Vamos! — disse Alexander, em um tom imperativo.
Logo que entramos, o vento trouxe ruídos tenebrosos, gritos, prantos e choros que ecoaram penosamente pelos ares putrefatos. Os lamentos sejam de dor, raiva ou simplesmente tristeza eram de cortar o coração. Tampei meu ouvidos para não ouvir, mas parecia não adiantar. O cenário a nossa volta era de ruínas de o que podia ter sido castelos. A primeira impressão do inferno era justamente o que esperava; nojento, assustador e mortal.
Em meio a tantos barulhos, pude identificar risadas grotescas. Ao longe, vi humanos acorrentados andando um atrás do outro em círculos e demônios rindo e atacando-os com chicotes.
— Acham que são bem vindos humanos? — disse uma voz amarga e cheia de zombaria.
— Aqui vocês iram sofrer pelo resto da eternidade — outra voz acrescentou. Então ouvi sons de chicote batendo na pele.
— Gritem! Implorem! — gritos e mais berros foram lançados ao vento.
— Alexander! — chiei pasma, minha visão estava embaçada e as lágrimas ameaçaram sair a qualquer momento — Temos que ajuda-los!
— Não podemos — Alexander murmurou, tristemente. — Sinto muito
Um bolo inchou minha garganta e as lágrimas que lutava para manter em meus olhos, saíram facilmente. Reprimi um insistente soluço. Precisei apenas olhar para o sofrimento daquelas pessoas para sentir a forte energia negativa e a profunda desolação. Ali mesmo, agachei-me e abracei meu corpo, imaginando que no lugar quem me abraçava era Dante.
— Diva o que houve? — Nero perguntou preocupado, se abaixou tocando meus ombros — Se machucou?
— Não — um soluço escapou.
— A alma dela esta sensível — Alexander expôs, acariciando o topo da minha cabeça — Tente se concentrar Diva, há muita energia negativa aqui. Não a deixe corromper você!
Outro soluço escapou. Nero me puxou para seus braços com força e intensidade.
— Fique calma — Nero pediu, afagando minhas costas. — Estou aqui por você, para te proteger!
Respirei fundo, puxando o máximo de ar que podia. Não precisava necessariamente respirar em forma espiritual, mas era uma habito de quando se esta vivo. A nuvem n***a carregada de negatividade que me envolvia se dissolveu. Nero me ajudou a levantar. Assim que me pus de pé continuamos nossa jornada.
— Ora... Temos visitas, irmãos.
Em meio ao caos, surgiram criaturas esqueléticas de olhos vermelhos com chicotes e foices.
— Vamos nos divertir muito com vocês!
Seis das criaturas tentaram investir por cima, Nero os cortou rapidamente. Alexander cuidava dos outros que foram direto para nós. Eu criei um arco e atirei em três deles e chutei mortalmente um que me pegou de surpresa. Havia muitos deles e quanto mais destruíamos, o dobro surgia para compensar a perda. Seria cansativo lutar com todos eles, optamos fugir.
— Droga — resmunguei, pegando impulso.
O céu escurecerá em tons de vermelho escuro e preto quando chegamos na beira de um extenso rio.
Encarei apreensiva o enorme rio, ele que impedia que nós prosseguíssemos. Segundo Alexander, o rio se chamava Aqueronte, o mesmo da mitologia grega. O famoso Aqueronte que leva as almas para o outro lado do inferno — ou pelo menos era isso que sabia. Não dava para atravessa-lo nadando; primeiro que eu não sabia nadar e segundo que esse rio definitivamente não daria nunca para nada-lo, pois além das águas serem escuras e sinistras — dá medo até de olhar —, possuíam almas atormentadas que poderiam ser perigosas.
— E agora?
— Vamos esperar, ele logo estará aqui.
— Ele quem? — Nero indagou, serio.
— Vocês verão!
Observei as ondulações da água, então uma figura surgiu em um pequeno barco.
— O que é aquilo?
— Ou melhor, quem é. — Alexander retorquiu, um sorriso se formou em seu rosto — É Caronte.
Pisquei inúmeras vezes surpresa. O barco parou exatamente onde estávamos. Recuei instintivamente quando vi o barqueiro. Ele tinha uma mascaram de prata assustadora e usava vestes negras, segurava do lado direito um remo que na base pendia uma lamparina.
— Precisamos da sua ajuda para atravessar Caronte — Alexander pediu.
— Aqui não é lugar de vivos — Caronte disse, sua voz causou medo no mais profundo da minha alma — Não posso ajuda-los!
— Por favor, precisamos passar! — Caronte me olhou, um arrepio passou pela minha espinha.
— Pequena Arya?
Alexander e Nero me olharam.
— Você conhece a Arya?
— Sim, não é a primeira vez que a vejo. Ela veio uma vez para tratar de um assunto e justamente com Sparda — arqueie as sobrancelhas. — Sua aura é inconfundível!
— Então me ajude — Desde o começo, quando me foi revelado que era a possível reencarnação de Arya, neguei com todo meu ser. Mas nunca pensaria que essa informação poderia ser útil algum dia. — Como sendo eu a reencarnação de Arya
— Ajudarei com uma condição
— E qual seria?
— Quero uma mecha do seu cabelo como pagamento
Caronte pegou uma mecha do meu cabelo e a aproximou de si, a inspirando profundamente. Meus estômago de um giro de repugnância.
— Ela não fará acordo com você! — Nero vociferou, afastando-me de Caronte — Muito menos lhe dará algo.
— Você fede a Sparda, garoto. — Caronte disse, estudando a expressão de Nero.
Nero empunhou Yamato e apontou perigosamente para o pescoço de Caronte.
— Não adianta garoto, se me matar nunca poderá atravessar o rio.
Toquei o Devil Bringer de Nero, dando lhe um olhar tranquilizador. Ele relutou, mas acabou cedendo. Criei uma faca e cortei uma mecha do meu cabelo e entreguei rapidamente a Caronte.
— Por que justo uma mecha de cabelo? — Alexander perguntou.
— Arya me presenteou com uma flor da mesma cor. Ela usou a terra infértil do inferno e usou uma mecha do próprio cabelo para fazer nascer uma vida. O resultado foi essa flor — Caronte mostrou um minúsculo vaso com uma lindíssima rosa de cor castanha. Era a primeira vez que via uma daquela cor — E a deu justamente a mim, um pouco irônico até!
Caronte ficou um bom tempo admirando a flor, dava para ver que ele estava meio perdido em memórias.
— Entrem! — Caronte deu-nos passagem.
Nero foi o primeiro a entrar no barco e me ajudou, e por fim Alexander embarcou.
— Mantenha as mãos dentro do barco, não temos muitos espíritos amigáveis nesse rio.
Pelo pouco que pude ver, havia cabeças de pessoas boiando e algumas almas tentavam entrar no barco mas Caronte rechaçou todos aqueles que invadiram, com frieza e desdém.
Uma estranha névoa começou a se formar, conforme íamos em frente. Senti uma leve turbulência no barco, fazendo-me agarrar o braço de Nero. Observei as águas escuras do rio, e apesar de não ser tão limpa, ainda consegui ver meu reflexo. No entanto, não vi exatamente o que esperava, meus cabelos estavam longos e caiam em grandes cascatas pelas minhas costas e ombros. Eu estava realmente parecendo a Arya. Fazia até sentido, se sou a reencarnação dela é normal que eu pareça com ela... Pelo menos é o que acho.
— Aqui esta a verdadeira natureza das coisas — Caronte anunciou, parando em seguida. Saímos do barco com um salto — Daqui é por conta de vocês. Adeus! — e com isso Caronte desapareceu.
Por onde seguir agora?
O cordão que de prata amarrado ao meu mindinho ressoou.
Algo me diz que ele indicará o caminho a partir de agora.