Quando o casal chegou no shopping, Santa Cruz, Joana avistou Erick ao longe, soltando da mão de Caio, caminhou sem fazer alarde, ao chegar perto do amigo colocou suas mãos em seus olhos e sussurrou em seu ouvido.
— Adivinha quem é. — Erick sentiu o leve cheiro frutado de Joana, seus lábios se curvaram, um tremor percorreu seu corpo, a adrenalina correu solta fazendo com uma intensa euforia o tomasse. Ainda não acreditava que a menina tinha realmente vindo comemorar seu aniversário.
— Joana…
— Nossa, foi muito fácil. — A menina tirou as mãos, Erick se virou e deu de cara com a careta de Joana. — Da próxima vez vou mandar o Caio fazer isso.
— Jo, eu sinto muito, mas não é minha cara. — Caio chegou perto deles. — Ei, cara, parabéns. — Caio estendeu a mão para Erick, por um momento o menino olhou desconfiado, sua alegria diminuiu consideravelmente, a contragosto aceitou, o cumprimentando de volta.
— Obrigado… — m*l terminou a frase quando braços calorosos o cercaram. — Joana, vai me sufocar. — Disse ele achando graça no entusiasmo dos parabéns da menina. Por um momento pensou que ganharia beijo, mas sua sorte não foi tão grande.
— Adoro aniversários, ainda mais quando tem bolo, brigadeiros, coxinha e buraco quente. — Enquanto ia falando Joana andava.
— O que seria buraco quente e para onde você está indo? — Caio se colocou ao lado esquerdo dela e Erick do outro.
— Para bilheteria do cinema? — Joana deu um sorriso que mostrava todos os dentes.
— Por aí vamos voltar para o metrô. — Caio achou lindo como ela corava quando ficava com vergonha de algo, às vezes ele fazia pequenas brincadeiras ou dizia frases de duplo sentido somente para vê-la assim. — E o que diachos é um buraco quente?
— Ora, pão com carne moída. — Vendo a cara dos amigos, Joana não acreditou que nenhum dos dois conhecia o sanduíche. — Ai Jesus! Vou pedir para minha mãe fazer e vocês dois vão lá em casa comer.
— Opa, se é para comer, estou dentro. — Caio esfregou as mãos, contente. — Me conta quais são as outras iguarias que minha sogra sabe fazer?
— Sua sogra? — Joana parou em uma das filas da bilheteria.
— Gata, ela não sabe ainda, mais serei o genro dela. — Caio deu um beijo na bochecha de Joana e os dois trocaram um olhar mais longo.
Erick olhava com desgosto para Caio, sua vontade era fazer o garoto sumir, em sua cabeça o dia era dele, esse encontro seria para estreitar os lanços entre ele e Joana. Sogra? Gata? Quem esse capitãozinho pensa que é? Joana está aqui por mim não para ele, é meu aniversário, Caio deveria se tocar disso e parar de estragar tudo. Era para ser tudo perfeito, iriamos assistir um filme, Joana sentiria medo, colocaria meu braço ao redor do seu ombro, ficaríamos agarradinho e o beijo seria consequência.
— Muito convencido o senhor, já contando com algo que está longe de acontecer. — Joana virou as costas para os rapazes, queria parecer brava e indignada, mas o pequeno curvar de lábios, os olhos brilhantes, as pernas tremendo e a vontade de sair pulando animada, traía as suas atitudes.
Isso Jo, você é minha, deixa esse b****a do Caio de lado, com você ao meu lado nada mais vai importar nesse mundo.
Desde que Caio começou a chamá-la para sair, lhe dar uma atenção especial e demonstrar seu interesse, Joana queria dizer sim. O único motivo para não ter aceitado seria sua insegurança, por mais que fosse espontânea em suas ações, ficava imaginando o do porquê logo ela. Afinal se achava igual a qualquer menina de sua idade, cabelos pretos, olhos escuros, nem muito magra, nem acima do peso, roupas compradas em lojas de departamentos.
Não é que seja f**a, ou bonita, ou burra, ou inteligente demais, só que ele é o capitão do time de basquete! Pode ter qualquer uma. A Regina, toda estilosa, faz um melhor par, um casal 20 total. O que Caio realmente quer comigo? Será que devo baixar minha guarda e finalmente aceita-lo? Até agora só me mostrou um lado fofo e divertido, mas se eu só for uma conquista? Joana deu uma olhada de esgueira para o rapaz. Saco! Queria ler a mente dele.
Caio respirou fundo tentando reorganizando seus pensamentos. Céus, fui um completo i****a agora, não pensei no que falar e posso ter estragado tudo com Joana. Essa garota está me deixando louco, no começo era só uma curtição, menina nova, gatinha, vou pegar, mas com o passar do tempo vi que sua beleza por fora não se comparava com o seu interior, bondosa gostava de ajudar todo mundo, desde uma senhorinha atravessando a rua até um pobre cãozinho faminto, o jeito como defendia Erick ou qualquer outro amigo, até quando ficava brava comigo por ter falado alguma besteira me atraía. Caio, você precisa recuar, ver a quadra de outro ângulo e assim conseguir o passe perfeito. Vou deixar de marcar, é isso.
Enquanto Caio e Joana ficava com seus dilemas, Erick, tentava segurar sua raiva com o comentário inoportuno de Caio. Eu a vi primeiro, ela veio falar comigo, não tinha nada que esse popular vir estragar tudo. Não bastava ter tudo o que queriam? A fama, a liberdade, p***a, o capitãozinho poderia comer quem quiser, por que logo a Joana? Deveria ficar com aquela n***a sebosa que só falta abanar o rabinho quando ele passa. Mas não, o i****a cheio de músculos tinha que se envolver com a minha morena.
— Deixa que eu pago. — Erick seguiu em direção ao casal em frente a moça da bilheteria. — E não vamos discutir por favor.
— Caio…
— Não, mocinha. Você não vai deixar Erick pagar, porque é aniversário dele.
— Exatamente.
— E qual a sua desculpa para mim. — Joana abriu a boca e fechou logo em seguida. — Exatamente, não tem, vou pagar os ingressos e a pipoca, e a senhorita vai aceitar para deixar o meu pobre ego levar um carinho já que seu esporte favorito é o destroçar.
— Nossa, quanto drama. — Joana desviou seus olhos em direção ao seu nariz, fazendo uma careta engraçada, enquanto mostra uma pequena parte de sua língua.
— Cruz credo. — Caio começou a fazer várias vezes o sinal da cruz. — Ela vai virar a menina do exorcista.
— Vai me dizer que seu tipo é garotas que desce a escada de costa e vomita verde? — Joana entrou na brincadeira.
— O meu tipo é você. — A moça na bilheteria deu uma sonora gargalhada.
Minha nossa senhora, das leitoras escondidas, não me deixe corar igual a um tomate com essa fala. Pediu Joana em pensamento. Juro que não vou mais ler escondido os livros de banca de jornal da minha mãe. Sentindo seu rosto esquentar e um leve tremor em suas pernas, a moça desviou seus olhos do garoto que estava causando coisas novas em seu corpo. Senhora, não cumpriu com o combinado então vou voltar a ler. Joana disse a santa inventada.
Todo engraçado, não está vendo que a deixou sem graça, o****o? Erick perguntou em sua mente, sentir o ardor da pele ferida por suas unhas ao cerrar os punhos com cada vez mais força. Sua sorte que Joana está aqui, eu adoraria ver seu sangue pintando as paredes do cinema, um tiro e seus miolos voariam. Mas não se preocupe, seu dia está chegando com o de seus amigos. Fora muitas horas de pesquisa para o meu plano dar certo, preciso só fazer tudo certinho para não ser pego, ter um álibi forte, não deixar pistas e no final, um grande funeral, isso para o plano B.
O mundo precisava desta limpa, imagine só esses cidadãos exemplos, aposto que Shiro vai se tornar algum político s****o, Caio alguma celebridade que vai fazer as massas de cabeça oca o segui. A v***a da Benta acabaria com um ricaço, Regina acabaria em alguma clínica de recuperação toda plastificada de altas cirurgias viciada em analgésicos, Ayrton com toda certeza viraria um sem teto mendigando atenção dos ex-amigos. Estou fazendo um favor a todos eles, isso sim.
Os três garotos pegaram os ingressos, pipoca e refrigerante que Caio pagou, mesmo Joana não gostando, a moça tinha um senso de certo e errado que gostava de empregar em sua vida.
Joana depois de passar o embaraço voltou a falar, animada sobre os cartazes pendurados nas paredes de filmes em exposição ou que ainda iriam estreia. Tanto Caio quanto Erick a observar a sua vivacidade e respondia sempre que ela solicitava a sua opinião, escolheram a últimas fileiras de poltronas, a menina sentou no meio dos dois rapazes e só ficou quieta quando as luzes diminuíram e a tela brilhou, indicando o início do filme.
Caio tentou de todas as maneiras se comportar, mas ter Joana tão perto de si, fazia com que ele se desconcentrasse, o aroma de seu perfume o cercava e aos poucos foi se aproximando mais até que os dedos das mãos de ambos se tocaram, e a uma corrente elétrica foi transmitida entre os dois.
Erick ao lado estava alheio a interação de seus companheiros, não notou quando Caio deu a jaqueta que vestia para Joana que tremia de frio por causa do ar condicionado, nem a troca de olhares e os suspiros de ambos os lados. Sua mente estava criando maneiras diferentes de tortura o outro menino.
Não é justo. Gritou em sua mente. Caio é o perfeito. Aluno nota dez, capitão do time, tem a garota que quisesse e precisa arrastar uma asa para minha Joana? Por que ele não fica com aquela n***a peituda que só ele estalar os dedos que vinha rebolando.
Agora não posso simplesmente entrar na escola e m***r os populares. Ainda não conseguir as armas, já vasculhei por todos os cantos e nada, nem para o imprestável do meu pai ter uma em casa. Também não podia correr o risco de Joana se machucar, teria que ir para o plano B, precisa de alguma maneira envenená-los. A caixa d’água era uma opção, porém, se Joana bebesse da água? Não, precisava ser algo mais restrito.
— Erick? — O jovem olhou na direção da voz da amiga que se encontrava de pé. Na tela o letreiro dos créditos do filme começava a subir, as pessoas iam deixando o acento e caminhando para saída. — Vamos comer?
— Ah, sim! — Erick ajeitou os óculos e levantou seguindo os outros.
— Olha, vou ter que escolher uma salada hoje. — Caio falou. — Essa semana tem jogo e preciso manter a máquina bem lubrificada.
Jogo. É isso, é um evento perfeito. Erick não cabia em si de animação. Melhor ainda, fazê-los cair em seu habitat natural, já podia ver as manchetes. Precisava correr com o plano B, o A estava fora de cogitação no momento em que desenhei.
— Que dó de você. — Joana olhava todo corpo do menino com avidez, lembrando das sensações de ter o toque daquelas grandes mãos em si, mesmo que tenha sido toques pequenos. — Quero um Big Mac, com batata frita e refrigerante.
— É depois diz que tem dó de mim…
— Tenho que ir. — Erick falou de repente. Calma, não deixe eles perceberem o que vai fazer, pensa em uma desculpa, mantém o rosto impassível como treinou tantas vezes no espelho, não estrague tudo. — Lembrei… bem… hum… minha avó vem agora de tarde em casa por causa do meu aniversário.
— Vamos… — Joana foi interrompida por Erick.
— Não. Vai ser muito chato, ela irá querer te mostrar todas as fotos dos gatos dela que estão mortos ou desaparecidos. — Erick usou seus anos de prática em não deixar seus verdadeiros sentimentos transparecem. — Adorei a tarde com vocês, o filme, me diverti muito, mas tenho que ir.
Joana e Caio ficaram parados na saída da sala do cinema vendo o menino andando de pressa e sumindo na multidão.
— Que bicho mordeu ele? — Caio perguntou para Joana enquanto pegava a mão dela para sair.
— Não sei, mas… — Joana passou por uma porta onde vislumbrou o início de outro filme. — Vem.
— Onde? — Caio ainda tentava achar Erick no meio da multidão saindo.
— Shiu. — Joana se abaixou e foi andando até um lugar e se sentando, Caio a seguiu ocupando o outro ao seu lado. — Se ficarmos quietos, podemos assistir outro filme.
— Vamos ser expulsos… — Quem é essa menina? Joana tem seu lado m*l, quero esse lado também.
— Só você ficar quieto. — Caio se sentiu como se estivesse prestes a entrar em algum jogo, sabia o qual errado as ações deles eram, porém, a adrenalina do proibido a correr em suas veias. Essa menina com toda certeza é demais.
Não tinha nem passado dez minutos do filme quando um lanterninha apareceu na sala. Joana o viu primeiro. Ela lembrou de uma amiga de sua cidade a qual lhe contou sobre uma vez ter feito o mesmo.
Jojo, o lanterninha apareceu e eu logo agarrei meu namorado e comecei a beijá-lo, foi uma loucura, mas não fomos pegos.
Bem, menina, essa é uma boa hora para perder o BV . Joana pegou na mão de Caio para chamar a sua atenção, quando ele se virou ela ainda hesitou um pouco. Vamos lá Joana, e como você ensaiou um monte de vezes no chuveiro usando a mão ou com travesseiro, você consegue.
Ela se aproximou dele, seus olhos se encarando, chegando mais perto tocou seus lábios com o seu. Caio arregalou os olhos, por segundos ficou sem reação, todos os pensamentos de sua mente sumiu com aquele gesto. Sua recuperação foi rápida, segurando o queixo de Joana ele a beijou. O som da vinheta do filme explodia nos altos falantes, as vozes dos espectadores se calaram, mas nada disso era importante para o casal de apaixonados.
Caio foi com calma, apreciando os lábios macios de Joana, tudo que imaginou para aquele momento não ocorreu, sua cabeça montou cenários na escola, roubando um beijo no corredor, ou ela indo até ele depois de marcar a cesta, aquela bola lançada quando a campanha e tocada, todos na expectativa dele acertar e quando ela entra as arquibancadas vão ao delírio, ele se livrar do abraço dos amigos e lá está ela correndo em sua direção e se jogando em seus braços e lhe dando um beijo.
Joana sentiu os dedos de Caio em sua nuca trazendo-a mais para perto sentiu o cheiro de seu perfume cítrico a envolvendo, foi a primeira coisa que a atraiu nele, no segundo dia de aula quando se escondeu na biblioteca, ainda estava tentando se situar na nova escola. Ele tinha sentando atrás dela com um livro, virando na cadeira os olhos se cruzaram por meio segundo e ela voltou-se em direção ao seu livro. Sua curiosidade foi maior e não conseguiu se concentrar, olhava por cima do ombro queria saber quem era o gatinho cheiroso.
O lanterninha passou pelo casal se beijando e subiu um lance de escada, apontou a lanterna para um grupo de garotos, pediu os ingressos deles e quando ninguém o mostrou, escoltou-os para fora da sala.
— Caio. — Sussurrou Joana contra. — Acho que o perigo já passou. — Ela voltou a sentar reta em sua poltrona e inclinou o rosto quente para tela
Ai meu Deus! Eu beijei ele, eu beijei ele! Será que gostou? E seu fiz errado? Céu! Como saio daqui.
— Se eu me comportar, ganho outro desse? — Caio sussurrou em seu ouvido.
Joana mordeu o lábio e fez que sim com a cabeça.