Capítulo 1
Lobo
Retiro as balas da glock, deixando apenas uma.
Aponto ela para minha própria cabeça, respiro fundo e aperto o gatilho. Mas nada acontece, de novo… mas o cheiro da morte sempre fica no ar, e eu sei que a cada dia que passa, ele se torna mais presente.
Jogo a arma na cama e vou para a sacada do quarto, inspiro o ar puro da noite e analiso a parte mais alta do morro e mais deserta também, mas a movimentação na casa da frente a essa hora da noite chama minha atenção. A luz acesa e alguém se mexendo lá dentro, sem parar.
Tiro o radinho da cintura e aciono o primeiro toque de quem atender.
Lobo: quem tá morando na casa da frente?
Corvo: moradora nova, chefe. Comprou o barraco aí!
Lobo: gosto de ficar sozinho, tu mais que ninguém sabe disso. Por que vendeu a p***a dessa casa?
Corvo: foi vendida antes mesmo de você ir morar lá em cima, era casa da família dela mesmo. Agora que ela quis subir pra morar, a casa lá embaixo foi interditada, risco de desabar, alguma parada assim.
Lobo: suave.
Mordo o lábio inferior como se alguém tivesse invadido meu espaço, sendo que a casa fica do outro lado da rua, mas, bem de frente para minha janela. Entro colocando a Ak-47 nas costas, é minha companheira de guerra desde que eu saí de tudo, ou melhor, desde que eu perdi tudo.
Desço as escadas até a saída de casa e atravesso a rua, tão rápido que quando vou ver, já estou em seu portão pronto para gritar, mas ela sai, com uma sacola enorme na mão e para, me encarando.
— Oi? — ela inclina a cabeça e troca a sacola de mão — precisando de alguma coisa?
— Preciso que você saia dessa casa!
— Como?
— Sair, se mudar, sei lá. Mas não pode ficar aqui! — aviso — entendeu?
— Não. É a minha casa, como quer que eu saia daqui?
— Se esse é o motivo, te compro outra, lá embaixo, aqui não.
— Por que? — ela arqueia a sobrancelha me olhando, e eu suspiro alto e pesado — estou sem entender nada até agora.
— Acho que não é muito difícil compreender o que estou falando contigo. Preciso que saia dessa casa e vá morar em outra, eu pago pra você sair daqui. Mas esse é o meu espaço, e tu tá invadindo.
Ela olha ao redor e nenhuma casa está presente, então para em direção ao meu portão aberto e a casa toda apagada, escura, sem parecer que alguém mora nela há alguns meses.
— Ah, eu já entendi — com um sorriso de lado, ela passa por mim e coloca a sacola de lixo na beirada da calçada — olha que legal, me mudei para cá justamente por não ter vizinhos, bom, eu pensava não ter. Mas fique tranquilo, não vai me ver indo na sua porta pedindo uma xícara de açúcar ou algo do tipo, eu estou na minha, ok? Agradeço ter oferecido outra casa, mas eu gosto dessa aqui.
— Tu é uma coisinha difícil de lidar!
— E você é estranho, sabia? Não pode chegar na casa das pessoas e simplesmente pedir pra elas irem embora por que você não gosta de ter vizinhos, eu também não gosto, e nem por isso faço. Você não invade meu espaço e nem eu o seu — seus olhos vem em minha direção, com um coque no alto da cabeça, mas baixinha demais perto de mim — então viveremos na mais perfeita harmonia.
— O seu quarto dá de frente para o meu, vê se se controla! — ela arqueia a sobrancelha se formando um “V” — eu não durmo muito e aquele é o meu canto.
— Precisa de mais alguma coisa, senhor mandão?
— Qual é o seu nome?
— Ísis!
— Ísis… não somos amigos, Ísis. Não precisa bancar a vizinha simpática comigo, gosto de ficar e ser sozinho. Entendeu? Espero que não precise de mim, não vou poder te ajudar em nada que pedir, mas, tu pode descer até a boca lá embaixo e pedir que alguém resolva seu problema. Mas nunca, nunca na tua vida atravesse a rua pra ir me pedir ajuda, tá entendendo?
— Não falar contigo, não olhar para o teu quarto, não gritar por sua ajuda. Tá, ok. Já entendi! — ela afirma com a cabeça — mas se não quiser mais trocar essa ideia de doido aqui comigo, eu preciso mesmo entrar. Estou cansada e cheia de coisas pra fazer.
— Pode ir!
Ela anda e entra fechar o portão, mas quando viro de costas ouço ela murmurar um “homem maluco, quem ele pensa que é?”
Uma pessoa que ela jamais gostaria de conhecer, isso eu garanto.
Atravesso a rua deserta que sempre me deixou em paz, ou com os pensamentos mais organizados, mas agora, nem tanto.
Quando se mata alguém a sangue frio, sua mente começa a te trair e se questiona se realmente é uma pessoa r**m. Mas quando essa lista só aumenta com o passar dos dias, você tem a plena certeza de que é.
Tomo um banho tentando relaxar meu corpo que se tencionavas cada minuto que eu pensava na p***a daquela mulher morando a minha frente, com uma favela inteira e desse porte, ela escolheu logo aqui.
A glock na cama parece sorrir pra mim, e mais uma vez me convida para uma brincadeira nada segura, mas eu gosto da adrenalina em saber que minha vida está nas pontas dos meus dedos e apenas com um click, tudo isso pode acabar.
Sento na cadeira da varanda do meu quarto, não preciso comandar o morro, há pessoas que façam isso por mim, eu só comando a facção e consigo fazer isso dentro de casa, apenas usando um rádio transmissor.
Segura a arma em minha mão, girando o tambor com apenas uma bala dentro. O cigarro queima entre meus dedos e a fumaça entra pelas minhas narinas, observando tudo, sempre. O r**m desse p***a toda é viver sempre em alerta de que algo pode acontecer, que alguém pode vim atrás de mim e eu preciso estar sempre preparado.
Dou um último trago no cigarro e jogo ele pela casada. Meus olhos ficam fixos no quarto da morena com as luzes acesas, a cortina aberta, ela sai apenas enrolada em uma toalha, passa os olhos em direção a minha sacada e estreitar o olhar pra ver se consegue ver alguma coisa, mas não acontece, não pode me ver pois estou no escuro, sempre fui acostumado com a escuridão.
E como se fosse a p***a de uma corajosa pra fazer isso, ela deixa a toalha cair ficando completamente pelada, se abaixa em direção ao guarda-roupa procurando algo, sem se preocupar se alguém poderia ver isso.
Meu p*u duro dentro da cueca me faz lembrar que, estou a 5 anos sem t*****r, e essa é a primeira vez depois de tudo que eu ve
jo uma mulher pelada tão de perto.
Essa feiticeira vai acabar com a minha vida.