O passado bate a porta
O envelope pesava nas mãos de Sofia.Seus dedos tremiam enquanto ela o rasgava, revelando o papel branco e frio que continha a verdade que ela temia há anos.99,9% de compatibilidade genética.O nome no relatório fez seu coração parar.
Enzo DeLuca.
Seu passado. Sua ruína.
O homem que ela nunca mais deveria ver… mas que agora, tinha um laço inquebrável com ela.Antes que pudesse reagir, uma batida forte ecoou pela porta do seu apartamento.Sofia congelou.Seu corpo reconheceu aquele som.Aquele comando silencioso.Quando abriu a porta, seus olhos se chocaram com o abismo escuro que eram os de Enzo.
Ele estava ali.
Mais perigoso. Mais letal.
E seu olhar dizia apenas uma coisa:
— Você escondeu minha filha de mim.
E agora, você vai pagar por isso.
O apartamento de Sofia parecia pequeno demais para a presença de Enzo DeLuca.
Ele não precisava dizer nada. Seu olhar era um aviso. Uma promessa.
Ela tentou manter a voz firme.
— Como me encontrou?
Os lábios dele se curvaram em um meio sorriso perigoso.
— Você realmente achou que poderia esconder algo de mim?
Sofia sentiu o estômago revirar. O sangue de Isabella corria nas veias de um homem perigoso. Um mafioso.
— Não é tão simples assim, Enzo.
— Ah, amore mio, é exatamente assim. — Ele se aproximou, seu calor irradiando como uma ameaça silenciosa. — Eu tenho uma filha. E você me escondeu isso por sete anos.
Sofia engoliu seco.
— Eu fiz o que era melhor para Isabella.
Os olhos dele brilharam com fúria contida.
— O que era melhor… ou o que era mais seguro para você?
Ela não respondeu. Porque, no fundo, ele estava certo.
Enzo continuou:
— Você não entende o que fez. Agora que sei que Isabella existe, o mundo também saberá. E isso significa que ela já está em perigo.
O coração de Sofia acelerou.
— O que está dizendo?
— Que agora você não tem escolha. — Enzo pegou o telefone, discou um número e disse algo em italiano antes de encará-la novamente. — Vocês vêm comigo.
Ela arregalou os olhos.
— Você está louco se acha que vou simplesmente pegar minha filha e ir embora com você!
Enzo se inclinou, a voz baixa e cortante.
— Tesoro, eu não pedi.
Sofia sentiu um arrepio percorrer sua espinha.
Então, um barulho no corredor.
Sofia virou-se a tempo de ver Isabella saindo do quarto, segurando um ursinho de pelúcia.
Seus olhos castanhos encontraram os de Enzo.
Ela piscou, curiosa.
— Mamãe… quem é ele?
O silêncio foi como um tiro.
Enzo olhou para a menina como se tivesse levado um soco no peito.
Sofia não sabia se deveria impedi-los de se aproximarem. Mas era tarde demais.
Isabella inclinou a cabeça.
— Você tem olhos iguais aos meus.
Enzo sorriu.
O silêncio na sala parecia um abismo.
Sofia podia sentir o ar carregado de eletricidade enquanto Enzo olhava para Isabella. Seu rosto, sempre impassível e letal, suavizou por um breve momento. Mas havia algo nos olhos dele—um brilho de posse, de descoberta.
Ele se ajoelhou lentamente, ficando à altura da menina.
— Ciao, piccola.
Isabella franziu a testa, segurando seu ursinho mais forte.
— O que isso significa?
A boca de Enzo se curvou em um meio sorriso.
— Significa "oi, pequena", em italiano.
Sofia prendeu a respiração.
Ela deveria interromper aquele momento? Dizer a Isabella para voltar para o quarto?
Mas sua filha parecia fascinada.
— Você é da Itália?
— Sim.
Isabella estudou o rosto dele com curiosidade infantil.
— Você tem olhos iguais aos meus.
Sofia sentiu o peito apertar. Era o que ela temia. Isabella era esperta. Ela sempre perguntava por que não se parecia tanto com a mãe. Agora, diante de Enzo, a resposta estava ali, clara como o dia.
Enzo engoliu em seco.
— Sim, bella. Isso porque eu sou seu pai.
Sofia sentiu o corpo congelar.
O olhar de Isabella se arregalou.
— Meu pai?
Sofia interveio antes que aquilo saísse do controle.
— Isabella, querida, por que não volta para o quarto? A mamãe já vai te buscar, tá bom?
Mas a menina continuou olhando para Enzo, como se tentasse entender.
— Por que você nunca veio me ver antes?
A pergunta era inocente, mas carregava um peso devastador.
Enzo desviou o olhar para Sofia, e ela viu algo ali que nunca imaginou ver nele: dor.
Ele se levantou lentamente, mas ainda manteve o olhar em Isabella.
— Eu… não sabia que você existia.
Sofia fechou os olhos, sentindo a culpa queimá-la por dentro.
Isabella parecia considerar aquilo por um momento antes de dar um pequeno aceno com a cabeça.
— Tá bom. — Depois, voltou-se para Sofia. — Mamãe, posso levar meu ursinho para a cama?
Sofia forçou um sorriso.
— Claro, meu amor. Vai lá.
A menina olhou uma última vez para Enzo antes de correr de volta para o quarto.
Assim que a porta do quarto se fechou, o clima na sala mudou.
Enzo virou-se para Sofia, os olhos pegando fogo.
— p***a, Sofia!
Ela se encolheu com a explosão de raiva.
— Você não pode gritar, ela vai ouvir!
Ele deu um passo na direção dela, e ela recuou.
— Sete anos. Você me roubou sete anos da vida da minha filha!
— Eu fiz o que era certo para ela!
— O que era certo… ou o que era mais seguro para você?!
Sofia sentiu o rosto arder.
— Você sabe quem você é, Enzo! Sabe a vida que leva! Como eu poderia trazer um bebê para esse mundo de sangue e violência?
Ele passou a mão pelos cabelos, respirando fundo, tentando se controlar.
— E você acha que me esconder dela a manteve segura? Você tem ideia do que fez?
Ela cruzou os braços, tentando manter a postura firme.
— O que eu fiz foi proteger minha filha!
Enzo estreitou os olhos.
— Nossa filha.
Sofia sentiu o estômago revirar.
— Você não pode simplesmente aparecer e exigir um lugar na vida dela!
— Mas eu vou. — A voz dele era fria, definitiva. — Eu não sou um homem que aceita "não" como resposta, Sofia.
Ela sabia disso.
Mas o que a assustava não era apenas a ameaça implícita.
Era o fato de que, no fundo, parte dela não queria que ele fosse embora.
O apartamento parecia pequeno demais para a tempestade de emoções entre eles.
Sofia sentia o olhar de Enzo como uma corrente elétrica percorrendo sua pele. Ele estava furioso. Mas, pior do que isso, estava determinado.
— Eu não vou sumir, Sofia. — Sua voz era baixa, mas carregada de um poder inegável. — Agora que sei que Isabella é minha filha, ela é minha prioridade.
Sofia cruzou os braços, tentando ignorar o tremor que ameaçava dominá-la.
— Ela não é um pedaço de território para você reivindicar, Enzo. Ela é uma criança! Uma que você não conhece e que não conhece você.
Ele deu um passo à frente, e ela prendeu a respiração.
— Então eu vou conhecê-la. — Seu tom era definitivo. — Eu perdi sete anos da vida dela. Não vou perder mais um segundo.
Sofia sentiu o peito apertar. Parte dela queria impedir aquilo. Queria proteger Isabella desse homem perigoso e do mundo que ele representava.
Mas outra parte… a parte que se lembrava da única noite que passaram juntos, da intensidade dos olhos dele, do toque quente contra sua pele… essa parte sussurrava que talvez fosse tarde demais para fugir.
— Você não pode simplesmente decidir isso sozinho. — Sua voz saiu mais baixa do que pretendia.
Os olhos dele brilharam com algo sombrio.
— Sofia, eu já decidi.
Ela sentiu um arrepio de medo e desejo percorrer seu corpo.
— E se eu disser não?
O sorriso dele foi lento.
— Você não vai dizer. Porque sabe que, se me afastar de Isabella, eu vou lutar por ela com tudo o que tenho. E você sabe do que sou capaz.
Sofia sentiu a raiva borbulhar dentro dela.
— Então é assim? Você vai me forçar a aceitar você na vida dela?
Enzo inclinou a cabeça, os olhos percorrendo cada detalhe de seu rosto.
— Não preciso forçar nada. Isabella já percebeu. Ela já sabe que tem algo entre nós. E cedo ou tarde, ela vai querer saber mais.
Sofia odiava admitir, mas ele estava certo. Isabella era curiosa. E agora que tinha visto Enzo, que tinha notado a semelhança entre eles…
Ela não aceitaria viver no escuro para sempre.
— Eu quero tempo. — Sofia finalmente disse, sentindo o peso da batalha que estava perdendo. — Isabella precisa se acostumar com a ideia.
Enzo assentiu lentamente.
— Tempo eu posso dar. Mas não se engane, amore mio… Eu não vou a lugar nenhum.
Sofia soltou um suspiro trêmulo.
— Ótimo. Então me deixe em paz por hoje.
Ele não se moveu de imediato. Apenas a olhou.
— Por enquanto.
Então, sem dizer mais nada, ele se virou e saiu do apartamento.
Sofia finalmente permitiu que seus joelhos fraquejassem.
Ela sabia que aquilo não tinha acabado.
Na verdade, estava apenas começando.