Capítulo 2

1852 Words
Naquela noite, Sofia demorou a dormir. O encontro com Enzo mexeu com ela mais do que gostaria de admitir. E o pior era saber que ele não estava errado. Isabella era esperta. Ela não deixaria esse assunto morrer tão fácil. Mas o que mais a inquietava era a sensação de estar sendo observada. O instinto materno de Sofia nunca falhava. Algo estava errado. Ela se levantou da cama, foi até o quarto de Isabella e a encontrou dormindo tranquilamente, os cachinhos espalhados pelo travesseiro. Suspirando, fechou a porta e foi até a janela da sala. Foi quando viu. Um carro parado do outro lado da rua. Os faróis apagados. Mas havia alguém dentro dele. Seu coração disparou. Por um segundo, pensou em Enzo. Mas não. Ele não era o tipo de homem que espionava na sombra. Se quisesse algo, tomaria. Isso significava que outra pessoa estava interessada nelas. O terror se instalou no peito de Sofia. Ela pegou o telefone e, sem pensar muito, discou o número que não devia saber de cor. A voz rouca e carregada de sono atendeu no segundo toque. — Eu disse que não ia embora. Sentiu minha falta já, amore mio? — Enzo… — A voz de Sofia saiu trêmula. O tom dele mudou instantaneamente. — O que foi? Sofia engoliu seco, olhando de novo pela janela. O carro ainda estava lá. — Tem alguém observando minha casa. O silêncio do outro lado foi aterrorizante. Então, a voz de Enzo veio baixa, letal. — Pegue Isabella e tranque-se no quarto. Não abra para ninguém até eu chegar. Sofia tremeu. — Enzo, o que está acontecendo? — Você não entende, bella. — Sua voz estava carregada de fúria e algo mais… posse. — Agora que todos sabem que tenho uma filha, você se tornou meu ponto fraco. Sofia sentiu um arrepio percorrer sua espinha. — O que isso significa? A resposta dele foi fria e cheia de certeza. — Significa que, a partir de agora, você pertence a mim. E, pela primeira vez, Sofia percebeu que não havia mais escapatória. O silêncio na sala era pesado, carregado de tensão e promessas veladas. Sofia manteve-se imóvel, sentindo o coração martelar contra o peito enquanto Enzo ocupava o pequeno espaço do apartamento com sua presença avassaladora. Ele era uma força da natureza, implacável e inegavelmente perigoso. Mas o que mais a assustava era o efeito que ele ainda tinha sobre ela. — Pegue o essencial — ele ordenou, os olhos escuros e penetrantes fixos nela. — Vocês não podem mais ficar aqui. Sofia piscou, tentando processar o que ele acabara de dizer. — O quê? — Bella, não tenho tempo para discussões. — A voz dele era baixa, mas cortante como uma lâmina afiada. — Se alguém estava vigiando seu apartamento, significa que já sabem quem você é para mim. E se sabem disso, Isabella já é um alvo. O estômago de Sofia se revirou. — Um alvo? — Ela apertou os braços ao redor do próprio corpo, tentando manter a compostura. — Meu Deus… o que você fez? Enzo franziu o cenho, sua expressão se fechando em algo sombrio. — Eu existi, Sofia. Eu sou quem sou. Isso basta para que meus inimigos queiram me atingir. Ela sentiu um arrepio percorrer sua espinha. — E agora Isabella está no meio disso tudo… Ele se aproximou, os passos lentos e calculados. Sofia recuou instintivamente até suas costas tocarem a parede. Mas Enzo continuou avançando, invadindo seu espaço, até que a única coisa entre eles fosse a respiração acelerada dela. — Você acha que não pensei nisso? — Sua voz estava mais baixa agora, mais íntima. — Você acha que não me odeio por tê-la colocado em perigo sem nem saber da existência dela? Sofia engoliu em seco. Enzo nunca demonstrava fraqueza. Mas naquele instante, por uma fração de segundo, ela viu algo nos olhos dele que a desarmou. Culpa. Mas a vulnerabilidade desapareceu tão rápido quanto surgiu, substituída pela mesma determinação implacável de antes. — É por isso que vocês vão comigo. — Ele ergueu a mão e deslizou os dedos por uma mecha solta do cabelo dela, um gesto quase terno, mas carregado de algo mais perigoso. — Não vou deixar nada acontecer com vocês. Sofia odiava o modo como seu corpo reagia ao toque dele, ao calor que irradiava entre eles como um incêndio prestes a consumir tudo. — E se eu disser não? O sorriso de Enzo foi lento, perigoso. — Você não vai dizer. A certeza na voz dele fez o sangue de Sofia ferver. — Você não pode simplesmente aparecer depois de sete anos e me arrastar para o seu mundo, Enzo! — Não estou arrastando você para nada. Você já faz parte dele. O coração de Sofia bateu forte contra as costelas. — Isso é um sequestro? Os olhos de Enzo brilharam com diversão sombria. — Se fosse, você já estaria no carro. Antes que Sofia pudesse responder, um dos homens de Enzo entrou no apartamento. — Senhor, precisamos sair agora. Enzo não desviou os olhos dela. — Pegue Isabella. Traga as malas. A tensão explodiu dentro de Sofia. — Não! Ela avançou instintivamente, tentando impedir que tocassem em sua filha, mas Enzo a segurou com firmeza, suas mãos grandes envolvendo seus pulsos. — Olhe para mim. Sofia lutou, tentando se soltar, mas ele segurou com mais força, sem machucá-la, apenas firmando sua presença. — Confie em mim. Duas palavras. Simples, mas carregadas de uma intensidade que fez Sofia perder o ar. Ela queria gritar que não confiava nele, que ele era um mafioso, um criminoso, um homem capaz de destruir tudo o que tocava. Mas seus instintos gritavam outra coisa. Ele protegeria Isabella. Não importava o que acontecesse, Enzo nunca deixaria que algo acontecesse à filha deles. Sofia fechou os olhos, sentindo a resistência dentro de si se fragmentar. Quando os abriu, viu Enzo observando-a atentamente. Sem dizer mais nada, ela assentiu. O carro deslizou silenciosamente pelas ruas escuras de Manhattan. Sofia segurava Isabella firmemente no colo, sentindo o coração martelar contra as costelas. A respiração tranquila da filha adormecida contrastava com a tempestade que se formava dentro dela. Ao lado, Enzo estava impassível. O perfil forte e marcado pelo jogo de sombras das luzes da cidade o fazia parecer ainda mais intimidador. Ele não olhava para ela, mas Sofia sentia a presença dele como se fosse um campo magnético invisível. — Para onde estamos indo? — Ela quebrou o silêncio, mantendo a voz baixa para não acordar Isabella. — Para um lugar seguro — ele respondeu sem desviar os olhos da estrada. — Seguro para quem? Para você? Porque eu definitivamente não me sinto segura com você, Enzo. Dessa vez, ele olhou para ela. Um olhar lento, calculado, mas cheio de algo mais profundo… algo perigoso. — Não confia em mim, amore mio? Sofia soltou uma risada seca. — Confiança não é exatamente a palavra que eu usaria para definir o que sinto por você. O sorriso que ele esboçou não era de diversão. — Isso vai mudar. Antes que ela pudesse responder, o carro parou em frente a um prédio imponente no coração de Manhattan. O edifício era alto, moderno, com janelas espelhadas que refletiam as luzes da cidade. Sofia sentiu um aperto no peito. Ela estava realmente entrando no mundo dele. Dois homens de terno preto saíram do veículo à frente e abriram as portas. Enzo saiu primeiro e, sem esperar, pegou Isabella nos braços. Sofia, por reflexo, tentou impedir, mas ele a olhou de um jeito que a fez congelar. — Ela está dormindo. Não vamos acordá-la. A voz dele não era áspera, mas carregava um tom de comando que a fez hesitar. E então Sofia percebeu. A forma como Enzo segurava Isabella, o modo como seus braços se ajustavam ao corpo pequeno da filha… não era apenas uma questão de posse ou autoridade. Era instinto. Mesmo sendo a primeira vez que segurava Isabella, Enzo já a protegia como se tivesse feito isso a vida toda. Sofia sentiu um nó na garganta. Mas não era hora de se deixar levar. Inspirando fundo, ela saiu do carro e seguiu Enzo para dentro do prédio. O refúgio do lobo O elevador subiu suavemente até o último andar. Quando as portas se abriram, Sofia se viu diante de um apartamento luxuoso, espaçoso e impecavelmente decorado. O chão de mármore refletia as luzes quentes do ambiente. Paredes envidraçadas ofereciam uma vista de tirar o fôlego da cidade. Mas o que mais a impressionou foi a segurança. Câmeras estrategicamente posicionadas. Travas eletrônicas em todas as portas. Até as janelas pareciam reforçadas. — Você mora aqui? — Sofia perguntou, cruzando os braços. Enzo caminhou até um dos quartos e, com uma delicadeza inesperada, colocou Isabella na cama. Ficou ali por um momento, observando-a dormir, antes de se virar para Sofia. — É um dos meus refúgios. Ela arqueou a sobrancelha. — Você tem mais? — Alguns. Mas este é o mais seguro. Sofia olhou ao redor, absorvendo cada detalhe. — Seguro… ou uma prisão? Enzo a estudou por um momento antes de se aproximar. Seu cheiro amadeirado, misturado com algo puramente masculino, invadiu os sentidos dela. — Se fosse uma prisão, você não teria opção de sair. Ela trincou o maxilar. — Eu tenho opção? Os olhos dele brilharam. — Você pode ir embora sempre que quiser, bella. Mas Isabella fica. A raiva queimou dentro dela. — Você não pode simplesmente decidir isso! Ele ergueu uma sobrancelha, como se achasse divertido o fato de ela acreditar que tinha poder sobre essa decisão. — Não? Então tente. Sofia sabia que não havia escapatória. Se tentasse sair com Isabella, ele encontraria as duas. E, pior, agora havia um inimigo invisível à espreita. Ela fechou os olhos por um instante, tentando encontrar alguma lógica no caos que sua vida havia se tornado. Quando os abriu, Enzo ainda estava ali, esperando. Ele sempre esperava. Como um predador que sabia que sua presa eventualmente cederia. — Você me odeia, não é? — ele perguntou, a voz rouca e arrastada. Sofia sentiu a garganta seca. — Sim. Ele sorriu de um jeito que fez o estômago dela revirar. — Então por que seu corpo reage assim quando estou perto? Ela arquejou quando ele tocou suavemente seu braço, deslizando os dedos pelo contorno de sua pele exposta. O calor do toque dele queimava. — Não confunda desejo com perdão — ela sussurrou, a voz falhando. — E você não confunda orgulho com verdade. Os olhos de Enzo caíram para os lábios entreabertos de Sofia, e por um segundo, o tempo pareceu congelar. Ela sentiu a respiração quente dele, o cheiro intoxicante que a fazia lembrar de uma noite que jamais conseguiu esquecer. Mas então, como se algo dentro dela despertasse, Sofia deu um passo para trás. O olhar de Enzo se estreitou. — Vá para o inferno, Enzo. E então ela se virou e desapareceu pelo corredor, trancando-se no quarto. Seu coração batia descontrolado. Ela sabia que não podia escapar dele. Mas isso não significava que entregaria sua alma sem lutar.
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