Capítulo 3

1522 Words
Sofia trancou a porta do quarto, pressionando a testa contra a madeira fria. Seu corpo ainda tremia, o coração martelava como se tentasse escapar de seu peito. Enzo era perigoso. Sempre foi. Mas o problema não era apenas ele. O problema era a forma como seu corpo reagia sempre que ele se aproximava, a forma como seu coração ignorava todas as razões para mantê-lo afastado. Ela passou as mãos pelo rosto, tentando organizar seus pensamentos. Precisava se concentrar. Precisava ser racional. Virou-se e observou Isabella dormindo tranquilamente na cama luxuosa. Pelo menos, sua filha estava segura. Segura… sob o mesmo teto que um mafioso. Que ironia. Sofia suspirou e se sentou na beira da cama. Seu corpo estava tenso, exausto. Mas ela sabia que dormir estava fora de questão. Lá fora, Enzo estava à espreita. E a verdade era que ele não precisava de palavras para derrubar suas defesas. Ele nunca precisou. Do lado de fora do quarto, Enzo girava um copo de uísque nas mãos, o olhar perdido na cidade iluminada através das paredes envidraçadas da cobertura. Ele deveria estar focado em outra coisa. Nos inimigos à espreita. No perigo que rondava sua filha. Mas tudo o que conseguia pensar era em Sofia. Ela não havia mudado. Ainda era teimosa, intensa, cheia de vida. Mas havia algo novo nela. Algo mais afiado. A Sofia de sete anos atrás era impulsiva, guiada pelo coração. A Sofia de agora era uma mulher que aprendera a se proteger. E isso o intrigava. Porque não importava o quanto ela tentasse fugir… Ela ainda o olhava da mesma forma. Com raiva. Com desejo. Com medo. E Enzo sabia exatamente como quebrar cada uma dessas barreiras. Ele levou o copo aos lábios, tomando um gole do líquido âmbar. Isso era apenas uma questão de tempo. Sofia Horas se passaram. Sofia estava inquieta, rolando de um lado para o outro na cama, incapaz de apagar a presença de Enzo de sua mente. Ela precisava de ar. Cautelosamente, levantou-se sem fazer barulho e abriu a porta do quarto. O apartamento estava mergulhado em um silêncio pesado. Sofia caminhou pelo corredor, sentindo-se como uma intrusa. Ao entrar na sala principal, encontrou Enzo sentado em um dos sofás de couro preto. Ele parecia relaxado, uma perna cruzada sobre a outra, o copo de uísque ainda em mãos. Mas os olhos… Os olhos escuros estavam fixos nela. — Não consegue dormir, amore mio? — Sua voz rouca quebrou o silêncio. Sofia engoliu em seco. — O que você acha? Enzo sorriu, aquele sorriso preguiçoso e perigoso que sempre a desarmava. Ele se levantou lentamente e caminhou até ela. Sofia ficou tensa. Ele parou próximo, perto o suficiente para que ela sentisse o cheiro amadeirado de seu perfume, para que o calor dele envolvesse sua pele. — Sabe o que me incomoda? — ele murmurou. Sofia tentou não se perder na profundidade daquela voz. — Muitas coisas, eu imagino. Ele riu baixinho, um som grave que reverberou dentro dela. — Me incomoda o fato de que, apesar de toda a sua raiva, você ainda me quer. O coração de Sofia pulou no peito. Ela abriu a boca para negar, para protestar… Mas Enzo já sabia. Porque seu corpo já havia entregado sua resposta. A respiração acelerada. O jeito como ela não recuava. O calor subindo pelo pescoço. Ele ergueu uma mão e, muito lentamente, roçou os dedos na linha do maxilar dela. Sofia se arrepiou da cabeça aos pés. — Você sente isso, bella — ele murmurou. — Essa conexão entre nós nunca desapareceu. — Você está errado — ela sussurrou. Mas a voz dela vacilou. E Enzo percebeu. Ele se aproximou ainda mais, até seus lábios estarem a meros centímetros dos dela. — Então me diga… — Sua voz era um desafio perigoso. — Se eu te beijar agora, você vai me empurrar? O ar ficou pesado. O silêncio entre eles era quase sufocante. Sofia queria dizer que sim. Queria afirmar que não queria nada dele. Mas a verdade queimava dentro dela, fazendo-a sentir-se exposta. E Enzo sabia. — Exatamente o que pensei — ele murmurou, satisfeito. Então, sem aviso, ele se afastou. O calor desapareceu. O espaço entre eles se abriu novamente, deixando Sofia tonta. Ela piscou, surpresa. — O que…? — Você não está pronta para admitir — ele disse, dando de ombros. — Então eu vou esperar. Sofia sentiu a raiva borbulhar. — Você é insuportável. Enzo apenas sorriu. — Boa noite, amore mio. Ele se virou e caminhou em direção ao corredor, desaparecendo na escuridão. Sofia permaneceu ali, tentando recuperar o fôlego, tentando entender o que diabos acabara de acontecer. Mas a única coisa que seu corpo lhe dizia era uma verdade c***l. Ela ainda o desejava. E isso era exatamente o que Enzo queria. O sol começava a nascer no horizonte de Manhattan quando Sofia finalmente conseguiu fechar os olhos por alguns minutos. Mas seu descanso foi interrompido por um barulho baixo vindo da sala. Ela despertou instantaneamente, seus instintos em alerta. Olhou para Isabella, que ainda dormia serenamente na cama luxuosa. Sem fazer barulho, saiu do quarto, atravessando o corredor com passos cautelosos. Ao chegar à sala, encontrou Enzo parado perto da janela, vestido com uma camisa preta semiaberta e calças escuras. Ele segurava um celular na mão, e sua expressão era dura, impassível. Mas havia algo mais ali. Algo perigoso. — O que foi? — Sofia perguntou, abraçando os próprios braços, tentando afastar o frio da madrugada. Ele desligou a chamada e virou-se para ela. — Precisamos reforçar a segurança. Sofia sentiu um arrepio percorrer sua espinha. — O que aconteceu? Enzo hesitou por um segundo, como se calculasse o que deveria ou não contar. — Um dos meus homens foi atacado ontem à noite. O coração de Sofia acelerou. — Meu Deus… ele está…? — Vivo — Enzo respondeu. — Mas foi um recado. Ela não precisou perguntar de quem. Os inimigos dele estavam se movendo. E agora, Sofia e Isabella estavam no meio disso. — Eu não posso ficar aqui — ela murmurou. Enzo caminhou até ela, seus olhos escuros analisando cada detalhe de sua expressão. — Você acha que ir embora vai mantê-la segura? — Eu não sei, Enzo! — Sofia explodiu, sentindo a frustração borbulhar. — Eu não sei nada! A única coisa que sei é que minha filha está em perigo, e isso é culpa sua! A tensão no ar ficou quase sufocante. Ele se aproximou mais, até que Sofia precisou erguer o rosto para encará-lo. — Eu daria a minha vida por ela — Enzo disse, a voz baixa e intensa. — Isso não muda o fato de que foi você quem trouxe esse perigo para nossa porta. O maxilar dele ficou rígido, e por um momento, o silêncio reinou entre eles. Então, de repente, ele se moveu. Antes que Sofia pudesse reagir, Enzo a puxou pela cintura, colando seus corpos. O ar escapou dos pulmões dela. — Quer saber o que realmente te assusta, amore mio? — ele murmurou, sua voz um sussurro grave contra a pele dela. — Não é o perigo. Não são os meus inimigos. Os dedos dele deslizaram lentamente pelo braço dela, enviando uma onda de arrepios pela pele sensível. — O que te assusta… é o que você sente quando estou perto. Sofia tentou se afastar, mas ele segurou seu queixo delicadamente, obrigando-a a encará-lo. — Eu vejo isso nos seus olhos — Enzo continuou. — Você luta contra isso. Contra nós. O coração de Sofia batia tão forte que ela achou que explodiria. — Você está errado… Ele sorriu, um sorriso perigoso e lento. — Então prove. O desafio estava lançado. Sofia sentiu o calor do corpo dele, a eletricidade que dançava entre eles como uma tempestade prestes a explodir. Ela deveria empurrá-lo. Deveria fugir. Mas em vez disso, ficou ali, presa na intensidade daquele momento. Enzo abaixou a cabeça, e seus lábios pairaram sobre os dela, a mera sugestão de um beijo. Sofia prendeu a respiração. Então, de repente, ele se afastou. De novo. Como se estivesse jogando com ela. Como se estivesse esperando que ela cedesse primeiro. O sorriso satisfeito em seus lábios a fez explodir por dentro. — Vá para o inferno, Enzo. Ele apenas riu, os olhos brilhando com algo puramente masculino. — Você vai acabar me seguindo até lá, amore. Sofia girou nos calcanhares e saiu da sala antes que cometesse o erro de ceder. Mas a verdade queimava dentro dela. Ela queria. Queria odiá-lo. Mas queria ainda mais sentir aqueles lábios nos seus. E esse era seu maior problema. O silêncio dentro do quarto era absoluto, mas Sofia não conseguia dormir. Seu corpo ainda tremia pelo encontro na varanda, pelo gosto dos lábios de Enzo ainda queimando nos seus. Ela passou as mãos pelo rosto, tentando ignorar o calor em sua pele, a aceleração do seu coração. O problema não era o beijo. O problema era o que aquele beijo despertava. Sentimentos enterrados. Lembranças que deveriam estar mortas. Mas que sempre retornavam. Porque antes de toda a raiva… Antes da traição e do abandono… Houve eles.
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