Na manhã seguinte, o internato parecia estar em seu ritmo normal corredores cheios, alunos conversando, professores apressados mas para Adrian, tudo estava… estranho.
Eleonora surgia no campo de visão dele como um raio de luz distante, mas sem nunca cruzar o olhar.
Ela estava encostada no armário, retocando um gloss claro enquanto conversava com duas colegas. O coque bagunçado do dia anterior tinha sido trocado por um r**o de cavalo alto e impecável, realçando o rosto delicado.
Adrian se aproximou no corredor, o coração batendo um pouco mais rápido do que gostaria de admitir.
— Eleonora — chamou, num tom firme, mas não rude.
Nada.
Ela continuou falando com as amigas, como se nem tivesse escutado.
Ele tentou de novo, agora mais perto.
— Eleonora.
Ela fechou o gloss, guardou na bolsa, ajeitou a alça no ombro e… continuou não olhando para ele.
Como se ele fosse invisível.
Como se o desabafo do dia anterior nunca tivesse acontecido.
Como se não tivesse ficado magoada quando, na verdade, estava.
A amiga dela, Camila, lançou um olhar confuso para Adrian, percebendo a rigidez no rosto de Eleonora.
Eleonora apenas disse, seca:
— Vamos, estou atrasada.
E saiu andando, passos rápidos, a cabeça erguida, o corpo inteiro exalando a mensagem silenciosa:
“Não vou falar com você.”
Adrian deu um passo à frente instintivamente, mas travou.
Não queria correr atrás dela no corredor lotado.
Miles aproximou-se ao lado dele:
— Uou. Frio.
— Cala a boca — Adrian resmungou, sem paciência.
Ele assistiu Eleonora virar o corredor sem nem balançar a cabeça para olhar para trás.
Aquela indiferença doía mais do que qualquer farpa afiada que ela já tinha jogado nele.
E pela primeira vez desde que ela chegara ao internato, Adrian percebeu algo que não sabia lidar:
Ele sentia falta dela.
A semana passou arrastada pelo menos para Adrian.
Para Eleonora, parecia ser exatamente o contrário.
Ela estava impecável todos os dias, sempre cercada por gente, sempre com aquele sorriso deslumbrante que acendia qualquer corredor. Andava como se nada estivesse errado, como se não tivesse discutido com ele no gramado, como se não tivesse saído chateada, como se não tivesse ignorado todas as tentativas dele de falar com ela.
Era como se Adrian…
não existisse.
E isso o deixava furioso.
E frustrado.
E… inquieto.
Segunda-feira
Adrian tentou de novo no intervalo.
— Precisamos conversar. — Ele disse quando ela passou perto.
Eleonora nem moveu os olhos para ele. Só ajeitou a pulseira no pulso e continuou andando.
Terça-feira
Ele entrou na sala e encontrou o lugar dela vazio.
Quando ela chegou, com um café gelado na mão, passou direto por ele como se fosse um pedaço de mobília.
A professora pediu para entregar uma folha para todos.
Quando chegou na vez de Eleonora, Adrian estendeu a mão para dar a dela.
Ela pegou sem olhar e sem tocar os dedos dele.
— Obrigada — disse no tom mais neutro do mundo, sem levantar os olhos.
Foi pior do que se tivesse brigado com ele.
Quarta-feira
No almoço, ela sentou com um grupo mais distante.
Quando ele passou perto, ouviu riso e tinha certeza de que ela aumentou o tom de propósito.
Quinta-feira
Na aula de reforço aquela que ela mesma pediu para ele ajudar ela simplesmente… não apareceu.
Adrian ficou no laboratório esperando quarenta minutos antes de perceber que ela não iria.
— Mano. — Miles disse, ao encontrá-lo depois. — Ela tá te esnobando nível profissional.
Adrian passou a mão no rosto, exasperado.
— Eu sei. E isso está me deixando louco.
Sexta-feira
Quando se cruzaram na porta do refeitório, ela simplesmente desviou para o lado oposto.
Como se o corpo dela tivesse sido treinado para evitar o dele.
Adrian parou no meio do caminho, os amigos quase trombando nele atrás.
— Cara, você vai ficar aí parado? — perguntou Ryan.
— Eu não entendo — Adrian murmurou. — Ela pode me odiar, pode me provocar, pode brigar comigo… mas isso? Ela me ignorar? Isso não é ela.
Ryan deu de ombros.
— Talvez você tenha magoado ela mais do que percebeu.
A frase ficou martelando na cabeça dele o resto do dia.
Sábado uma semana completa
Adrian estava no pátio, mexendo no celular, quando ouviu a voz dela ao fundo.
Rindo.
Com os outros.
Ele ergueu o olhar.
Eleonora estava com um vestido branco simples, o cabelo solto caindo pelas costas, rodeada de três meninas e dois garotos. Um dos garotos dizia algo que fez ela rir mais alto.
Adrian sentiu o peito apertar de um jeito estranho.
Ela parecia tão… bem.
Tão confortável ignorando sua existência.
E pela primeira vez, Adrian sentiu uma ponta de arrependimento verdadeiro não pela briga, mas por ter deixado tantas coisas terem se acumulado por anos.
Eleonora virou levemente o rosto na direção dele.
Por um segundo, apenas um segundo, seus olhos se encontraram.
Azul contra castanho.
Mas ela desviou antes mesmo de processar.
Virou para outro lado e continuou a conversa.
Como se não tivesse visto nada.
Como se ele fosse só mais um aluno qualquer.
E Adrian percebeu:
Ele não sabia lidar com Eleonora o ignorando.
Era pior do que todas as farpas deles juntas.
Adrian chegou ao limite.
No sábado à tarde, depois de vê-la rindo com colegas como se nada tivesse acontecido, como se ele fosse um completo estranho, algo simplesmente… estalou dentro dele.
Ele esperou a oportunidade surgir e ela veio quando Eleonora se despediu das amigas e pegou o caminho do corredor que levava à ala dos dormitórios. Um corredor discreto, quase vazio naquele horário.
Ele foi atrás.
Passos firmes.
Mandíbula travada.
Frustração acumulada há dias queimando no peito.
Eleonora ouviu os passos aproximando, mas nem se deu ao trabalho de olhar.
Até que uma sombra bloqueou sua frente.
Ela parou de supetão.
— Com licença — disse ela, seca.
Adrian não saiu do caminho.
— Não. Agora você vai me escutar.
Eleonora ergueu o olhar, finalmente encarando ele. O azul dos olhos dela estava gelado.
— Adrian, eu não tenho nada pra falar com você.
— Ótimo. Porque eu tenho pra falar com você. — Ele respondeu, a voz firme. — Uma semana inteira te chamando, e você simplesmente age como se eu não existisse.
Eleonora desviou o olhar para o lado, impaciente.
— Me deixa passar.
— Eleonora. — Ele se aproximou meio passo, e ela sentiu. — Fala comigo.
Ela ficou imóvel por alguns segundos, respirando fundo… como se estivesse contando até dez.
Então, finalmente, ergueu o rosto para ele outra vez.