— Precisamos achar esse tal Charlie.
— Cleo andou em passos largos atrás de Tyler para que ele ao menos a escutasse.
— Não vejo motivos para isso — Tyler respondeu, ainda andando apressado.
— O motivo é que ele está no nosso trio e precisamos dele para a alquimia ou vamos ficar sem nota!
— Não me importo.
— Mas eu me importo! — Cleo puxou Tyler pelo braço e o obrigou a parar para escutá-la. — Você não sabe como eu preciso passar nisso.
— Você quer o que todos aqui querem: alguns minutos de euforia no Olimpo com aqueles deuses medíocres. É uma pena que dependa de mim para isso porque eu não tenho a menor vontade de conhecer esse lugar.
— Não é por isso. — Ela soltou um longo suspiro. — Eu preciso mesmo disso, Tyler, e não é justo você se prejudicar e me levar junto.
Tyler olhou para ela por alguns segundos, analisando suas expressões, e Cleo se sentiu invadida com aquele olhar, não pôde resistir ao ímpeto de ter seu rosto queimando de vergonha, então por fim Tyler balançou a cabeça levemente concordando.
— Acho que não entendi. —Ela franziu o cenho.
— Sim, acho que posso participar de algumas aulas chatas e fazer os trabalhos — ele respondeu a contragosto, revirando os olhos. — Mas se a gente conseguir a passagem pro Olimpo, como sei que vamos porque eu sou incrível, não vou ir nessa viagem fantástica.
Cleo abriu um sorriso, satisfeita com aquela resposta e ainda mais satisfeita por saber que não teria que aguentar Tyler no Olimpo também.
— Vamos achar o estranho, amarrar ele e o obrigar a fazer todo o trabalho — ele sugeriu.
— O quê?
— Eu estou brincando, i****a! — Ele passou a mão em seus cabelos, deixando um emaranhado no topo de sua cabeça. — Agora vem comigo, eu preciso comer.
Tyler chamou ela com a mão e seguiu o corredor, desviando dos alunos apressados e Cleo seguiu ele, desfazendo o nó em seu cabelo e reclamando daquilo.
Os dois chegaram a uma enorme sala com várias mesas espalhadas e algumas delas ocupadas por semideuses devorando seus pratos.
— O que vai querer? — Tyler questionou, pegando uma bandeja e seguindo a fila.
— Hmm... o que é isso?
— É um hambúrguer — ele respondeu como se fosse óbvio, então parou e olhou para ela com o cenho franzido quando viu que ela ainda estava confusa. — Você nunca comeu um hambúrguer? Em que mundo você vive?
— Onde eu morava não tinha isso.
— Só pode que você morava no fim do mundo. — Ele balançou a cabeça, rindo. — Pega um e você vai descobrir a oitava maravilha do mundo.
Cleo fez o que ele disse, desconfiando seriamente da palavra dele e suspeitando que talvez fosse algo h******l.
Os dois seguiram até uma mesa perto de uma enorme janela de vidro, dando visão para o campo do colégio e ela sentou na frente dele.
— Se você não sabe, é só pegar o hambúrguer com as mãos e morder.
— Ele fez como explicou.
Cleo revirou os olhos quando ele insinuou que ela era burra, então mordeu o hambúrguer e arregalou os olhos ao sentir o gosto.
— O que achou?
— É perfeito! — Cleo sorriu, dando outra mordida. — Se tornou oficialmente a minha comida favorita!
Tyler sorriu com a reação dela e balançou a cabeça negativamente, como quem diz que estava certo o tempo todo, porém seu olhar se fixou em um ponto e ele parou de sorrir instantaneamente.
Cleo percebeu a mudança no humor dele e olhou para onde ele olhava, se deparando com uma garota de cabelos curtos e enrolados.
— Quem é ela? — Cleo questionou, deixando seu hambúrguer no prato, olhando para Tyler.
— É a filha de Perséfone. — Ele suspirou, voltando seu olhar para o prato novamente.
— Entendi. Você filho de Hades, ela filha de Perséfone...
Tyler não respondeu porque a resposta era bem óbvia.
— Posso te ajudar com ela. Ela pelo menos sabe que você existe?
— A gente namorou por uns dois meses mas não deu certo e é melhor não mexer nisso. A Emma é muito difícil de se lidar. Eu também não acho que você consiga me ajudar.
— Eu consigo e entendo dos corações alheios, pode confiar em mim. — Cleo sorriu, sabendo que aquela seria a sua primeira missão.
Um silêncio constrangedor se instalou entre os dois e Cleo pensou nas mil maneiras de se aproximar de Emma.
— Tyler — ela chamou, inclinando levemente a cabeça.
— O quê?
— Você sabe por que o Harry e a Luna não estudam com a gente?
— Os famosinhos da escola estão em um nível mais alto que nós. Como eles cresceram aqui sabem mais que qualquer um. Você já conheceu eles?
— Conheci mais cedo. Primeiro esbarrei no Harry e depois encontrei a Luna na festa de boas vindas. Eles são legais.
— Eles são incrivelmente chatos. — Tyler franziu o nariz com cara f**a.
— Por quê?
— Eu não sei, eu acho que é porque o Harry é um metido a b***a e a Luna é amiguinha dele, protegida do professor Smith.
— Você tem inveja.
— Inveja do Harry? — Ele soltou uma risada alta, jogando sua cabeça para trás. — Você é tão engraçada, sua palhaça.
— Você é tão i****a — Cleo forçou um sorriso. — Não sei como a Emma conseguiu namorar você.
— Ela sabe que eu faço umas brincadeiras legais. — Tyler sorriu de lado, erguendo as sobrancelhas.
— Você é mais escroto do que eu pensava. — Ela fez cara de nojo e se levantou. — Não fale mais comigo, por favor.
Cleo se virou apressada para sair da mesa e só percebeu que esbarrou em alguém quando seu uniforme ficou completamente sujo de suco de laranja.
Enquanto Tyler ria alto, deixando ela ainda mais irritada, a outra pessoa segurava seus braços tentando limpá-la.
— Me desculpe! — Ele falou evitando o riso, fazendo careta ao ver o estado dela.
— Não, tudo bem. — Cleo balançou a cabeça, passando a mão em seus cabelos molhados, então apontou para Tyler com cara f**a. — A culpa foi dele!
— Minha? — Tyler foi até ela ainda rindo. — Você que é destrambelhada.
— É, na verdade foi você quem esbarrou em mim — o outro concordou, rindo também.
— E quem é você? — Cleo cruzou os braços e olhou para ele.
— Esse é o terceiro integrante do nosso trio — Tyler respondeu.
— Que história é essa de trio? — O outro questionou.
— Você é o Charlie? — Cleo perguntou e ele assentiu confuso. — O professor Smith colocou você no nosso trio e temos um trabalho de alquimia.
— Conversamos sobre isso na aula, agora eu tenho uma coisa importante para fazer — Charlie disse rapidamente, apontando para o lado oposto. — E mais uma vez, me desculpe por isso.
Charlie saiu apressadamente e sumiu entre as pessoas que encaravam Cleo e riam de seu estado.
Belo jeito de começar o primeiro dia, pensou ela. Aliás, tudo estava dando errado hoje.
— Vamos limpar isso — Tyler falou, empurrando-a em direção ao banheiro com pressa.
— Por quê você está me ajudando? — Ela questionou, torcendo a saia do vestido com a mão parar tirar o líquido doce.
Tyler não respondeu e abriu a porta do banheiro, segurando Cleo pelos ombros e os dois pararam assim que se depararam com Emma em frente ao espelho, passando batom.
— Oi? — Ela disse, tirando o batom dos lábios e olhando para os dois.
— Oi — Cleo falou, se soltando de Tyler e indo até o porta papel.
— Esse é o banheiro feminino — Emma continuou, ainda olhando para Tyler.
— Eu sei, eu só vim ajudar a minha amiga desastrada. — Ele sorriu, dando passos largos até Cleo, então colocou o braço sobre o ombro dela.
— Ah, tudo bem, então. — Ela deu um meio sorriso e guardou o batom na bolsa. — Bom, eu vou indo. Espero que consiga limpar o uniforme.
Emma saiu com seus saltos fazendo barulho no chão, e em seguida Cleo empurrou Tyler com cara f**a e cruzou os braços.
— O quê? —Tyler perguntou.
— Eu sei muito bem que você me usou pra fazer ciúmes nela.
— E daí?
— Não é assim que você vai reconquistar ela, i****a.
— Eu não pedi sua ajuda e nem a sua opinião, então não enche o saco, pirralha.
— Eu espero mesmo que ela não volte com você, assim evita ficar do lado de um i*****l. E eu não sou sua amiga.
Cleo passou por Tyler pisando duro, empurrando seu ombro no caminho da saída do banheiro.