O sol da manhã estava ficando cada vez mais forte e dando lugar ao sol do meio dia. Os alunos nesse momentos estavam dispersos pela escola, achando seus quartos ou suas salas de aula, enquanto Cleo ainda tentava se localizar naquela mansão enorme.
Procurar pelo seu quarto com a pequena folha indicando o andar e o número do quarto levou muito de seu tempo e assim que Cleo o encontrou, ele estava vazio, apenas com roupas de sua outra colega de quarto jogadas em cima de uma das camas. Na cama vazia do outro lado do quarto havia uma saia e a blusa do uniforme com o brasão da escola, exibindo a Minerva de Atena. Ela o colocou rapidamente e saiu correndo pelo corredor, batendo em algumas pessoas no caminho.
Cleo parou em frente a sala, ajeitou o cabelo e recuperou o fôlego. Ela havia corrido muito para chegar ali e mesmo assim estava atrasada, então desejou mentalmente que não levasse bronca assim que entrou na sala.
— Entra! — O professor Smith gritou.
Cleo abriu a porta com cautela, olhando os vários semideuses sentados em seus respectivos lugares e assim que ela entrou e fechou a porta atrás de si, os cochichos começaram.
— Você é a aluna nova, não é? — O professor questionou em um tom amigável e ela concordou com a cabeça, se aproximando. — Quer se apresentar?
Cleo ficou tentanda a recusar, mas sabia que precisava se enturmar ou não iria sobreviver alguns meses naquele lugar.
— Meu nome é Cleo — ela continuou com voz baixa, desviando o olhar naquele momento constrangedor.
— Filha de...?
— Afrodite.
Assim que ela pronunciou o nome da mãe, escutou um grunhido vindo de um canto da sala.
— Tudo bem, Cleo, seja bem vinda. — O professor Smith sorriu e apontou para o único lugar vago na frente. — Você pode se sentar ali. — Hoje nós vamos falar sobre montaria e como lidar com um Pégasus, e depois vamos colocar isso em prática.
Cleo sentou na cadeira e apoiou as mãos na mesa, prestando atenção na explicação do professor a sua frente, ignorando os olhares direcionados a ela.
O professor Smith ficou em torno de uma hora explicando tudo e ninguém aguentava mais. Cleo sabia disso porque ficava o tempo todo olhando para o relógio, esperando aquilo acabar. Ela não sabia que uma aula poderia ser tão entediante.
— Vocês não estão mais me ouvindo, não é? — O professor questionou assim que terminou e houve um abafado "sim". — Tudo bem, vamos para o campo de treinamento.
Os alunos deram um suspiro de alívio quando o professor apontou para a porta e saíram apressados, conversando entre si. Cleo seguiu eles sem saber aonde ficava o campo de treinamento e fez como eles quando cada um ficou um do lado do outro, de frente para os diferentes pégasus a frente.
Eles eram lindos com suas várias cores e peculiaridades e alguns semideuses estavam boquiabertos ao ver um pela primeira vez, mas Cleo já estava acostumada a ver eles no Olimpo que apenas admirava suas asas brilhantes, se lembrando de como era bom também ter asas.
— Vocês podem escolher um e praticar a montaria — o professor falou com seu caderno de anotação em mãos e apontou para os pégasus com a caneta. — Mas não esqueçam que eles são como cavalos e precisam de confiança antes de permitirem que montem neles. E, por favor, não se machuquem!
Cleo se aproximou do pégasus roxo a sua frente e passou a mão pela cabeça dele com cuidado. Apesar de ter visto várias vezes eles no Olimpo, nunca montou porque sua mãe achava que ela iria se machucar e Cleo nunca pôde chegar perto demais.
— É tão macio — ela sussurrou para si mesma com um sorriso, tentada a abraçar ele como um bichinho de pelúcia.
Cleo percebeu que todos já haviam montado em seus pégasus. Claro que sim, já que os semideuses estavam ali há algum tempo, e ela havia chegado hoje e não tinha experiência nenhuma com um pégasus.
— Cleo — o professor chamou, encorajando ela.
Cleo olhou para ele e balançou a cabeça positivamente, se aproximando mais e tentando subir no pégasus, porém assim que ela colocou seu peso sobre ele, ele abriu as asas e Cleo caiu no chão.
Ninguém conteu o riso e até Cleo não resistiu ao ímpeto de rir daquela cena, mas parou de rir assim que o garoto ao seu lado fez cara f**a.
— i****a — ele comentou baixinho, balançando a cabeça.
— i****a é você, tá bom? — Cleo se levantou, bateu o ** da calça e olhou para ele.
— Você está falando comigo? — Ele olhou para ela com as sobrancelhas erguidas.
— É o único i****a por aqui, não é?
— Eu acho que você ocupa esse cargo.
Cleo nunca ficou tão brava como agora, ela suspeitava que a Cupido não poderia odiar ninguém, mas Zeus e esse garoto a sua frente provavam o contrário.
— Senhor Leblanc! — O professor se aproximou com voz baixa, colocando os braços entre Cleo e o outro garoto, separando os dois. — O que está acontecendo aqui?
— Ele me chamou de i****a! — Cleo apontou para o outro.
— Você tem dez anos? — Ele olhou para ela com cara f**a.
— Chega, Tyler — O professor parou ele com voz mais grossa. — A sua ficha não está muito boa aqui, você sabe.
Ele ficou em silêncio, desviando o olhar com culpa.
— Peça desculpa.
— Desculpa — ele disse com voz dura, olhando para Cleo e esperou.
— O quê? — Ela questionou.
— Não vai me pedir desculpa?
— Pelo o quê?
— Por ser uma i****a.
— O i****a aqui é você! — Cleo não resistiu ao ímpeto e o empurrou com força, fazendo ele cair do pégasus.
Risos tomaram conta do lugar e Tyler se levantou rapidamente, ajeitando a jaqueta preta com a cara fechada.
— Ela começou, viu! — Apontou para Cleo com raiva.
— Eu vi muito bem o senhor importunando ela. Agora eu quero que formem trios para se ajudarem nos próximos trabalhos — ele gritou, apontando para os outros, então se virou para Cleo e Tyler. — Vocês dois formarão um trio com o Charlie.
— O quê? — Tyler engasgou com aquilo.
— Não, não — Cleo balançou a cabeça negativamente e disse com veemência. — Eu não vou fazer trio com esse encosto!
— Ah, vocês vão sim. — O professor sorriu, concordando. — Sua reputação é péssima aqui, Tyler e a sua não começou muito boa, Cleo.
O professor Smith saiu, deixando os dois incrédulos com o que havia acabado de acontecer e Cleo bateu o pé direito no chão com força.
— Como eu disse, dez anos — Tyler repetiu, revirando os olhos. — Mas você fica engraçada quando está com o rosto completamente vermelho de raiva.
Aquele comentário só contribuiu para Cleo ficar com mais raiva ainda dele e ela colocou as mãos na cintura, mordendo o lábio inferior para não falar alguma coisa desagradável.
— Vem, eu te ajudo — Tyler chamou a contra gosto, sabendo que não teria escolha a não ser trabalhar com ela.
Cleo foi até ele e segurou sua mão, colocando a outra no pégasus e com cuidado conseguiu montar rapidamente, enquanto Tyler acariciava a cabeça do pégasus e o olhava com carinho, como se entendesse o que ele sentia.
— Você se dá bem com eles — ela comentou, com os olhos ainda fixos em Tyler e em seus movimentos.
— Eles são melhores que as pessoas — Tyler respondeu indiferente, como se fosse óbvio. — É melhor dar um nome pra ele, vai ser seu de agora em diante. Cada semideus tem um.
Tyler voltou ao pégasus ao lado de uma cor preta brilhante e montou nele, alisando suas asas.
— Qual é o nome do seu?
— É a Mckeyla.
— Alguma sugestão?
— Wing combinaria.
— Vai ser Plutão. — Cleo sorriu e passou as mãos no pégasus.
— Se já sabia por quê pediu minha ajuda?
— Curiosidade em saber que nome i****a você daria.
Tyler soltou o ar entediado, fechando os olhos por alguns segundos.
— Por quê Plutão? — Ele questionou.
— Gosto do planeta. Mudando de assunto, quem é esse tal Charlie?
— É o estranho da escola, ele saiu mais cedo não sei se percebeu.
— E você não é nem um pouco estranho.
— Você também é estranha, não parece ser filha de Afrodite.
Tudo bem, aquilo claramente foi uma crítica à beleza de Cleo e por isso ela odiava que soubessem que sua mãe era Afrodite porque não tinha os belos traços da mãe, mas Tyler não achava realmente aquilo. Ele só queria importunar Cleo até onde pudesse para ela pedir para mudar de trio porque sabia que seu nome era sujo o suficiente para ter qualquer pedido considerado.
— Ah, é uma pena, todos dizem que tenho a beleza de um anjo. — Era mentira, só Ares, Ártemis e Afrodite diziam isso a ela, mas Cleo precisava responder aquilo sem insultar Tyler. — Você se parece muito com o seu pai: chifres, maldade no sangue, o d***o em pessoa. Hades, né?
Tyler não respondeu e Cleo percebeu que ele não gostava do pai pela sua reação, e ele a ignorou pelo resto da aula por aquele comentário, o que Cleo achou ótimo. Quanto menos interação entre os dois, melhor.