Cleo abriu os olhos que estavam fechados com tanta força que chegava a doer suas pálpebras. Suas mãos também estavam fechadas e era claro que aquilo só demonstrava o medo de pisar pela primeira vez no mundo dos humanos.
Ela estava do lado de fora do colégio e na frente dos enormes portões havia dois sátiros com lanças na mão e expressões sérias. Cleo ficou encarando por alguns minutos, fascinada ao ver sátiros pela primeira vez tão de perto e se aproximou deles com as mãos suadas e o coração acelerado.
— Olá — ela disse com um sorriso nervoso, erguendo a cabeça para poder olhar o sátiro a sua frente.
Aqueles sátiros pareciam estátuas, não se moviam e pareciam não respirar. Cleo teve sérias dúvidas se eles realmente estavam a escutando e se podiam vê-la.
— Meu nome é Cleo hum... — pensou em um sobrenome convincente — Darling — disse o que veio a mente.
O sátiro pegou seu braço abruptamente sem pedir permissão e observou uma marca brilhante no canto do pulso esquerdo dela.
— Ei! — Ela reclamou, puxando seu braço novamente.
— Sua entrada foi permitida — ele disse com voz grossa, ainda sem olhá-la, então abriu os portões com a ajuda do outro.
— Obrigado. — Ela entrou com o cenho franzido, ainda olhando para ele com o canto do olho.
Cleo ignorou a estranheza dos acontecimentos passados e seguiu em frente deslumbrada com a beleza daquele lugar e em como os alunos dali já estavam tão acostumados e familiarizados com Atenas.
Cleo então parou subitamente e colocou uma mão sobre a testa, sentindo vergonha de si mesma por não saber falar com aqueles sátiros, parecendo uma i****a.
— Darling, Cleo? — Ela questionou a si mesma, balançando a cabeça negativamente. — É sério isso? Você não tem criatividade, não?
Cleo voltou a andar ainda fitando o chão, fechando os olhos algumas vezes para lamentar em voz baixa como era patética.
Ela estava tão distraída relembrando das vergonhas que passou há cinco anos atrás que não olhou por onde andava e esbarrou em alguém.
— Me desculpe! — Ela pediu, se segurando na outra pessoa para não cair.
— Ah, tudo bem — o outro respondeu evitando dar uma gargalhada, então a soltou assim que já não tivesse mais perigo dela cair.
Cleo riu com ele e soltou um suspiro, deixando transparecer a preocupação. Ela já tinha feito a quarta idiotice no idiotice no dia e tinha a sensação que não era a última.
— É nova por aqui, não é? — Ele questionou estreitando os olhos e apontando para ela.
— Está escrito na minha testa ou eu que sou muito desastrada?
— Não é só que eu cresci aqui e conheço todos, menos você.
— Eu acabei de chegar e é estranho. Eu não consegui nem conversar com aqueles sátiros, sabe?
— Ninguém consegue. Eles só falam o necessário. Pense que eles são aqueles guardas reais com chapéus de pena na cabeça.
— Guardas reais?
— Sim, os da rainha Elizabeth II. Nunca ouviu falar?
— Eu acho que não.
— Em que mundo você vive?
No Olimpo, pensou ela lembrando de casa, mas apenas sorriu o deixando sem resposta.
— O que é essa marca aqui? — Cleo mudou de assunto, mostrando a marca brilhante em seu pulso ao ver que ele tinha uma semelhante.
— Essa é a sua identificação, tipo uma carteira de identidade. Só quem tem marcas como essas podem entrar aqui.
— Mas a minha é diferente da sua. A sua é tão brilhante. — Cleo colocou a ponta dos dedos sobre a marca dele, curiosa. — Por quê?
— Nem todos são filhos dos mesmos deuses e pelo o que eu sei a sua marca significa que é filha de Afrodite, estou certo? — Ele perguntou e Cleo assentiu com a cabeça. — Eu sou filho de Zeus e Têmis.
— Então você não é um semideus? — Cleo arregalou os olhos levemente por saber que não era a única ali.
— Não, mas é como se fosse já que eu cresci aqui e nunca tive ganho contato com meus pais verdadeiros. Na verdade, eu posso dizer que fui literalmente chutado do Olimpo. — Ele deu de ombros como se não se importasse muito. — Não é tão legal passar a vida inteira sem conhecer seus pais e ser cuidado por centauros e outros seres mitológicos, mas já me acostumei.
— Zeus é um porre, você não está perdendo nada.
— Como sabe? Já viu ele pessoalmente?
— Não! — Ela limpou a garganta, olhando envolta. — Só ouvi falar mesmo. Mas eu preciso ir, acho que eles vão fazer uma reunião ou qualquer coisa de boas vindas para os novatos.
— Tudo bem, eu só preciso resolver uma coisa e também vou para o salão de festas, quem sabe a gente se vê outra vez. Aliás, meu nome é Harry.
— Eu sou Cleo. — Ela sorriu e acenou com a mão assim que ele saiu apressado.
???
O enorme salão estava lotado de pessoas zanzando para todos os lados e aproveitando das variedades de comidas e bebidas disponíveis em um enorme mesa que contornava todo o salão.
Cleo obviamente estava sozinha ao lado da mesa, se perguntando como e do que eram feitos aquelas comidas estranhas, bem diferente do que ela estava acostumada no Olimpo.
— São estranhas, não é? — Uma garota que estava próxima a ela falou, segurando um copo com uma bebida rosa.
— Eu nunca vi isso — Cleo respondeu, pegando um bolinho. — Como será que eles fazem?
— Acho que eles usam mágica ou coisa do tipo, eu nunca descobri, mas é muito bom. — A outra colocou a mão sobre o copo e em segundos o líquido rosa borbulhou se tornando roxo.
— O que você fez? — Cleo não conseguiu tirar os olhos da bebida cheia de bolhas.
— Só melhorei o sabor dela. — Ela sorriu de lado, olhando para Cleo. — Eu sou filha de Hécate e tenho algumas habilidades da minha mãe.
— Sua mãe é incrível mesmo.
— É filha dela também?
— Não, eu só ouvi falar.
— Você sabe que não é permitido esse tipo de magia aqui, Luna. — Um homem se aproximou e apontou para a bebida dela.
— Em festivais são permitidos. — Ela sorriu, dando de ombros.
— Está certa dessa vez, mas mesmo assim ainda não é permitido. — Ele pegou um bolinho em cima da mesa e saiu, acenando.
— Quem é aquele? — Cleo questionou.
— Ele é o professor Smith. É humano, por isso não entende, mas ele me criou então sabe que eu sempre faço essas coisas.
Cleo ficou tentada a perguntar porque o professor havia criado ela, mas o som estridente do microfone fora do lugar interrompeu a outra e as duas ficaram em silêncio assim que o professor Smith subiu no palco.
— Quero dar as boas vindas a todos os alunos novos aqui presentes e dizer que aqui é o melhor lugar para vocês se formarem e chegarem ao tão sonhado Olimpo, mas prestem atenção porque só os mais dedicados terão direito a isso — ele disse com um sorriso, ajeitando o óculos no rosto. — Atenas é o colégio de semideuses mais disputado da Grécia, então se sintam honrados de estarem aqui. Agora, vou passar a palavra para o representante dos semideuses, Harry.
— É possível mesmo que os semideuses possam ir ao Olimpo? — Cleo questionou a Luna, confusa por nunca ter visto nenhum deles lá.
— Sim, mas as chances são quase nulas. Só os melhores conseguem ir pra lá, em torno de cinco semideuses entre milhares.
— Você já foi?
— Não, nunca. Ouvi dizer que é um lugar lindo.
— Quem disse?
— O Harry. — Ela apontou para o garoto em cima do palco. — Ele já foi umas três vezes, eu acho.
— Por que ele nunca ficou lá?
— Todos dizem que Zeus não quer ele por lá e por isso criou essa escola, para que ele tivesse onde morar. Eu nunca perguntei porque ele não gosta de falar, acho que é doloroso para ele.
Cleo ficou em silêncio, olhando o garoto de cabelos escuros limpar a garganta com um sorriso cativante.
— Meu nome é Harry Ashworth para quem não sabe e como representante dos semideuses, digo para aproveitarem cada momento, esse lugar é mágico, menos pela parte de termos aula de matemática e física. — Ele franziu o nariz, fazendo cara f**a. — É pessoal, até os semideuses estão condenados às aulas chatas de matemática, mas não é nada que uma pesquisa no google não resolva, então não se preocupem.
— Harry! — O professor Smith chamou, fazendo cara f**a.
Harry soltou uma risada, empurrando levemente o braço do professor e desceu do palco, sendo cercado por várias garotas eufóricas.
— Ele é popular — Cleo comentou, erguendo uma das sobrancelhas.
— É claro que é. — Luna soltou seu copo sobre a mesa com o olhar voltado para Cleo. — Ele é filho do deus dos deuses, foi ao Olimpo e é o melhor daqui.
— Deve ser h******l ter toda essa pressão.
— É, sim.
— Você parece conhecer bem ele.
— Eu conheço o Harry desde criança, crescemos juntos.
As pessoas já começavam a sair pelas várias portas espalhadas pelo salão e as poucos tudo foi se esvaziando.
— Meu nome é Cleo — Cleo falou com um sorriso tímido.
— O meu é Luna, mas acho que você já sabe, o professor Smith disse. — Ela pegou mais alguns bolinhos e sorriu. — Eu vou arrumar as minhas coisas, se precisar de alguma coisa estarei por aí.
Luna acenou com a cabeça para Cleo e saiu, dando uma mordida no bolinho que havia acabado de pegar.
Cleo pegou a bebida que ela tinha em mãos minutos antes e cheirou, curiosa. O cheiro era bom, parecia a mistura de todas as flores do mundo e ainda estava borbulhando, foi quando ela provou e sentiu o gosto doce explodir em sua boca, ingerindo todo o líquido em segundos e se tornando oficialmente sua bebida favorita.
Depois de comer alguns bolinhos e experimentar a variedade de bebidas coloridas e diferentes, Cleo saiu a procura de seu quarto.