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1797 Words
Zara O barulho irritante do meu aparelho celular é o que me desperta parcialmente… digo isso por que sinto quase como se por mais que estivesse ligeiramente consciente, meu corpo e mente ainda parecem distantes, emergidos pela sonolência, efeito das bebidas da noite anterior e principalmente, não ser o horário em que eu geralmente acordo, céus, nem vi o horário no relógio, mas sei que eu não dormi nem mesmo duas horas! Tudo em mim reclama, meus olhos ardem como se uma quantidade absurda de areia estivesse neles, meu corpo está moroso, dolorido, sinto quase como se um caminhão de carga pesada tivesse passado por cima dele, várias vezes, repetidamente. Praguejo seja lá quem quer que esteja me ligando, e com os olhos ainda meio fechados, sem checar a tela de meu aparelho telefônico, encerro a ligação sem receio, e sem pensar duas vezes, me viro para a direção oposta em que me encontro, assim, tento voltar outra vez em meu sono, preciso desesperadamente dormir pelas próximas cinco horas pelo menos. Estou quase pegando no sono outra vez, quando o som conhecido ecoa por meu quarto escuro, bufo… put.a que pariu, só podem estar de brincadeira com a minha cara! Meu instinto é pegar o aparelho e jogá-lo contra a parede, não seria o primeiro celular meu a visitá-la, mas eu estou tão put.a por estar sendo incomodada, vedada do meu descanso… que acredito que mesmo vendo o celular espatifar-se em alguns pedaços contra o concreto, não aplacará meu descontentamento tanto quando xingar seja lá quem quer que esteja ligando, provavelmente é aqueles serviços de telemarketing chatos, monótonos que oferecem seguros, planos questionáveis ou que muitas vezes liga e antes que a ligação inicie, se encerra. Posso não só encerrar a ligação, como desligar o telefone… mas a parte briguenta minha é que manda as cartas, me faz aceitar a ligação. — Desliguei antes mesmo de atender, não acha que isso é uma mensagem clara de que não estava a fim de atendê-lo? — Resmungo sem ânimo, rudemente. Um xiado ecoa antes que a voz de um homem soe. — Senhorita Vidal? Bom dia, desculpe incomodá-la, mas aconteceu algo… — Ele parou, e mesmo não se apresentando, tenho o conhecimento de quem se tratava. As únicas pessoas que me tratavam tão formalmente eram ligados ao meu pai, que nesse momento, provavelmente estaria em algum lugar no Brasil… preocupando-me de continuar sendo uma das figuras mais importante do meio de entretenimento… A última vez que falei com ele, foi no mês passado, para variar, ele estava repreendendo-me, e para ser a cereja no bolo, tentava me levar de volta para meu o meu país natal, que faz um bom tempo que não piso nem mesmo o dedinho mindinho pé por lá. Segundo meu genitor, eu precisava mudar, precisava assumir as responsabilidades de uma adulta, e parar de me portar como uma eterna adolescente problemática… eu ri, era irônico como ele exigia responsabilidade de mim, quando ele nunca assumiu a sua… ele na verdade a mandou para longe, sendo um pouco mais precisa, quase nove mil quilômetros, vinte horas de viagem de avião. Questionei se já tinha terminado com seu discurso que eu já sabia de cor, ele ameaçou cortar minha generosa mesada, por minha vez, não poderia ter me importado menos… ele achava que eu era boba o suficiente em depender da conta controlada por ele, ledo engano, quando ele ameaçou pela primeira vez cortar minha mordomia eu simplesmente passei a movimentar o dinheiro da conta controlada por ele, para uma que havia feito sem ligação alguma, não poderia dizer que era independente dele, por que eu definitivamente dependia… mas… eu ao menos tinha uma economia bem bonita, longe de suas mãos — Senhorita Vidal? — O homem me chamou, trazendo-me da minha breve divagação, suspirei, massageei levemente meus olhos ardendo, ma.l conseguindo mantê-los abertos. — Não poderia sei lá… esperar e ligar em um horário mais, comercial? — Questionei carrancuda, o homem suspirou do outro lado da linha. — Estamos no horário comercial, senhorita!— Exclamou com certa impaciência no tom de sua voz. — Sabe que aqui é uma hora mais cedo, certo? — Perguntei, ele mutou por vários segundo, suspirei profundamente — Mas visando que já me atrapalhou, me diga, o que deseja? Ou melhor, o que meu pai quer dessa vez? Por que isso se trata dele, certo? — Franzi meus lábios em desgosto. — Hum, sou Alfredo, advogado de seu pai… — Com todo respeito, advogado do meu pai… não foi isso que perguntei — O tom de minha voz soou levemente irônico, ouvi um novo suspiro profundo — Não sei você, Alfredo, mas eu, Zara… tenho coisas mais importantes a fazer do que… esperar esses seus suspenses. — Certo… — Resmungou, fazendo um novo suspense, revirei os olhos, mas ele logo continuou — Seu pai não esteve muito bem nestes últimos dias — Iniciou. Essa informação era nova para mim, pois além de não ver meu pai nos últimos 4 anos, nossas conversas raras por telefone não era… familiar. Ele ligava repreendendo meu comportamento, eu alegava que seria mais cuidadosa, mesmo que não fosse fazer de fato… então ele falava sobre uma possível mudança minha para Brasil, eu me esquivava… Brasil era o último país que colocaria os pés, além de estar sobre o controle do meu pai, o país em si não me era uma possibilidade, ele abrigou uma eu sonhadora, amada… e ela já não existe mais. — Isso é novo para mim… — Resmungo por fim. — Não duvido, Fernandez não divulgava muito de sua vida… — Um nó formou em minha garganta, sentindo quase como se falássemos apenas de uma pessoa conhecida, e não o meu pai… Engulo seco. Pare de pensar asneiras, Zara, não há nada novo aqui… Me repreendi, então voltei a ouvir Alfredo — Hum, como eu disse, ele não estava muito bem nesses meses, e infelizmente seu quadro piorou… — Informou o advogado, eu assenti, me sentindo indiferente, apática… como poderia me sentir? — E… O que isso quer dizer? Ele está no hospital? Qual é o seu quadro? — Questionei roboticamente, o homem do outro lado da linha, coçou a garganta, fazendo-me arquear a sobrancelha — Alberto? — É Alfredo, senhorita. — Me corrigiu, revirei os olhos. — É quase a mesma coisa — Dei de ombros — Pode parar de rodeios e prosseguir por favor? — Demandei sem paciência, sentindo o sono me enlaçar mais a ponto de sentir meus olhos fechar vez e outro, indo de maneira rebelde contra meus comandos. — Ele infelizmente veio a falecer, senhorita… — Disse por fim, causando-me confusão de imediato, veio a falecer? Hum, ele estava falando que meu pai morreu? Pisco algumas vezes, forço um riso… Não, meu pai não tinha morrido, diziam que vaso r**m, não quebrava cedo, certo? Ele não era um vaso bom, logo… — Precisamos… — Interrompeu meu pensamento, mas logo eu o interrompi. — Falei com ele recentemente, não me parecia… ma.l… o que é isso? Um jogo sujo para eu voltar para o Brasil? — Acuso, o homem fica em silêncio, e só sei que ele não encerrou a ligação pois ouço o som de sua respiração — Alberto? Está perto dele? Chama meu pai, isso não tem um pingo de graça… — Sinto muito, Zara… — O modo familiar como sua voz soou foi estranho, foi como se… Deus, ele realmente estivesse falando sério… mas isso parecia tão, irreal, ilógico… não que meu pai para mim fosse imortal, mas d***a! Eu… — Não entendo, ele… — Murmuro, sentindo um novo nó formar em minha garganta. Eu não sabia como agir, como sentir, o que dizer. — Você precisa vir ao Brasil, Zara, precisa se despedir, assinar algumas coisas… — Demandou, me fazendo franzir o cenho, eu ainda me sentia… estranhamente fora de órbita, por mais que tentasse, a minha mente não absorvia o que estava sendo dito pelo advogado de meu pai… — Quando? — Pergunto. — O mais rápido possível. — Não, estou perguntando quando ele morreu… — Esclareço, fazendo a linha ficar por alguns minutos silenciosos, antes da voz de Alfredo voltar a ecoar. — A algumas horas, tínhamos uma reunião agendada quando cheguei e a empregada estava em colapso… — Explica, eu assinto. — Disse que seu estado piorou… o que quis dizer? — Questiono de novo, não sei o por que de minhas perguntas, mas as faço, anseio em saber. — Ele teve uma leve parada cardíaca a alguns meses… passou por uma bateria de exames, e os médicos fizeram umas recomendações, mas ele… — o advogado suspirou — Inevitavelmente, não aguentou mais uma parada cardíaca — Eu assenti, entendendo brevemente o que ele dizia, que ao pé da letra, significava que meu pai sabia que estava doente e além de não me contar, optou por não tratamento… é, ele definitivamente não poderia ganhar o prêmio de melhor pai do mundo… — Você vem? — Pergunta Alfredo, e essa é a minha vez de suspirar. — Preciso de um tempo… — Resmungo olhando para nada em específico. — Não temos um tempo, Zara… — O tom de sua voz foi repreensivo, maneei a cabeça em negação. — O que posso fazer? Não há nada que eu possa fazer, Alfredo. — Elevei brevemente o tom de minha voz. — Considero isso como não então? Que você não virá? —Considere como… eu preciso de um tempo. — Encerro a ligação, sem dar tempo para um novo sermão, uma nova repreensão… nem mesmo meu pai tinha esse direito, quem era Alfredo para tal coisa? Jogo o celular de qualquer jeito sobre o colchão, então volto a deitar-me, assim, passo a observar o teto do meu quarto, vendo o ventilador de teto trabalhar preguiçosamente… apesar de ainda não estarmos no horário de verão, essa semana estava em uma temperatura mais acalorada, e junto ao cobertor que eu não largava por nada nesse mundo, eu simplesmente liguei o ventilador… O que estou fazendo? Pensando na temperatura de Boston, quando eu tinha algo mais sério a preocupar-me? Uma voz em minha mente, tenta pintar-me como vilã, usar minha apatia contra mim… mas o que poderia fazer? Cair aos prantos por aquele que a muito tempo jogou-me para escanteio? Abriu as mãos a responsabilidade de me educar, amar quando mais precisava? Não posso fazer isso comigo, chorar por ele… sentir algo semelhante a perda quando já tinha o perdido a muito tempo… E eu não o faço, não farei isso… mas há algo que preciso fazer… e é voltar para o Brasil, não para chorar sobre seu caixão, mas para reivindicar aquilo que por muito tempo, foi mais importante do que eu para o meu pai.
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