FELICITY
Eu estava em uma sinuca de bico, de um lado minha madrinha encarava-me com aquele olhar aflito e temeroso que quebrava meu coração em pedacinhos, do outro lado um olhar sem vida e um semblante pesado carregado de frieza e mau humor aguardava uma resposta de minha parte.
— Eu não tenho o dia todo garota! murmurou impaciente, soltei um longo e pesado suspiro.
— Primeiro, meu nome não é garota é Felicity, Felicity Smoak, falei em alto e bom som, fazer o que né, eu não tinha muita noção de perigo mesmo!
— Segundo, pode repetir sua proposta por que eu acho que não entendi direito, Pedi calmamente, na verdade eu tinha entendido perfeitamente, mais queria ganhar um pouco mais de tempo para pensar, seu suspiro impaciente foi minha resposta.
— Você têm até amanhã de manhã pra dar-me uma resposta, falou de forma ríspida e simplesmente foi embora, suspirei cansada.
Eu não sei o que se passa na cabeça desse homem, uma hora estávamos brigando feito cão e gata e outra hora ele me sai com uma proposta que deixou-me com varias pulgas atrás da orelha.
Ele basicamente exigiu que eu fosse sua babá, vê se eu posso com isso? eu, uma médica formada sendo babá de um ogro, tudo bem que eu ainda não tenho minha especialização etc... e tal, mas só de imaginar o que eu vou ter que suportar cuidando desse ser que mais parece uma fera dar-me calafrios.
— Felicity...
— Eu sei madrinha, a interrompo de propósito ao mesmo tempo que faço uma careta desgostosa, um suspiro pesado escapa de sua garganta.
— Eu sei que não temos muitas escolhas querida, mas o que você decidi eu a apoio, seu sorriso confiante deixou-me mais tranquila.
— Já que ele deu-me até amanhã de manhã pra respondê-lo, não vou pensar nisso agora, que tal comermos aquele bolo delicioso afinal ainda é meu aniversário não? soltei ums gritinhos animados e minha madrinha sorriu assentindo.
— Espera querida, têm uma coisa que eu quero dar a você...
— Não precisa me dar presente madrinha, falei não muito confiante, eu adorava ganhar presente.
— Na verdade é uma coisa que era da sua mãe...
— Minha mãe! exclamei surpresa.
— Eu queria ter te entregue antes, mas não sabia se era o momento certo, meus olhos brilham em expectativa quando ela entregou-me uma caixinha.
— Sua mãe disse que esse colar é do seu pai, meus olhos marejaram ao ouvir tal informação.
— É tudo o que eu sei filha, sua mãe nunca disse o nome dele, mais tenho quase certeza que essa inicial é a primeira letra do nome dele, acho que é uma joia de família, ai dentro têm uma foto da sua mãe, vocês eram tão parecidas, minha madrinha suspira saudosa.
— Eu queria tanto me lembrar dela, tento reprimir as lágrimas mas falho miseravelmente.
— Ela te amava muito filha, eu não sei se você ainda quer saber quem é seu pai, mas se quiser, acho que isso pode ajudar...
— Obrigada madrinha, agradeço emocionada e ela assente.
— Felicity , minha madrinha chama meu nome carinhosamente.
— Eu acho que tinha uma razão para sua mãe nunca falar nada sobre o seu pai , ela nunca confirmou, mais tenho quase certeza que ele era casado...
— Eu já imaginava isso madrinha , constatei sem emoção.
Quando eu era criança sempre me perguntava por que eu não tinha uma casa com um pai é uma mãe, vivi desde os cinco anos trancada em um internato, minha madrinha não podia me assumir, era jovem e solteira, então ao invés de um orfanato eu fui para o internato, o que para mim foi quase a mesma coisa, uma lágrima teimosa rolou por minha face, eu não gostava muito de lembrar da minha infância era triste, eu
guardei o colar como uma lembrança de minha mãe, mas eu não tinha nenhum interesse em saber quem é meu pai, afinal ele nunca se importou comigo.
— Talvez ele não saiba sobre você querida, franzi o senho confusa.
— Estou me referindo ao seu pai Felicity, minha madrinha fala como se pudesse ler meus pensamentos.
— Não importa, já faz muitos anos que tudo aconteceu, provavelmente ele nem se lembra da minha mãe, ela deve ter sido apenas uma aventura pra ele, falo com pesar e minha madrinha assente tristemente.
— Antes do acidente e de tudo acontecer, sua mãe estava muito feliz, ela tinha conseguido um emprego novo ia ganhar um salário melhor, ela sonhava em te dar um futuro melhor que não fosse ser uma garçonete como ela...
— E agora eu vou ser babá de um homem mau humorado e muito chato por sinal...
— Felicity ! minha madrinha repreendeu-me, dei de ombros.
— Ele nem sempre foi assim, eu o conheci antes, sempre foi um pouco orgulhoso, prepotente e presunçoso, mas no fundo ele têm bom coração...
— Deve ser bem lá fundo mesmo, e bota fundo nisso gargalhei e mais uma vez Raissa repreendeu-me com o olhar, revirei os olhos internamente.
Como eu havia pedido, minha madrinha e eu fomos para a cozinha, ela tinha feito um maravilhoso bolo para mim, e apesar de tudo o que aconteceu desde que cheguei eu estava feliz, ela fez questão de cantar os parabéns e eu até fiquei emocionada com todo o seu carinho.
— Madrinha, a chamei carinhosamente e ela encarou-me esperando que eu continuasse.
— Me fala mais sobre a fera, quer dizer Sr.Queen, me corrigi.
— Por que ele fica aqui tão solitário? ninguém se preocupa com ele? ele ja surtou outras vezes como hoje? a atropelei com perguntas.
— Meu Deus! quantas perguntas.
— É que eu não entendo como alguém pode se isolar de tudo é de todos, isso deve machucá-lo não? suspirei.
— Respondendo as suas perguntas, Oliver era muito social, tinha muitos amigos, a família sempre esteve por perto, mas depois do acidente ele mudou, foi um choque para ele, além de perder o pai ele perdeu a visão, e por causa disso ele não poderia fazer o que realmente ele gostava, salvar pessoas, Oliver é um neurocirurgião muito talentoso Felicity, ele se formou em medicina assim como você, ele também tinha vinte é três anos quando decidiu se especializar em um neurocirurgião, fez residência na rede de hospitais Merlin, ele salvou muitas vidas, agora ele têm trinta e quatro e daqui a algumas semanas fará trinta e cinco.
— Nossa! disso eu não sabia, sou sincera.
— A mãe e a irmã sempre liga para saber como ele está, a maior vontade delas é que ele volte para casa um dia, ele também têm um amigo que se preocupa com ele, sempre liga pra saber se ele esta bem, Raissa solta um suspiro triste.
— Eu já tomei minha decisão madrinha, falo confiante.
— Eu vou aceitar a proposta dele, eu tenho a leve impressão que ele fez essa proposta com um único objetivo de me infernizar até eu não aguentar mais e ir embora, mas têm uma coisa que ele não sabe sobre mim, sou muito persistente, nunca desisto antes de lutar, e eu adoro um desafio, se o Sr.Queen acha que está com o jogo ganho, é por que não sabe com quem está jogando, sorrio internamente.
— O tiro vai sair pela culatra se ele pensa que pode comigo, Coitado, e ele nem vai saber de onde o tiro veio.
Não importa quanto tempo leve vou domar essa fera e levá-lo de volta a civilização.
OLIVER
Eu estava ancioso pela resposta da entrometida, quando estávamos discutindo essa ideia passou-me pela cabeça, na mesma hora lhe fiz a proposta, eu não podia mandá-la em bora sem correr o risco que Raissa fosse com ela, então eu disse a ela que se ficasse seria ela a cuidar de mim e das minhas coisas, é claro que eu a pagaria por isso, mas com certeza eu aproveitaria a oportunidade para inferniza-la até ela mesma querer ir embora, era o plano perfeito, e eu só teria que ser eu mesmo, acho até que vou me divertir um pouco com tudo isso.
Uma batida na porta chama minha atenção, deve ser a Raissa com o meu café da manhã.
— Pode entrar.
— Bom dia Sr.Queen, uma voz angelical saúdou-me, mas não era a voz da Raissa.
— O que está fazendo aqui? perguntei com rispidez.
— Ué foi você quem me mandou entrar, responde petulante.
— É a Raissa que sempre trás o meu café da manhã.
— Agora não mais, eu aceitei sua proposta de ser sua babá, não é o que eu esperava mais estou precisando da grana, então de agora em diante sou eu quem vai atendê-lo.
— Você não será minha babá, rosnei, quem ela pensa que eu sou um bebê?
— Espera eu tenho algumas regras, ignorou-me, trinquei os dentes.
— Como eu sei que meu trabalho será em tempo integral, vai ter que me pagar o dobro do que me ofereceu antes...
— Como é que é? pergunto incrédulo.
— Shiii, calado eu ainda não terminei.
Ela me mandou calar a boca e ainda fez Shiii pra mim! não acredito, quanta petulância, penso comigo mesmo.
— Está ouvindo? pergunta e na mesma hora bufo ezasperado.
— Eu não sou surdo, murmuro impaciente.
— Ótimo então não teremos problema de comunicação, sorrir deboxada.
— Minha primeira tarefa em cuidar de você, será cortar essa juba que está cobrindo a sua cara, e também o cabelo , eu estou até com inveja seu cabelo é maior que o meu, qual o shampoo que você usa? ...
— Eu não quero cortar nem tirar nada! rosnei e na mesma hora ela calou a boca.
— Achei que não teríamos problema de comunicação Sr.Fera... quer dizer Sr. Queen, ela arranha a garganta depois de se corrigir.
— Eu não lembro de ter lhe dado alguma escolha, eu disse que eu vou cortar seu cabelo e tirar essa juba da sua cara...
— E eu disse que não quero...
— Shiii, mais uma vez fui interrompido com um Shiii, se ela falar Shiii mais uma vez vou explodir.
— Veja bem Sr.Queen, minha madrinha disse que você era um homem com uma boa aparência, mas do jeito que está, até eu me assusto quando o encaro, imagina as criancinhas? precisamos dar um jeito nisso, sou jovem demais pra morrer de um ataque cardíaco causado pelo susto de vê-lo desse jeito, Felicity fala com um tom de diversão, o que me causa raiva imediata mas também certa admiração, vou ter que me esforçar mais para deixá-la irritada.
— Quero meu café da manhã, resmunguei mau humorado.
— O café da manhã será servido logo após eu terminar de cortar seu cabelo.
— Como é que é? gritei, eu não estava acreditando nisso.
— olha só você pode espernear o quanto quiser que isso não me incomoda, ou você me deixa fazer isso por bem ou eu te dopo, te amarro e quando você acordar já terei terminado...
— Onde está a Raissa? eu quero a Raissa aqui agora!
— Relaxa, a madrinha esta na horta, pelas próximas quatro horas seremos só você e eu, então Sr.Queen, como vai ser?
Vai ser por bem ou por m*l?
Ouvi o som da tesoura cortando o ar e instantaneamente sentir meu corpo enrrigesser, parece que o tiro saiu pela culatra.
FELICITY
Acho que eu vou me divertir horrores nessa minha função de babá, deu pra ver o quanto o Sr.Queen ficou contrariado comigo, aposto que não esperava que eu fosse ser tão persistente.
Mesmo a contra gosto, e depois de muita briga, ele finalmente deu o braço a torcer e me deixou cortar o cabelo e tirar a juba que cobria seu rosto.
Nem acreditei quando o vi sem tudo aquilo, ele era um homem lindo.
— Nossa! você têm rosto, falei risonha.
— Olha da até pra ver a boca, o nariz, orelhas, bati palminhas animada e Oliver bufou o Ignorei propositalmente.
— Quero meu café da manhã agora. ordenou, rolei os olhos.
— Você não sente a diferença? agora você pode sentir seu rosto mais lave né, tentei dialogar mas fui completamente iguinorada, soltei um suspiro cansado.
— Vamos vou servir seu café na sala de jantar...
— Eu só faço minhas refeições no quarto, me interrompeu.
— Eu também vou tomar café, não gosto de comer sozinha, choramingo.
— Minha vida toda eu comia escondida no banheiro, por medo das valentonas me baterem, eu chorava mais do que comia, apelei.
— Por favor Sr.Queen! pedi chorosa.
— Você é insuportável garota! esbravejou se levantando da cadeira e caminhando em direção a porta, sorri vitoriosa, e era uma grande vitória, já consegui duas coisas, cortar o cabelo e tirar a barba e fazê-lo fazer as refeições acompanhado, próximo passo mudar esse mau humor dos infernos.
Pode demorar mais quando menos ele esperar estará rindo das minhas piadas sem graça.
Ah Sr.Queen seus dias de homem solitário estão contados.