Farias
O tapa ardeu mais no meu orgulho do que na cara.
E o cuspe... p***a, o cuspe foi tipo tomar tiro na alma.
Ela me desmoralizou.
Na minha casa.
Na frente da vagabund@ que eu acabei de comer.
Ela não bateu só em mim.
Ela bateu no bandido. No Farias. No cara que ninguém nunca ousou tal coisa.
O ódio subiu igual uma fumaça preta.
Não vi mais nada. Só escutei os demônios me gritando no ouvido:
"DESCE A PORR@, MOSTRA QUEM TU É!"
- TU TÁ PENSANDO QUE EU SOU O QUÊ, GABRIELA?! UM o****o?! UM BONECO, É?! p***a! TU CUSPIU NA MINHA CARA, BATEU NELA! _berrei, avançando nela.
Ela ainda estava de cabeça erguida, tentando me encarar, com os olhos cheios de raiva, peito ofegante... mas não teve tempo de responder.
PAH!
O primeiro tapa.
Seco. Na cara. A cabeça dela virou na hora.
- SEU LIXO! TU É UM ANIMAL! _ ela gritou.
- ANIMAL É O C@R@LH0! _gritei de volta, pegando ela pelo braço e jogando contra o sofá.
Ela tentou levantar, cambaleando, mas já veio outro. Mais forte, dessa vez um soco no estômago.
Ela caiu de joelhos, sem ar.
- TU QUIS BANCAR A MACHONA COMIGO? QUIS ME TIRAR? ENTÃO AGORA AGUENTA, DESGRAÇAD@!
Gabriela tentava se arrastar, mas eu tava cego.
Dei um chute na costela.
Outro na perna.
Ela gemia, chorava, tremia...
E eu só via vermelho.
- TU NÃO É MULHER DE BANDIDO, NÃO, p***a! TU É UMA PUT@ METIDA A MADAME QUE ESQUECEU COM QUEM TÁ CASADA!
Ela ficou ali, caída, com o vestido todo sujo, o rosto já com marca do tapa, as pernas trêmulas...
A imagem dela assim deveria me parar.
Mas não parou.
Porque o Farias...
O Farias já tinha ido embora.
O que ficou no lugar era o demônio.
Ela tava ali, caída, chorando baixinho, e eu ainda respirando igual um bicho...
O peito subindo e descendo, as veias saltadas.
O gosto do cuspe dela ainda queimava na minha cara.
A cara ardia, o ego sangrava.
E minha alma?
Minha alma virou ódio puro.
- TU MERECE CADA PORRADA QUE TÁ TOMANDO! MERECE MUITO MAIS! _ gritei, puxando ela pelos cabelos.
Gabriela gritou alto, as mãos tentando proteger a cabeça, mas eu já tinha virado o capeta em forma de homem.
- TU QUIS ME TIRAR COMO o****o, SUA v***a? ENTÃO VAI PAGAR! VAI PAGAR COM JUROS!
PÁ! Outro soco.
Dessa vez no rosto.
O som foi seco. Um estalo forte, como madeira rachando.
Ela caiu de novo, rolando no chão, tentando se arrastar.
- Farias... para... por favor... p-pelo amor de Deus... _ela gemia, a voz falhando.
- AGORA TU QUER DEUS?! TU LEMBROU DE DEUS AGORA, DESGRAÇAD@? NA HORA DE ME TIRAR NÃO TINHA DEUS NENHUM, NÉ?!
Dei um chute nas costas.
Outro nas costelas.
Ela tossiu, chorando, se contorcendo, já sem força.
- EU DEVERIA TE ENTERRAR VIVA, SUA PUT@! TU NUNCA MAIS VAI ME AFRONTAR! TU NUNCA MAIS VAI LEVANTAR A VOZ PRA MIM, OUVIU?! NUNCA MAIS!
O sangue já escorria pelo nariz, pela boca, O corpo tremendo.
Mas dentro da minha cabeça…
Ainda tinha ódio. Ainda tinha fogo. Ainda tinha demônio.
Jogada que nem bicho sarnento.
Sangue no canto da boca, o nariz torto, o olho inchando.
Mas mesmo assim… mesmo caída… só o fato dela tá ali respirando ainda me dava nojo.
Eu queria apagar ela.
- Tu não sabe com quem tu se meteu, p***a… tu esqueceu o homem que eu sou. TU ESQUECEU QUEM É O FARIAS, CARALH0! _ gritei, chutando o corpo dela com força de novo.
O barulho que fez… parecia osso.
Gabriela tentou encolher as pernas, gemendo.
Mas pra mim, ela nem era gente mais.
Virou inimiga.
Ela ali, toda arregaçada no chão, cuspindo sangue, e eu?
Com ódio borbulhando até nas veias da alma.
- TU SE ACHA O QUÊ, DESGRAÇAD@? PENSA QUE PODE ME TIRAR NA FRENTE DE PUT@?! PENSA QUE EU VOU DEIXAR BARATO?
Me agachei de novo e puxei ela pelos cabelos, arrastando até o meio da sala.
Ela gritava fraco, tentando bater nas minhas mãos, mas tava sem força nenhuma.
A cara dela já tava virando uma massa roxa.
Nariz torto. Boca rasgada. Um dos olhos fechando.
- Tu é minha mulher, caralh0. Tu foi feita pra me respeitar. PRA ME OBEDECER, p***a!
PÁ!
Outro soco.
No meio da cara.
Ela tentou se proteger, mas eu segurei os braços com o joelho e desci mais porrada.
No rosto. No peito. No braço.
- Toma! Toma, sua put@! Toma pra tu aprender! TU QUIS SE FAZER DE MACHONA COMIGO, AGORA TU VAI VER O PESO DO MACHO QUE TU TEM EM CASA!
Ela gritava… gemia… e eu nem ouvia.
A cabeça dela batia no chão a cada impacto.
O sangue já escorria pelo pescoço, sujava o chão, grudava no meu braço.
- Farias... chega... eu vou morrer... _ ela choramingou, com a voz mole, toda fudida.
- MORRE ENTÃO, CARALH0! _ berrei, e dei uma sequência de tapas na cara dela, estalando igual chicote.
Ela cuspia sangue.
O corpo tremia.
As pernas já não se mexiam mais.
Peguei ela pelo pescoço, levantei o tronco dela no ar, e falei na cara dela, com a respiração quente, o rosto colado no dela:
- Tu não é mais minha mulher. Tu é exemplo. EXEMPLO PRA TODA PUT@ QUE ACHAR QUE PODE ME DESMORALIZAR.
E joguei ela com força contra a parede.
Ela caiu mole.
A cabeça bateu seco no rodapé.
E dessa vez... nem gemeu.
Respirava...
Bem fraco. Quase nada. Ela apagou!
E eu parado no meio da sala, com os punhos vermelhos, o peito inflado de raiva.
Sem arrependimento. Sem pena. Sem alma.
Eu ainda tava ali, com a respiração pesada, olhando o corpo da Gabriela largado no chão da sala como se fosse um boneco quebrado.
O silêncio gritava.
Só se ouvia o som da minha raiva ainda pulsando.
Do outro canto da sala, encostada na parede, a Jasmim tava pálida, os olhos arregalados, o vestido torto, os braços cruzados no peito, tremendo feito vara verde.
- E tu, v***a, ainda tá aí por quê?
Ela arregalou mais ainda os olhos, gaguejou alguma coisa, mas a voz nem saiu.
Dei um passo na direção dela.
- DESAPARECE DAQUI, PORR@. VAZA! SOME! ANTES QUE EU DESÇA A MÃO EM TU TAMBÉM, SUA PUT@ INÚTIL!
Ela saiu correndo pela porta como um rato fugindo de incêndio, tropeçando no salto, quase caindo.
Permaneci ali por uma tempo olhando a Gabriela, toda fudida, o rosto inchado, o vestido sujo de sangue, os cabelos colados no rosto, parecendo um trapo jogado.
Não falava nada.
Nem se mexia.
Só um leve subir e descer do peito.
Abaixei. Peguei ela no colo como quem pega um saco de lixo.
Sem dó. Sem peso na consciência.
- Tu achou que ia me desmoralizar e sair ilesa, né, princesa? Pois toma. Toma pra tu aprender a nunca mais peitar bandido. Nunca mais.
Saí da casa, joguei ela no banco de trás do carro sem cuidado nenhum.
Bati a porta. Entrei na direção. Liguei o carro.
O trajeto até o hospital do morro foi mudo. Frio. Cru.
Encostei o carro na porta de emergência.
Desci, abri o banco de trás, puxei ela pelo braço.
A enfermeira lá dentro correu quando me viu com ela toda ensanguentada nos braços.
- Se machucou. Tá viva. Se vira aí. — falei, seco, largando o corpo dela na maca.
Nem olhei duas vezes.
Nem esperei resposta.
Nem quis saber se ia sobreviver.
Voltei pro carro, bati a porta.
E com o mesmo sangue nas mãos, voltei pro pagode.
Como se nada tivesse acontecido.
Como se eu não tivesse quase matado a Gabriela, a minha mulher, a mãe dos meus filhos.
Porque no mundo onde eu vivo...
Quem tira bandido como o****o, sangra.