Cheia de ódio

1895 Words
Alice O pagodão rolando no estalo, geral no passinho, copo pro alto, risadaria, e eu ali com a Jade colada, de olho na pista e na movimentação. Mas minha mente não tava 100%. Gabriela sumida, não mandou mensagem, do nada brotou o famoso “sumiu de vez”. - Viad@, e a Gaby, hein? Sumiu na moral, já era hora de ter dado um salve. - Sei lá, Alice. Cansou, deve ter metido o pé. Ela tava com os pé tudo doendo. - Mesmo assim, mona... tá mó estranho. Ela sempre me avisa, nem uma mensagem nem nada. Do nada, meu celular vibra. Número que eu nem conhecia. Mensagem no zap: - Oi, peguei teu número com uma colega minha, acho que é tua amiga. Não consegui ver isso e ficar calada. Tô mandando porque se fosse comigo, eu ia querer saber._ Falou e mandou uma foto. Abri. Quase deixei o copo cair da mão. - AI, MEU DEUS... CARALH0, NÃO! _ gritei alto no meio do pagode, já com o olho cheio d’água. Jade arregalou os olhos, assustada. - Que foi, doida?! Virei o celular na direção dela, a voz engasgada: - Olha isso aqui, caralh0... OLHA ISSO AQUI! É A GABY, PORR@! MEU DEUS DO CÉU MANO. Na tela, a imagem falava por mil gritos. Gabriela toda fudida numa maca de hospital. Rosto inchado, boca rasgada, sangue seco no queixo, olho roxo, vestido sujo, toda lascada. Era ela... mas parecia que tinham tirado do IML. Jade botou a mão na boca. - p**a que pariu..._ Ficou em choque que não teve nem reação. - Foi o Farias. FOI ESSE DESGRAÇAD0! FILHO DE UMA PUT@, FOI AQUELE ARROMBADO DO CARALH0. _ berrei, com o coração saindo pela boca. - A mina tava aqui com ele, toda feliz, toda boba, e agora aparece assim?! FOI ELE, PORR@, FOI ELE! O corpo começou a tremer, a raiva subindo que nem vapor. Minha alma virou faca. - Se esse filho da put@ tiver aqui nesse pagode ainda, EU JURO PELO MEU NOME QUE VOU ENFIAR ESSA GARRAFA NA CARA DELE, JADE! - Alice, calma! - CALMA O CARALH0! A GABRIELA TÁ LÁ NO HOSPITAL, PARECENDO QUE SAIU DO CAIXÃO, E TU QUER QUE EU FIQUE CALMA?! EU VOU MATAR ESSE DESGRAÇAD0, EU JURO! Meu zap vibrou de novo. - Jogaram ela aqui desacordada e foram embora_ A pessoa mandou mensagem novamente. " Jogaram" Jogaram um caralh0, o filho da put@ jogou ela lá ou mandou os seus cachorros deixarem ela lá, mas é óbvio que a pessoa não quer deixar na cara que falou do Farias pra não dar r**m pra ela. - Aí, mona... vamo embora. AGORA. A GENTE VAI COLAR NO HOSPITAL. E SE A GABY NÃO TIVER RESPIRANDO, EU MESMA VOU BUSCAR A ALMA DESSE FARIAS, NEM QUE EU MORRA NESSA PORR@! Jade não falou mais nada. Me seguiu na hora. O pagode sumiu. A risada virou eco. O som virou chiado. Porque a única coisa que existia dentro de mim era uma frase martelando: "Esse inferno só vai acabar quando o Farias morrer" Desci do pagode igual um furacão. Aquele som alto ainda estourando na quebrada, geral dançando, bebida pra cima... e eu no meio da rua com o celular na mão, chorando de raiva e tremendo de ódio. - Esse filh0 da put@ vai se ver comigo, por Deus! Eu não vou deixar passar essa desgraça que ele fez com a Gaby, não vou mesmo! A Jade veio atrás, quase tropeçando no salto. - Alice, espera caralh0! Pera aí, calma! - Calma o c@r@lh0, Jade! A Gabriela tá jogada numa maca, toda arrebentada, toda fudid@, e tu quer que eu fique calma?! Tava se arrumando toda hoje, toda feliz que ia com o Farias, agora olha o estado que ele deixou ela! OLHA! Mostrei a foto de novo pra Jade, que desviou o rosto. Eu tava put@, put@ pra um caralh0. - p**a que pariu, cara…_ Ela fala, tava desnorteada a mona. - Ele espancou a Gaby, Largou ela igual cachorro ferido no hospital e ainda voltou pro pagode cheio de marra! EU VI ESSE VERME PASSANDO COM OS AMIGOS DELE COMO SE NADA TIVESSE ACONTECIDO! Passei a mão no rosto, os olhos ardendo, e comecei a descer a ladeira do morro no salto mesmo, sem pensar duas vezes. - Vamo pro hospital, Jade. AGORA. Eu só preciso olhar na cara da Gaby. Só preciso ver com meus próprios olhos. - Tô contigo, bora. Mas tu vai ficar calma, ouviu? Senão vão barrar a gente de entrar. - Só quero ver ela. Depois que eu ver, não tem quem me segure. E esse Farias, mona... Ah meu Deus eu não sei nem o que sou capaz de fazer. As vielas ainda pulsavam com o som do pagode. O povo nem imaginava que a mulher que tava agora desacordada numa maca, tinha sido a mesma que chegou ali sorrindo horas antes, acreditando que o "homem mudou". Eu desci tudo sem olhar pra trás, com a alma fervendo e o coração engatilhado. Porque se eu tivesse a Gaby nos meus braços agora, eu jurava que nunca mais deixava ninguém tocar um dedo nela. - Ah meu Deus eu vou matar esse homem._ Pensei comigo mesma, minha mente tava a milhão. O hospital do morro não tava longe, mas o caminho pareceu eterno. Cada passo era um soco no estômago. Quando eu e a Jade chegamos na entrada, o portão já tava encostado, o segurança meio de costas. Entrei sem nem pedir licença. - A GABRIELA! EU QUERO SABER DELA AGORA, CARALH0! A recepcionista se levantou na hora, assustada. - Moça, calma... - CALMA O C@R@LH0! A MINHA AMIGA TÁ TODA DETONADA AQUI DENTRO! FOI TRAZIDA PELO FILH0 DA PUT@ DO FARIAS! EU QUERO SABER SE ELA TÁ VIVA! AGORA! A mulher engoliu seco, viu que era sério, e foi chamar alguém. Logo apareceu uma enfermeira. - Ela tá sendo medicada, tá sedada. Ainda tá viva, ta estável... mas machucada pra caralh0. Nunca vi uma mulher apanhar assim. Coloquei a mão no peito, senti a dor me cortando por dentro. - Ai, Gaby... caralh0, amiga... que p***a foi essa que ele fez contigo._ A Gabriela é uma irmã pra mim cara, tô com o coração na mão mano. A enfermeira apontou a direção. Fui com ela até a porta do quarto. Quando eu vi... Quando eu vi a Gabriela ali deitada... Minha visão embaçou. Minhas pernas falharam. E minha boca começou a vomitar tudo o que tava entalado: - FILH0 DA PUT@! MALDITO! DESGRAÇAD0! ESPANCADOR DE MULHER, PORR@?! MACHO SÓ PRA BATER EM MULHER! BANDIDO DE MERD@! TINHA QUE ESTAR MORTO, PORR@! - Alice pelo amor de Deus calma, não esquece que esse cara é bandido, se alguém conta a ele. _ Jade sussurrou. - f**a-se! Eu não tenho medo de falar, não! EU FALO! EU FALO PRA TODO MUNDO OUVIR QUE O FARIAS É UM LIXO! UM LIXO! As enfermeiras ficaram em silêncio. Todo mundo do morro conhecia o Farias. E todo mundo tinha medo. Menos eu. falo até perder a voz mesmo. Me aproximei da cama, vi o rosto da Gaby todo deformado. E chorei. Chorei com raiva. Chorei por não estar com ela quando ela precisou. Chorei porque nessa p***a de realidade, mulher sofre calada com medo de morrer. Mas a Gaby não vai morrer sozinha, não. Nem calada. - Força, amiga… segura aí, que eu tô aqui. E juro por Deus, se eu não puder encostar nele… eu vou fazer o inferno em volta dele até ele sentir. (...) Eu olhei pra Jade que estava alisando o cabelo da Gabriela, com os olhos vermelhos e a boca trêmula. A Gaby seguia ali, respirando com dificuldade, toda estourada, como se a vida tivesse sido espremida dela. Respirei fundo. - Fica aqui com ela, Jade. Qualquer coisa tu me liga. - Alice, tu vai fazer o quê? Pelo amor de Deus, não faz besteira. - Besteira ele já fez. Eu só vou olhar na cara desse desgraçad0. Só isso. Só preciso olhar e falar. Depois... seja o que Deus quiser. Saí do hospital com a alma fervendo. As pernas batiam no chão como se cada passo fosse um tiro. O sangue pulsando alto no ouvido. Era ódio puro. Subi o morro de volta pro pagode no mesmo pique, sem nem sentir o corpo. O som ainda estourando, o povo ainda dançando, e aquele ar sujo no ar como se nada tivesse acontecido. A mesa dele tava lá. Lá mesmo, filha. Intacta. Farias sentado, rindo com os parças, copo de whisky na mão, cigarro na outra, com aquela cara de deboche, ainda com a camisa suja de sangue, o sangue da Gabriela, o sangue da minha amiga caralh0, maldito. Fui reta. Sem pensar. Sem freio. - FARIAS SEU FILH0 DA PUT@! SEU COVARDE DO CARALH0. Todo mundo virou. O som ainda tocava, mas o clima caiu pesado. Geral olhou. As mina se afastaram, os cara se ajeitaram nas cadeiras. Farias levantou devagar, me encarando. - Fala direito, filha da put@, Tu tá pensando que tá falando com quem, ô desgraçad@? _ele fala.. - Tô falando com TU, VERME! MACHO DE MERD@! TÁ TIRANDO COM A GABY, CARALH0? ESPANCOU MINHA AMIGA, DEIXOU ELA DESMAIADA NO HOSPITAL E VOLTOU PRA BEBER COM A TROPA?! TU É UM MONSTR0, UM COVARDE PORR@! Ele jogou o copo longe e veio pra cima com o ódio estampado na cara. - Tu tá me tirando? TU TÁ ME TIRANDO NA FRENTE DOS MEU PARÇA, PORR@?! VAI TOMAR NO CU, SUA VAGABUND@, PUT@ DO CARALH0! Ele ergueu o braço como se fosse me dar uma porrada... Mas antes do soco vir, alguém agarrou ele com força. - NÃO VAI, FARIAS! NELA TU NÃO TOCA A MÃO PORR@!_ O Alain se mete, Ele se colocou na frente feito uma muralha, o braço estendido, o olhar firme. - Vai abaixa tua mão, Farias. Baixa tua mão agora, tu é meu parceiro mas essa é minha mina, minha mulher, porr@, tu sabe que em mulher de bandido outro não põe a mão. Farias parou. O peito subindo e descendo. As veias do pescoço pulando. Os olhos avermelhados. Mas não bateu. Porque ele sabia que o Alain ele podia peitar, mas o Cleiton? o dono do morro? esse ele não podia peitar, e ele tava ali observando tudo quieto, mas regras são regras e tem que seguir ao pé da letra. O Alain não me assumiu mas comprou meu barulho, e a palavra dele é que eu sou mulher dele e não tem quem diga o contrário. O Silêncio reinou, Cleiton lá, sentado. Só observando. A mão no copo, a cara de que não ia se meter, a não ser que fosse preciso. O clima ficou pesado. Todo mundo quieto. E eu ali, com o peito explodindo, encarando o Farias nos olhos. - Vai Alice, vai pra casa, acabou essa porr@!_ O Alain fala comigo, eu não queria ir, queria dizer mais umas verdades a esse macho escroto do caralh0, mas eu sabia a hora que devia abaixar a cabeça, e essa era a hora. " Já tava toda errada" por peitar bandido, aqui essas porr@ são Deuses, então tinha que abaixar a cabeça e meter o pé, mas o Farias, ah filho da put@, eu juro que eu ainda vou fuder com ele!
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