1- 3 ANOS ATRAS
LIvro recomendado para maiores de 18 anos, conteúdo explícito!!!
Livro escrito em atualização diária, sendo a obra concluída com a publicação do último capítulo e a sinalização de completo pela plataforma.
Um pouco sobre a autora:
Bruna Mattos, casada,
mãe e batalhando para o crescimento da filha mais nova TEA 2. Minha carreira sempre foi focada em romances e os que meu público mais gostam, são no universo de morro.
Avisos importantes:
Como o universo é morro, traficantes, a linguagem utilizada não é na maioria das vezes o português escrito no dicionário. Mas sim o português falado no dia a dia com suas abreviações de palavras e gírias. Algumas palavras são censuradas pela plataforma, então aparece a primeira letra e ** mais a última letra, exemplo, s**o, seio, quando a autora lembra, ela pode usar o trema sëio e você terá a palavra escrita com uma acentuação não pertinente.
Temos uma janela de publicação curta pois conta o horário dá plataforma em Singapura, para termos nossas metas diárias completas, de forma que fazer uma revisão ortográfica antes de publicar, para mim que escrevo em
média 4 livros ao mesmo tempo é impraticável. Caso tenham alguma dúvida, ou não entendam algo escrito, podem sinalizar nos comentários do capítulo que eu terei todo carinho do mundo em
esclarecer.
Eu não escrevo violência doméstica nem tão pouco cenas de estüpro.
Espero que gostem de ler um romance diferente que se passa em
algum dos muitos morros do Brasil! Lembrando que eu nunca fui em um morro. Então tudo que eu escrevo é fruto da minha imaginação e pura ficção.
Livro registrado e com direitos reservados.
CAPÍTULO 1
ALANNY NARRANDO
Três anos atrás
O barulho na rua sempre foi parte da minha vida. Tiro, som de baile, moto cortando o ar… mas naquele dia, o que bateu na minha porta foi diferente. Eu ainda lembro da sensação gelada que correu pela minha espinha quando os gritos ecoaram lá fora:
— Abre a porta aí, tio! É ordem do patrão!
Meu pai levantou assustado da cadeira velha da sala, o copo de cerveja tremendo na mão. Ele sempre abaixava a cabeça diante dos cara do morro, sempre com medo de contrariar. Eu já sabia que alguma coisa tava errada, porque, naquele horário da manhã, vapor não vinha bater em barraco de ninguém à toa.
Corri pro quarto, coração disparado, tentando entender o que tava rolando. Olhei no espelho e vi meu reflexo: uma menina de 15 anos, ruiva, cabelo solto até a cintura, os olhos arregalados de medo. Minha mãe sempre dizia que eu parecia frágil, mas eu sabia que dentro de mim tinha mais fogo do que muita gente ali.
— Alanny! — a voz do meu pai veio embargada. — Sai do quarto, filha.
Não precisei nem ouvir de novo pra sentir o perigo. Respirei fundo, os pés pesados, e fui até a sala. Quando a porta abriu, três vapores entraram, armados, camisa de time e olhar sério. O cheiro de pólvora e maconha entrou junto com eles, como se fosse parte do corpo.
Um deles me encarou de cima a baixo e falou, sem rodeio:
— É ela.
Meu pai abaixou a cabeça, não disse nada. Naquele silêncio, eu percebi que já tava entregue.
— Vamo, mina. — o outro disse, fazendo um sinal com o queixo. — O dono mandou chamar. É pra ir pra quadra.
Senti a mão suar, o estômago revirar. Eu sabia o que rolava na quadra… era o lugar dos bailes, das reuniões, dos negócios. Era onde o poder se mostrava. Mas nunca tinha imaginado que eu seria chamada praquilo.
— Pra quê? — consegui perguntar, a voz fina, quase sumindo.
O vapor riu de canto, debochado:
— Cê vai conhecer teu destino, princesa.
Minha perna tremeu, mas não tive escolha. Um deles me puxou pelo braço e me arrastou até a rua. O sol forte batia no rosto, o barulho do morro não parava, mas eu só ouvia o tum-tum-tum do meu coração. As vizinhas espiavam pelas frestas das janelas, cochichando, mas ninguém tinha coragem de abrir a boca.
Descemos a viela e, quanto mais eu andava, mais o medo se misturava com raiva. Quando chegamos na quadra, o som ainda não tinha estourado pras caixas, mas o espaço tava cheio de gente. Olhos curiosos me seguiam, como se todo mundo soubesse menos eu o que ia acontecer. No fundo, sentado numa cadeira de plástico como se fosse um trono, tava ele: o dono do morro. Ao lado, encostado, com o olhar frio e arrogante, o filho dele.
Carioca.
Eu nunca tinha visto de perto, mas já sabia quem era. Alto, moreno, tatuado, com aquela postura de quem já nasceu mandando. Os vapores me empurraram até a frente da quadra, e eu só tive tempo de perceber que não era só comigo. Tinha mais cinco meninas ali, todas alinhadas, como se fosse uma fila de mercado. O coração batia descompassado, o suor escorria pela minha nuca e a sensação de estar sendo exposta, vendida, me deu um embrulho no estômago.
Olhei de lado e vi as outras. Duas delas m*l tinham peito formado ainda, o cabelo preso de qualquer jeito, a cara assustada. As mais novas tremiam, umas mordendo o lábio, outras tentando segurar o choro. Parecia que todo mundo tinha sido arrancado de casa à força, igual eu.
Fiquei no meio, me sentindo sufocada, e foi ali que o silêncio tomou conta da quadra. Só dava pra ouvir o barulho do vento batendo nas lonas, e todos os olhares se viraram pro mesmo ponto: o trono improvisado do dono do morro. Ele não falava nada, só observava, o olhar pesado como se medisse cada uma de nós. Mas não era ele que me fazia estremecer. Era o filho dele.
Carioca tava encostado de lado, braço cruzado no peito, tatuagens aparecendo pela manga da camisa de time. O jeito dele era de quem não precisava abrir a boca pra mostrar que mandava. O olhar escuro dele parou em mim e não desgrudou mais. Eu tentei virar o rosto, mas parecia que ele me prendia ali, nua, diante de todo mundo.
— E aí, filho… — a voz grossa do dono do morro quebrou o silêncio, ecoando pela quadra. — Gostou de alguma?
A respiração travou na minha garganta. Senti as pernas quase falharem. O silêncio foi pesado, e até as meninas ao meu lado seguraram o ar.
Carioca demorou, mas não tirou os olhos de mim nem por um segundo. O jeito dele era de quem já sabia a resposta, de quem não tinha dúvida nenhuma.
— A ruiva. — ele disse firme, sem piscar. — Eu quero ela.
O chão pareceu sumir debaixo dos meus pés. Um arrepio subiu pela minha espinha, misturado de medo e raiva. Era como se o mundo inteiro tivesse decidido meu destino numa frase curta, sem me perguntar nada.
Meu corpo já tava travado ali no meio da quadra quando o dono do morro levantou da cadeira. O silêncio foi total, como se até o vento tivesse parado. Ele caminhou devagar até mim, o barulho do chinelo arrastando no cimento ecoando no meu ouvido como um trovão. Quando parou na minha frente, senti o peso do olhar dele. Era como se enxergasse além da minha pele, como se quisesse me despir só com os olhos. Minha respiração ficou presa na garganta, mas eu não baixei a cabeça. O medo tava ali, queimando no meu peito, mas junto dele nasceu uma coragem que eu mesma não sabia que tinha.
— Tu é virgem, menina? — ele perguntou, a voz grave, seca, sem dar espaço pra mentira.
Engoli seco, os olhos marejando, mas mantive o olhar fixo no dele.
— Sou… — respondi baixo, quase num sussurro, mas com firmeza suficiente pra não parecer que eu ia recuar.
Ele arqueou a sobrancelha, como se quisesse confirmar, e virou o rosto em direção ao meu pai, que tava parado ali do lado, pálido, tremendo.
— E aí, João? — o tom dele ficou ainda mais pesado. — Tua filha é virgem mesmo? É direita?
Meu pai levantou as mãos, nervoso, a voz embargada mas cheia de pressa em agradar:
— É sim, patrão. Eu dou minha palavra. Minha filha é certinha, moça direita. Nunca se envolveu com nada.
O dono do morro assentiu devagar, como se tivesse fechado um contrato. Então virou de volta pra mim, e o olhar dele era tão duro que fez minha espinha arrepiar.
— Pois então, a partir de hoje, cê é prometida do meu filho. — falou alto, pra todo mundo ouvir. — Quando fizer dezoito, vai ser a fiel dele. A primeira-dama desse morro.
As palavras dele ecoaram dentro da quadra como uma sentença. As meninas ao meu lado choraram baixinho, alguns homens sorriram de canto, e meu pai baixou a cabeça, murmurando algo que parecia um “amém”.
Eu, parada ali, senti o mundo girar. Minha vida tinha acabado de ser vendida numa palavra, e não teve ninguém que pudesse me salvar. Só que, por dentro, uma chama acendeu. Eu não sabia como, nem quando, mas uma coisa eu tinha certeza: eu não ia aceitar aquilo calada.
Continua.....
Lançamento dia 14/09