Sob Alvo

942 Words
O sol m*l havia nascido e o escritório da K.V. Holdings já pulsava com uma tensão incomum. As informações do dia anterior haviam se espalhado entre os setores estratégicos: havia um ataque vindo de fora. E, por algum motivo, Karen era o alvo central. Ela chegou às 7h30, vestida de maneira impecável, mas com o olhar mais cortante que de costume. As pessoas a cumprimentavam com respeito — e certo receio. Todos sabiam que quando Karen Vieira caminhava em silêncio e com expressão séria, significava que algo importante estava para acontecer. Ou alguém estava prestes a cair. Rodrigo já a aguardava na sala de reuniões, com uma pasta recheada de documentos, prints de e-mails suspeitos, rastreamentos e um relatório do setor de segurança. — Encontramos o vazamento — disse ele, assim que ela entrou. — Foi através de um colaborador da sede americana da Williams Tech. Um funcionário antigo, aparentemente subornado por uma concorrente: a Lexon Corp. Karen apertou os lábios. A Lexon era uma velha conhecida. Uma empresa agressiva, faminta por fusões e tomada hostil de mercado. — Eles querem destruir a imagem do David... para enfraquecer o nosso acordo. — concluiu ela. Rodrigo assentiu. — E mais... — hesitou. — Recebemos um alerta da nossa equipe de segurança privada. Um dos seus seguranças pessoais identificou um carro seguindo você ontem à noite em Angra. O veículo não tinha placas e fugiu quando perceberam que havia vigilância. Karen inspirou fundo. Não era apenas uma ameaça comercial. Era pessoal. — Alerta máximo. Quero segurança dobrada na empresa e na minha residência. E a partir de agora, tudo o que envolver David Williams ou a fusão com a Williams Tech será tratado como confidencial. E Rodrigo... — Sim? — Verifique quem tem acesso à minha agenda pessoal. Alguém está vendendo informações. E eu não vou deixar barato. --- Enquanto isso, David caminhava nervosamente de um lado para o outro no quarto do hotel. A notícia da tentativa de sabotagem chegara junto com o relatório completo enviado por Karen. E, ao ler sobre a movimentação estranha em torno dela, algo dentro dele estalou. Um medo antigo. Um impulso esquecido. Proteção. Pegou o telefone e ligou para ela. Ela atendeu no segundo toque, com a voz fria e objetiva. — Sim? — Recebi o relatório. Já estou tomando providências aqui também. Mas Karen... você está bem? Ela hesitou por um instante. — Estou. Sempre estive. Mas agora as coisas escalaram. Não é mais só sobre negócios, David. Agora é sobre guerra. — Me diga o que eu posso fazer. Me deixe ajudar. — Está fazendo. Assine o contrato. Mostre que não vão nos separar com joguinhos sujos. E fique vivo. — Isso não é brincadeira, Karen. Se estão tentando te seguir... precisamos agir juntos. — Eu tenho seguranças. E nervos de aço. Se eles querem brincar de ameaça, vão descobrir que eu sou o pesadelo deles. — Mesmo assim... me avise se algo mudar. Por favor. Ela permaneceu em silêncio por alguns segundos, depois respondeu com uma voz mais baixa: — Eu aviso. Mas só porque sei que você realmente está preocupado. E... obrigada. Era uma concessão. Pequena, mas significativa. --- No dia seguinte, David apareceu de surpresa na empresa. Vestia uma camisa azul clara, simples, sem o blazer habitual. Havia algo de mais real nele naquele dia. Menos fachada, mais essência. Karen estava em sua sala, resolvendo contratos, quando ele entrou. — Você tem reunião marcada? — perguntou, sem tirar os olhos da tela. — Não. Mas achei que seria bom aparecer pessoalmente. Mostrar que estamos juntos nisso. Ela finalmente olhou para ele. — Ou mostrar para seus inimigos que você ainda respira? — Os dois. — ele se aproximou. — E talvez também pra olhar você nos olhos e dizer... que se algo te acontecer, eu não vou me perdoar. Ela se recostou na cadeira, o olhar mais brando. — Não me faça parecer uma vítima, David. Eu sou a predadora aqui. — Eu sei. — sorriu. — Mas até predadores podem sangrar. E eu estou aqui pra impedir isso. Karen ficou em silêncio por um instante. Havia um calor estranho crescendo entre eles. Algo que ela tentava sufocar, mas que se tornava mais forte a cada gesto sincero de David. — Você mudou. — disse ela, por fim. — A vida muda a gente. Perder quase tudo também. Mas te ver de novo... me mostrou quem eu deveria ter sido desde o início. Ela se levantou e caminhou até ele. Parou a poucos centímetros, sem tocá-lo. — Eu não confio fácil. Mas estou vendo algo diferente em você. E isso... me assusta mais do que qualquer ameaça externa. David encostou a mão no braço dela, com leveza, respeitando os limites. — Eu não vim pra te enfraquecer, Karen. Vim pra te somar. Me deixa fazer isso. Por um segundo, ela pensou em afastá-lo. Pensou em manter sua muralha erguida. Mas havia algo no toque dele, na voz, no olhar... que dizia que talvez, só talvez, ela não estivesse sozinha nessa guerra. — Me acompanhe até a próxima reunião. — disse ela, voltando ao tom profissional. — Quero que conheça pessoalmente os nossos diretores de tecnologia. Se vamos fechar essa fusão, você precisa se mostrar presente. Forte. Capaz. — Como um verdadeiro aliado? — Exatamente. Ele sorriu. Mas o sorriso não era apenas profissional. Era pessoal. Era o sorriso de alguém que enxergava uma segunda chance. E naquele momento, ambos sabiam: o jogo havia mudado. Agora, a guerra não era apenas contra os inimigos lá fora. Era contra tudo o que os afastou antes. E dessa vez, não haveria espaço para erros. ---
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