Cap. 5 - Papo de homem

3276 Words
"Quem tem inimigos deve ter também bons amigos." (Lima Barreto - O triste fim de Policarpo Quaresma) Por alguns segundos, eu deixei de ouvir o pátio à minha volta. E só consegui viver aquele momento, encarar Fred me oferecendo ajuda. A piedade contida em seus olhos azuis. Então, o mundo voltou a girar, a zunir. Os gritos estridentes das crianças do Fundamental soaram novamente ao fundo. — Você está bem? — Ele me ajudou a ficar de pé com uma puxada só. Limpei a camiseta de uma sujeira que eu não sabia se era real ou imaginária. Também não sabia se era só uma desculpa para não o encarar. — Aham… — Foi o que consegui balbuciar antes de sair andando rápido. Não me virei para saber se Fred vinha atrás de mim e nem para agradecer por sua ajuda. Apenas desejei que ele me deixasse em paz naquele momento, porque eu estava bem perto de chorar. Só parei quando alcancei a capela do colégio e me enfiei lá dentro. Estava vazia, pois nenhum dos alunos ia ali. E foi exatamente por isso que a busquei como refúgio. Eu me sentei em um dos bancos da primeira fileira e fiquei encarando uma imagem grande e azul da Santa Virgínia, que dava nome ao colégio. Ela era loira, de pele alva e me olhava de jeito misericordioso enquanto segurava um crucifixo contra o peito. A senhora sabe o milagre de apagar um vídeo que se espalhou na internet? Só fui tirado dessa minha prece mental pelo barulho de sola de tênis riscando o piso, provocando arranhões pontiagudos no silêncio quase litúrgico. Achei que fosse Fred e já comecei a pensar em uma forma de despistá-lo, quando me virei e dei de cara com… Anderson? — E aí. — Ele me cumprimentou e se sentou no banco ao meu lado. Eu te convidei para sentar, meu filho? — Cê quer o que aqui, Anderson? Será que não já tá bom o que o seu amiguinho fez? Quer me zoar mais? — Mano, cê tá parecendo o pinscher da Samanta, que sai atacando sem motivo. — Anderson sorriu e exibiu os dentes aparelhados ao mencionar o irritante cachorro de sua irmã. Eu o conhecia bem, porque às vezes ele ia (ou voltava) com a gente no carro. — Calma, eu tô de boa. Só vim ver se você está bem. Ah, tá! Anderson Pelizari, que fazia parte dos Meninos do Futsal, grupo que me zoava diariamente, que sempre me ignorava e morria de medo de alguém descobrir que a gente era colega de carona. Esse mesmo Anderson preocupado se eu estava bem? Tinha graça mesmo! — Ah, Anderson, dá licença, vai? Não tô com tempo pra sua zoeira particular, não. Já basta o Nicolas na minha vida… Eu me levantei e fiz menção de ir embora, mas Anderson me segurou pelo pulso. Me virei na hora, entre surpreso e puto, e meu olhar encontrou-se com o dele. Seus olhos castanhos refletiam os raios do sol de meio-dia que entravam por entre as frestas dos vitrais da janela. Por isso, ganharam uma claridade estranha, que ia de encontro ao tom n***o da sua pele. Apesar de analisar tudo isso no espaço de segundos, não consegui ler a mensagem que ele sustentava naqueles olhos tão bonitos. — Não, cara, cê não tá entendendo... — Anderson não parecia nem um pouco abalado diante minha ameaça de deixar a capela. — Eu achei que você fosse ficar menos cabreiro comigo depois da festa da Milena. Mais bonzinho, manja? Achou errado, então. — Vai jogar na cara mesmo? — Que jogar na cara, mano, tá doido? Eu já te falei que eu não fiz aquilo porque eu quis e sim porque eu fui obrigado... Mas sei lá, né, pô... Não tô te cobrando nada, mas eu esperava pelo menos um pouco de consideração. Xinguei Anderson mentalmente, perdendo totalmente o respeito pelo ambiente sagrado em que nós estávamos. Torci para que a misericórdia onisciente da Santa Virgínia me perdoasse por ecoar aqueles nomes feios na minha cabeça. — E o que você quer, então? Fala logo! — Eu já estava perdendo a paciência com aquele menino. — Porque eu tenho certeza que você não ia se enfiar na capela só pra saber se eu tô bem. Anderson resfolegou, como se estivesse ganhando coragem. E finalmente admitiu: — Não mesmo. Antes de te chamar pra conversar, eu pensei em tantas hipóteses, tantos jeitos diferentes, manja? Mas sei lá. No fim, você me pareceu a melhor solução. Eu sei que eu fui escroto com você, Sininho. Sou homem o suficiente para reconhecer. Pra ver que eu fiz muita m***a no passado, que eu tomei atitudes que não me orgulham nem um pouco... Mas fazer o quê? A gente vai dando cabeçada e aprendendo. O que aconteceu é que, desde que a gente começou a pegar carona junto pra cá, eu passei a prestar atenção em você. (Pausa para um pequeno parêntese) Ok, leitor, antes de prosseguir com o diálogo, sinto que devo esclarecimentos a você. Desculpa, é tanta coisa para contar nesta história que eu acabei me perdendo na ordem dos acontecimentos. Mas vamos lá… Que d***o de carona é essa que Anderson tanto falava? Calma, que vou explicar. Tudo aconteceu quando Tia Dóris — até então a responsável por me levar e buscar do colégio — bateu o carro enquanto dirigia de cara cheia. Aí depois veio todo o processo de teste do bafômetro, delegacia, fiança, perda da carteira de habilitação e essas consequências todas. Devo citar aí também uma briga de proporções armagedônicas com Dr. Renato, vulgo meu pai. Tá certo que Tia Dóris e meu pai viviam brigando. Era quase diário aquilo. Mas no dia da batida, a coisa foi mais f**a que o comum. Eu fiquei bem escondidinho no meu quarto, com meus fones de ouvido no último para não escutar a gritaria. E mesmo assim foi impossível fugir do calor das vozes exaltadas. Lembro que uma vez li uma frase bem marcante, de um escritor russo, Tólstoi, que disse: “Todas as famílias felizes se parecem entre si, mas cada família é infeliz à sua maneira.” Pois é, a Família Lins tinha um jeito muito peculiar de ser infeliz. Eu, órfão de mãe, criado por minha tia alcoólatra e por meu pai, que só dava atenção para o trabalho, que o diga! Mas enfim, voltando ao assunto… Depois daquele acidente, minha vida acabaria tomando rumos inusitados para mim. Passado o barraco com minha tia, meu pai me chamou para conversar. E nessa conversa ele anunciou — a despeito de todos os meus protestos e objeções — que Tia Dóris havia aceitado finalmente ser internada em uma clínica de reabilitação. Não bastasse essa bomba, também fui comunicado que eu passaria a ir para o colégio de carona com Samanta Pelizari, que morava na torre de condomínio vizinha à nossa. Isso porque o filho dela, Rafael, também estudava no Santa Virgínia… Ou seja, o acordo perfeito! Perfeito para o meu pai e não para mim! Samanta era irmã mais velha de Anderson Pelizari, um dos meninos que me zoavam no colégio. E eu não queria o menor contato com esse escroto, mesmo que indireto. O problema é que com o Dr. Renato não tinha o menor diálogo. Até sugeri que eu poderia voltar a ir na mesma van escolar que levava Lara até o Santa Virgínia, o que quase fez meu pai ter um dos seus rompantes de raiva. Eu me lembrava de que ele tinha brigado com a companhia de transporte, quando eu estava no Fundamental, por causa dos valores exorbitantes e posturas abusivas, como ter que pagar a mensalidade mesmo nas férias. Não teve jeito de argumentar. No outro dia estava eu lá, com a maior cara de b***a do mundo, pronto para entrar no carro da perua tresloucada da Samanta Pelizari, que se vestia diariamente como a Lady Gaga em Poker Face, e do seu filho de aparência emo/gótica/cadavérica. Ah, mas o destino só tinha começado a tirar com a minha cara! Ele não ficaria satisfeito em simplesmente ferrar com os momentos mais gostosos do meu dia, que eram os que eu passava na companhia de Tia Dóris no carro, e me obrigar a pegar carona todas as manhãs e tardes com uma mulher que ouvia MPB durante o caminho de ida e volta do colégio. Havia mais uma surpresinha desagradável preparada. Naquela mesma manhã, eu estranhei o caminho que Samanta estava fazendo. Era um trajeto complicado e muito mais longo para chegarmos ao colégio. Pelo visto essa daí gosta de gastar gasolina. Estranhei mais ainda quando ela parou em frente a um edifício imponente, desses de dois apartamentos por andar, no bairro do Proença. Só que a minha desagradável surpresa foi quando Anderson saiu da portaria, veio em direção ao carro e se sentou ao meu lado no banco de trás. Trocamos um olhar cheio de surpresa e dúvida da parte de ambos. Era como se nos perguntássemos: o que você está fazendo aqui? Na hora eu matei a charada. Anderson também era um "caronista" de Samanta Pelizari. O que significava que, daquele dia em diante, nós evoluímos involuntariamente nossas relações de “colegas de sala” para “colegas de sala e de carona”. E, como você, leitor, já deve ter imaginado, passamos a ter que dividir o banco de trás do carro de Samanta (a irmã bem mais velha) por tempo indeterminado. (Fecha breve parênteses) Então, leitor, agora você já sabe do que se trata a carona entre mim e Anderson. Beleza, vamos voltar à história… Onde foi que eu parei mesmo? Ahhh, na capela! Lá estávamos eu e Anderson, no intervalo entre as aulas do turno Matutino e Vespertino, enfiados na capelinha do Colégio Santa Virgínia. Sozinhos, em meio a um diálogo no mínimo estranho. E quando Anderson disse que, depois que começamos a pegar carona juntos, ele passou a me observar, não escondi uma careta de estranhamento. — Calma, sei que isso é esquisito, mas eu ainda vou chegar lá. Eu falo de prestar atenção no sentido de... Putz, mano, como eu vou dizer isso? No sentido de ver a forma que você interage com as minas, manja? Parece que você tem uma moral com elas, sabe conversar, trocar ideia. Parece que rola uma confiança ali, que eu não vejo com os outros caras. Com os moleques do futsal, comigo, por exemplo. Como se você fosse uma espécie de confidente. Confidente. Melhor Amigo. Irmão Postiço. Conselheiro Amoroso. Ombro pra Chorar. E, eventualmente, Chaveirinho. — Tá, mas e aí? — Comecei a suspeitar de que Anderson tinha batido com a cabeça. — Foi aí que eu enxerguei a ajuda que eu precisava. Em você, cara! — Ele apontou para mim e eu tive que me segurar para não colocar a mão no peito e perguntar "Eu?" de forma meio afetada. — Vendo você com suas amigas, com as minas de sala. Isso foi antes da festa da Milena, antes de ter dado aquela m***a toda. — Anderson, você tá enrolando demais. — Grunhi com impaciência. — Eu ainda não entendi o que você quer… — É que paralelo a isso que eu te falei, tem a Alana. Vai fazer uns dois anos que a gente tá junto, manja? E agora o nosso namoro entrou numa fase difícil. Ela tá estranha, velho, e eu não tô gostando disso. Gostando nada. Tá, mas e o que eu tenho a ver com isso? Mesmo tendo uma tia psicóloga e um pai psiquiatra, terapia de casal não é o meu forte. — Vixi... Mas onde eu entro nesse rolo? — Você entra na proposta que eu tenho para fazer. — Anderson abaixou o olhar e pareceu interessado, de repente, em uma fissura na madeira do banco. Subitamente envergonhado. Oi? Mas antes que eu pudesse interromper, ele levantou a cabeça e me cortou com um gesto: — Eu não sei o que tá rolando com a Alana, mas tem coisa errada nessa história. Eu sinto. Mas eu já perguntei, já joguei verde e nada! Como eu te falei, eu pensei em outros métodos. Mas nenhum dos caras ia conseguir uma aproximação sem dar na vista. Foi aí que eu pensei em você. Com a moral que você tem com as meninas, vai ser fácil ganhar a confiança dela. E assim… Você andou assistindo a muitos filminhos adolescentes, né? Eu só acho! — Assim o que, meu filho? Não vai me dizer que você quer que eu fique amiguinho da Alana só pra descobrir se ela tá te traindo… E o silêncio que Anderson sustentou em seguida foi como uma confirmação. Somada à carinha de garoto que quebrou o vaso da sala e não sabe como contar para a mãe. — Tá, mas por que você acha que eu vou conseguir tirar uma informação dessas da Alana? Se ela tá mesmo... Bem, ela não vai dar brecha assim fácil... — É... Brecha mesmo, não. Mas ela pode contar alguma coisa pra alguém, se for alguém que ela confie. Eu conheço a Alana, cara. Sei que ela não é de guardar as coisas muito bem. Pensei em dizer a Anderson que se ele conhecesse sua namorada tão bem assim, não precisaria recorrer a ajuda de terceiros para identificar qualquer sinal de traição. Mas preferi deixar isso quieto e apontar uma solução que, pelo menos para mim, parecia ser a mais prática e coerente dentro daquele contexto: — Mas se vocês não estão bem e se tá rolando dúvidas da sua parte, será que o melhor não é chamar ela pra conversar? Ou terminar até, sei lá. Praticidade não parecia ser o forte de Anderson, considerando tudo aquilo que ele estava me propondo. E ao levantar a possibilidade do término, aparentemente eu tinha voltado a tocar em um ponto sensível dentro daquele assunto, porque ele teve uma reação bem agitada. — Ah, não, mano! — Anderson foi bem taxativo. — Terminar, não. Eu amo aquela mina. Achei bem breguinha essa declaração. Por favor, não a repita em voz alta. — E em nenhum momento passou pela sua cabeça que eu e a Alana não temos a menor i********e um com o outro? — Busquei fazer com que Anderson se atentasse ao fato de que eu e sua namorada só tínhamos trocado meia dúzia de palavras em vários anos de vida escolar juntos. Anderson balançou a cabeça, mais uma vez esboçando aquele seu típico meio sorriso volumoso. — Cara, o que foi que eu te falei aquele dia lá em casa? Eu sei que cê tava chapado, mas eu acho que você lembra... — Tá, Anderson. Eu sei, foi legal da parte dela... — Engoli seco, não querendo admitir aquilo. — Da sua também. — Completei, ainda mais a contragosto. — Mas isso não quer dizer que a gente vá virar BFF da noite pro dia. — Mas a Alana sempre quis ter um amigo... — Anderson parou nesse ponto, fazendo um gesto evasivo com a mão, como se dissesse "Deixa pra lá". Um amigo gay. — Ué, e ela não tem amigos? — Preferi me fazer de desentendido. Pelo visto a conversa não estava tomando o rumo que o marrentinho queria, porque ele bufou todo irritadinho. Neste momento, Anderson abdicou de suas táticas de persuasão anteriores e partiu para uma abordagem mais agressiva: — Você pode até não reconhecer, mas a atitude que eu tomei com você naquela festa eu não tomaria nem por um brother meu! E, pelo que eu vi, suas amiguinhas também não fariam isso por você. Por que a Lara não te levou pra casa dela? Hein, fala aí... Não respondi. Eu não tinha o que dizer. — Pois é. — Anderson continuou. — Se não fosse eu, e a Alana principalmente, você ia ficar jogado lá naquela festa, naquela situação. Porque nenhuma das suas amiguinhas apareceu pra ajudar. A m***a podia ter sido muito pior. — Anderson. — interrompi. — Eu já te agradeci aquele dia e teria agradecido pra Alana também se eu tivesse um pouco mais de proximidade com ela. Eu só não acho justo você usar isso pra me pressionar... — Deixa eu falar, que eu não terminei. — Desta vez ele me cortou, incisivo. — Eu te chamei aqui, correndo o risco de algum dos moleques me ver conversando com você, porque eu tenho uma proposta pra fazer. E toda proposta é vantajosa para os dois lados... — E que vantagem você vai me oferecer, hein, Anderson? Vai deixar de pegar carona com sua irmã e me poupar de ver a sua cara logo de manhã? — Não, Sininho. Tô falando que do mesmo jeito que você tem moral com as minas, eu tenho com os moleques, manja? Posso muito bem fazer eles te deixarem quieto na sua e em troca você me traz as informações que eu preciso… O que você acha? — Eu acho que você tem que parar de me chamar de Sininho, pra começo de conversa. — Cruzei os braços. — Beleza, foi m*l. É o costume. Mas e aí? Neste exato momento o sinal tocou, anunciando o fim do intervalo entre os turnos. Aquela era a deixa que eu precisava para fugir; fugir de Anderson e de sua cabeça transtornada (e possivelmente enfeitada). Ainda que aquela proposta tivesse lá seu lado vantajoso, poderia não dar certo. Era potencialmente perigosa e eu não estava mesmo disposto a ficar amigo da enjoada da Alana Maciel. Me levantei a pretexto de seguir o sinal. Anderson fez o mesmo, com um brilho ansioso nos olhos. Ele queria saber se eu tinha aceitado ou não. — Cara, não vou ter uma resposta pronta agora. — admiti em busca de encerrar aquela conversa. — Eu preciso dar uma pensada, ver se isso vai valer a pena... Anderson passou as mãos pelos cabelos negros e ondulados. — Como é que não vai valer a pena? Eu vou te ajudar também, mano! Dei as costas para ele e saí andando pelo corredor entre os bancos. Só me virei para dizer: — Eu sei, mas mesmo assim, eu preciso pensar. Na verdade, eu só preciso de um tempo para esperar a poeira baixar e você esquecer essa maluquice. — E esse tempo vai até quando? — ele perguntou de onde estava. — Uma semana. — parei na porta da capelinha, sendo engolfado por uma réstia do sol da tarde que entrava. Ele me observava, sério, com as mãos nos bolsos e sem dar um passo. Provavelmente Anderson não deixaria a capela comigo. Nunca. — Uma semana tá bom pra você? Anderson deu de ombros. — Bom não tá, né? — abriu seu sorriso aparelhado. — Mas pensa bem, velho. Você me ajuda, eu te ajudo e os dois saem ganhando. Dei as costas para ele, finalmente, e deixei a capela com a cabeça a mil. Meu Deus, o que tinha sido aquilo? Aquela conversa? Anderson só podia ter tomado uma bolada muito forte! Cruzei o pátio sem prestar muita atenção no caminho, me guiando rumo à ala oeste do Santa Virgínia quase que por instinto. Subi a escada lateral que levava às salas e dobrei a esquina do corredor, quando a voz da Irmã Elizapeste (na verdade Irmã Betty, a Irmã Inspetora) me chamou com seu forte sotaque nordestino. “Otávio, olha aí você, tava te procurando, menino!”. — Me procurando por quê? — eu quis saber. — Tu tá sendo chamado na diretoria. Querem falar contigo. Mas eu não fiz nada! Será que as desgraças não deixariam de se a****r sobre mim nunca?!
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