— Bem, vamos lá, recupere os sentidos, baby. Ouço uma voz baixa e tento abrir os olhos.
Nada funciona, as minhas pálpebras parecem coladas com supercola.
— Onde... estou... Sussurro o mais forte que posso.
— Você está no hospital. Lembra. Você foi trazida sob ameaça de aborto e você e eu concordamos em salvar o seu bebê. E aqui está você me fazendo desmaiar. A mesma voz me repreende, mas acaba sendo completamente inofensiva.
Tento novamente e as minhas pálpebras se abrem. Na verdade, estou na mesma sala, uma mulher com roupa de médica está sentada ao meu lado e segurando a minha mão. Por outro lado, há uma agulha espetada, através da qual o medicamento goteja na minha veia.
— Você está bem? A médica continua falando severamente. Qual o nome dela? Anna Anatoly, ao que parece. Sim, isso mesmo, é o que diz no crachá. E ela é a chefe do departamento. — Concordamos em tudo e você decidiu começar a sangrar! Parece que você não está interessada em cumprir a sua parte no acordo.
— Eu... eu não... Balanço a cabeça, lágrimas escorrendo pelos cantos dos meus olhos. — E ele?
Aponto para minha barriga e uma mancha de sangue numa camisola descartável já surge na minha memória.
— Quieta, não chore. Anna enxuga os cantos dos meus olhos com um guardanapo. — Desta vez conseguimos controlar o sangramento. Mas tanto sangue... Sonia, você entende que alguém no meu lugar já teria limpado você?
— Não... Eu enterro os meus dedos na sua mão. — Eu não quero...
— Então não fique tão nervosa. Ela declara categoricamente e pergunta novamente com uma voz completamente diferente: tem certeza, Sonia? Isso, é claro, não é da minha conta, mas isso nunca aconteceu no meu plantão.
Que a amante e a esposa acabaram no mesmo quarto? Eu também não poderia sonhar com tal coisa nem num pesadelo. Principalmente porque me encontrarei no papel da esposa enganada.
Isso é realmente verdade? Senhor, por quê? Tenho sido uma esposa rui*m? E Leo sempre me disse que eu era a melhor. E neste momento... com Lisa...
— Sonia, pense nisso. Continua a médica. — Eu também tenho uma filha. E se tivessem feito isso com ela, eu juro, eu teria estrangulado o réptil com as minhas próprias mãos.
— Onde ele está? Pergunto em tom casual. Por um momento eu queria que ela fosse minha mãe. A minha definitivamente não vai brigar com Leonardo por minha causa.
— Eu tirei ele e aquela mulher histérica daqui. A médica balançou a cabeça. — Você deveria ter visto o que ela fez aqui. Eu disse a ele para levá-la para o infe*rno, e se caso ele não fizesse isso eu chamaria a polícia.
Ele não ficou. Ele levou a sua amante para uma clínica particular cara porque ela esperava um filho dele. E eu...
— Eu disse que vamos operar você, Sonia. Anna acrescenta asperamente. — Se o sangramento não parasse, eu ia trazer você de volta à consciência e iríamos para a sala de cirurgia. Talvez possamos ir, afinal? Você vai se divorciar e esquecer isso como se fosse um pesadelo é isso que você deve fazer. E uma criança é para toda a vida e...
— Anna Anatoly. Agarro-lhe as mãos. — Querida... Pagarei o quanto for preciso, só... Diga a ele que a criança não existe mais. Por favor, eu te imploro! Ele não deve saber... não deveria, esse é meu bebê, só meu!
Começo a chorar e Anna olha em volta com medo.
— O que você está pensando, Sonia! Eu não posso fazer isso. E, porque você quer isso? Você fará as pazes amanhã com ele, mas eu devo ir ao tribunal?
— Sem julgamento. Eu fungo. — Você vai escrever no histórico médico o que realmente aconteceu. Apenas diga a ele, meu... Leonardo.
Não posso mais chamar Leonardo de meu marido. A língua não gira. E não consigo pensar nisso, embora esteja prestes a dobrar ao meio de dor.
Ele não é mais meu marido.
Ele é um amante. Gatinho.
Qualquer coisa, mas não é mais meu marido.
— Isso também é uma violação, Sonia.
— E se a sua filha estivesse no meu lugar? Olho diretamente para a médica e ela esconde os olhos.
Tiro a minha carteira debaixo do travesseiro, tem muito dinheiro nela. Leonardo nunca me recusou nada, ele era um marido generoso. E ele acabou por ser um amante generoso também.
Mas, agora tudo que sinto é vergonha, por ter sido tão ingênua. Além disso, ele pode ter mais de uma Lisa, agora, eu espero de tudo.
Uma risada histérica escapa dos meus lábios, mas me controlo e tiro as notas da carteira.
— Aqui, pegue, ainda tenho algumas joias. E em casa também...
— Espere. Anna me interrompe e pisca contas brilhantes dos seus cílios. — Além disso, se esse sangramento ocorrer novamente, você definitivamente terá que fazer a coletagem... Ela respira fundo. Ok, vou dizer isso ao seu marido, vou levar o pecado na minha alma. E fuja dele se puder, querida. Um marido bonito é o marido de outra pessoa, a minha avó sempre me disse. Eu passei o mesmo que você está passando.
— Passou?
— Sim, mas me separei. Eu o deixei e não me arrependo. Agora tenho um marido diferente e, quando penso que poderia ter ficado com ele, eu sinto até enjoou. Pense bem, querida, talvez devêssemos ir para a sala de cirurgia, afinal? Se o seu feto não grudou bem imediatamente, então talvez seja o que o destino quer te dizer? Você é jovem e bonita. Encontre um homem bom e tenha filhos com ele.
— Não. Eu sussurro, acariciando a minha barriga lisa. — Eu preciso deste. E ele não é um feto, ele é meu bebê. Eu já o amo. E não haverá mais homens na minha vida. Eu já tive o suficiente de um só.
— Como quiser, querida. A médica acaricia-me no ombro. — Como quiser…