Episódio 3

1071 Words
‌Eu caio num sono curto. Não sonho com nada, apenas vozes parecem ser ouvidas ao longe através de um sonho. Está quente, uma gota de suor escorre pela testa desde a têmpora. Está molhado embaixo da minha bochecha ou estou chorando durante o sono? Abro os olhos e percebo que não estou dormindo, e vozes são ouvidas do lado de fora da porta do meu quarto. Uma delas é Anna, e a outra... Encolho-me sob o cobertor fino. Eu estava com calor e agora estou ficando com frio. Esta é a voz do Leonardo e tudo que elas me fazem sentir agora, são arrepios. — Ela é minha esposa. A sua voz baixa e rouca ressoa no coração. — Eu quero vê-la! — Sonia está dormindo, ela não deve ser incomodada. Não posso deixar você entrar. Responde a médica educadamente, mas com firmeza. — Vou falar com o médico-chefe do hospital agora. Ele pressiona como um tanque. Poucos conseguem resistir a ele. Mas parece que Anna é uma delas. — Sim, você pode ir até para a Organização Mundial da Saúde. Sou responsável por este departamento e eu coordeno as visitas aos pacientes da enfermaria que estão sob os meus cuidados, Senhor Leonardo Rustam Usmanovich. — Vim levá-la para uma clínica particular. Você não pode me impedir de fazer isso. Leonardo levanta o tom. Isso significa apenas que ele está furioso. — Não posso autorizar a transferência dela. Mas Anna está calma como uma jiboia e continua firme, impedindo ele de entrar. — Sonia assinou consentimento voluntário informado para diagnóstico, tratamento e cirurgia no nosso hospital. Devo mostrar-lhe o documento? — Eu quero vê-la! Leonardo murmura entre dentes. — Escute. Pareço vê-la esfregando as têmporas com cansaço. — Tenha pena de Sonia. Ela perdeu o filho. E embora isso não seja da minha conta, ainda digo que você tem a maior culpa no que causou isso. — Isso mesmo. Leonardo respira com voz rouca e irregular. — Não é da sua conta. Eu tenho que vê-la, o que não está claro? Tudo dentro de mim está resistindo desesperadamente. Não consigo imaginar como vou olhar nos olhos dele depois de tudo que ouvi da sua amante. Como ele é sensível e atencioso. Como ele a carrega nos braços e se derrete pelo filho. ‌​E, ao mesmo tempo,em algum lugar nas profundezas da minha alma ainda vive a esperança de que tudo isso seja algum tipo de m*al-entendido monstruoso. Isso não poderia acontecer comigo. Com qualquer um, mas não comigo. Não conosco. — Não posso deixar você entrar sem o consentimento da sua esposa, Senhor. Ela não deu consentimento para a sua visita. Anna se mantém firme. — É ela... A voz de Leonardo falha, mas o marido rapidamente se recompõe. — Ela disse que não quer me ver? — E o que você acha? A resposta da médica não parece menos amarga. — A situação que se desenvolveu está longe do que toda mulher sonha. — Diga-me. A voz de Leonardo muda por um momento, e parece-me que o desespero é visível nela. — Não foi possível fazer nada? E nesse momento o meu coração congela com medo do que Anna vai responder. Se ela vai fazer o que pedi. — Não. Infelizmente. Ela parece tão assustadora e confiante que aperto a minha barriga com a mão de medo. Não consigo nem imaginar por um segundo que o meu filho se foi. Sonhei com ele por tanto tempo, Leonardo e eu sonhamos juntos. Recentemente, há apenas um mês, estávamos caminhando no shopping e vimos um casal empurrando uma criança num carrinho na nossa direção. Ele era tão engraçado, com covinhas e bochechas rechonchudas. Ele sorria para todos que passavam, exibindo os primeiros dentes, e era simplesmente impossível passar e não olhar para aquele bebê. Leonardo foi o primeiro a parar e puxou a minha mão. Nós dois admiramos o bebê por um tempo. De repente o meu marido me puxou impulsivamente para si, abraçou-me e disse no alto da minha cabeça: teremos um assim também, Sonia, você verá. Parece que você tem as mesmas covinhas. Agora, essas memórias tornam difícil respirar. Ele sabia. Ele sabia que teria um filho. Não meu, mas dele e da Lisa. Por que ele disse isso então? Só para me consolar? Ou me acalmar? Eu escuto, há silêncio do lado de fora da porta. Leonardo saiu. Por que ele veio, o que ele esperava ouvir? Que tive um ataque de amnésia e não me lembro de nada? Ou que não o reconheci quando saí do banheiro com um copo de água? Ouvem-se passos no corredor e Anna entra no quarto. — Acordou? Como você está se sentindo? Eu dou de ombros. Dizer “m*al” seria uma mentira; sinto-me bem, apesar de tudo. Mas não me atrevo a dizer “bem”. Não pode ser bom quando tudo o que resta de você é uma concha visível? E dentro há ruínas e cinzas. — O seu marido veio aí... A médica faz uma pausa. — Eu não deixei ele entrar. Eu disse o que você pediu… O meu plantão acabou, se acontecer alguma coisa chame imediatamente o médico de plantão. Aliás, ele estava furioso aqui, ameaçando o médico-chefe. — Anna, chame ele aqui. Eu me levanto, apoiando-me no cotovelo. — Ele realmente chegará ao médico-chefe. Você não o conhece. — Não conheço. Ela confirmou. — É verdade. Mas não tenha medo, Sonia. Eu conheço bem o médico-chefe. — Você tem certeza que isso não vai te prejudicar? Você conhece ele tão bem, que ele não vai chamar a sua atenção? — Não se preocupe. Ela responde e sorri. — Ele é meu marido. — Seu marido? Pergunto novamente, atordoada. — Sim. Ela balança a cabeça, continuando a sorrir. — Então mesmo que o seu procure ele, nada vai acontecer. — Ele não é meu. Eu sussurro amargamente, deslizando de volta no travesseiro. A porta se fecha atrás de Anna, ela não me ouviu. Mas, acho que, na verdade, eu não disse para ela. Acho que disse isso para mim mesmo. Preciso começar a me acostumar com isso. Por muito tempo tive certeza de que eu era a única do meu marido, e ele era o meu único. ‎ ‌​​​‌‌ ​‌‌​‌​‌​ ​​‌​​​‌​‌‌‍
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