Capítulo 3 - O Que Eu Não Posso Dizer

565 Words
Por Pedro Segurei firme o volante enquanto dirigia de volta para casa. O silêncio dentro do carro era pesado, carregado de pensamentos que eu não queria ter. Bianca estava no banco do passageiro, olhando a cidade passar pela janela, ainda abalada pelo assalto. De vez em quando, ela mexia os dedos no colo, um hábito que tinha quando estava nervosa. Eu queria dizer algo para confortá-la, mas minha mente estava em outro lugar. Naquele maldito Marcos. Ver a forma como ele olhou para Bianca me fez querer socá-lo ali mesmo, na delegacia. Ele a olhou de um jeito que ninguém deveria olhar para ela — como se estivesse desafiando o mundo para tê-la. Como se ela fosse um jogo. Não. Eu não podia deixar isso acontecer. — Você quer dormir na minha casa essa noite? — perguntei, desviando os olhos da estrada rapidamente para olhá-la. Ela piscou, surpresa. — O quê? — Depois do que aconteceu… Eu só acho que seria mais seguro. Além disso, a Sofia vai adorar te ver. O nome da minha filha arrancou um pequeno sorriso dela, o primeiro desde que o assalto aconteceu. — Bom… Eu realmente não queria ficar sozinha agora. Assenti, me sentindo um pouco mais tranquilo. — Mamãe Bia! Sofia correu na direção de Bianca assim que entramos, jogando os bracinhos ao redor dela. Minha filha era pequena, mas cheia de energia. Aos seis anos, ela já entendia mais do mundo do que eu gostaria. Bianca riu, abraçando-a de volta. — Oi, meu amor! Sentiu minha falta? — Sim! O papai disse que você vinha, mas eu achei que era só pra me fazer dormir. Você vai dormir aqui também? Ela olhou para mim, como se pedisse permissão para responder. — Só essa noite, pequena. — Ebaaa! Sofia puxou Bianca pela mão, animada para levá-la até seu quarto. Fiquei observando, sentindo aquele aperto familiar no peito. As duas sempre tiveram uma conexão especial. Às vezes, parecia que Sofia via em Bianca o que eu nunca tive coragem de dizer em voz alta. Enquanto elas sumiam no corredor, soltei um longo suspiro e passei a mão no rosto. Eu precisava proteger Bianca. De qualquer um que quisesse se aproximar dela por motivos errados. E isso incluía Marcos. Mais tarde, quando Sofia já estava dormindo e Bianca tomava um banho, fui até a varanda para esfriar a cabeça. Mas a paz durou pouco. Meu celular vibrou no bolso. Número desconhecido. Atendi com um certo receio. — Alô? O silêncio do outro lado durou alguns segundos antes que uma voz masculina falasse: — Ela é incrível, sabia? Meu coração parou. — Quem é? — rosnei. Uma risada baixa veio como resposta. — Você sabe quem eu sou. Fechei os olhos, segurando a raiva. — Se afasta dela, Marcos. — Eu só queria te avisar… Você pode tentar esconder seus sentimentos, mas eu já vi o que tem entre vocês. Minhas mãos tremeram ao redor do celular. — Eu avisei. Fica longe. Ele riu de novo, e então a ligação caiu. Fiquei parado ali por um tempo, sentindo o peso daquela ameaça não dita. Eu podia lutar contra bandidos todos os dias, podia lidar com criminosos perigosos, mas nada me assustava mais do que a possibilidade de perder Bianca. Porque a verdade era essa. Eu a amava. Mais do que devia. Mais do que poderia. E agora, alguém mais sabia disso.
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