NASCE AQUI UMA GRANDE HISTÓRIA DE AMOR COM ALTOS E BAIXOS, VAI TE PRENDER DO INÍCIO AO FIM.
Prólogo
O morro nunca perdoa os fracos. Aqui em cima, quem vacila, cai. Quem demonstra sentimento, sangra. Foi assim que eu aprendi, desde moleque, quando a vida me arrancou tudo antes mesmo de eu entender o que era perder. Meu pai morreu antes de me conhecer. Minha mãe morreu me trazendo ao mundo. Cresci na sombra da minha irmã, que sempre tentou ser luz em meio à escuridão que me cercava. Mas amor? Isso nunca existiu pra mim.
Sou Fabiano, mas ninguém ousa me chamar assim. No morro, meu nome é Falcão Frio. Herdar o comando da Pedreira não foi escolha, foi destino. O trono que hoje eu ocupo carrega o sangue do meu avô, que segurou esse morro com mão de ferro até o último suspiro. Foi dele que herdei esse reinado. Não pelo mérito, mas porque ele acreditava que eu tinha nascido com o mesmo gelo no peito. Ele olhou nos meus olhos, pouco antes de partir, e disse: “O morro precisa de alguém que não ame. Porque amor enfraquece.”
Essas palavras ficaram grudadas na minha alma como cicatriz. E eu cresci acreditando nelas. Aqui, ou você engole o choro, ou é engolido. Aprendi a ser calculista, a não me apegar a nada nem a ninguém. Mulher, pra mim, sempre foi só um corpo quente, uma noite de prazer, um pente e rala. Nunca deixei ninguém chegar perto o bastante pra me ferir.
Minha irmã… ela é diferente de mim. Virou médica no posto do morro, vive cuidando de gente que eu nem teria coragem de olhar duas vezes. Ela acredita em salvar vidas, eu acredito em mandar quem ameaça a nossa pra cova. Dois mundos diferentes, mas ligados pelo mesmo sangue. Ela é a única família que eu tenho, mas até com ela mantenho distância.
Ela insiste em ver humanidade em mim, mas o que existe de verdade é vazio.
Talvez porque no fundo eu saiba que qualquer aproximação é fraqueza. E eu não posso me dar ao luxo de ser fraco.
Até que o baile mudou tudo.
Naquela noite, contra a minha própria regra, deixei o povo do asfalto subir. Não foi por vontade, foi estratégia: dinheiro entra, informação circula, e eu precisava mostrar que a Pedreira ainda era território intocável. As luzes estouravam, o som fazia o chão tremer, a fumaça subia pesada no ar. Entre rostos borrados pelo breu e corpos suados dançando como se fosse o último dia de vida… eu vi ela.
Esmeralda.
Ruiva, pele clara, olhos verde que parecia brilhar mais que os refletores. Diferente de tudo o que já tinha passado pela minha frente. Não sei explicar. Não era só beleza. Era um ímã. Um choque. Aqueles olhos atravessaram minhas defesas, quebraram um muro que eu nem sabia que ainda existia dentro de mim.
Aquela noite não foi planejada, mas foi inevitável. O jeito que ela me olhou, como se visse além do homem que todos temiam, me desarmou. Esmeralda entregou pra mim a primeira vez dela, e isso… isso eu nunca tinha vivido. Não era só sexo. Era algo que me tirou do eixo, que me fez esquecer por algumas horas que eu era Falcão Frio, o dono da Pedreira. Naquele momento, eu fui só um homem.
Ela não pediu nada. Não prometeu nada. Só entregou o que tinha de mais puro naquela noite. A primeira vez dela. E depois sumiu. Desapareceu como se nunca tivesse existido, deixando apenas o nome gravado em mim.
Desde então, eu carrego essa lembrança como uma ferida aberta.
Já tentei apagar. Outras mulheres, outras noites, outras distrações. Mas nenhuma conseguiu ocupar o espaço que ela deixou. Nenhuma atravessou minhas defesas do jeito que ela atravessou.
Esmeralda me mostrou que, por trás do gelo, ainda existe algo que eu não conhecia. Algo perigoso. Porque aqui em cima, amor não é poesia, é punição. Um homem que sente é um homem vulnerável. E vulnerabilidade custa caro.
Mas eu não esqueço.
Não importa quanto tempo passe, sei que nossos caminhos vão se cruzar de novo. E quando isso acontecer, vai ser impossível fingir que nada mudou.
Eu, Falcão Frio, herdeiro da Pedreira, calculista, fechado, que nunca amou ninguém… já não sou mais o mesmo desde que ela atravessou minha vida.
Mesmo assim, não consigo apagar a sensação daquela noite. E no fundo, eu sei: cedo ou tarde, o destino vai botar aquela mulher de novo na minha frente. E quando isso acontecer, não vai ter cálculo, não vai ter regra, não vai ter Pedreira que segure o peso desse reencontro.
Porque, por mais que eu negue, a verdade é simples: o morro pode ser meu, mas meu coração… já não é só meu desde que Esmeralda cruzou o meu caminho.
E quando o amor invade um território proibido, até o mais frio dos homens descobre que não existe borracha no mundo capaz de apagar o que já foi escrito.