Capítulo 04 Luiz

1150 Words
Luiz Narrativa Fala aí, pessoal. Meu nome é Luiz Henrique. Tenho 37 anos, 1,87m de altura, sou moreno, alto e forte. Já ouvi dizer que tenho pinta de galã, e talvez até tenha mesmo. Há algum tempo atrás, eu era conhecido como o rei da mulherada. Não porque eu era dono de Morro ou por ter alguma patente alta – longe disso, nem do movimento era , na verdade nunca fui – mas porque sou carismático, de boa lábia e sei como tratar uma mulher. Cresci na comunidade. Meus pais já não estão mais por aqui, mas me ensinaram a ser esperto. Hoje em dia, trabalho no asfalto, tenho um cargo razoável num órgão público. Não vou entrar em detalhes, vocês entendem, né? Melhor deixar quieto. Conheci Marília há uns dois anos. Pensa numa morena que parece ter sido moldada à mão. Quando vi ela pela primeira vez, tive a certeza: essa vai ser minha. E, olha, não sosseguei até que fosse. Marília é daquelas mulheres que parecem uma pintura, e com uma inocência que dava vontade de proteger e moldar ao mesmo tempo. Sem família por perto, sozinha no mundão do Rio, eu sabia que seria o homem certo pra cuidar dela. A tarde comum, dessas que o sol parece que quer fritar o asfalto. Estava em casa, e Marília estava se arrumando pra sair. Tava toda bonitinha, com aquele vestidinho simples, mas que nela parecia roupa de passarela. Não era pra menos – ela era linda até sem esforço. Mas, do nada, algo me incomodou. – Está pensando que vai para onde Marília? – Perguntei a ela, enquanto calçava as sandálias –, tô indo pro curso. Hoje volto mais tarde, tá? – Ela virou de lado veio aquela sensação boa dos tempos que eu a conheci. Ela me olhou , meio desconfiada. – Curso? E por que não me avisou antes? Ela parou, me encarando. Marília – Ué, Luiz, te falei semana passada. É aquele curso de administração que eu te falei. Quero aprender mais coisa pra ver se consigo um trampo depois que o bebê nascer. – Balancei a cabeça negandö, olhei dentro dos olhos dela ela deu dois passos para trás. – Eu ainda não entendi para que tantos cursos. – Ela nunca foi de ficar quieta já tá indo para o terceiro curso. Respirei fundo, mas aquilo já tava martelando na minha cabeça. Desde que ela começou com esse curso, fiquei com uma pulga atrás da orelha. Não era ciúme bobo, mas… sei lá. Ela saía diferente, animada demais. Não parecia a Marília quietinha e caseira que eu conheci. – Sei lá, Marília. Eu não gosto dessas ideias, não. Curso, gente que a gente não conhece… – Ela suspirou, impaciente. Marília – Luiz, a gente já falou disso. É só um curso. Nada demais. – Cheguei mais perto dela, cruzando os braços. – Nada demais? Então por que você sai de casa toda arrumada. – Ela fez uma careta. Marília – Ah, pelo amor de Deus, Luiz. Agora eu não posso me arrumar pra sair? É isso? – Aquele tom dela, meio desafiador, me subiu o sangue. – Você tá grávida, Marília. Não devia nem estar se cansando com essas coisas. – Me irritou logo quando ela revirou os olhos e colocou um sorriso debochado no rosto. Marília – Eu tô cuidando do nosso futuro, Luiz. Você não entende? – Fala passando a mão na barriga. – Cuidando do futuro? Sei… ou será que tá arrumando desculpa pra sair por aí e… Marília – Luiz, pelo amor de Deus! – cortou ela, indignada. – Você está ouvindo o que tá falando? – Ela tentou passar por mim, mas eu não deixei. Segurei o braço dela, não com força, mas firme o suficiente pra ela parar. – Marília, você não vai. – Ela arregalou os olhos. Marília – Luiz, me solta. Não acredito que você está fazendo isso. Meu coração tava acelerado, minha cabeça cheia de pensamentos. Eu não queria brigar, mas a ideia de perder ela, de que algo podia estar acontecendo sem que eu soubesse, me deixava fora de mim. Ela é só minha e de mais ninguém. Ela tentou se soltar, mas eu segurei de novo, sem perceber que tava exagerando. Marília – Luiz, eu não tô me sentindo bem… – disse ela, com a voz fraquinha. Foi aí que tudo aconteceu rápido demais. Ela cambaleou, levou a mão à barriga e caiu no chão, com os olhos semicerrados. Fiquei paralisado por um segundo, sem acreditar. – Marília! – gritei, ajoelhando ao lado dela. – O desespero tomou conta. Eu não sabia o que fazer. Ela tava pálida, respirando rápido, a mão ainda na barriga. – Aguenta aí, meu Marília… – falei, tentando não perder paciência com ela. Peguei ela nos braços e saí correndo pro hospital. Não tinha tempo pra chamar ambulância, nada disso. Minha cabeça só pensava em salvar ela e o bebê. No hospital A espera foi agoniante. Eu fiquei sentado naquela sala fria, com o coração na mão. Marília tava lá dentro, sendo atendida, e eu não sabia o que pensar. Foi tudo culpa minha. Eu sabia disso. Depois de um tempo que pareceu uma eternidade, o médico apareceu. Médica – Parente da paciente Marília? – chamou ele. – Sou eu, sou o marido – respondi, levantando de um pulo. Ela me olhou sério. – Ela teve um pico de pressão por causa do estresse. Felizmente, conseguimos estabilizar ela e o bebê. Depois de um parto cesariano de emergência. Mas precisa descansar e evitar qualquer tipo de abalo emocional. Senti um peso sair do peitö, mas ao mesmo tempo, uma culpa gigantesca me atingiu, pois não está acreditando que eu não iria poder ver o filho. – Posso ver ela? – perguntei. Meu telefone tocou. Olhei na tela e vi que era Ludmila. Suspirei, irritado, e ergui os olhos para a médica, que me lançou um olhar meio atravessado. — É melhor não, porque o caso das duas é bem delicado. Mas manterei o senhor informado — disse ela. A filha da putä simplesmente virou as costas e me deixou plantado ali na recepção, com cara de i****a, sem entender por que diabos eu não podia ver a minha própria filha. O telefone insistia em tocar. Deslizei o dedo na tela e desliguei a ligação. Sai bufando do hospital, marchando em direção ao carro. Meu sonho sempre foi ter um filho com ela. Quando recebi a notícia de que seria uma menina, fiquei nervoso pra caralhö. Mas era a minha filha, p***a. Eu tinha todo o direito de vê-la. Quem aquela desgraçada pensa que é pra me impedir? O telefone vibrava sem parar. Liguei o carro e pisei fundo, indo direto para o Formiga. Entrei na garagem com tudo, ansioso para entender o que Ludmila tanto queria. Ela veio correndo e grudou no meu pescoço, num abraço apertado......
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