⸻
A luz da manhã escorria pela janela do quarto como dedos tímidos tentando tocar a pele dos dois corpos na cama.
Mas o calor que ficou da noite anterior parecia congelado agora.
Alicia acordou com um sorriso preguiçoso, os músculos ainda sensíveis, o corpo dolorido de prazer.
Virou-se, procurando por Rafael.
A cama estava vazia.
Ela sentou-se, enrolando-se no lençol.
Olhou ao redor.
Silêncio.
O cheiro dele ainda estava no travesseiro.
Levantou-se devagar, pegou a calcinha do chão, depois o vestido.
Desceu as escadas, descalça, os cabelos soltos e selvagens. Encontrou Rafael na cozinha, de terno impecável, camisa branca dobrada nos antebraços.
Ele estava com uma xícara de café na mão e os olhos fixos na tela do celular.
Frio. Imperturbável.
Como se a noite anterior nunca tivesse acontecido.
— Bom dia — ela disse com voz rouca, puxando um sorriso.
Rafael apenas a olhou de lado, subiu os olhos pelo corpo dela coberto pelo vestido amarrotado e respondeu seco:
— Preciso falar com você.
Ela se aproximou, tentando não demonstrar o desconforto pela frieza repentina.
— Claro.
— Quero que você termine com o Lucas. Hoje.
Alicia piscou.
— O quê?
— Você me ouviu.
Ela cruzou os braços.
— E por quê eu faria isso?
Ele colocou a xícara sobre a bancada com um baque seco.
— Porque eu não divido o que é meu.
Alicia deu um passo para trás.
— Ah, então é isso? Eu sou sua agora?
— Você sabe que é — ele respondeu, a voz baixa, grave, cheia de comando. — Ontem você gemeu como uma c****a na minha cama. Isso não foi só prazer. Foi entrega.
Ela riu, sem humor.
— E agora você me trata como se eu fosse uma desconhecida?
— Não misture as coisas, Alicia. O que aconteceu foi sexo. Intenso, sim. Mas só isso.
— Só isso? — a voz dela vacilou. — Então você quer que eu termine com o Lucas pra continuar sendo sua v***a particular?
Ele se aproximou lentamente, até estar diante dela.
— Não ponha palavras na minha boca. Mas sim.
Quero você disponível só pra mim.
Ela ergueu o queixo, desafiadora.
— Então não. Eu não vou terminar com o Lucas.
Virou-se para sair, mas Rafael segurou seu braço com força.
— Você vai. É questão de tempo.
Alicia arrancou o braço da mão dele.
— Quer me controlar? Vai se ferrar, Rafael.
Subiu as escadas e bateu a porta com força, o coração aos pulos.
E mesmo com a raiva crescendo dentro dela… estava molhada.
Maldito Rafael.
—
Mais tarde, na casa ao lado, Rafael estava no escritório da mansão herdada.
A pasta de couro sobre a mesa era antiga. Os papéis dentro, amarelados e frágeis.
Ele não sabia ao certo o que procurava, só sabia que precisava entender por que a imagem daquela mulher ruiva da fotografia o assombrava.
E por que parecia tanto com Alicia.
Folheou cartas, testamentos, documentos de compra e venda… até encontrar um envelope selado.
No canto, com letra cursiva delicada:
“Para Guilherme, o homem que eu mais amei.”
Assinado: Elena Vasconcellos.
O coração dele parou por um segundo.
Abriu o envelope com cuidado.
A primeira coisa que viu foi uma carta escrita à mão.
Em seguida, uma foto: uma mulher jovem, ruiva, com olhos amendoados, segurando um bebê recém-nascido.
O nome “Alicia” estava escrito atrás da foto.
Rafael levou a mão à boca.
— Meu Deus…
Era ela.
Aquela mulher era idêntica à Alicia.
E o bebê…
Ele leu a carta com atenção.
Era uma despedida.
Elena dizia que precisava entregar a filha para outra pessoa criar, que tinha medo do marido, e que jamais deixaria seu grande amor ser punido por sua traição.
Ela não mencionava nomes diretos. Mas deixava claro que estava partindo para longe.
E que o bebê não podia ficar com ela.
Rafael encostou-se na cadeira, sem ar.
Alicia era filha daquela mulher.
E aquela mulher… foi amante do seu tio-avô.
Alicia era herdeira de sangue.
Ele levantou-se e trancou os papéis de novo.
Ainda não contaria nada a ela. Nem à mãe.
Mas precisava ir mais fundo. Muito mais fundo.
—
Na casa de Alicia, Dolores havia voltado de viagem sem avisar.
Entrou em casa arrastando a mala, os olhos cansados, o rosto abatido.
Manu, a irmã mais nova de Alicia, correu pra abraçá-la.
— Mãe! Que saudade!
— Oi, meu amor — Dolores apertou a menina nos braços. — Cadê sua irmã?
— No quarto, se arrumando. Vai sair hoje.
Dolores subiu as escadas lentamente.
Encontrou Alicia no closet, colocando um vestido justo, preto com detalhes em prata.
— Voltou mais cedo? — Alicia perguntou, surpresa.
— Senti que precisava. Tive um sonho estranho. Com seu pai.
O clima esfriou.
— Eu tô indo sair com os meninos. Preciso distrair a cabeça.
Dolores a observou em silêncio.
— Alicia… Você está diferente.
— Crescendo, talvez.
— Ou se escondendo.
Alicia desviou o olhar.
Dolores ia sair do quarto quando viu, sobre a escrivaninha, um envelope com o nome “Elena” rabiscado num papel.
Ela congelou.
— Onde você viu esse nome?
Alicia se virou.
— É uma pesquisa pro TCC. Direito de herança familiar. Por quê?
Dolores ficou branca.
— Nada. Só me pareceu familiar.
— Tá tudo bem?
— Claro. Vai, se divirta.
Mas quando saiu do quarto, Dolores foi direto para o banheiro e vomitou.
O nome “Elena” a perseguia nos pesadelos.
E agora, surgia de novo, depois de tanto tempo enterrado.
O bar escolhido ficava num bairro nobre, música alta, luzes escuras, cheiro de álcool e perfume caro misturados no ar.
Alicia usava o vestido preto colado que fazia suas curvas saltarem como pecado em carne viva. Cabelos soltos, batom vinho nos lábios carnudos.
Não queria chamar atenção.
Queria provocar.
Queria fazer Rafael enlouquecer.
Lucas pegou na mão dela e girou devagar, encantado com a forma como o vestido se moldava no corpo dela.
— Você tá linda, sabia?
Ela sorriu, mas não respondeu.
Por dentro, sentia-se esfarelando.
Enquanto dançava com Lucas, os amigos ao redor riam, brincavam, se jogavam na pista.
Alicia fingia estar presente, mas sua mente vagava.
Toda vez que Lucas tocava sua cintura, ela lembrava das mãos de Rafael.
A pressão. A força. O domínio.
O olhar azul que queimava mais que qualquer palavra.
Ela serviu mais uma dose de tequila, virou de uma vez.
Sentia que estava sendo observada.
E estava.
Do outro lado da rua, dentro de um carro preto, Rafael segurava o volante com força.
Os olhos cravados no corpo de Alicia.
Ela estava rindo. Se divertindo. Dançando. E com Lucas.
O maxilar dele travava a cada movimento de Lucas mais próximo dela.
— Você é uma i****a… — ele murmurou, quase num rosnado.
Mas continuou ali.
Observando.
Sofrendo em silêncio.
—
Meia-noite. Alicia volta sozinha no carro, Lucas no banco do passageiro. Os amigos foram em outro.
— Hoje você tava estranha — Lucas comentou.
— Tô com coisa na cabeça.
— Rafael?
Ela não respondeu.
Mas bastou o silêncio para confirmar.
Ao chegar em casa, Alicia se despediu com um beijo.
Mas Lucas a puxou pela cintura.
— Quer subir?
Ela hesitou. Mas a imagem de Rafael exigindo que ela terminasse com ele passou como um raio.
Ela sorriu.
— Quero.
—
Rafael viu o carro parar.
Viu Alicia descer com Lucas.
E viu quando ela o puxou pela mão até dentro da casa.
Seu coração bateu como um tambor ensandecido.
Levantou-se do sofá, trêmulo.
Entrou na cozinha e socou a parede com tanta força que rachou o reboco.
— Filha da p**a… — ele rosnou, os olhos ardendo.
—
Na casa ao lado, Alicia encostava Lucas no sofá.
Começaram a se beijar.
Mas ela não sentia o mesmo calor.
Fechava os olhos com força, tentando fingir que era Rafael ali.
Mas Lucas era mais delicado, mais leve, mais… carente.
E ela queria ser tratada como Rafael fazia: possuída, usada, consumida.
Eles subiram pro quarto, e ela tirou o vestido com raiva.
Subiu no colo dele.
Montou.
Fez amor como se estivesse se punindo.
Do outro lado da rua, Rafael acendia um cigarro que nem fumava.
A mão ainda sangrava.
A alma também.
—
Na manhã seguinte, Alicia acordou com Lucas dormindo ao lado.
Levou-o até a porta de camisola — curta, sem calcinha, sem sutiã.
Os m*****s marcando o tecido.
Quando ele entrou no carro, ela se virou para entrar…
E deu de cara com Rafael.
Ele estava parado na calçada, braços cruzados, terno e óculos escuros.
Mas o olhar por trás das lentes era um incêndio.
— Bom dia — ela disse, fingindo calma.
— Desce aqui.
— O quê?
Ele caminhou até ela, tirou os óculos.
— Agora.
Ela hesitou, mas desceu o degrau.
Assim que ficou na altura dele, Rafael a puxou pela nuca, os dedos enroscando nos fios ruivos.
— Por que você tá brincando comigo, Alicia?
— Eu? Quem me usou e sumiu foi você.
— Você provocou — ele disse entre dentes. — E agora leva esse i****a pra sua cama?
— Pelo menos ele me trata como um ser humano.
Rafael riu, amargo.
— Eu te tratei como mulher. Te fiz gozar como nunca.
E então ele encostou os lábios nos dela, de súbito, brutal.
O beijo era raiva, posse, ódio e t***o.
Alicia tentou resistir… mas falhou.
As mãos dele desceram pela lateral do corpo, até enfiar os dedos por debaixo da camisola.
— Rafael… — ela gemeu, sem controle.
Ele a encostou na parede.
Dois dedos deslizaram entre suas pernas.
— Tá molhada por mim, não por ele — sussurrou no ouvido dela. — Tá vendo? Nem precisa do meu p*u pra te fazer gozar.
Ela explodiu nos dedos dele com um grito sufocado.
— Viu? Isso é só o começo.
Alicia arfava, sem força.
As pernas tremiam.
— Agora escuta bem — ele falou, arrumando o cabelo dela com brutalidade carinhosa. — Você não vai trazer mais ninguém pra cá.
Isso aqui é meu.
— Vai se ferrar, Rafael! — ela gritou.
Ele apenas sorriu e se afastou, caminhando de volta pra sua casa.
E Alicia ficou ali, sozinha, com o coração descompassado e a calcinha encharcada de novo…
Por ele.