Caio
Vinte minutos.
É o tempo que dei pra ela pensar.
Não sou um homem paciente — e todos sabem disso — mas com Isabela, alguma coisa em mim exige mais. Talvez seja o desafio. Talvez o instinto. Ou talvez, e isso me irrita profundamente, o fato de que ela me olha como se eu não fosse um deus nesse lugar.
E nesse morro, eu sou.
Desci pro salão principal da mansão, onde a mesa já estava posta. Frutas frescas, pão francês, café quente, geleia feita pelas cozinheiras da casa. Tudo impecável. Como sempre. Gosto do controle até no modo como me servem o café.
Sentei à cabeceira. De frente para a escada.
Esperei.
Cinco minutos. Dez.
Quinze.
A raiva começou a subir devagar, como uma chama que cresce dentro do peito.
Essa garota ainda não entendeu. Eu não sou um homem qualquer. Eu sou Caio Moreira. E ninguém me desafia duas vezes.
Estava prestes a levantar quando ouvi os passos.
Leves.
Hesitantes.
Ela apareceu no topo da escada. Cabelos soltos, rosto limpo, expressão dura. Tava usando a mesma camisola branca. E mesmo coberta até os joelhos, ela carregava um ar de sensualidade inocente que me fazia querer rasgar cada centímetro daquele tecido só pra ver o que ela ainda escondia de mim.
Nossos olhos se encontraram. E naquele segundo, ela soube.
Ela sabia que estava descendo não só os degraus da mansão.
Estava descendo pro meu mundo.
Ela parou a dois passos da mesa. Não sentou. Ficou em pé, como se estivesse pronta pra sair correndo.
— Achei que ia precisar subir — falei, sem desviar o olhar dela.
— Eu desci porque estava com fome — respondeu. Seca. Orgulhosa.
— Claro. — Sorri de canto. — A fome sempre vence a revolta.
Ela não respondeu. Apenas se sentou, mas o corpo todo estava tenso. Pegou uma fatia de pão, como se estivesse cumprindo uma sentença. Mastigou devagar, com o maxilar travado. Ela me odiava. Era óbvio. E, de algum modo, isso me divertia.
— Dormiu bem? — perguntei.
Ela riu. Um som curto, irônico.
— Você quer mesmo saber, ou é só teatro de quem se finge de civilizado?
— Eu nunca finjo. — Me inclinei sobre a mesa, encarando-a. — O que eu sou, todo mundo já sabe. Você só vai demorar um pouco mais pra entender o que isso significa na prática.
Ela largou o pão e empurrou o prato.
— Eu não vou me ajoelhar pra você.
Soltei uma risada baixa. Não de deboche. De fascínio.
— Não quero que se ajoelhe. Ainda. — Levei a xícara de café aos lábios. — Mas uma hora vai. Até as feras mais selvagens cedem quando a coleira é bem ajustada.
Ela se levantou bruscamente, empurrando a cadeira.
— Eu não sou uma fera. Eu sou uma mulher. E se você pensa que vai me transformar em uma das suas bonecas submissas, Caio, você vai se decepcionar.
Levantei também, com calma. Fui até ela. Fiquei perto o suficiente pra sentir sua respiração acelerada. O perfume de sabonete misturado ao medo. Ao orgulho.
— Você é uma mulher, sim. Uma linda. E é exatamente por isso que vai ser domada. Porque o que eu quero, eu pego. E o que eu pego, ninguém tira de mim.
Ela respirou fundo, os olhos marejados. Mas não virou o rosto. Não correu.
— O que você quer é alguém pra chamar de sua posse, não de sua parceira.
— Eu não acredito em parceria — respondi. — Acredito em poder. E você vai aprender a viver sob o meu.
Ela não respondeu. Só me encarou. O silêncio entre nós era denso. Quase erótico.
Raiva e desejo caminham lado a lado. Sempre caminharam.
Me aproximei mais. Encostei os dedos em sua cintura. Ela estremeceu. Não era nojo. Era o corpo traindo a mente.
— Da próxima vez que quiser me desafiar, faça melhor, princesa. Porque da próxima vez… talvez eu não te deixe dormir sozinha.
Soltei devagar e saí da sala antes que minha própria vontade falasse mais alto. Porque por mais que eu dominasse esse mundo…
Ela estava começando a dominar algo em mim também.
E isso…
isso me irritava profundamente.