Capítulo 5 – Domar Feras Nunca Foi o Problema

699 Words
Caio Vinte minutos. É o tempo que dei pra ela pensar. Não sou um homem paciente — e todos sabem disso — mas com Isabela, alguma coisa em mim exige mais. Talvez seja o desafio. Talvez o instinto. Ou talvez, e isso me irrita profundamente, o fato de que ela me olha como se eu não fosse um deus nesse lugar. E nesse morro, eu sou. Desci pro salão principal da mansão, onde a mesa já estava posta. Frutas frescas, pão francês, café quente, geleia feita pelas cozinheiras da casa. Tudo impecável. Como sempre. Gosto do controle até no modo como me servem o café. Sentei à cabeceira. De frente para a escada. Esperei. Cinco minutos. Dez. Quinze. A raiva começou a subir devagar, como uma chama que cresce dentro do peito. Essa garota ainda não entendeu. Eu não sou um homem qualquer. Eu sou Caio Moreira. E ninguém me desafia duas vezes. Estava prestes a levantar quando ouvi os passos. Leves. Hesitantes. Ela apareceu no topo da escada. Cabelos soltos, rosto limpo, expressão dura. Tava usando a mesma camisola branca. E mesmo coberta até os joelhos, ela carregava um ar de sensualidade inocente que me fazia querer rasgar cada centímetro daquele tecido só pra ver o que ela ainda escondia de mim. Nossos olhos se encontraram. E naquele segundo, ela soube. Ela sabia que estava descendo não só os degraus da mansão. Estava descendo pro meu mundo. Ela parou a dois passos da mesa. Não sentou. Ficou em pé, como se estivesse pronta pra sair correndo. — Achei que ia precisar subir — falei, sem desviar o olhar dela. — Eu desci porque estava com fome — respondeu. Seca. Orgulhosa. — Claro. — Sorri de canto. — A fome sempre vence a revolta. Ela não respondeu. Apenas se sentou, mas o corpo todo estava tenso. Pegou uma fatia de pão, como se estivesse cumprindo uma sentença. Mastigou devagar, com o maxilar travado. Ela me odiava. Era óbvio. E, de algum modo, isso me divertia. — Dormiu bem? — perguntei. Ela riu. Um som curto, irônico. — Você quer mesmo saber, ou é só teatro de quem se finge de civilizado? — Eu nunca finjo. — Me inclinei sobre a mesa, encarando-a. — O que eu sou, todo mundo já sabe. Você só vai demorar um pouco mais pra entender o que isso significa na prática. Ela largou o pão e empurrou o prato. — Eu não vou me ajoelhar pra você. Soltei uma risada baixa. Não de deboche. De fascínio. — Não quero que se ajoelhe. Ainda. — Levei a xícara de café aos lábios. — Mas uma hora vai. Até as feras mais selvagens cedem quando a coleira é bem ajustada. Ela se levantou bruscamente, empurrando a cadeira. — Eu não sou uma fera. Eu sou uma mulher. E se você pensa que vai me transformar em uma das suas bonecas submissas, Caio, você vai se decepcionar. Levantei também, com calma. Fui até ela. Fiquei perto o suficiente pra sentir sua respiração acelerada. O perfume de sabonete misturado ao medo. Ao orgulho. — Você é uma mulher, sim. Uma linda. E é exatamente por isso que vai ser domada. Porque o que eu quero, eu pego. E o que eu pego, ninguém tira de mim. Ela respirou fundo, os olhos marejados. Mas não virou o rosto. Não correu. — O que você quer é alguém pra chamar de sua posse, não de sua parceira. — Eu não acredito em parceria — respondi. — Acredito em poder. E você vai aprender a viver sob o meu. Ela não respondeu. Só me encarou. O silêncio entre nós era denso. Quase erótico. Raiva e desejo caminham lado a lado. Sempre caminharam. Me aproximei mais. Encostei os dedos em sua cintura. Ela estremeceu. Não era nojo. Era o corpo traindo a mente. — Da próxima vez que quiser me desafiar, faça melhor, princesa. Porque da próxima vez… talvez eu não te deixe dormir sozinha. Soltei devagar e saí da sala antes que minha própria vontade falasse mais alto. Porque por mais que eu dominasse esse mundo… Ela estava começando a dominar algo em mim também. E isso… isso me irritava profundamente.
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