"Acreditar ao menos na possibilidade de um final feliz é uma coisa muito poderosa."
— Once Upon a Time
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Taehyung
Já se passaram duas semanas desde que tive contato com qualquer humano. E, para ser sincero, talvez assim seja melhor... ou pelo menos é o que tento acreditar.
Não vou mentir: foi bom fingir que sou normal. Viver entre eles, passar mais tempo com a Jennie, ter encontros inesperados com Jungkook…
Às vezes até achei que ele estava me seguindo, mas, segundo suas palavras:
— “Qualquer semelhança é mera coincidência.”
Hoje o dia está nublado e levemente frio — perfeito para mim. Mas há algo me incomodando. Sinto-me mais agressivo do que o normal.
Como se estivesse esquecendo algo… Mas o quê?
O céu escurece aos poucos, e a noite, sempre tão bela, começa a se revelar. As estrelas, a lua... O universo é tão vasto e indecifrável. Nessas horas, minha mente vagueia para pensamentos estranhos:
Será que existe mesmo um multiverso?
O que há dentro do Triângulo das Bermudas?
Como pode existir alguém como eu?
Será que os gatos vão dominar o mundo?
Dou um sorriso pequeno com esses devaneios, mas então meus olhos encontram a lua...
Merda. Merda. Como eu pude esquecer?
Volto à minha forma humana e corro para casa. Me encolho em um canto e começo a me acorrentar. Odeio isso.
Ser uma aberração já é r**m o bastante, mas ser forçado a se transformar em um monstro durante a lua cheia... é como ser condenado a reviver o mesmo pesadelo.
Olho para a janela. Ela está lá — cheia, imensa, implacável.
Quando conheci Jeon Jungkook, pensei, pela primeira vez, que talvez... só talvez... minha vida pudesse ter um final feliz.
Mas a realidade sempre volta para lembrar quem eu sou.
A dor começa. Os ossos se contorcem, racham e se quebram. A transformação me arrasta sem piedade.
Cada final feliz começa com um “Era uma vez”, não é? Mas a vida não é um conto de fadas.
É complexa, fria e aleatória.
Somos como estrelas perdidas em galáxias distantes, desejando algo que parece sempre fora de alcance.
E se, no fim das contas, eu for só um figurante na história de alguém? Ou talvez o vilão que todo mundo teme.
Prefiro acreditar que sou o protagonista da minha própria tragédia.
A dor me atinge novamente. Meu corpo treme.
Meus lobos se posicionam ao redor da casa. Mando que se afastem, mas eles se recusam. Eles querem me proteger — ou proteger o mundo de mim. Isso me toca.
A transformação avança. A dor triplica. A lua cheia nunca tem piedade.
Então ouço sua voz.
— Taehyung, me deixa passar.— É Jungkook.
Não. Não. Não hoje. Por que ele veio logo hoje?
— Vai embora! — respondo entre gritos.
— Eu preciso te ajudar!
— Você não pode! — grito mais alto. — Por favor, vá embora.
— Por que não me deixa entrar na sua vida? — sua voz está perto. Muito perto.
— Não preciso de mais alguém me chamando de aberração. — murmuro, mais para mim mesmo do que para ele.
Mas Jungkook escutou. Claro que escutou.
— Eu quero te ajudar. Me deixa, por favor.
Outro grito escapa de mim. Meu corpo se parte em pedaços de dor e vergonha.
— O que está acontecendo, Taehyung?!
— A lua... — minha voz começa a mudar. Fica mais grossa. Instintiva.
A b***a está vencendo.
— Eu quero te conhecer. Ficar com você. Me deixa entrar.
Por que ele insiste?
— Um dia, vou te machucar. Ou você vai me trair. É sempre assim. Um ciclo sem fim... AAH!
Mais dor.
— Eu não vou te machucar, Tae. Confia em mim. — sua voz treme. Ele está chorando?
— Você já entrou numa situação sabendo exatamente como ia terminar?
— Sim. — respondo em sussurro.
— Mas mesmo assim, você entra. E quando tudo desmorona, você se tortura porque... já sabia.
Outro uivo de dor rasga minha garganta.
— Mas isso sou eu. Sempre fui assim. Me punindo. Sozinho.
— Você não precisa passar por isso sozinho... — diz ele.
— Preciso sim. — minha voz é um sussurro sufocado. — Sempre estive sozinho. Isso nunca vai mudar.
Pausa. Silêncio.
— Minha história nunca começou com um ‘Era uma vez’. E definitivamente não vai terminar com um ‘felizes para sempre’.
Solto uma risada amarga.
— Malditos contos de fadas...
— Eu quero te ver. — ele diz.
Mas eu não posso permitir. Não nesse estado. Não agora.
Do outro lado da porta, sinto seu corpo escorregar até o chão. Ele está ali. Esperando por mim.
— Eu vou te esperar, Kim Taehyung. — sua voz é calma, firme.
Ele está determinado.
E então, ouço seus passos se afastando.
Ele foi até minha pedra favorita — aquela onde vejo o horizonte.
Ele foi me esperar lá. Mesmo que eu não volte.
Mesmo que eu me perca completamente.
Mas, por algum motivo, eu sinto...
Que ainda há esperança.
Que talvez... só talvez...
Ainda exista a possibilidade de um final feliz.
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