Dante
A mensagem que enviamos aos Caruso foi clara: Antonio era nosso prisioneiro, e não haveria espaço para acordos. A resposta deles não tardaria, disso eu tinha certeza. A questão era como e quando. O silêncio de Palermo naquela noite era traiçoeiro, como se a cidade estivesse prendendo a respiração antes da tempestade.
No escritório, a fumaça do meu charuto subia lenta, se misturando ao ar carregado de tensão. Luca estava ao meu lado, revisando os relatórios de segurança, enquanto Giuseppe permanecia em pé perto da janela, observando a escuridão lá fora como se pudesse prever o próximo movimento dos Caruso.
— Você acha que eles vão tentar alguma coisa esta noite? — perguntei, quebrando o silêncio.
Giuseppe virou-se lentamente, seu rosto sério, mas tranquilo.
— Se fossem inteligentes, esperariam. Mas Antonio é um dos favoritos do Don Caruso. Isso pode nublar o julgamento deles. Não podemos descartar uma retaliação imediata.
Luca bufou, jogando o papel sobre a mesa.
— Eles não são burros. Atacar agora seria suicídio. Você reforçou os homens nas entradas, certo?
— Sim, mas não subestime o desespero. A honra ferida é uma arma poderosa, Luca. — retruquei, afundando na cadeira e apagando o charuto no cinzeiro.
— E quanto ao Antonio? — Giuseppe perguntou.
— Por enquanto, deixem-no viver. Quero que ele sinta o peso do medo, que reflita sobre a lealdade que jurou à família dele. E quando for útil, decidiremos o que fazer.
***
Antonio estava detido em uma das adegas da villa, um lugar frio e úmido, perfeito para quebrar qualquer homem. Quando desci até lá, encontrei-o amarrado a uma cadeira de madeira, a cabeça caída para frente, o rosto sujo de sangue seco. Um dos meus homens, Carlo, estava encostado na parede, fumando tranquilamente.
— Ele falou alguma coisa? — perguntei, olhando para Antonio, que m*l parecia consciente.
Carlo deu de ombros.
— Nada que valha a pena. Ele está tentando bancar o durão.
Aproximei-me, pegando uma cadeira e a arrastando pelo chão, o som ecoando pelas paredes de pedra. Sentei-me de frente para Antonio, observando-o por um momento antes de falar.
— Antonio, acorda.
Ele levantou a cabeça com dificuldade, os olhos semicerrados, mas ainda com um brilho de desafio.
— Você acha que isso vai acabar bem para você, Rossi? Meu tio vai te caçar até o inferno.
Sorri levemente, balançando a cabeça.
— Acho engraçado como vocês, Caruso, sempre têm tanta certeza de tudo. Foi essa confiança que te trouxe até aqui, não foi? Você achou que podia atacar o porto e sair ileso. Agora olhe para você.
Ele riu, um som fraco e rouco.
— Você pode me matar, mas não vai ganhar essa guerra. Meu tio tem aliados que você nem imagina. Você é apenas um garoto brincando de ser Don.
Minha mão se moveu antes que eu percebesse, e o som do tapa ecoou na sala. Ele cuspiu sangue no chão, mas seu sorriso cínico permaneceu.
— Acha que isso me assusta, Dante? Já vi coisas piores.
Inclinei-me para frente, meu rosto a poucos centímetros do dele.
— Eu não preciso que você tenha medo, Antonio. Preciso que o seu tio saiba que o que aconteceu com você é apenas o começo. Quando eu terminar, não vai sobrar ninguém para lembrar o nome Caruso.
Levantei-me, sinalizando para Carlo.
— Mantenha-o vivo, mas não confortável. Quero que ele sinta cada minuto.
Carlo assentiu, e eu saí da adega, o som dos gemidos de Antonio me seguindo até as escadas.
No dia seguinte, a notícia chegou. Um dos nossos homens foi encontrado morto em uma das áreas mais movimentadas de Palermo, uma faca cravada em seu peito com uma nota presa. Giuseppe colocou o bilhete sobre a mesa enquanto Luca e eu examinávamos.
"Libere Antonio, ou os corpos continuarão aparecendo. Esta é a única chance de paz."
Eu ri, um som seco e sem humor.
— Paz? Eles chamam isso de paz?
Luca bufou, jogando as mãos para o alto.
— Eles estão blefando. Se quisermos corpos, podemos dar a eles muito mais do que isso. Deveríamos retaliar agora.
Giuseppe, sempre o mais calmo de nós, colocou a mão no ombro de Luca.
— Cuidado com as palavras. Retaliar sem estratégia é o que eles querem. Precisamos ser mais inteligentes do que isso.
Olhei para os dois, sentindo o peso da decisão sobre mim.
— Luca está certo em parte. Não podemos mostrar fraqueza, mas também não podemos agir como eles esperam. Quero que reforcem a segurança nos nossos pontos principais. E, Giuseppe, comece a espalhar rumores sobre uma aliança nossa com os Bellini. Vamos ver como os Caruso reagem quando acharem que têm dois inimigos ao invés de um.
Giuseppe sorriu levemente.
— Você é mais parecido com seu pai do que imagina.
Ignorei o comentário, focando no bilhete.
— E quanto ao corpo?
— Já cuidamos disso.
— Bom. Então agora jogamos o nosso jogo.
À medida que o dia avançava, mais informações chegavam. Descobrimos que os Caruso estavam reforçando suas operações no sul da cidade, provavelmente antecipando uma resposta nossa. Era a oportunidade perfeita.
À noite, reuni meus homens no salão principal da villa. Estavam todos lá, cada rosto familiar, cada expressão grave.
— Os Caruso acham que podem nos intimidar, que podem nos forçar a liberar Antonio. Eles subestimam nossa força, nossa determinação. Esta noite, nós mostramos a eles o erro que cometeram. Vamos atacar seus depósitos no sul. Destruir tudo. Quero que sintam o peso de desafiar os Rossi.
Os murmúrios de concordância se espalharam pela sala, e Luca se aproximou, apertando meu ombro.
— Estamos com você, Dante. Sempre.
***
A operação foi rápida e brutal. Invadimos os depósitos sob o manto da escuridão, movendo-nos como fantasmas pelas ruas estreitas de Palermo. As explosões iluminaram a noite, e o cheiro de pólvora e destruição preencheu o ar.
Os Caruso tentaram resistir, mas estavam despreparados. O pânico em seus rostos era evidente, e a sensação de vitória pulsava em minhas veias.
Enquanto o último depósito queimava, voltei-me para Luca, que observava a cena com um sorriso satisfeito.
— Isso é o que acontece quando mexem conosco. Eles vão pensar duas vezes antes de tentar algo novamente.
— A guerra está só começando, Dante, — ele respondeu. — Mas esta noite, vencemos.
Olhei para as chamas, sentindo o calor contra minha pele e o peso da responsabilidade sobre meus ombros.
— Sim, Luca. Mas a guerra nunca acaba realmente. Não enquanto houver poder para ser conquistado.
E naquela noite, enquanto Palermo brilhava com o fogo da nossa vitória, sabia que o nome Rossi seria gravado na história. Mas o preço seria alto, e eu estava disposto a pagá-lo. Cada centavo, cada gota de sangue.