Imperdoável

Quero me apresentar, falar um pouquinho sobre mim, afinal essa história que vou lhes contar é sobre minha vingança. Peço encarecidamente que não me julgue sem antes conhecer meus motivos, pois irei abrir meu coração para lhes revelar o que tem matado a alegria de viver e todos os meus planos sobre uma vida feliz e digna. Na época que fui morar com minha avó Tereza na mansão D' Ávila eu ainda era uma menina de nove anos. Estava traumatizada com o fato de perder minha mãe de uma forma tão brutal e triste. Antes de falar sobre minha amada avó, preciso contar sobre minha mãe e como cheguei a esse mundo tão cruel... Minha mãe se chamava Rosália, uma mulher muito bonita, que chamava a atenção por onde quer que passava. Porém o que mais atraia em Rosalia não era apenas sua aparência física, mas sim sua bondade e seu coração puro. Minha avó me contava algumas coisas sobre ela mas acabava em lágrimas e eu comovida pedia para ela parar de falar. Não queria vê-la reviver o passado e sofrer. Mesmo querendo saber mais sobre a mulher que me deu a vida. Rosália vivia com minha avó em uma casinha simples e aconchegante nos fundos da magestosa mansão. Ali uma viúva honrada criava sua única filha com todo seu amor e dedicação. Minha mãe ajudava nos afazeres domésticos e mais tarde já na sua adolescência se destacou na culinária e a senhora Luiza a patroa, elogiava sempre sua comida e a contratou como cozinheira oficial da família. Minha mãe estava feliz, o salário lhe permitia estudar, seu sonho era ser uma grande médica veterinária, pois sempre demonstrou seu amor pelos animais. Seguia sua vida tranquila até que se apaixonou perdidamente por um homem que minha avó não aprovava pois era muito rico e vovó suspeitava de que ele só queria brincar com os sentimentos de minha mãe. Vovó tinha plena razão, mas uma jovem de dezoito anos iludida com o amor de um homem não pode dar ouvidos a sua sabia mãe e se entregou a sua doce ilusão. Vovó não me revelou quem era esse homem rico, mas jurava de alma que ele não era meu pai. Que ninguém sabia quem era meu pai o que é uma das muitas tristezas que carrego no meu coração. Minha mãe viveu um romance intenso com esse homem que nem o nome eu sei e depois fugiu com ele da mansão. Vovó Tereza me contou que por nove anos não teve notícias de minha mãe. Mesmo buscando por ajuda na polícia, nunca soube onde sua única filha estava. No mesmo ano em que apareci na mansão sendo levada por um segurança que fazia a guarda daquele lugar minha vida teria uma nova versão. Então aquele dia ficou marcado com o momento em que conheci minha avó. Ela me abraçou e chorou, precisou ser hospitalizada pois teve um início de parada cardíaca e eu apenas uma criança tentava entender tudo aquilo. Havia perdido minha mãe, morava já há alguns meses em um orfanato para meninas, reprimindo minha angústia por estar completamente sozinha. Mas minha alma infantil estava feliz por ter descoberto uma avó que vivia em outra cidade, assim não estaria abandonada, teria alguém por mim e fui feliz me encontrar com ela. E assim feito uma colcha de retalhos minha avó foi costurando minha história unida ao passado sombrio de minha mãe que estava morta. Eu tinha apenas nove anos e tinha sede por justiça, queria descobrir o que realmente tinha acontecido a minha mãe na noite em que um telefonema a levou para longe de mim. A minha história só terá sentido no instante em que descobrir a verdade sobre a vida da minha mãe e sobre a minha história... .... Diana fechou o diário sobre a mesa assim que ouviu batidas na porta do seu quarto. Era sua avó, Tereza carregava naquele olhar cansado toda a angústia de ter sepultado sua única filha e deixado a ela uma neta que talvez não tivesse vida suficiente para ampara-la. ___ Diana hoje teremos visitas importantes na mansão... Preciso de sua ajuda! (Disse Tereza) Diana sorriu, precisava guardar sua dor para ajudar a avó que já sofria a muito tempo antes dela. ___ Coloque o uniforme e seja cuidadosa... (Pediu Tereza) ___ Quem vai chegar? (Perguntou Diana tirando a roupa) A avô a observou, já não era mais uma menina assustada que havia chegado há nove anos atrás naquela casa. Sua neta havia se tornado uma linda moça. Diana trocou rapidamente e teve a ajuda da avó para fechar o zíper invisível nas costas. Nem mesmo o discreto uniforme de empregada podia esconder a beleza surreal da menina: ___ Lembra-se do que lhe disse sobre os homens dessa família... Mantenha se longe deles... (Disse Tereza) ___ A senhora tem tanto medo dos homens da família D' Ávila... Será que meu pai pode ser um deles, ou mesmo o irmão da senhora Luiza? (Disse Diana confusa) Tereza a olhou com os olhos azuis saltando de órbita. Seu rosto corado se tornou pálido e sem semblante se tornou paralisado mediante as palavras da neta: ___ O que foi vovó? Falei alguma besteira? (Perguntou Diana) ___ Nunca mais repita um absurdo desse... (Pediu Tereza sem ar com a mão no peito sentindo dor) ___ Mas é uma possibilidade... Afinal de contas a senhora vive me escondendo a verdade desde de sempre. Meu pai pode ser um desses homens ricos parentes da dona Luiza, não posso ser filha de vento... Tereza derramou algumas lágrimas e segurou firme na mão de Diana: ___ As vezes minha filha é muito melhor nos contentar com a falta da verdade, pois evitemos maiores sofrimentos... Um dia poderei contar tudo a você... Tenha certeza disso... estou poupando sofrimentos... Diana sentiu pena de ver a avó naquele estado deprimente. Respirou fundo e a abraçou: ___ Me prometa minha filha que jamais vai buscar pela verdade sobre seu pai... Sabe que não precisa desse homem para viver. Enquanto eu estiver viva não vai lhe faltar nada! Diana prometeu em silêncio, apenas concordou com a cabeça, mas sua alma não estava de acordo. Ela queria a verdade, queria descobrir o restante de sua história que sua avó temia lhe revelar. Cada vez mais Diana imaginava que seu pai poderia ser um dos homens da família D' Ávila, nada tirava isso de sua cabeça e estava disposta a investigar por conta própria.