Eva encarava seu reflexo no espelho do quarto ainda desarrumado. A casa em Washington era espaçosa e bem decorada, mas não parecia sua. Nada ali carregava sua história, suas memórias ou qualquer vestígio de um passado que ela queria, mas não podia recuperar.
Seus olhos azuis vagavam pelo próprio rosto. Ela tinha uma beleza delicada, quase etérea, como se tivesse sido desenhada com traços suaves. Os cabelos loiros caiam em ondas finas sobre os ombros, e pequenas sardas estavam salpicadas pelo nariz e bochechas, algo que sempre a incomodara. Seu rosto era fino, a pele clara demais, e os lábios carnudos tinham um tom rosado natural.
Todos sempre disseram que ela era linda.
Mas Eva nunca se sentiu assim.
Na Itália, crescera cercada por mulheres de beleza intensa, morenas de pele dourada pelo sol, de traços marcantes e confiança exalando em cada movimento. Elas eram encantadoras, exuberantes, e ela se sentia apenas... comum.
Suspirou, desviando o olhar para o uniforme que vestia.
Uma saia plissada escura, um camisete branco impecável e... uma gravata.
Ela puxou o tecido escuro no pescoço, franzindo a testa com irritação.
“Por que meninas precisam usar gravata?” murmurou para si mesma.
O uniforme não era feio, mas Eva nunca gostou de roupas formais. E o pior não era a roupa em si, mas o significado que ela carregava. A Excelência Academia era um internato rígido, e os alunos só poderiam voltar para casa nos fins de semana.
Eva não gostava da ideia de passar dias inteiros naquele lugar, cercada por desconhecidos, sem seu quarto, sem sua privacidade.
Ela nunca teve muitos amigos. Era reservada, observadora, preferia a solidão a conversas vazias. E agora, teria que viver entre jovens arrogantes, filhos de empresários poderosos, de diplomatas, de famílias da realeza.
Sentiu um peso apertar seu peito.
Será que teria um quarto só para si?
Se tivesse que dividir espaço com outras garotas, aquilo se tornaria um pesadelo.
Lá embaixo, a voz de Sofia ecoou pela casa.
“Eva, querida, vamos! Ou vamos nos atrasar!”
Ela soltou um longo suspiro, lançando um último olhar ao quarto. m*l havia tido tempo de desempacotar suas coisas, e agora já estava saindo para uma nova rotina.
"Vou arrumar tudo no final de semana", prometeu a si mesma antes de pegar sua mochila e sair.
A viagem até a Excelência Academia duraria duas horas.
Eva se acomodou no banco de trás do carro, enquanto Luca dirigia e Sofia falava animadamente sobre a nova fase da filha.
Mas Eva não prestava atenção.
Seus olhos estavam fixos na paisagem do lado de fora.
O céu cinzento de Washington parecia refletir sua inquietação. Árvores imensas cercavam a estrada, e tudo parecia isolado, distante da civilização.
E então, sem querer, sua mente vagou para Carlos.
Seria possível que ele estivesse na América?
A ideia foi como uma brisa inesperada, que balançou seu coração de uma forma estranha.
E se, por um milagre, o encontrasse?
Sentiu o peito acelerar com a esperança repentina.
Mas logo depois se repreendeu.
"Chega", pensou, apertando os dedos contra a saia.
Já haviam se passado seis anos.
Ela tinha dezessete agora.
Não podia continuar presa a um amor de infância.
Carlos nunca voltou.
Nunca enviou uma carta.
Nunca deu qualquer sinal de vida.
Se estivesse vivo, já teria voltado para cumprir sua promessa.
Mas não voltou.
E, por mais doloroso que fosse admitir, talvez fosse hora de finalmente seguir em frente.
Eva desviou o olhar da janela, tentando afastar aqueles pensamentos.
No banco da frente, Luca falava sobre a empresa que abriria na América. Ele havia conseguido sair da máfia, algo que poucos homens conseguiam fazer com vida. Sofia estava radiante com a nova vida, o novo começo.
“Eva, você está ouvindo? “ Sofia virou-se no banco, sorrindo.
“ Hm?”
“ Perguntei como está se sentindo filha.”
Eva forçou um sorriso.
“Estou bem.”
Sofia analisou o rosto da filha por um momento, mas não insistiu.
Eva sabia que sua mãe queria que ela estivesse animada. Era uma oportunidade incrível, uma escola de elite, um futuro brilhante.
Mas algo dentro dela ainda se sentia deslocado.
Como se uma parte sua tivesse ficado para trás.
Quando o carro finalmente passou pelos portões da Excelência Academia, Eva sentiu o estômago revirar.
A escola mais parecia uma cidade.
Os prédios eram enormes, imponentes, cercados por jardins impecáveis e estátuas de mármore. Alunos caminhavam elegantemente pelos caminhos de pedra, vestidos com os mesmos uniformes que ela usava.
Havia algo intimidador naquele lugar.
O portão de ferro atrás deles se fechou com um estrondo surdo.
Não havia volta.
Luca parou o carro próximo à entrada principal, onde um grupo de professores e funcionários recebia os novos alunos.
Sofia se virou para Eva, segurando sua mão com carinho.
“Sei que pode ser assustador no começo, mas quero que se lembre de uma coisa, minha querida: você é incrível. Não deixe ninguém te fazer sentir diferente.”
Luca sorriu para ela pelo retrovisor.
“ E se alguém mexer com você, me avise. Eu quebro as pernas deles.’
Eva soltou uma risada pelo nariz.
“Luca! “, Sofia repreendeu, mas havia humor em sua voz.
Ele deu de ombros.
“Eu falo sério.”
Eva sorriu, sentindo um aperto no peito.
Ele realmente a tratava como filha.
E, apesar de tudo, ela sabia que o amava.
Respirou fundo antes de abrir a porta do carro.
O vento frio bateu em seu rosto.
E, com passos hesitantes, ela deu início ao primeiro dia de sua nova vida.