Desci o morro com passos pesados, sem pressa. Cada batida do meu tênis no chão soava mais alto que o normal, como se a rua inteira estivesse prestando atenção em mim. O envelope seguia no bolso da bermuda, dobrado, quente. Dava até pra sentir o relevo da letra do pai dela no papel, como se aquilo tivesse queimado direto na minha pele. Quando cheguei no portão, parei por um segundo antes de entrar. Respira, p***a. Não vai surtar. Abri devagar. O som familiar da tranca rangendo pareceu mais alto do que devia. A casa tava silenciosa. Tão silenciosa que o barulho do ventilador da sala parecia um motor. Entrei. Ela tava ali, no chão da sala, sentada com as pernas cruzadas, dobrando uns paninhos do bebê. A TV tava ligada, mas no mudo. Ela mordia o canto da boca, concentrada, como se estive

