Narrado por Helena
A imagem do corpo caído à minha frente ainda me assombrava. Cada detalhe — o sangue escorrendo, os olhos vidrados, a respiração que cessara — estava tatuado na minha mente. Mas o que mais me perturbava não era a morte. Era Rafael.
O olhar dele quando me encontrou naquela cena. Era medo? Raiva? Dúvida? Não... era algo mais profundo. Uma mistura c***l de preocupação e decepção. Como se, por um segundo, ele tivesse acreditado que eu fosse capaz daquilo.
Fui levada à delegacia para depor. Claro. Protocolo. Mas o interrogatório foi frio. Preciso. Rafael manteve o tom profissional.
Nenhum toque, nenhum olhar pessoal. Só perguntas.
— O que estava fazendo lá? — ele perguntou, gravador ligado.
— Seguindo uma pista. Uma mensagem anônima. A mesma que recebi dias atrás.
— E não achou prudente nos comunicar?
Cruzei os braços.
— Eu não confio em todo mundo aqui dentro.
Houve uma pausa. Ele desligou o gravador, apoiou os cotovelos sobre a mesa e se aproximou.
— E em mim, Helena? Você confia em mim?
A pergunta ficou no ar como um sussurro íntimo. Mas não havia espaço para i********e ali. Meu mundo e o dele estavam em colisão. E, no impacto, alguém sairia ferido.
À noite, no silêncio do meu apartamento, comecei a revisar o caso. A testemunha morta não era qualquer um — ele era elo direto com um dos líderes do cartel. E alguém sabia disso. Alguém o queria morto.
Revisei os arquivos. Voltei às mensagens anônimas. Havia um padrão. Um número que se repetia. Um código. E uma sigla: L.M.
Leonardo Mendes.
Meu estômago revirou. Ele era um dos promotores do caso. Um ex-colega. Um ex-amante. Um homem perigoso, que escondia muito por trás do terno bem cortado e do sorriso gentil.
Peguei o telefone. Precisava avisar Rafael. Mas parei.
Porque se eu o envolvesse, colocaria um alvo nas costas dele também. E eu já tinha perdido gente demais. Eu não perderia Rafael.