Episódio 6

434 Words
Narrado por Rafael Não dormi naquela noite. Helena apareceu em sonhos, como sempre, mas agora com sangue nas mãos e medo nos olhos. A verdade era que eu não sabia mais distinguir o certo do errado quando ela estava envolvida. Ela dizia estar ali para defender seus clientes. Mas algo naquele caso a envolvia de forma mais pessoal. Mais profunda. E eu precisava descobrir o que era. No dia seguinte, voltei à cena do crime. Algo me incomodava. Uma câmera de segurança próxima havia sido ignorada pela perícia. Solicitei as imagens. Horas depois, assisti ao vídeo. E vi. Helena entrando. Dois minutos depois, outro homem. Alto. Elegante. Cabelos escuros. Leonardo Mendes. Meu estômago se fechou. Ele era promotor, sim. Mas não devia estar lá. E saiu sozinho. — Filha da mãe — murmurei. Corri para confrontá-lo. Encontrei-o no Ministério Público. Cínico. Com um sorriso irritante no rosto. — Rafael. A que devo a honra? — O que fazia no galpão no Brás? — disparei. Ele arqueou as sobrancelhas. — Não entendo do que está falando. — Não brinque comigo, Mendes. Eu vi as imagens. Você saiu depois que o informante foi morto. Ele riu, frio. — E você pretende fazer o quê? Prender um promotor com base em vídeos? Sem som? Sem contexto? Minha raiva quase transbordou. — Eu vou te derrubar, Leonardo. Pode apostar. — Boa sorte. — E se aproximou, sussurrando: — Cuide da Helena. Ela se mete em coisas maiores do que você imagina. Saí de lá com a certeza de que ele estava envolvido até o pescoço. E que Helena estava no centro de algo muito mais perigoso. À noite, fui até o apartamento dela. Não bati. Ela abriu como se já me esperasse. — Rafael... — Precisamos conversar. Agora. Ela recuou. Me deixou entrar. E, naquele momento, soube: ou confiávamos um no outro, ou cairíamos sozinhos. — Eu sei sobre Leonardo. Sei que vocês têm história. E sei que ele está envolvido. Ela não negou. Sentou. A expressão abalada. — Eu estava tentando te proteger. Mas não dá mais. Então contou tudo. O caso que Leonardo havia forjado anos antes. As ameaças veladas. O uso de provas falsas para manipular resultados. E como, agora, ele tentava se proteger eliminando qualquer um que pudesse falar. — E eu? — perguntei. — O que eu sou nisso tudo, Helena? Ela se aproximou. Tocou meu rosto. — Você é a única coisa real no meio desse inferno. Nos beijamos ali mesmo. Dessa vez, não houve urgência. Só verdade. E medo. Porque sabíamos que o que sentíamos poderia nos salvar. Ou nos destruir.
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