Narrado por Rafael
Não dormi naquela noite. Helena apareceu em sonhos, como sempre, mas agora com sangue nas mãos e medo nos olhos. A verdade era que eu não sabia mais distinguir o certo do errado quando ela estava envolvida.
Ela dizia estar ali para defender seus clientes. Mas algo naquele caso a envolvia de forma mais pessoal. Mais profunda. E eu precisava descobrir o que era.
No dia seguinte, voltei à cena do crime. Algo me incomodava. Uma câmera de segurança próxima havia sido ignorada pela perícia.
Solicitei as imagens.
Horas depois, assisti ao vídeo. E vi.
Helena entrando.
Dois minutos depois, outro homem.
Alto. Elegante. Cabelos escuros.
Leonardo Mendes.
Meu estômago se fechou. Ele era promotor, sim. Mas não devia estar lá. E saiu sozinho.
— Filha da mãe — murmurei.
Corri para confrontá-lo. Encontrei-o no Ministério Público. Cínico. Com um sorriso irritante no rosto.
— Rafael. A que devo a honra?
— O que fazia no galpão no Brás? — disparei.
Ele arqueou as sobrancelhas.
— Não entendo do que está falando.
— Não brinque comigo, Mendes. Eu vi as imagens. Você saiu depois que o informante foi morto.
Ele riu, frio.
— E você pretende fazer o quê? Prender um promotor com base em vídeos? Sem som? Sem contexto?
Minha raiva quase transbordou.
— Eu vou te derrubar, Leonardo. Pode apostar.
— Boa sorte. — E se aproximou, sussurrando: — Cuide da Helena. Ela se mete em coisas maiores do que você imagina.
Saí de lá com a certeza de que ele estava envolvido até o pescoço. E que Helena estava no centro de algo muito mais perigoso.
À noite, fui até o apartamento dela. Não bati. Ela abriu como se já me esperasse.
— Rafael...
— Precisamos conversar. Agora.
Ela recuou. Me deixou entrar. E, naquele momento, soube: ou confiávamos um no outro, ou cairíamos sozinhos.
— Eu sei sobre Leonardo. Sei que vocês têm história. E sei que ele está envolvido.
Ela não negou. Sentou. A expressão abalada.
— Eu estava tentando te proteger. Mas não dá mais.
Então contou tudo. O caso que Leonardo havia forjado anos antes. As ameaças veladas. O uso de provas falsas para manipular resultados. E como, agora, ele tentava se proteger eliminando qualquer um que pudesse falar.
— E eu? — perguntei. — O que eu sou nisso tudo, Helena?
Ela se aproximou. Tocou meu rosto.
— Você é a única coisa real no meio desse inferno.
Nos beijamos ali mesmo. Dessa vez, não houve urgência. Só verdade. E medo.
Porque sabíamos que o que sentíamos poderia nos salvar. Ou nos destruir.