Narrado por Helena
Na manhã seguinte, fui chamada para uma audiência de custódia. O juiz não parecia muito interessado em ouvir argumentos, e eu soube, pela frieza do ambiente, que Rafael tinha estado ali antes de mim. Sua influência na força era notória. E, claro, ninguém queria se opor ao intocável delegado Montenegro.
Mas eu não era “ninguém”.
Saí do fórum ainda com a adrenalina pulsando. O cliente seria mantido preso por tempo indeterminado, sob alegações frágeis, mas eficazes. Rafael estava jogando pesado. Queria me provocar. Ou talvez me testar. E eu... adorava um bom desafio.
Naquela noite, recebi uma mensagem anônima com uma dica sobre o paradeiro de uma testemunha-chave no caso. Endereço, horário e um aviso: “Não conte à polícia.”
Óbvio que fui.
Um galpão no Brás. Escuro. Silencioso. E, mesmo assim, não hesitei. Entrei. Andei devagar entre caixas e sombras até ouvir passos atrás de mim.
E então a voz dele:
— Você é louca. Sabia?
Virei. Rafael estava ali. Sem farda. Jeans, jaqueta escura, e aquela expressão entre furioso e fascinado.
— E você é previsível. Sabia que apareceria.
— Você não podia vir sozinha. Isso é perigoso.
— Você não é meu guardião, delegado.
Ele se aproximou. Um passo. Dois. Parou a centímetros de mim.
— Mas queria ser.
Houve um silêncio. Meu coração disparou. A respiração dele tocava minha pele. Eu podia sentir a tensão crescendo, pulsando entre nós.
— Vai me beijar ou me prender?
Ele rosnou algo inaudível e me puxou.
Nosso beijo foi como uma explosão. Beijá-lo foi como abrir uma represa de desejo acumulado. A boca dele era quente, urgente, faminta. Minhas mãos agarraram seus cabelos. As dele, minha cintura. Quando percebi, estávamos encostados em uma parede, corpos colados, respirações descompassadas.
Parou. Nos afastamos um segundo. Olhos nos olhos.
— Isso é um erro — ele disse, ofegante.
— Eu cometo muitos.
E nos beijamos de novo.