Capítulo II

2195 Words
        Lara rolou na cama sem conseguir dormir, apesar de o relógio já estar marcando três horas da manhã. Por mais que ela tentasse se acalmar e enfiar na cabeça que não havia motivos para se preocupar, que Hurg não estaria na embaixada a esperando, ela não conseguia aliviar a pressão angustiante sobre o estômago. Ela abriu o celular e olhou para a foto do homem vestido em um terno elegante preto, ainda mais lindo do que lembrava. Ela havia salvado todas as fotos que encontrou dele em uma pasta e depois as deletou. Sem conseguir conter a curiosidade, procurou informações sobre o casamento dele, mas os sites diziam que ele permanecia solteiro, após o término do noivado com Anastácia Ramanova. Lara sorriu de si mesma ao se pegar feliz por saber que o rapaz ainda estava solteiro. Por que era tão louca? Por que permitir que alguém como ele, mexesse tanto com sua cabeça, com seu sono, com seu estado de humor? Até onde sua loucura a levaria?      Irritada a garota escondeu o rosto no travesseiro e forçou-se a não pensar no garoto e voltar a dormir, ela agora não tinha mais justificativa para pensar nele, não estava mais sozinha como quando vivera longe de casa, agora tinha noivo, emprego, família, uma vida real para viver. As imagens dos documentos com o nome dele retornaram a sua mente, fazendo tudo parecer um sonho, era quase inacreditável que o nome dele e o dela estivessem em uma mesma folha de papel e que por algum motivo ele a estava acusando de alguma coisa. Ela sorriu na certeza de que tudo era um grande m*l entendido, mas só de pensar que algo sobre ele estava direcionado a ela, já fazia tudo parecer um sonho maravilhoso. ``chega! `` - A garota bufou irritada `` já chegaaaaa! `` - gritou dentro do travesseiro. Não podia deixar seu coração se agitar daquela maneira por alguém que não existia, alguém que não era real. Hurg não era real. Hurg era apenas uma criação da sua cabeça. O grão-duque da foto era verdadeiro, alguém que Lara m*l conhecia a voz, uma pessoa estranha, nada além disso.  "só mais uma vez" - ela ouviu a voz ardilosa de seu subconsciente. Não era pecado, não era real, ninguém jamais saberia, então por que não? - ela se perguntou fechando os olhos, deslizando os dedos por baixo do tecido fino da calcinha, alcançando a fragilidade de seus desejosos.  "Não" - ela correu para o banheiro sentindo uma dolorosa frustração. Havia decidido viver uma vida normal, se desejasse sexo, o faria com seu parceiro.       No trabalho Lara concentrou toda sua atenção em Fabricio, que passou todas as orientações que ela precisava para começar a traduzir os e-mails e a respondê-los, passando as informações para os outros departamentos já devidamente traduzidas. As conversas paralelas entre as garotas ficaram sem espaço devido a agitação do dia que começou bem corrido. - Precisa provar o vestido! – sua mãe reclamou pegando Beatriz no colo, apesar da menina já ter dois anos e andar por toda a casa sem dificuldades. - Mas quando eu sair do trabalho, o ateliê já estará fechado – Lara se justificou. - Saia mais cedo, explique que vai se casar em dois meses, tenho certeza de que eles vão entender – Violeta insistiu. - Ela está querendo usar um vestido folgado e desajustado! – Luana falou colocando comida na boca de Vítor, uma criança hiperativa de três anos. - Já confirmou com a decoradora sobre a ornamentação? – Violeta olhou para a filha a espera de uma resposta positiva. - Eu não sei, Theo não me falou sobre suas preferências. - Vocês pelo menos entregaram os convites? - Vou fazer isso no sábado! - Eu lavo minhas mãos! -  Violeta desistiu.  - Ela está pensando que festa de casamento é brincadeira! – Larissa falou servindo o prato de Jonas, seu esposo. - Nem parece que quer casar! Parece tão desanimada! quem vê pensa que é outra pessoa quem vai casar! – Laura falou dando água para a filha. - Por favor, parem com isso, comecei a trabalhar agora, preciso me dedicar se quiser manter o emprego. - Mesmo antes de começar a trabalhar, já parecia desanimada. Você tem certeza de que ama mesmo o Theo? Parece estar com ele apenas porque ele é um cara legal – Luana falou e todos, até mesmo seu pai a fitou esperando por uma resposta. - é claro que eu tenho, não consigo imaginar ninguém melhor do que ele para estar ao meu lado! – Lara respondeu com firmeza. - Que pergunta tola! – Violeta olhou para Luana com reprovação – sua irmã já não é mais uma criança, terminou a faculdade, já está trabalhando, é uma mulher que sabe o que quer. - Eu não sei, pra mim falta mais ... hum ... paixão? Química? Sei lá – Larissa encheu a boca de sobremesa pensativa. - Theo não é mais um adolescente, muito menos eu, então parem com essas conversas sem sentido, pois ele está para chegar e não quero que ouça essas baboseiras – Lara deu o assunto por encerrado.      Depois do trabalho a garota se viu obrigada a seguir para a confeitaria, precisava escolher o modelo do bolo e decidir sobre os doces que seriam servidos na festa. - Acha que consegue um tempinho para passarmos no apartamento? Já pintaram o quarto e a sala! – Theo perguntou a analisando. - Estou tão cansada! – ela lamentou. - Não vamos demorar! – ele fez uma última tentativa. - Está certo! – ela concordou se despedindo de Larissa e Luana que seguiram de volta pra casa dos pais com as crianças fazendo barulho no carro.       O apartamento apesar de pequeno havia sido completamente reformado e ficava localizado em um excelente bairro de classe média. - Está ficando lindo! – Lara falou surpresa com a mudança do lugar, já imaginando suas coisas sendo organizadas naquele espaço que em breve seria seu. - Que bom! – Theo sorriu, se sentindo inundado de satisfação. - Obrigado amor, estou muito feliz com tudo! – ela o abraçou com carinho. Ele acariciou os cabelos cor de mel da garota e a beijou com doçura, depois a beijou com mais intensidade e a erguendo pelos quadris a sentou no balcão. - O que está fazendo? – ela perguntou sorrindo, se apoiando nos ombros dele. - Aproveitando que estamos sozinhos! – ele sorriu a beijando novamente. - Não seja ansioso, em breve estaremos aqui juntinhos, só nós dois e mais ninguém. - Nem me fala, só eu sei o que tenho passado, longe de você! - Não exagere, ficamos juntos no mês passado, quando estivemos na praia. - No mês passado? – ele perguntou choramingando – nem acredito que já tem um mês que não toco em você! - Vamos dar um jeito de fugir esse sábado. Prometo! – ela o beijou. - Seus pais são tão liberais, todo mundo mora sob o mesmo teto, sou seu noivo, estamos com o casamento marcado, eles bem que poderiam me deixar passar uma noite ou outra lá – Theo reclamou. - Já aguentou até agora, o que são dois meses? – Lara perguntou lhe dando um selinho nos lábios. - Pra mulher sempre é mais fácil essas coisas! – reclamou. - Desculpa esfarrapada! – ela apertou as bochechas dele – agora vamos, está ficando tarde e estou cansada – Lara puxou o rapaz para fora do futuro lar. - Comprei as passagens para a próxima quinta-feira! – Theo informou entrando no carro. - Comprou a sua também? – Lara tentou esconder a ansiedade na voz. - Eu falei que iria com você, não falei? - Mas e os seus compromissos? Não queria te dar trabalho! - Se eu não fosse com você, teria que arrumar outro advogado. Se pensar bem, estou evitando gastos! – ele deu uma piscadela pra ela. - Evitando gastos? – ela ergueu as sobrancelhas desconfiada e o carro entrou em movimento.      O final de semana chegou e o dia ensolarado prometeu um sábado perfeito para um bom churrasco em família. Jonas saiu em busca de carvão, Mário, o esposo de Laura chegou com as cervejas e refrigerantes, enquanto Francisco, o pai de Lara, salgava a carne. Por outro lado, Larissa se responsabilizava por cuidar do entretenimento das crianças que espatifavam a água da rasa piscina de plástico. Laura arrumava a casa e Luanda com Violeta descascavam as verduras. Lara e Theo partiram cedo com a missão de entregarem os convites que não seriam enviados pelos carteiros, com a pretensão de ainda pela manhã se juntarem a decoradora para terminarem de acertar os detalhes da festa. - Ah querida, eu sempre soube que você seria uma moça de sucesso! – Camélia, sua tia por parte de pai, falou se sentando ao lado de Lara, na varanda de seu apartamento de luxo. Camélia era dona de uma das maiores lojas de produtos agropecuários da região, era uma mulher com estudos limitados, mas muito segura e ambiciosa, tendo trabalhado a pequena parte da herança que recebera após o falecimento do pai, com muita astúcia – mas aquelas suas irmãs! – ela deu dois estalos com a língua e fez uma careta – diga-me, Laura ainda está com aquele pé rapado? Ouvi dizer que ela estava grávida! - Não tia, minha família está muito bem, minhas irmãs, os filhos e seus maridos estão todos bem – Lara suspirou entregando o convite. - Não seja apressada, desde que chegou só veio me ver uma vez, eu não falei, mas fiquei muito magoada, sabe muito bem o apresso que tenho por você. Quando você estava na Inglaterra fiz o que pude para ajudá-la. Eu gostaria, é claro, de poder ter ajudado mais, mas você sabe, sou uma mulher viúva, com duas filhas que só sabem me dar despesas – a velha reclamou enquanto bebericava o café. - Eu sei tia e jamais terei como pagá-la por tudo que fez. Tenha certeza de que sua ajuda foi muito bem recebida – Lara agradeceu com sinceridade e Camélia sorriu envaidecida. - E você rapaz? Como está o seu pai? Ouvi dizer que ele estava com problemas no coração. - Está bem, finalmente entendeu que deve ter mais atenção com a própria saúde. - Não o condeno, a correria é tão grande que esquecemos que não somos de ferro! – Camélia sorriu. - e as meninas tia? Como estão? - Rebeca agora está fazendo faculdade de medicina no Rio de Janeiro, só virá em dezembro e Raquel viajou com o namorado para Fortaleza. - Que bom! – Lara sorriu ficando de pé – não fiquei chateada, precisamos mesmo ir, agora que estou trabalhando, quase não temos tempo, está difícil até mesmo para entregar os convites. - Está certo querida, volte com mais tempo e não se preocupe com a lua de mel, apenas escolha o local. - Ah tia! – Lara abraçou Camélia emocionada. Theo também recebeu a notícia com um largo sorriso.      O casal deixou o apartamento sem mais demoradas, a lista de convidados era grande. - Sua tia é uma mulher muito generosa! - Ela é um tanto difícil e não tem papas na língua, mas tem um coração sem tamanho.      Já eram quase quatro horas da tarde, quando eles conseguiram terminar a entrega dos convites e seguirem para o encontro com a organizadora de eventos. - Perdemos o churrasco! – Lara queixou-se ao chegar no escritório da decoradora. - Teremos sorte se conseguirmos nos casar na data estabelecida nos convites – Theo abriu a porta dando passagem a noiva. - Nem acredito que finalmente decidiram me ver! – Talita os cumprimentou com beijos no rosto – mas que noivo lindo! – a decoradora que beirava os quarenta, sorriu maliciosamente para a noiva. Theo realmente era um homem bonito, tinha 1,9 m de altura, ombros largos, apesar de não praticar nenhum esporte e um sorriso muito charmoso. Como não teria que ir para o escritório aquele dia, estava apenas de camiseta esportiva e calça jeans, dando a ele um ar casual, o deixando ainda mais atraente. - Não há dúvidas de que serão o casal mais lindo deste ano! – Talita segurou as duas mãos de Lara com euforia – sentem-se, não vamos perder tempo! – ela pediu oferecendo água ou café, pegando logo em seguida seus mostruários.      Apesar de Theo insistir em ajudar com as despesas da festa, Lara não queria ter um gasto exagerado com a festa, ela julgava aquilo um grande desperdício de dinheiro. Vestidos, doces, aluguel, fotos, maquiagem... eram tantos gastos que era difícil não se sentir m*l, principalmente sabendo que nem seus pais, nem seu noivo eram ricos, mas não ter festa, não era uma opção. Ela por várias vezes sentou-se com os pais e explicou que aquilo não era algo que ela realmente julgasse importante, por várias vezes tentou explicar que o importante era estar com a pessoa certa, garantindo que poderia gastar esse dinheiro de forma mais proveitosa, mas nem seus pais, nem a família do noivo concordavam com isso, sendo assim não lhe restou muitas alternativas além de cuidar dos preparativos.  
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