Capítulo 4

1818 Words
A correnteza me arrasta sem parar por um largo beco fechado que dá para uma pequena cachoeira, eu caio numa bacia d'água e me percebo do lado de fora do Castelo. Antes da pequena queda, há um portão de ferro suspenso, provavelmente a passagem é vetada para não correrem o risco de serem invadidos por ali, se é que seria possível, o Rio Violento não deixaria isso acontecer, eu posso provar. Fora que o beco fica mais estreito e não dá para se agarrar em nada, um animal bem grande não passaria por ali. Eu nado até à margem do rio e percebo que nadei para o lado errado. Que saco! Malditas dançarinas. Por que tinham que ser tão charmosas e atraentes? No auge da minha idade e eu ser enganada pela beleza é vergonhoso. Ainda bem que eu fico ali pensando no que fazer, porque da queda d'água cai a árvome que me defendeu, a tímida, e para melhorar a minha situação ela nada para a margem onde eu estou. Eu a ajudo a sair da água e ela agradece. — Te lançaram também? — faço a pergunta mais i****a possível, então eu complemento para não parecer tão tapada: — Por quê? — O que você acha? — ela falou de maneira grosseira. — Eu disse que o que elas fizeram era errado e infantil, então fui empurrada também. Eu não sei se fico contente ou descontente, mas agradeço de qualquer forma, ela me defendeu e foi jogada no rio. Acho que no lugar dela eu ficaria chateada também. — Obrigada — falo meio abatida. — Olha, me desculpe, eu não devia ter falado dessa maneira, entrei recentemente no g***o de dança do Castelo, mas não quero me parecer com aquelas idiotas. Eu nem acredito que a árvome me pede desculpas, tenho certeza que ela tem bastante humildade no coração. — Não precisa se desculpar — eu sou modesta demais —, por minha causa… — Ah, não. Não começa. Eu sei que você é bastante educada, deu para notar, mas este discurso é chato demais. A árvome me encara por alguns segundo, depois solta uma gargalhada e começa a espremer a água dos cabelos que agora ganharam um tom mais escuro de verde-musgo. Que maravilha, ela tem senso de humor. Eu sorrio com ela e logo pergunto: — Qual o seu nome, minha flor? — Flor. — Sério? — Você adivinhou? — Flor penteia os cabelos com os dedos, ela cuida bastante das madeixas. — Não adivinhei, é costume na minha terra apelidar as pessoas com palavras agradáveis, por exemplo: meu bem, meu amor, minha vida, minha flor, minha linda, minha princesa, etc. Se bem que Flor é um nome bastante comum no meu mundo. — Aqui não, eu sou a esquisita do Reino. A minha mãe me deu este nome porque eu fui concebida no meio das flores. — Deve ter sido lindo. — Na verdade, ela disse que foi h******l. Gritaria, sangue, suor, líquido amniótico, mas a alegria surgiu quando eu chorei. Interessante, o choro dos bebês é a alegria dos adultos. — Entendo, mortos não choram, a alegria é por causa da vida. — Nossa! Rosy de Aster, isso foi poético. — Foi? Não sei de nada, só disse o que veio à mente. — Eu amo poesia, a única coisa que os humanos trouxeram para este mundo e que me cativou bastante — Flor olha para o rio, depois olha para mim de volta. — Vamos voltar par o Castelo, pelo Rio Violento não dá, vamos ter que atravessar a ponte. Tem uma a cinco quilômetros daqui. — Quilômetros? Nós começamos a andar e o clima faz com que as nossas roupas comecem a secar com o tempo. Eu faço várias perguntas a ela, quis saber sobre ter filhos, ela me contou somente depois que a Seiva da Vida estoura no organismo deles é que eles desenvolvem a capacidade de se reproduzirem. Acabei saindo do assunto, imaginei que a conversa iria tomar outros rumos. — Por que as dançarinas são tão más? — pergunto para Flor. — Eu não diria que são más, só são idiotas e arrogantes, fúteis, intolerantes e agressivas… Oh, por Virell, elas são más — Flor fica boquiaberta com a grande descoberta. — O problema é que ser uma dançarina do Castelo é uma honra muito grande no Reino e quando você é selecionada e aprovada, você ganha certos privilégios e é prestigiada em meio à sociedade. Longna é a coreógrafa do g***o, a líder, a mais fútil de todas. — Eu devia ter percebido, aposto que ela ficou ofendida com o que eu disse sobre a idade. — Com certeza ela ficou, ela tem uma psicose com idade que ela acredita que será imortal como os Árvos. Iludida. — Me fala sobre o Príncipe Metrim. — Ah… — Flor exclama como se estivesse sentido o maior prazer do mundo. — O Príncipe Metrim, o árvome mais lindo e desejado da decabasilis. Todas as garotas estão afim dele. Infelizmente ele precisa se casar com alguém da nobreza e se tornar no Czar de Metrimna, plebeias como eu jamais teriam uma chance. — Ele n******e se casar com uma plebeia? — Pode, mas se ele quiser, o que é difícil, esse povo da realeza sempre vai preferir a garota da família renomada, além do mais ele perde o título de Príncipe para Infante e nunca se tornará um Czar, outra pessoa da família teria que suceder o trono. — Odeio a monarquia — comento. — Metrim vai ser um excelente Czar. Ele é uma pessoa excelente. — Todo mundo já sabe que foi ele quem te encontrou na floresta e te salvou dos gravetanos. O céu tremeu, imediatamente soubemos que o portal foi aberto, mas não esperávamos que alguém tivesse passado por ele, menos ainda que viria para este reino, piorou ter sido uma fêmea. Há vinte anos que não passa ninguém. — Tenha certeza, eu caí aqui por mero acaaa… — eu ia falar "acaso", mas o solo se desmanchou sob os meus pés e eu caí num buraco longo e fundo. Eu torço o pé, mas parece que quebro a perna inteira. Uma queda daquela altura era para ter me deixado, no mínimo, desacordada. — Por Virell — Flor se inclina para me ver. — Rosy de Aster, você está bem? — Não! — grito para ela. — Eu torci o pé. — Sinto muito, eu esqueci que esta parte da floresta está cheia de armadilhas para capturar intrusos. — É, funciona direitinho. — Espera aí que eu vou procurar ajuda. — E para onde eu iria, criatura? Neste exato momento, Flor solta um grito bem agudo e eu vejo uma silhueta rápida atacá-la. Eu grito por ela desesperada. Não faço ideia do que acontece. Eu fico tão nervosa que acabo sentindo a adrenalina percorrer pelo meu corpo de uma maneira tão estranha que nem sei se é mesmo adrenalina. Primeiro eu sinto o meu pé ficar ótimo, como se nada tivesse acontecido, depois os meus músculos ficam mais rígidos e sem pensar duas vezes, apenas com o sentimento de que sou capaz, eu dou um pulo bem alto e me agarro na parede do buraco, a escalo como se fosse o Homem-Aranha. É incrível. Sem saber que podia, salto para fora do buraco e me concentro para saber onde está a Flor, bem longe eu a avisto e corro para a sua direção. Mesmo se ela tiver que ser capturada, eu jamais vou deixar que ela seja sozinha. Ela não merece isso. Como eu corri dos gravetanos, eu corro para ela que está sendo levada amordaçada por dois caras de capas com capuzes. Corro tão rápido que me sinto o próprio Mercúrio da Marvel. Assim que me aproximo deles, sem controlar a minha força, eu empurro um dos homens que é arremessado para alguns metros de distância, o outro cai para o chão e Flor também, mas não se machucam. O que caiu se levanta bem rápido, ele retira uma espada fina da bainha escondida na capa e avança contra mim, eu não sei brigar, então decido fazer o que fiz com o outro, corro bem rápido e o empurro contra uma árvore, o homem cai desmaiado e revela um rosto jovial de um homem n***o com cabelo cortado em estilo militar e as sobrancelhas estavam raspadas. Flor, que vê tudo, se levanta estupefata. Mas o que mais chamou a atenção dela foi o homem que a atacou. — Por Virell, a que raça de árvome ele pertence? — Como assim? Você não sabe? Não são sete tons de verde, um para cada um dos Sete Impérios da Pangeia? — Sim, você tem menos de uma semana aqui e já aprendeu algumas coisas, estou vendo, mas a questão é que eu nunca vi um tom de cabelo desta cor. — Verde-limão? — É assim que você chama? Eu diria verde-claro. — É assim que é dito no meu mundo. E se essa não é uma das sete cores das raças distintas de árvomes, então, o que ele é? — Rosy… — Flor fica estatelada e aponta o dedo para trás de mim. Cinco homens encapuzados estão vindo a toda velocidade, montados em gigantes escorpiões marrons. — Caramba! — me impressiono. — E agora, eu não sou veloz como você, os araferros são muito rápidos — Flor fica desesperada, mas eu tenho uma ideia. — Faz o seguinte, monte nas minhas costas, eu acho que consigo sustentar o seu peso e correr bem rápido, espero que fique bem segura, você é bem maior que eu. — Eu dou meu jeito — Flor não perde tempo, monta nas minhas costas da maneira que pode, se agarra a mim bem forte, eu me posiciono e começo a correr como nunca. No começo é um pouco lento, depois pego o embalo e corro tão rápido quanto antes. Flor fica olhando para trás para ver se conseguirmos nos afastar dos encapuzados enquanto eu me concentro no caminho. Bem à frente está o Rio Violento, ele é extenso, mas acredito que posso saltá-lo. — Rosy de Aster, nem pense nisso — grita Flor. Mas eu salto o Rio, porém, acabamos caindo nele, pelo menos, perto da margem. Se eu estivesse sozinha, teria o saltado com facilidade. Eu nado contra a correnteza para chegar à outra margem que está bem perto, quando atravesso, Flor desmonta das minhas costas e ficamos ofegantes. — Vamos, temos que chegar ao Castelo — persuade Flor —, aqui fora se tornou muito perigoso, ainda mais com os guerreiros do Reino a procura do pessoal que acabou de nos atacar. Nós estamos bem longe dos encapuzados, de qualquer maneira, não é bom descansar, então Flor monta nas minhas costas de novo e eu recomeço a correr como se ainda estivesse sendo perseguida.
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